terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O SORRISO DO CARANGUEJO

                                       Caranguejo fora da agua ( seria um siri ? ).
    Não era grande e parecia debilidado ou talvez até morto. Quando olhei mais
atentamente, percebi que se mexia. Foi um movimento muito sutil, quase não
perceptivel, mas o suficiente para concluir que aí ainda havia viada.

               As perninhas não conseguiam erguer o corpo, para que pudesse voltar para
o mar. As forças haviam se exaurido.
Debil, fraco, mas o leve movimento, dava a entender que a fraqueza ainda não havia se transfoemado em desistencia.

                   Chega o momento em que a resistencia é apenas interna. Não há mais forças disponiveis. A pessoa quer, a vontade está aí, há ainda um desejo latente, mas a
debilidade do corpo já não consegue dar conta da disposição de ainda seguir adiante.
É o grito que apenas grita para dentro, sem esperança de ser ouvido. O socorro
impossivel. O resgate imponderado.
É nesses momentos que se percebe no ar a energia da grande indagação ( ou seria
indignação )  :  Ó  Deus, onde estás, que tambem não me ouves ?

          Mas a  voz do nosso pequeno crustaceo, seu grito de desespero, não ficou apenas
ecoando no mais profundo do seu ser.
Sentado à sua frente, fiquei olhando para esse pequeno ser agonizante, mas que ainda
reagia com valentia,  procurando se arrastar para a agua. Afinal ele ouvia o
movimento do mar, as ondas que quase o alcançavam. E porque haveria de não
conseguir ?
                              O palco onde se desenrola a luta da vida e da morte, sempre se reveste de horror e tambem de compaixão.
Doi em nós a dor do outro, e mais ainda quando nada ou quase nada há para se fazer.
       Já assistiu alguma vez a cena  do lobo cravando  seus dentes na presa incauta ,
imobilizando-a até à morte ?
                                                   O movimento da vida se faz atraves da morte, mesmo
que nos angustie, e tantas vezes, não conseguindo compreender o seu significado.

                       E eu estava sentado diante desse bichinho  que ainda lutava.
Já olhou alguma vez para um caranguejo ? Seu rosto mais se parece com  um painel
quadrado de um carro antigo. Dois pequenos olhinhos como duas pequenas lampadas
do nosso painel de carro antigo.
Os olhinhos pareciam esbugalhados, projetados para frente, talvez querendo
enxergar  melhor. E aquelas pequenas bolinhas pretas concentraram toda sua atenção
em mim, talvez profundamente surpreso por alguma coisa estar aí.
        Aproximei lentamente meu dedo e tive a sensação que algo nele se encolheu.
Até os olhinhos parece que recuaram para dentro do painel.
                  O meu movimento produziu essa reação de defesa, mas como não houve
ataque ( sua desgraça já era grande o suficiente ),  foi se desencolhendo aos poucos e as duas bolinhas pretas saltaram novamente para frente, quem sabe, para se certificar
do que estava vendo. Só poderia ser Deus, ajoelhado à sua frente, tendo ouvido seu
grito de ajuda.
          
                É possivel um caranguejo sorrir ? Eu não sei, de qualquer forma ,
aquele rostinho tão estranho, mais se assemelhando a um monstrinho da pré historia,
a feiura que abusou e muito de ser feia, isso, de repente, se iluminou na minha frente.
     
             É mais ou menos a mesma expressão de felicidade do cãozinho que volta
a nos ver . Saltita, fica de pé sobre suas patinhas trazeiras, late, orelhindas em alerta,
olhinhos correndo de um lado para o outro dentro de suas orbitas... enfim, feliz
( e eles precisam de tão pouco para tanta felicidade ) .

                          E a felicidade não produz sempre esse sorriso...... de felicidade ?

       E o meu amigo crustaceo, vendo Deus pela primeira vez, ficou muito feliz.
E talvez tenha sido esse seu primeiro sorriso.

         E eu, da minha parte, tive a sensação que ele pensou, que Deus pode ser
encontrado nas situações e momentos mais improvaveis. E mesmo achando  não sermos ouvidos, de alguma forma, sempre somos ouvidos.

                     Porque fiquei feliz na caminhada dessa manhã ?

     Em primeiro lugar, porque um caranguejo acreditou ter visto Deus

     Em segundo lugar, porque vi um caranguejo sorrir

    E por ultimo, por saber que os caranguejos tambem podem filosofar.


                         Nada mal para uma caminhada.

                  Nada mal para começar um dia.


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