Cinamomo frondoso. Um banquinho de madeira. A aragem fresquinha
do final de tarde, e um olhar.
Um olhar parado, olhando para o nada, assim como quem olha em busca
de respostas, de respostas, quem sabe, improvaveis, mas imprescendiveis para
seguir em frente.
"Beco sem saida" ! Quando se chega lá, qual a saida ?
A relação entre eles, havia tempo, já se tinha desgastado quase no
limite. O filho insatisfeito, o pai incompreendido. Conflito de gerações ? Necessidades
conflitantes ? Carencias ( mutuas ? ) não elaboradas ?
Em que momento o caminho se desfez ? Agora caminhos opostos
e visões desencontradas. Antes juntos e agora essa distancia intransponivel.
Sentado no banquinho de madeira, sob o grande cinamomo, imaginou-se,
sentado diante do filho, talvez no mesmo banco, falando palavras não ditas, quebrando
o silencio que gerou, quem sabe, os descaminhos, o sofrimento.
Imaginou-se falando....( sentiu a dificuldade, mesmo imaginando )
"Meu filho, sei que está chateado há tempo, e tudo é motivo para se
indispor comigo. As coisas que faço ou deixo de fazer, o que digo ou deixo de dizer,
o olhar é sempre de desaprovação e de critica.
Nem sempre o que ouvimos ou recebemos, é do nosso agrado, meu filho, e
nem sempre preenche nossas expectativas. Diante disso, ou nos indispomos
( o que é sempre o mais facil ), ou então compreendemos. Compreendemos que
cada um tem suas limitações e dificuldades.
E, se olhar com atenção, irá perceber que, no mais das vezes, julgamos mais em função das nossas carencias pessoais, pelo que imaginamos que o outro deveria ter
feito e não fez.
O amor que o outro nos tem, não pode ser medido pelo tamanho
do buraco da nossa carencia existencial.
Afinal, quase nunca somos tratados como gostariamos. E o que vem, quase nunca
consegue preencher esse vazio de nós mesmos. Essa é a causa principal do nosso
ressentimento para com os outros ( " voce diz que me ama, mas não faz as coisas
que quero " ), e o desencanto no relacionamento entre pais e filhos.
Meu filho querido , crescer sempre é doloroso, sejamos jovens ou velhos.
Sempre haverá quem se queixe da gente, e a gente tambem sempre terá de quem se
queixar. O dia em que aquilo que vier, seja critica ou elogio, já não perturbar,
teremos saido do ninho, andando com os proprios pés. E será um dia de gloria !
Bem sei que isso é para poucos. E não é sem motivo tanto sofrimento, tanta magoa,
ressentimento, critica nos nossos relacionamentos.
Contudo isso tambem tem sua função. O milho só se torna pipoca mediante
a pressão e o calor do fogo. Mesmo assim, haverá grãos que não irão pipocar.
Piruá é isso, quando o grãozinho continuar apenas grão de milho.
E o piruá sempre irá para o lixo. O que não cumpre com sua função, sempre
será descartado.
Quando exigimos algo do outro para estarmos bem, com certeza
há algo em nós que não está bem. O amor que o outro nos tem, não é medido
por esses parametros, isto é, pelo quanto pode nos dar.
Amor-necessidade não é amor. O amor não exige, não condiciona, nem
é condicionavel.
Que exigencia faz a bergamotinha à planta, para que possa se desenvolver ? A planta faz a sua parte, e a frutinha fará a sua. Sem ranço, sem
queixas nem lamentos.
Já ouviu, por acaso, uma bergamotinha ressentida, por um motivo ou outro, com a bergamoteira ?
A arvore faz as coisas dela. A fruta fará as suas. E tudo fica bem.
Ordem e paz no pomar !
Meu filho, não me queira mal pelo teu mau estar. Isso não te fará bem , nem
a mim. Mas tambem sei que longo é o caminho dos que se amam, para que
possam se amar de verdade. Para que possam se encontrar. Se aceitar.
Compreender. Perdoar.
Sabendo disso, já é algo. Mesmo assim, continuaremos nos criticando,
mas talvez com critica menos ferina, menos pontuda. Uma critica já não levada tão a serio, que não decepcione nem machuque tanto.
Desse modo, como a bergamotinha, iremos tambem crescendo aos poucos,
mas sem nunca perder de vista o piruá. Sempre cuidado com o piruá !
Meu filho querido, mesmo parecendo estranho que te diga , mas continuo
te amando, já crescido desse jeito, do mesmo modo quando era bem pequeno,
quando me chamava de "papai ", e eu dizia "meu filhinho ".
Fomos felizes naquele tempo, não fomos ? Continuamos ainda filho e
papai. E a felicidade daquele tempo, porque não trazê-la de volta, agora, para junto de
nós, novamente ?
Afinal onde foi o tempo em que mutuamente nos falavamos "eu te amo" ?
O cinamomo frondoso. O banquinho de madeira. O crepusculo.
A brisa leve, morna, silenciosa. Olhar distante e turvo. Lagrimas quentes rolando,
de gosto salgado . Não seriam talvez amargas ?
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