quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O ESCUDO FEITO DE PAZ E PRAZER


          Porque tanta pressa, tanta inquietação, correria sem fim,
querendo logo chegar, para não chegar nunca a lugar algum ?

     Buscamos um mundo melhor cavalgando velozmente
 no dorso liso das ilusões fugidias.
Levantamos vôo querendo voar para longe daqui, o mais distante possivel, porque o melhor está sempre lá;
o bom só pode vir depois.

            O paradoxal é que esse "lá" não pode nunca ser achado em qualquer lugar que seja. Por mais intensa e alentadora que seja a busca, o depois se é sempre intangivel, e onde quer que vá, estará sempre  "agora"  e  "aqui". 

   Por isso a pressa, a correria, o desinteresse e a indiferença
por este instante. Sem sintonia e real envolvimento com o que
está aí, com aquilo que a vida nos traz a cada momento, não haverá,
por consequencia, entusiasmo, serenidade e realização, tampouco.

        Nos colocamos como quem está de passagem,  simples transeuntes à espera do trem levar-nos para longe. Somos tal
como criaturas do futuro, perdidos nas inquietações e embaraços das circunstancias presentes. ETs de outras dimensões e de um outro momento. Assim sendo, não somos desta epoca, nem dessas circunstancias, por isso a urgencia e a agonia para libertar-nos, enfim, das dificuldades e amarguras deste momento.

          Vivemos uma vida provisoria, tal qual viajante à espera do
proximo trem, do proximo sonho, transformado em passaporte,
para o reino definitivo do universo virtual.  

      As pessoas se gostam, ao menos assim parece, estão juntas
 todo dia, mas quanto tempo passam juntos, de verdade ?
O verdadeiro encontro tambem  poderá se dar apenas depois,
somente depois de tantos projetos e objetivos terem sido conquistados. 

          Como pôde o longe transformar-se no melhor lugar do
mundo, a grande utopia da humanidade ?
Existe, porventura, condição mais favoravel que perto ?
Neste lugar, nesta ocasião, nesta vida ?
O perto tornou-se insustentavel pelas promessas desatinadas 
do que está distante. 

        Que preço triste para pagar por nossas defesas sustentadas
por visões futuristas, persistentemente à espera por um outro tempo, pela proxima temporada, quem sabe, por fim, mais 
agradavel !

      Em ultima analise, tentamos nos proteger de tantos medos
que nos assaltam o espirito. A vida é potencialmente feita  de
medos. Medos de toda forma, aparencia e conteudo.

                 Colocamo-nos, estrategicamente, atraves de tudo que
fazemos, buscando proteção e segurança.
Erguemos escudos para proteger-nos dos assaltos das forças
que tanto tememos. Os insucessos, a doença, fracassos,  decepções,  perdas, frustrações...

      Forças inexplicaveis e misteriosas que podem destruir-nos num relance, sem aviso previo, nem consentimento. Decisões sempre
tomadas de modo unilateral.
Usamos as atividades diarias para desviar o espirito do susto de tudo quanto percebemos como ameaça.
Distraimo-nos com nossas ocupações para não termos que nos ocupar com as inquietações e temores que nos paralizam o espirito.

         Cercamo-nos de todo tipo de coisas por nos sentirmos 
despreparados para fazer frente às forças inflexiveis, dos insondaveis misterios da vida.

        Nos protegemos, acumulando, cercando-nos do mundo.
Identificamo-nos com a imagem que o poder e as coisas nos conferem. Vemo-nos atraves das posições e do senso de importancia que nos atribuimos. Como os despotas, com o peitoral repleto de  condecorações auto-conferidas.

 Optam pela mentira, pela aleinação; afinal, viver a vida como ela é, e tornar-se real, não é tarefa para a pessoa comum.
 É destinado a poucos.  Valentes, capazes do sacrificio de desejos pessoais por uma causa maior, por um bem verdadeiro.

      Não é esse o verdadeiro significado de ser humano ? 

     O que nos prepara quando, por fim, formos tomados de
 surpresa, e tivermos que dar conta dos imprevistos, dos momentos
de aflição e terror ?
A tragedia pode aparecer diante dos olhos a qualquer instante. Estaremos preparados quando a força avassaladora da destruição
bater à nossa porta, e despertar-nos dos sonhos delirantes;
percebendo, finalmente, que não é pelo fato de transformarmos em interino este momento, que não teremos que responder por tudo quanto esta interinidade nos apresentar.

        O sofrimento não manda convite nem e-mail. Não se faz anunciar, é sem consideração, nem gentilezas tambem.

      Apesar da surpresa e do despreparo, de alguma forma, temos
que, deliberadamente, recompor e nos recuperar, pois a vida
continua. 
Nos entregarmos aos caprichos e queixumes, com certeza, não irá 
livrar-nos do aniquilamento, da devastação e do sofrimento, indiferente e insensivel aos nossos protestos e clamores por anistia.

     Debilitado, há que se recompor, ativar-se, avivar novamente, pois, apos o caos, que alternativa resta, que não seja mãos à obra ?
Se não estiver vivendo além das preocupações de todo dia, daquilo
que faz constantemente para se proteger, como escudo, não terá recursos para reassumir-se, quando, por fim, for atingido pelas 
forças imprevisiveis do mundo.

      Se não estiver vivendo alguma situação que lhe dê paz, prazer,
satisfação, condições que possa usar propositadamente para
desviar-se do roteiro mental de medo e dor, e, deste modo, 
manter-se solido, haverá muita dificuldade para reerguer-se, mais
uma vez, apos mais um reves. O peso da dor será insustentavel.

          Trilhar um caminho que proporcione satisfação, que sinta
prazer enquanto o estiver percorrendo, e grande dose de
contentamento.
É isso que torna a pessoa diferente da pessoa comum, é isso
que lhe dará solidez e compostura.

       Um caminho que dê paz e prazer. O verdadeiro escudo é
moldado por aquelas coisas que dão prazer e contentamento,
caso contrario, será aniquilado no proximo encontro.

          Não estará preparado quando se defrontar com as forças
devastadoras do mundo.
Não encontrará dentro de si resistencia adequada, tanto para
a defesa, quanto para reorganizar-se. 

             O verdadeiro escudo traz a insignea  :  PAZ  E  PRAZER.


     



           

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

" UM BOCADINHO MAIS DE TEMPO "


       
                Quando a vida está prestes a recolher-se, o lamento parece, invariavelmente,  sempre o mesmo. " Ah ! se tivesse mais um bocadinho de tempo... ", e se queda então silencioso, cabisbaixo, abatido,cansado, com sentimento de frustração,  desanimo e amargura.

                  Paira em sua alma a sensação de fim de festa, e pior, de festa não desfrutada. Agora é tarde, a banda já silenciou, a turma  dispersou-se e o ar festivo e animado do dia transformou-se em quietude, não sem melancolia, com sabor amargo de saudade.  O movimento, a algazarra, o vozerio, a alegria, tudo se reduziu, se acalmando, nada mais que silencio, recordações, imagens
 flutuantes na mente.

          Talvez a suplica por  "um bocadinho mais de tempo" seja a consequencia desse tempo desperdiçado, a vida não vivida quando a vida ainda era vida. Por isso o lamento, reivindicando mais vida atraves de um tempo suplementar.  Não se deu conta inclusive que o jogo acabou, ou, quem sabe, nunca tivesse mesmo dado-se
 conta do jogo.

         E .... se pudesse .... se fosse possivel ter novamente a vida de
volta, se tudo voltasse assim como a fita na tecla do "rew",
 o que faria com o tempo que lhe teria sido devolvido ? 

            Viveria diferente ? Faria as coisas de um outro jeito ? Teria tempo para ouvir o canto dos sabiás, sentir o cheiro da grama cortada, perceber a  multiplicidade sem fim de formas, e a riqueza notavel de cada momento enquanto a vida acontece ?

            Ou, quem sabe, não correria atras das mesmas vaidades,
das mesmas ilusões, vivendo as mesmas chateações, compromissos e buscas, seguindo as mesmas rotinas interminaveis, maçantes e enfadonhas, com a mesma pressa de sempre, sempre sem tempo para viver ?

        A bem da verdade, há sempre tempo suficiente para
 tudo que não temos tempo. 

Porque então a impressão da falta de tempo ?  Será o tempo que
anda escasso, ou simplesmente vida de menos para preencher
tanto tempo disponivel ?

     Desse modo, para que mais tempo, se não há vida suficiente
 para ocupar o espaço estruturado ?

    Preocupamo-nos com o tempo, quando a preocupação devia
ser com a vida.
A pressa nos passa a noção de falta de tempo. O relogio não é bom para ninguem, a não ser para quem tem pressa. A pressa é uma consequencia desastrada dessa maquineta perversa, pois nunca estamos no tempo certo, com o passo adequado ou a presteza necessaria.

             Não existe urgencia quando está atento, nem surpresas, tampouco, sobressaltos ou temores. Não tem pressa porque sabe que tudo acontece a seu devido tempo. Não se sente forçado a acelerar o passo, pois já compreendeu que o unico lugar 
possivel para ter paz e prazer é sempre aqui, neste momento, agorinha.

        Não é a impaciencia, por acaso, a falta de paciencia com este momento ?  Inconformismo com os fatos, intolerancia com o que está aí, queixumes, preguiça, sempre à espera de um tempo melhor
para viver, e cerveja para comemorar.

      Para onde será que foi o tempo ? Foi o tempo que encolheu,
ou a vida que perdeu o sentido ? 
Sem sentido ou discernimento, não há tempo suficiente para dar significado à vida.

       Não parece um desperdicio ter tempo ( tempo sempre há ), e
 não ter vida para viver o tempo disponivel ?

     O ar está festivo, mas não há animo para a diversão. Os pandeiros e tamborins estão animados, mas o dançarino está 
cansado. Esgotou o mundo e acredita que a vida não tem mais
misterios para ele.

        Desencanto por tantos descaminhos.
         Desgosto por tantas desilusões.

     Se torna amargo, olhar já sem brilho, passo lento e alma
mumificada. Em que encruzilhada será que se perdeu ?

          Porque insiste em esperar por algo quer não existe ?
Quanta vida pode ser vivida num dia  apenas!

        Não vivemos, porque esperamos por mais tempo. E tanto  esperamos, até não haver mais vida para ser vivida. O dia acaba e a festa tambem. Onde esteve enquanto os pandeiros e tamborins 
ainda eram festivos ?  Por onde andou quando os sabiás cantavam ?

      Confundimos tempo com vida. A vida não pode ser medida num
padrão de tempo. Não é pelo relogio que contamos a quantidade
de vida que vivemos. Tanto pode ser vivido num espaço de
tempo que nem conta.

      Poderá viver muito mais num dia apenas, que o tempo de uma vida toda. Não é a quantidade de tempo que importa, mas a qualidade da vivencia, a percepção de si, a consciencia de cada momento. 
                 Apenas vivemos no tempo, a vida, contudo, não é esse tempo. Barquinho na agua. O rio flui, e não são as ondas que
determinam o destino do barquinho.

        É o tempo que passa, ou somos nós que deixamos a vida passar,  escapando-nos por entre os dedos, se acabando, esmilinquindo, desbotando, se apagando lentamente, assim  como a chama quando a vela acaba ?

       Quem reclama por mais tempo, é porque ainda não tomou consciencia do verdadeiro significado da vida.

  

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A NOSSA CASA É ESTE MOMENTO



          Quando perde-se este momento, não há futuro possivel que resgate a vida que sumiu na ilusão dos sonhos.

      Quem espera, é porque perdeu o verdadeiro sentido da vida.
O vazio do agora tentando ser preenchido com expectativas vindouras. É esta a imagem fiel de quando se perde o rumo e nada
mais faz sentido.
      O possivel de ser vivido, degustado, sentido, apreciado, está
disponivel agora. Apenas e somente agora. Hoje é o dia. A vida
nunca é mais que este dia ( pense nisso ). Para mudar, basta hoje. Todo o poder está concentrado nesse dia, pois ele é o mensageiro de todas as possibilidades, de todas as mudanças possiveis.

       Não há outra vida disponivel, a não ser a contida neste momento, neste dia. Porque a vida é HOJE. É AGORA.

     Já se deu conta que a vida quando finda, o fato não se cumpre nem ontem, nem amanhã ? A vida, quando acaba, acaba sempre nesse instante. Moral. Não existe vida em outro tempo que não seja 
já-já, agorinha. A insistencia em procurá-la em outra instancia, é
como jogar um jogo sem o conhecimento das regras.

    Qual então o sentido da espera ?  Não há vida naquele outro tempo que aguarda para então finalmente viver.
O não vivido agora, não será mais vivido, tampouco.
     Quando  dança... o prazer da dança pode somente ser desfrutado enquanto dança. Não pode dançar agora e ESPERAR desfrutar seu prazer seja lá quando for. 

      E, não é a vida, porventura, uma permanente dança, em
continuo movimento, um constante bailado ? 
PROCURE por si enquanto dança, enquanto caminha, enquanto dirige, come, dialoga, trabalha... para verificar a que distancia está de si mesmo. É esta mesma distancia que o mantem longe da sua casa. Há sempre grande conforto e alivio quando se volta para casa.
Volte para esse momento, é este o seu lar !

    A importancia está sempre a nivel da alma. É lá que a luz se acende, trazendo inspiração e encantamento, renovando a
disposição e o entusiasmo em tudo que fazemos.

      A emoção está enquanto subimos a montanha.
Podemos apreciar continuamente o topo, ou então nos
maravilharmos com cada momento, a cada novo passo que damos. 

       Se a vida não for a manifestação da paz e da alegria,
é qualquer outra coisa,
mas não é a vida, com certeza.

      
   


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A VONTADE É PODER


             
          -  Seu João, isso que o senhor está relatando, são sintomas
que caracterizam uma doença das juntas o que, alias, se confirma aqui nos seus exames.
Alem do mais, a sua pressão tambem está elevada, assim como o  colesterol e a glicose. 
O medico continua examinando outros resultados e prossegue com
voz pausada para dar mais enfase às suas informações.
       
          - A dificuldade com a urina é porque sua prostata está aumentada. A falta de ar e a dificuldade para se movimentar, tem a ver com seu sobrepeso. Está gordo demais, seu João ! É peso demais para seu coração, suas juntas, seu figado, sua
cabeça.... o medico silencia, nesse ponto, se segurando pois seu desejo era complementar "demais para sua alma tambem".

        Se conteve. Continua olhando os papeis mas não se atendo mais aos numeros, apenas dando tempo para que os esclarecimentos a seguir pudessem fazer eco, levando a uma mobilização interno do paciente, que fosse capaz de um comprometimento consigo mesmo, e, a partir dai, uma mudança de postura, de enfoque, de perspectiva. Isto é, caminho para a cura.

       As verdadeiras mudanças não seguem os caminhos da razão,
 se realizam em niveis mais profundos, quando o intelecto
tiver sido posto de lado, sem a interferencia da racionalidade.

       Há aqueles momentos em que o silencio se reveste de um significado  especial,  muitas vezes  mais eloquente que discursos pomposos ou considerações logicas, coerentes, ou até sensatas. 

         O medico fez uma longa pausa entre a analise dos exames e suas ponderações finais quanto ao esquema terapeutico.  Parecia estar refletindo, a julgar por seu olhar atento, sua postura cautelosa, para encontrar a melhor forma ou a melhor palavra para se fazer entender e, desse modo, poder ajudar seu João a livrar-se de tanto sofrimento.
                      - Acho que o senhor já deve ter entendido, a essa altura, que sua condição fisica está a exigir, com relativa urgencia, uma serie de cuidados.
Começou então a falar da necessidade urgente de se movimentar
com regularidade, para que  as condições gerais do organismo pudessem se reestruturar.  Fez uma explanação extensa de todos os beneficios advindos da atividade fisica regular e disciplinada.

Expos tambem os cuidados relativos  à alimentação, o maleficio de certos habitos alimentares que, sem mudança nesse sentido, pouco efeito podia ser esperado do simples tratamento medicamentoso.

Não deixou de assinalar tambem os efeitos das emoções, a relação
existente entre o que sentimos e aquilo que o corpo manifesta como saude ou doença.

       Seu João, apos ouvir todas as ponderações do medico, foi
tomado por um sentimento de desanimo e desconsolo.

           Quando entrou no consultorio, viu a parede da sala de espera
emoldurada, de cima a baixo, de pequenos quadros com diplomas e
certificados de cursos.
Até imaginou que devia havia mais dessas molduras, apenas faltava
parede para mais exposição. 
Imaginou que um doutor graduado dessa forma, haveria, com certeza, de dar solução aos seus tantos sofrimentos. Teve, momentaneamente, a sensação que estava no lugar certo, e sentiu-se aliviado. 

           Apos a fala do doutor, no entanto, o sentimento de alivio
transformou-se em descrença e amolação. Esperava que seus males fossem resolvidos com alguns comprimidos ou qualquer outra intervenção terapeutica. Para que tantos diplomas pendurados na parede, pensou contrariado, se dependia dele, em grande conta, o
sucesso do seu tratamento. 

      Baixou a cabeça, em sinal de respeito, enquanto o medico continuava sua explanação sobre as mudanças que teria que realizar 
em sua vida, implementar novos habitos e desfazer-se de outros
tantos.

     Não quis polemizar, nem dar voz aos seus pensamentos.
Estava frustrado. Sua contrariedade tinha a ver com a esperança
que nutria para ver-se livre das suas questões, simplesmente atraves 
da intervenção do medico, do mesmo jeito que faz  papai quando o filhinho se encontra em apuros, resolvendo suas dificuldades.
Num ultimo momento, mesmo assim desabafou : doutor, quanto
sacrificio ! Isso tudo que o senhor falou, vai me cansar muito ! 

         Paulinho estava muito furioso com seu papai porque este
não lhe trazia mais um chocolate todos os dias. "Não gosto
mais de ti ". Amuado, baixou a cabeça, e fez beiçinho.

             São nossas crenças que determinam nossos julgamentos.
Não podemos ir alem do que formos capazes de conceber com
nossas convicções.

       Nos transformamos em função da nossa vontade. O poder de 
um homem é estabelecido por ela.
 As coisas impossiveis acontecem, emanadas por esse poder.

       A vontade é a realização maxima de um homem.

   

        

        







  

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O CONHECIMENTO SILENCIOSO



                 A salvaguarda da pessoa comum geralmente são os
recursos do mundo comum. Sendo esse o principal motivo pelo qual
não busca um novo modo de vida para uma realização maior.

           Satisfaz-se com pequenas conquistas, fazendo as coisas de sempre, numa rotina maçante, sem sentido, nem conteudo. Não consegue apreender da vida mais que o corriqueiro, dado que o nivel de percepção depende do nivel de desenvolvimento da consciencia.

        Não é de arrepiar não ter nada pela frente a não ser a rotina 
e as coisas de sempre, fazendo sempre tudo igual ? Depois envelhece, fica cansado, o olhar se turva e a alma murcha. Na sua
cadeira de balanço seus pensamentos fogem para o tempo em que ainda fazia as coisas que sempre fez. Nada mais para recordar,
tampouco para viver. A vida que não foi vivida, não haverá vida para ser lembrada. Pode haver desperdicio maior ?

     Em constante preocupação consigo mesmo, se sente
inseguro, desprotegido e carente. Considera-se vulneravel por não
conseguir  conexão em outros dominios a não ser as interminaveis
preocupações de todo dia. Sem satisfação, desfavorecido, sentimento de culpa por tanta coisa, e, para complicar, uma auto-estima de dar dó. E sua vida se resume a isso. Dar conta
das pequenas coisas, dos problemas de todo  dia e ir levando como
Deus quiser. 

         Sempre com pressa, não conseguindo desfrutar. Por isso se agita, engolindo a vida com a mesma premencia de quem come de pé sem tempo e sem prazer. Assim como o alimento, a vida  se torna, de igual modo, insossa.

    Continua levando a vida de sempre, fazendo tudo do mesmo  modo, dia apos dia, a vida toda, aos empurrões, sem tesão nem energia, por não haver disposição nem estimulo para adotar um
novo modo de vida, buscando o conhecimento ou se empenhando
em algo diferente, questionando alternativas, abrindo paradigmas
ou simplesmente descartando "verdades" já sem sentido nem coerencia.
                       Mudar doi, sem mudanças, no entanto, o sofrimento
é de outro nivel, de proporções sem igual.

       Existe mais vida para ser vivida que a vida miuda a que estamos habituados. Quando se renuncia ao verdadeiro conhecimento o despertar da consciencia se torna impossivel.
Buscará então o poder como substituto à verdadeira transformação
pessoal. Se lançará em cruzadas inconsequentes e temerarias, recorrendo às conquistas, façanhas e triunfos a satisfação que, de outra forma, não consegue reconhecer.

       Talvez até consiga ter o mundo em suas mãos. Transformar-se no senhor da vida e da morte. Em contrapartida, terá negado a si mesmo, incapaz de se descobrir ou entender. Ainda está ansioso, ainda haverá medo, e o vazio de si não terá sido preenchido nem compensado.

          Ainda espera, ainda busca, se agarrando ao mundo como
salvaguarda do seu mal-entendido. Não há silencio, entusiasmo ou
calmaria, pois a verdadeira tranquilidade nasce quando deixa de haver a necessidade de sentir-se engrandecido ou importante pelo
que se tornou no mundo da realização.

     A auto-imagem se torna, desse modo, a marca do homem moderno. Busca consolo nesse reflexo, pois de outra forma, que foi
que sobrou ? Se refugia num mundo de aparencias, reforçado por
uma representação de destaque e respeito. Seu senso de valor
extrai dessa figura desenhada por seus feitos e aquisições.

     Sente medo, por isso se torna inevitavel a criação de uma realidade que sirva de escudo. Suas defesas nada mais são que um reflexo da sua fragil e vulneravel realidade interna.

     Quando se torna desprendido, se torna tranquilamente vigoroso.
Nada a esperar, mas suas escolhas são estrategicas,  por isso executa suas tarefas com vontade e uma eficiencia desmedida.

    Torna-se sabio. Adquire paciencia e compreende o verdadeiro
significado da vida. Sem pressa para chegar, assim obtem resultados.  Focado no que está aí, no seu entusiasmo, comprometido com esse momento e não com aquilo que segue, 
colocações ou circunstancias.

                    Na paciencia não há ansiedade nem espera, pois não
há o que esperar. Virá, mas sem tensão nem esforço. Organiza a
vida de maneira estrategica, por isso se torna eficiente frente suas escolhas e atuação.

          Nesse contexto, começa a perceber-se diferente porque uma especie de poder começa a fazer parte do seu dia a dia. Um poder que emana dele proprio e que irá se menter enquanto permanecer fiel ao seu processo.

     Está no mundo mas o poder não virá dele. Procede da 
conexão que fez consigo mesmo estando no mundo. Nessa circunstancia, chega ao verdadeiro conhecimento, o conhecimento silencioso dentro do qual virá a saber, finalmente, quem é.

  





domingo, 11 de novembro de 2012

" A INCRIVEL BOA SORTE "

    

  Tanto sonhou que perdeu a esperança.

  Não parece estranho ? Aprendemos que a espera conforta, traz consolo e nos resgata das frustrações de uma vida que não conseguimos dar sentido nem significado.

  Se for ver, verá que a espera paraliza pela imobilidade psiquica que estabelece.  Abrir mão desse  momento para estar bem num outro tempo, bloqueia o fluxo de energia, levando a um movimento de contração da atividade psico-fisica, com consequente letargia e perda da vivacidade . E porque haveria de ser diferente ?  Seria, por ventura, o desconforto interno pelas circunstancias atuais, o pré-requisito ou o passaporte para um tempo mais venturoso num tempo vindouro ?  Isto é, o infortunio presente servindo como atalho para redenção futura. Ou, simplesmente, por não estar bem agora, estarei bem depois.

 Preocupado agora com o depois é o reflexo inconteste da importancia do amanhã e a consequente inutilidade desse momento. Por essa razão, a utopia dos sonhos seria o refugio mais pertinente para livrar-se do abatimento e a falta de relevancia do momento presente. A frustração atual servindo de solo fertil para expectativas promissoras. O sofrimento como moeda de troca para  satisfação e bem estar futuros .

      Claro que queremos estar bem nos tempos que virão, entretanto isso não se torna possivel atraves da exaustão e do desperdicio de
energia que as fantasias nos impõe. 

      Quando a visão se encontra focalizada nos eventos futuros,  desempenhando o resgate do vazio existencial, se negligencia, no mais das vezes, a que somos chamados para coisas do dia a dia.

    Nos dividimos. Enquanto o corpo permanece presente, a mente se desloca para um mundo de ilusões fantasiosas. Com isso, a pouca energia disponivel será transformada num mundo virtual feito de imagens deslocadas no tempo. Um mundo visionario onde nos transformamos em paladinos de faz de conta. Herois de contos de fadas que nos contamos a nós proprios como se fossem historias reais.
           Nos distraimos em esperar, desperdiçando energia. E quando abdicarmos disso, descansamos finalmente. O pesadelo termina. Dom Quixote, ao viver seu sonho impossivel, em delirios desatinados, descansou, por fim, na propria demencia e insensatez desvairada. A quimera, pela qual estivera obcecado, fascinou a tal nivel de transformar-se em cativeiro. Refem do seu sonho, não
encontrou o caminho de retorno para a vida.

                             Independente das circunstancias externas desfavoraveis, abdicar desse momento em busca de refugio num mundo de sonhos e expectaticas, com certeza, não trará a paz que
se queira, nem a satisfação que nos falta.

      "Perdi a fé na vida", me confessa decepcionado um amigo, com voz, olhar e postura de decepção. E continuou a desfiar sua cantilena de desgraças. Dinheiro minguado, sub-emprego, filhos doentes, esposa depressiva, contas ... etc, etc, etc .
O ouvinte incauto, que não estivesse devidamente atento, bem que poderia tornar-se presa facil da crença de que a vida é realmente esse inferno.
                   A vida, a bem da verdade,  não é nem encantadora, tampouco intoleravel. Apenas se adapta ao nosso comando interno
de satisfação ou queixume lamentoso. Presente ou ausente do fluxo da vida de cada instante. 

        Ao abrir mão das coisas desse momento, sendo elas tediosas ou não, tornando-se um mero espectador esperançoso de um  futuro salvador, descuidando, portanto, do que está aí, irá, sem duvida, atolar-se cada vez mais em mais descontentamento e sandice.

       A realidade externa é criação do sentimento interno desse momento. O que sinto agora, vira forma logo aí adiante. A contrariedade com as circunstancias atuais, se transformará no seu equivalente em vivencia de vida.

         Dias desses comentava com uma bergamoteira a respeito da esperança. Percebi que ela ficou intrigada, com ar confuso, assim como fica quem ouve falar de algo que não entende, ou por não adaptar-se ao seu sistema de crenças, tornando-se, desse modo, incongruente e totalmente estranho.
A coerencia diz respeito ao que tem significado e faz sentido em nossa vida. E foi por isso que ela retrucou enfatica : não sei do que está falando. O que é isso que chama de esperança ?

     Nesse instante me dei conta que a bergamoteira não tem de fato necessidade  "disso que chamo de esperança", principalmente ao
contemplar sua exuberancia e beleza, seu brio, energia, confiança e determinação.

             Criamos a partir do quanto formos capazes de nos encantar. Criação e sistema de crenças, não são mais que causa e efeito de uma ordem maior que vincula o visivel e o invisivel, a forma com sua fôrma.  O molde não é a coisa, mas esta é determinada por aquela.
 O mundo é moldado, isto é, criado a partir de um molde.
Assim, para cada crença, a sua realidade correspondente.  

            A esperança gera ansiedade, expectativa, impõe espera
para estar bem. Esperar, diminui o nivel de energia, que representa a materia prima da criação. Portanto, energia escassa, realidade compativel. 

        Mas, quando estiver aí, com aquilo que cada instante traz, a
pessoa será acometida de uma rara estabilidade emocional, clareza
de pensamento, e um poder aumentado de concentrar-se nos seus atos que normalmente não possui. Haverá paz, contentamento e uma profunda sensação de bem estar. O fluxo de energia aumentará
de um modo extraordinario, o que, por sua vez, se refletirá na
sua capacidade de realizar.

           Não seria isso, por acaso, o que se chama de  "incrivel
boa sorte " de algumas pessoas ?   

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A ESPERANÇA FRAGILIZA


                  Delegar ao futuro uma vida de bem estar,  paz, plenitude ou segurança, debilita o ser humano.

          A esperança fragiliza ( surpreso ? ).  As expectativas futuras carregam a solução para todos os impasses de uma vida sem significado e conteudo. Uma vida sem graça, sem sentido, sem tempero.
                   Desse  modo, o futuro se torna uma possibilidade magica, uma ilusão paranoica, que nos libertará  de todos os conflitos e inquietações do dia a dia, de todos os dias,  para os quais não vislumbramos alternativas de solução. Seremos lá, então,  livres e felizes para desfrutarmos a plenitude de uma vida tão sonhada e aguardada com tanto interesse.  Ultimo refugio quando a vida perdeu o encanto e a capacidade de nos maravilharmos. Antes que nada, ao menos a esperança !

           Na espera existe investimento de energia. A pessoa desloca-se energeticamente para o futuro, abdicando desse momento, o que, por sua vez, o tornará, mais arido, enfadonho e sem perspectiva. Buscará, desse modo, nas visões futuristas, a solução para os seus embaraços, dificuldades e desencantos.
Dentro dessa visão, o mal de agora poderá, por fim, ser recompensado ... depois ... quando o depois chegar !

       A esperança fragiliza em consequencia dessa dissipação de vigor e alento. Projetado para o futuro, esvaziamos esse momento de qualquer qualificação e legitimidade. Vale apenas pela sua possibilidade de nos fazer sonhar. Ponte para as ilusões de
 um tempo de utopia..

               Por essa razão, a espera nos torna dependentes. Vira droga, e como tal, nos torna viciados em esperança. A gente sofre, e no mais das vezes, não sobra mais que a esperança.

             Abdicamos do poder desse momento, identificando-nos
com uma imagem futura,  um tempo onde a satisfação será por fim
resgatada, pois os objetivos terão sido, finalmente, realizados.

         Nesse contexto, a pessoa estará em constante estado de inquietação, de encolhimento tornando-se retraida,  levando a uma situação de contração, tanto a nivel corporal, quanto psiquica. Esse estado de contração energetica gera as condições ideais para a instalação de toda forma de enfermidade e desequilibrios.  

         A esperança adoece porque fragiliza o individuo ( não é confortavel ouvir isso, contudo...  ). Vivemos num universo que é determinado, em ultima analise, por energia. Tudo é energia. Materia não passa de energia condensada.  E, para criar a forma, a energia torna-se indispensavel, materia prima da criação.  Einstein provou matematicamente o que já era  consenso dos sabios da antiquidade. O povo futurista, no entanto,  desconhece o principio da lei. Aposta na quimera sua percepção de felicidade.

                              A falta de energia é o que determina a dificuldade de concretizar, realizar, gerando, dessa forma, uma realidade carente, confusa e sem sentido. 
Doença, sofrimento, privação, tristeza, angustia, são apenas outras
formas de  conceituar niveis minguados de energia. 

             O momento presente que não ambiciona, é completo em si mesmo. Ele se basta,  É auto-suficiente. Traz EM SI MESMO a energia para estar bem. Há satisfação. E satisfação motiva,  leva à realização pessoal.
Está bem. Se sente bem, por isso faz bem feito. E quem faz bem feito, tem sucesso naquilo que faz. Está pelo prazer, pela curtição. 
O gostoso é estar aí, sem esperar nada, sem objetivos, interessado apenas na sua satisfação interna, na alegria que sente por estar se dando por inteiro, se experimentando, se realizando.

     Isso não significa que não haja empenho, determinação, boa vontade e um profundo envolvimento. Está focado, mas o foco
está naquilo que está aí, compromissado com esse momento.
Se o foco estiver centrado nos resultado, não haverá empolgação,
o entusiasmo terá sido confiscado pela ansiedade do amanhã.

          É a alegria a suprema fonte de realização, porque gera energia em abundancia. E a energia tomará forma, criando possibilidades sem fim.

          Para tanto, torna-se necessario escolher a alternativa adequada e, de imediato, identificar-se totalmente com ela. Comprometimento ( gosto desse termo ). Sem comprometer-se, não há verdadeiro envolvimento.

      Pactuou com o futuro, com suas falsas promessas, esperando viver bem depois, quando... quando.... quando ? Ou fez a escolha por tudo que está aí, estando consigo e com tudo  que esse momento oferece ?

          Existem duas naturezas de pessoas. As que esperam estar bem depois, e as que encontram satisfação naquilo que estão fazendo agora, não tendo que projetar-se no futuro para, somente então, sentirem-se realizadas. O poder está em suas mãos, o poder de fazer escolhas,  decidindo-se por esse momento. 

           E isso é SUFICIENTE. Nada mais se torna necessario. Sem perspectivas de alcançar qualquer objetivo futuro, sem esperar nada, mas com o olhar fixo naquilo que está aí. Integrado na totalidade desse instante. Presença plena, honrando cada aspecto de qualquer movimento, alerta, atento e cauteloso.
         
                    Com essa concepção tudo acaba fluindo com naturalidade, sem esforço, como se fosse mandinga. A mandinga que acerta as coisas. Tudo se facilita, sem chateações, entraves ou dificuldades. O tico-tico me falou que é assim que as coisas que dão certo funcionam. E nunca vi nenhum deles que apresentasse
depreção ou estivesse triste. Existe tico-tico preocupado ?

                      Os caminhos se abrem em função de uma mudança interna, uma mudança de percepção, o que determina um acrescimo
continuo e constante no fluxo da energia.

                 Sem pressa, sem se obrigar a nada, nem centrado em resultados.  A satisfação não está pelo que possa vir, mas pela curtição do que está aí. Sintonizado consigo mesmo enquanto faz o que está fazendo. Está solto, dentro do seu movimento, no seu pique e não comprometido com beneficios ou vantagens.
É por isso que as coisas vem de um jeito facil, como quem está acima de todas as complicação da vida. Virado para a lua ?

             Não é isso que recebe o nome de sorte ? A sorte acontece quando está envolvido com esse momento, quando o assumiu INTERNAMENTE, quando fez a escolha de estar aí, sem se empurrar para objetivos futuros. Sem se forçar para nada. Escolheu estar bem AGORA. Apenas isso; o que acaba se transforma em aposta,  atitude, uma opção. E como tal, identifica-se com ela, esquecendo resultados, ganhos ou seja lá o que for que o futuro possa trazer.

      O futuro não existe para quem vive apenas esse momento. 
As coisas não vem pela força da esperança, mas pela opção de não esperar. Os sonhos existem quando se perdeu o encanto de estar
aqui, a empolgação, a magia que cada momento traz. Se estiver atento, perceberá que este momento é magico.
Qual o objetivo dos sonhos se está bem agora ?

              A felicidade procurada nos escapa sempre. Crescemos
quando finalmente abrimos mão da esperança de um dia sermos
felizes. A alegria que não for capaz de viver nesse instante, não será
possivel de ser vivida em outra circunstancia.
Dar continencia à vida é uma caracteristica daquele que assume
cada momento.

           É por não esperar, que ganha sempre. O mito de Dom Juan o confirma plenamente. O futuro não é outra coisa que a projeção desse momento para dentro do tempo. É por isso que o futuro é sempre  agora. Caso transforme o agora em futuro, perderá ambos.
E isso recebe o nome de sofrimento.

                                Esse momento não necessita de futuro para estar bem. É completo por si mesmo. O que é poderoso dispensa ostentação de grandeza. Todo o poder do universo está concentrado nesse momento. Porque procurá-lo em outra instancia ?

           Quem decide  refugiar-se em outros contextos daquilo que está aí, barganhando com passado ou futuro, em busca de consolo para o vazio da vida, estará abdicando do seu poder.  Criará um universo que irá refletir essas escolhas. Dor e sofrimento são sempre consequencia dessas escolhas inadequadas. 

                            SÓ É POSSIVEL ESTAR BEM AGORA.  Não existe outro tempo ou circunstancia para mais. Tudo o que há, é agora,  que contem todas as possibilidades  para  realizar, se encantar,  emocionar e criar.

              Esse momento pode não ter nada de especial para relatar,
afinal está apenas fazendo o seu trabalho de todos os dias,mas não
 é por isso que deixa de emocionar. Comove por sua singeleza, pelo seu silencio, por sua sutileza. Por estar presente. E é pela nossa presença que ele se torna vivo, poderoso, a fonte inesgotavel de toda  energia. O poder desse momento só pode se manifestar atraves desse estado magico de presença.

       A magia é essa. Ao tornar-se presente saberá que esse momento é apenas uma outra forma de dizer Deus.

         E se Deus pudesse ter um apelido, bem que poderia ser :
 " AGORA, ISTO AQUI ! "  Nome e sobrenome...