sexta-feira, 21 de setembro de 2012

PARALELO ENTRE O CRESCIMENTO CANCERIGENO E O TRAFEGO MOTORIZADO


            Acordei hoje com uma ideia fixa perturbando a cabeça, que persistiu ao longo do dia, deixando-me estranhamente tocado.  É por esse motivo que estou agora aqui, repassando o tema para voce.
                    O fato em questão normalmente pouco me afeta, por isso a estranheza, por ser um individuo recluso, pouco afeito ao transito, entretanto,  diz respeito praticamente a todo mundo : a situação caotica e deprimente em que se encontra mergulhado o fluxo automotivo das grandes e medias cidades.

         A situação atingiu dimensões insustentaveis, interferindo decisivamente na qualidade de vida de todo cidadão; chegando ao
desproposito de se passar quase o mesmo tempo no trafego que  no proprio trabalho ( nas grandes metropolis ). 
                                  Quanto tempo perdido, diariamente, apenas para  ir e vir, casa trabalho, trabalho casa ! Sem falar do imenso desgaste fisico, mental e emocional, nervos sempre à flor da pele, testando continuamente os limites da tolerancia e civilidade !

          Os gurus tecnocratas buscam soluções de toda ordem, inovando alternativas, reorganizando o fluxo mas, por mais que tentem, o pandemonio só faz aumentar.

            As verdadeiras soluções, seja para o que for na vida, encontram-se sempre em planos bem mais profundos que exigem sobretudo coragem, compromisso com a verdade e autentico comprometimento com a causa. Olhar desvirtuado gera soluções capengas por estarem sempre comprometidas politica e economicamente.
                       Quando não se enxerga o obvio, é porque o olhar se 
encontra desviado para temas que maqueiam a verdade, objetivando intenções que desobrigam geralmente a tomada das decisões pertinentes.

       A solução engendrada é apenas um faz de conta, como se algo estivesse sendo feito, para mostrar ação, não passando, contudo, de um expediente de astucia, uma estrategia dissimulada, onde a verdadeira causa permanece intocada.

            A industria e a economia, em função da sua propria natureza, não tem interesse pela relação entre os fenomenos sociais
e o bem estar da pessoa. Seu objetivo final tem a ver com indices de crescimento, dividendos, lucro, maximização dos ganhos. E como os pilares da nossa sociedade estão fundamentados nelas ( industria e economia ), todos os outros interesses e pontos de vista da vida das pessoas acabam sendo secundarios.
Como essas coisas não são noticiadas nos telejornais de todas as noites, para nós, o que a telinha não mostra, provavelmente deve
ser destituido de valor. 
                                Quando se desvia o olhar de cenarios que
realmente importam, mais a situação se deteriora, e o retorno à
normalidade, cada vez mais imponderavel. O mal se cronifica, à
espera de saidas magicas que, infelizmente, não fazem parte do
senso adequado nem da competencia. 

           A obsoleta visão que se tem da realidade geralmente despreza as consequencias do que haverá de vir em função das
escolhas decididas. Desse modo, não se analisando os fatos que afligem a sociedade humana, considerando os efeitos como consequencia de uma causa determinante, não haverá esperanças para a busca de uma nova concepção de mundo, onde sejam postulados a dignidade e a justiça como verdadeiros requisitos da convivencia humana.

     Sem duvida, estamos num beco sem saida. O paradigma que nos
alimenta de esperanças unilaterais de progresso, com certeza, não
passa de utopia, devaneios romanticos, que o tempo do despertar 
haverá de desfazer. Produção em massa a qualquer custo, gerando progresso e aparente prosperidade, com curvas de crescimento, sempre e cada vez mais para o alto, onde cada país exibe seu trofeu, em forma de um PIB expressivo, como parametro de sua expansão, grandeza e importancia, esse progresso, em algum momento, haverá de mostrar o lado reprimido, surgindo inesperadamente do reino das trevas.      
                               Ao criar mais de que quer que seja, o excesso será sempre recompensado com menos, em algum outro ambito e a seu devido tempo. Tudo o que sobressai, chegará o momento do recolher. É a força da lei. A natureza compensando os desequilibrios da unilateralidade.

       Nem sempre onde 10 sendo bom, 100 será ainda melhor. Todavia é essa a definição de progresso da sociedade moderna, onde MAIS é o ideal a ser buscado de qualquer forma. Será ? 

           Quando a produção excede um determinado ponto, tem inicio a catastrofe. A unilateralidade busca, sempre, por si propria,
como lei compensatoria, um novo ponto de equilibrio, desfazendo o movimento anterior, causador do desequilibrio.
   Ninguem se distancia impunemente de um dos polos do ambito
da vida. O retorno se fará de qualquer maneira e, geralmente, não sem muito sofrimento e desespero.

          É possivel termos uma visão perfeita da solução para o caos
do transito urbano, observando o crescimento humano, animal ou vegetal. No inicio esse crescimento é acelerado e ele acontece até  uma certa fase, quando passa a ser apenas conservado. A produção das celulas não continua se expandindo ( o que geraria mais
 crescimento ), e o organismo se limita apenas a substituir aquelas que são eliminadas. Assim,crescemos até a adolescencia !
      É um determinismo da natureza que não cede aos caprichos ou
exigencias da racionalidade.

                   Se o crescimento não fosse detido alem de um determinado limite, a natureza seria cenario de seres grotescos e
bizarros como saidos de um inimaginavel filme de terror. A raça seria extinta pelo seu crescimento anarquizado e fora de controle. 

            E é esse modelo, sem exceção, que modula o crescimento de tudo o que é vivo nesse planeta. As plantas, animais e seres humanos são regidos por esse padrão de conservação da vida. A vida existe e se mantem em função dessa normativa. Crescimento limitado até um determinado ponto, a partir dai,  manter, administrar, proteger. A energia que esteve envolvida no crescimento, será agora utilizada na conservação do sistema.
              A natureza tem tido exito com esse mecanismo, mantendo a ordem e o equilibrio com perfeição desde sempre.

     No entanto, existe tambem um outro molde dentro do qual se
realiza um outro tipo de crescimento, que é contrario ao crescimento anterior. Sendo, portanto,  um movimento anomalo, patologico, não mais ordenado,  onde o sistema não está mais sob a determinação de um comando central. 
                As celulas se reproduzem de um modo exponencial, com a incrivel velocidade de uma avalanche, tornando a dinamica violenta e irrefreavel, conduzindo a estrutura, por inteiro, geralmente, para a completo destruição. É assim que se instala a
tumoração de um cancer. Crescimento fora de controle. Hipertrofia
regido por um governo paralelo, sem legitimidade mas atuando com
violencia e rebeldia. Tem força, apesar de falso.

       Essa multiplicação degenerada, pervertida, incontrolavel leva
o organismo afetado ao aniquilamento, pois as forças estruturantes não tem mais capacidade para  manter o sistema em equilibrio. A ordem foi subvertida. Rebeldes se apossaram do trono.

       Rompimento do ponto de proporção. Descontrole do contrapeso. Desestabilização do criterio e da coerencia, franqueando, por fim, a anarquia e a tragedia. 

     A lei da causa e efeito mantem vigilancia apurada sobre os
designios da vida. O efeito, uma vez manifesto, não tem autonomia, por si proprio, para restabelecer a ordem abalada. Efeito é  resposta a uma lei da natureza. É consequencia, repercussão, produto do
cumprimento  de dominios anteriores à sua manifestação.

     Afinal .... e o que essa conversa doida tem a ver com a visão agoniante e desesperadora de milhares de quilometros de lentidão,
diarios, do trafego motorizado das nossas cidades ?

            Celulas  se multiplicando à revelia de um comando central, conduzindo o organismo à destruição; não é isso, por acaso
que estamos assistindo no nosso sistema economico, que tambem se baseia no mesmo conceito de crescimento  logaritmico ? Produção em massa da industria automotiva, com milhares de unidades num reduzido espaço de tempo, não havendo, no entanto, rodovias que  absorvam e deem vazão a tamanha avalanche. 

      O conteudo excedendo absurdamente o continente. Fala-se então em congestionamento, engarrafamento, obstrução do livre fluxo. Isso, num contexto fisiologico, a nivel circulatorio, conduz ao infarto, falencia cardiaca e morte. 

       O que percebemos como maligno num organismo isolado, se ajusta aqui à perfeição. Fala-se que a economia precisa crescer e sempre, pois a definição de crise está atrelada intimamente à falta de crescimento. Curvas ascendentes e ilimitadas de expansão, onde cada vez MAIS é o sagrado ideal a ser buscado de qualquer
forma, não é essa,  por ventura, a contingencia que cria os cenarios
de horror a que assistimos, com olhos de não querer admitir, não apenas no trafego motorizado, mas tambem em todas as esferas
e dominios da sociedade humana ?

            A estrategia usada pela civilização moderna como  ideal para o progresso e crescimento, não é diferente da usada pela celula cancerigena. A humanidade está aprisionado dentro do mesmo circulo vicioso do cancer, onde o aparente sucesso da produção em massa, está, no entanto, fadado ao fracasso.

       Geração indiscriminada com descontrole incontrolavel, leva qualquer organismo, seja humano ou social, à deterioração.
  E não resta duvida, que a economia moderna sofre do mesmo mal que leva o individuo à morte acometido pelo cancer.

     Já não há mais espaço para crescimento positivo. Quando o organismo amadurece, adota o crescimento zero ou mera manutenção, mesmo assim a vida se estabiliza e segue adiante.
Crescimento zero não gera crise ou desestabilização do organismo,
mas o adapta para um novo ciclo, um outro estagio de evolução.
Quando se deixa de crescer, é chegada a hora de amadurecer.

       Crescemos, como humanos, até a adolescencia. Aumentamos em volume e estatura até atingirmos a forma corporal adequada de adulto. O crescimento cessa a partir desse ponto, não havendo necessidade de mais para que seja melhor. Quando se quer avançar para alem do otimo, descamba-se para o caminho da decadencia. 

                            A politica da economia ainda não atingiu a idade adulta, a maturidade. Por isso as atitudes  imprudentes e a falta de ponderação das autoridades que decidem e deliberam. Falta coragem, acima de qualquer outro quesito, para perceber que a industria automobilistica está submetida ao mesmo descontrole do  cancer. Está enferma de morte, seduzida  pelo canto hipnotico da sereia da ganancia, do ganho perverso e sem limites, deslocando perigosamente e com incrivel rapidez a linha tenue e delicada, que mantem o equilibrio e a ordem, para a zona da catastrofe e da tragedia.

                 E a sociedade  fica refem da farra desse modelo economico do crescimento exponencial, selvagem, levando a humanidade para extremos de onde não haverá retorno, a não ser com inimaginavel terror e sofrimento.

                  Inchar significa encher para alem de uma certa fronteira.
Acumular, entulhar, amontoar, abarrotar, embuchar até o ponto de embrutecer, perder o limite, a medida justa, a forma,  a compostura
e por fim a vida. 
                O organismo, assim como qualquer instituição, permanecerá saudavel sempre que se mantiver dentro das diretrizes da ponderação, do bom senso e da justa medida.
          Estrutura em equilibrio  é estrutura saudavel, saneada, auto-
sustentavel, dado que se ajusta à normatização da vida.
                             Coisificamos a existencia, devorando com voracidade inconsequente e temeraria, como modelo de compensação para o vazio existencial, que não encontra vazão em outros ambitos internos. O lugar do bom senso é ocupado pela miseria espiritual em meio à massificação do mundo.

     Nos tornamos mais eficientes e produtivos, mas não por isso mais felizes nem saudaveis. Os dominios internos de consciencia e
compreensão foram subordinados ao progresso economico, produção sem limites, onde o valor das ações está acima de qualquer outro valor. 

               A carencia espiritual nos precipita por veredas confusas,
de desordem, caos e anarquia.

                     Toda unilateralidade, num determinado momento, sofre a correção natural, como mecanismo compensatorio. Ninguem se desloca impunemente para um dos extremos, sem que o polo oposto reclame seus tributos. Quando o pendulo começa a oscilar
em sentido contrario, traz consigo a sombra do que foi negligenciado ou esquecido.
                    Teremos então que olhar para onde não queriamos, para o que ficou de lado, rejeitado, a tudo aquilo que sempre resistimos, pois tudo se ajusta, com extrema precisão, ao principio da polaridade. Nada permanecerá capenga. E, não poucas vezes, a tragedia será o ultimo recurso como mecanismo para colocar a
casa em ordem.

                            Não há como reequilibrar o mundo sem contra-
balançar e conciliar as polaridades. O mais de um lado, gera menos
em algum outro espaço. Mais carros, menos mobilidade. Como 
poderia ser de outra forma ? Mais para lá, menos para cá. É essa a
modinha que contrabalança e concilia todas as unilateralidades em
todos os dominios da existencia humana.

               Quando a capacidade tecnica supera a competencia etica,
é nesses tempos de miopia moral e posturas cinicas,  que o reino das trevas atinge o seu apogeu de furor e danação.

      Tempo de atribulações é o tempo das mudanças compulsorias,
quando as decisões devidas não foram tomadas, nem  as  soluções adequadamente instituidas, assim no reino do pessoal quanto no coletivo, institucional.

                         Tempo de sofrimento, ranger de dentes, decadencia e desgraça. Tempo de recolher os destroços da devastação, do pouco que sobrou, e tentar recomeçar caso ainda haja animo e algum sinal de esperança

            Sem buscar o sentido e o verdadeiro objetivo da vida, escapa-se pela tangente das soluções superficiais, aparentes, sem nunca, contudo, trazer conforto, paz e contentamento. Ou então um sentimento de celebração e louvor à existencia.   

         



            
























































































































































            

        

            

domingo, 16 de setembro de 2012

A SABEDORIA DA ERVINHA DOS SEIXOS


                 
                  Se olharmos com atenção, sem o prejuizo do preconceito
ou do senso comum, iremos compreender que não temos amigos.

            Somos predadores. Competimos com cada ser vivo desse
planeta. Por isso somos inamistosos.

        Somos temidos por sermos destrutivos. E somos destrutivos
porque nos sentimos profundamente inseguros e amedrontados.

         É dentro desse movimento psiquico, como mecanismo de
compensação, que buscamos exaustivamente o poder e a necessidade de nos sentirmos importantes, como busca incansavel, sem treguas, para fugir do horror do sentimento de menosvalia e insignificancia.

          Desprotegidos, com o sentimento amargo de vazio e
pequenez, indefesos, constantemente ameaçados pela hostilidade
do mundo, nos tornamos destrutivos.

       O homem predador nasce dessa necessidade de dar conta,
tanto interna como externamente, do pavor que o ameaça de
destruição a todo momento. 

           Frente à ameaça, se torna cruel. Quando desaparece o senso
de humanidade, emerge o verdadeiro monstro que habita as
profundezas da mente humana.

       Somos civilizados até um centimetro e pouco da superficie.
A partir dai se inicia a zona da barbarie.  A repressão dos codigos
de conduta se justifica por esse contexto, pois sem eles, essa fascinante raça  já estaria extinta há muito, sem ter deixado   vestigio algum 

      Nos tratamos com polidez e cortesia porque nos rende
dividendos. É apenas polimento externo, ou se quiser, postura de
mercador. Buscamos vantagens de qualquer forma para ocultar a profunda insatisfação e vulnerabilidade que nos corroi as entranhas.

        É apenas um jogo. Ou a maestria da politica da boa vizinhança, ou então, o verniz da diplomacia. É apenas pseudo benevolencia. A cordialidade  e decencia, como disfarce adequado, para a mesquinhez e perversidade tão proximos da superficie.

         Dai a necessidade das mascaras, onde a hipocrisia alcança
seu grau maximo de eficiencia. Como mascarados vamos nos
defendendo reciprocamente, atraves de artimanhas e estratagemas,  ardilosamente elaboradas, disfarses astuciosos com aparencia de boas intenções. E pior, damos credito ao enredo e à impostura  pois somos todos atores atuando no mesmo cenario.

       Uma civilização que fundamenta o relacionamento entre seus 
pares em premissas de meras aparencias e disfarses, sem a autentica simplicidade daqueles que não necessitam parecer mais, sem esse extraordinario investimento na grandeza pessoal, como mecanismo de poder e prestigio, de onde se extrai  a imagem que nos identifica, não há como nos surpreendermos, a nivel da indignação e revolta, pelo filme de horrores que assistimos todos desde sempre.

            Está inserido no genoma, na nossa natureza de humanos como codigo, como molde gerador de desempenho e conduta.

         A ganancia, os temores e o odio de outras eras, já longinquas,
perdidas no tempo, quando eramos ainda barbaros, vingativos e a maldade como referencia para o desempenho, em que nos
tornamos realmente diferentes ? Eramos ao menos autenticos e genuinos. Sem disfarses ou camuflagens para não sermos vistos
ou descobertos como verdadeiramente somos.

A barbarie atual não é, por acaso, mais selvagem e cruel que  a daqueles tempos, exatamente por ser ardilosa, envolvida em enredos e artificios tramados secretamente, onde reina a lei
da velhacaria e trapaça ? 

           Elaboramos, com extremo apuro e requinte, uma tenue camada,portiça, de afetação e civilidade,  que criou, como consequencia, a hipocrisia e a simulação. Nos tornamos sofisticados no discurso e na fachada, mas, sem essa maquiagem, o que somos 
afinal de contas ? 

          A barbarie em nós, definitivamente, não foi superada, apesar de todos os mecanismos de contenção e cuidado. 

        Somos refinados apenas dentro desse espaço estreito, acanhado, como cobertura cremosa de um bolo deteriorado. Saindo
desse ambito,salve-se quem puder, pois canhões e basucas já estarão posicionados. 

           O lastro da civilidade humana não consegue fundamentar
nem ao menos um minimo de dignidade e respeito entre os semelhantes. Salve-se quem puder, é a norma execrada socialmente, publicamente, mas não é ela que rege o rumos de
toda atividade humana ?

      Nos submetemos ao engodo, dando credito às aparencias e disfarses. Afinal, energias da mesma natureza sempre se acomodam. Nos comportamos todos dentro do mesmo padrão. É por isso que não estranhamos a superficialidade nem a dissimulação
desengonçada e aviltante da maneira como nos relacionamos.

        A sociedade especializou-se na arte da hipocrisia como
mecanismo de sobrevivencia da especie. Afinal, precisamos
conviver e aprendemos quase à perfeição a arte de nos suportarmos. 

           Não somos temidos apenas por toda forma de vida nesse
planeta, mas essencialmente nos tememos mutuamente uns aos
outros. O senso da desimportancia, que nos escraviza a mente, é
um mote imbativel para nos transformarmos no monstrengo
medonho no qual nos convertemos. Exagero ? Faz tempo que não
acompanha o noticiario da midia ? Nunca perguntou para uma
arvore ou um animal a ideia que fazem do ser maravilhoso que
somos ? Nunca percebeu o desespero no olhar de um ser ( animal,
vegetal ou humano ) relegado aos cuidados do deus dará ?  Nunca
percebeu o sofrimento de quem já não tem esperança, perdido,
sem rumo, sem nada, mesmo tendo tudo, mas sem paz ?  

          As plantas, os animais e as aves levam uma imensa vantagem,
pois não tem necessidade desse abrigo defensivo para dissimular sentimentos estropiados e artificiais.  

         Sem subterfugios ou maquinações, agem com naturalidade, 
discrição e simplicidade, não almejando ser mais do que são. Não
se sentem menos nem mais que nada, serenos, vivendo a vida
que papai do ceu lhes deu. 

      E nós, por não conseguirmos nos livrar do sentimento de impotencia e insegurança, que nos atormenta e inquieta sem tregua, investimos pesadamente no que nos aparenta ser o recurso mais adequado e lucrativo : ter poder ou muitas coisas para se sentir importante.

         Afinal, somos eximios mercadores, sempre atras de ganhos
e vantagens. Pois o que buscamos, com nossa psuedo sociabilidade,
são vantagens para darmos conta do sentimento de menosvalia e
desimportancia. 

        No entanto, são o desprendimento e a sobriedade  as legitimas mercadorias em cujo investimento há ganhos verdadeiros.
Mas é a mente mercadora que busca o comercio, questionando sobre riscos, percentual de lucro para cada investimento, e o quanto isso ou aquilo  nos tornará melhores, mais visiveis e prestigiados. 

       A liberdade não é um investimento mas uma aventura, muito
mais que alguns momentos de alguma coisa alem de sentimentos
e satisfações efemeras, momentaneas e fugazes.

      Buscamos, de todas as formas possiveis, sentirmo-nos especiais,
exclusivos, importantes, e um sentimento ainda mais pernicioso : o sentimento de ter poder. 

       Perdidos internamente, apelamos com tentativas externas,
que nada mais fazem que aumentar mais ainda a frustração e o
embaraço já reinantes.

      A dominação e a sensação de ser superior e invulgar são
forças de perversão imbativeis. Sentimo-nos bem, mas cobrem um
preço incalculavel : nossa liberdade. Ficamos dependentes e 
submetidos aos seus dominios, igual viciado que não consegue
livrar-se da sua servidão.

           Quanto mais daquilo, poder ou droga, maior a necessidade
de cada vez mais. Nos tornamos prisioneiros do proprio ganho, da
propria conquista. O sucesso que fracassa. O deslumbre que expõe
as mais temidas sombras, nunca assumidas, por isso sempre ocultadas.

           A ervinha que cresce entre os seixos, pequenina, quase
despercebida, mesmo diante da exuberancia da mata, permanece intacta, imperturbavel, porque jamais teve a pretensão de ser mais do que é : uma simples erva dos seixos.

       Por isso não fica com enxaqueca, nem mau humor, nem
depressão, nem mal das tripas, noites mal dormidas, amuos,
ressentimentos....



         



             

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A ILUSÀO DOS APLAUSOS DAS GALERIAS


                   
                       Estamos analisando as condições atraves das quais
seja possivel uma mudança de vida, uma mudança de qualidade
no sentido de vivermos melhor, nos afastando cada vez mais das
tensões internas, dos sobressaltos, angustias e do vasto e pavoroso vazio existencial.

          Vimos que tudo está na dependencia de energia. Sem acumularmos uma determinada quantidade de energia, não seremos
capazes de sair dos limites estreitos da vida normal a que nos acostumamos.  De certa forma acomodados por não encontrarmos
saidas ou soluções adequadas para seguir por outros caminhos.

             A situação mais significativa para esse incremento de
energia é atraves do estado de atenção, de vigilancia constante para
esse momento.  "Vigiai e orai", não foi essa a exortação que nos
foi passada como ensinamento maximo para alcançar a verdadeira emancipação e, assim, ter acesso a um mundo de prosperidade
e bem estar ? 

          Qual o fundamento para esse estado de alerta ter essa  importancia ? O que estamos buscando, afinal, com essa atenção permanente a tudo que fazemos a cada momento ? 

                   Estamos tentando silenciar o movimento da mente, isto é, fazer com que o pensamento não nos desloque para o passado ou para o momento seguinte enquanto fazemos o que fazemos.

        E, novamente, porque isso é importante ? Porque esse deslocamento, atraves do pensamento, tem de ser evitado a todo  
custo ?  Simplesmente porque consome energia, energia que estamos tentando acumular para que a mudança possa acontecer.

     E porque consome energia ? 
  
      Quando nos deslocamos para tras, a partir desse momento, 
iremos nos deparar com tristeza, saudade ou ressentimento. Olhando para tras seremos envolvidos por esses sentimentos.
E, sabemos, que toda emoção negativa, de baixa frequencia vibratoria, é sempre dissipadora de energia. 

            Nada envelhece mais rapidamente do que a saudade. Por aí
temos ideia do grande prejuizo quando estamos sob o efeito de uma
energia desse tipo. Debilita o espirito e adoece o corpo.

        E quando olhamos para adiante nos sentiremos exaustos pelo medo e a preocupação resultantes desse movimento mental.  O futuro gera ansiedade pelas incertezas e duvidas pela falta de garantias e imunidade para tudo o que há de vir.

     Portanto, é imprescendivel  estarmos conectados permanentemente a esse momento enquanto atuamos. Conectados no sentido de estarmos presentes energeticamente, isto é,  corpo presente, fazendo o que está fazendo, e a mente tambem participativa, comparecendo na sua totalidade, integrada com cada evento. 
                         O corpo está aí ( sempre está aí ) e a mente lhe
faz compania. Essa interação é geradora de energia, e é por isso 
que produz bem estar e satisfação, e o ato se torna eficiente, produtivo e convincente. Bom para quem executa e otimo para quem recebe.

                            A divisão entre mente e corpo ( corpo presente
e a mente só Deus para saber onde andará ) é a causa mais importante de qualquer doença fisica ou desequilibrio emocional.
Haverá um gasto significativo de energia, gerando um grave deficit
para o sistema, onde as necessidades basicas já não serão mais supridas. Doença psico-somatica é isso, a dissociação corpo-mente,
que gera ansiedade, que gera adrenalina e que acaba envenenando
o sistema todo.
                              Ansiedade a nivel mental, e adrenalina consequente a nivel fisico. Cheque mate. Por onde fugir ? Está
percebendo alguma saida viavel, porta ou mesmo janela por onde
escapar ?
                    Energia insuficiente, desgaste funcional, corpo celular com funções achatadas, funcionamento reduzido, sintomas, doenças. É o caminho da roça, ou melhor, do brejo ! 

       O redutor final é energia, pois a vida é o reflexo disso. Vida e
energia são elementos equivalentes. Dois aspectos da mesma
realidade.
                       Energia ! Sempre energia !

                 Acumulamos energia atraves do silencio interior, cuidando desse momento para que não seja tomado pelas contingencias do passado ou inquietações do futuro. Precisamos
manter a mente sob vigilancia constante, assim como faz a sentinela
de dentro da sua guarita.
                                              Estar em estado permanente  de sentinela, como quem espreita, olhos bem abertos, sempre de
prontidão.

     Atenção a esse momento cria um estado de vigilancia, de cuidado, de responsabilidade. É pela atenção que nos curamos 
da enfermidade-separação. Do descasamento da mente do corpo.
Corpo deixado de lado enquanto a mente sai de casa fazendo
fuzarca pelas redondezas.

      O pensamento é como um pesadelo que nos aprisiona em seus conteudos, nos seus dogmas e no controle que determina. Nos condiciona a roteiros de tedio que confundimos como unicas
possibilidades. Nos identificamos com suas premissas e no fim
nos adaptamos submissamente, sem alternativas ou escapatorias.

       Incapazes de obter bem estar e serenidade  atraves do acumulo de energia, nos envolvendo com o mundo interior da consciencia, livres de condicionamentos, derivamos então para um artificio, um atalho, investindo em conceitos de notoriedade  e importancia pessoal.
                   Como não conseguimos por nós proprios essa autonomia, a independencia em termos de vida pessoal para a paz de espirito e contentamento, nos envolvemos com o mundo para
extrair dos outros a energia que traga satisfação, conforto e uma
aparente segurança.

         Vamos em busca de nos sentirmos admirados, nos tornando especiais, chamativos, para dai extrairmos um senso de valor e poder. Entretanto, isso que nos valoriza, paradoxalmente nos fragiliza e enfraquece, pois nos torna dependentes de aprovação dos
outros.
                      Precisamos do aplauso do mundo para termos a sensação ( ilusoria e equivocada ) de importancia e de sermos especiais. Dessa maneira nos tornamos viciamos nos outros, pois sentiremos, atraves deles, pela sua consideração e respeito, o quanto somos importantes. 

                         E não nos damos conta que esse movimento nos 
apequena, tornando-nos vulneraveis e miseravelmente dependentes. Queremos ser mais porque sentimos o terrivel vazio que nos corroi
e inferniza, sem alternativas para uma verdadeira solução.

      E é por isso que apelamos para os outros atraves do prestigio e da influencia para sermos considerados e valorizados. 

             Nos transformamos numa mercadoria na bolsa de valores; e o valor que nós nos atribuimos é dado pelo valor que nos atribuem.
Dependencia cruel atraves de uma alienação sem precedentes. 
               
         Desse modo, atuamos pela vida sempre em busca de reconhecimento da sociedade com o objetivo de obtermos cada vez
mais importancia pessoal, atenção e prestigio. A satisfação que esse jogo proporciona não é real, pois não resulta de um auto-reconhecimento pelo cumprimento de tarefas que deem satisfação,
não esperando pela aprovação da sociedade.  

      Assim, se estivermos em condições de cumprirmos nossas tarefas com essa satisfação e alegria, sem nos importarmos com ganhos de prestigio e respeitabilidade, mais nos tornaremos completos, livres e independentes.

    A incessante procura por reconhecimento social é o parametro
para avaliar a menosvalia, e o quanto nos sentimos desvalorizados.
Buscamos  nossa valorização fora, e esse valor que nos é proporcionado, é como dinheiro falso. Não tem valor.

    A depreciação primaria tenta ser compensada pela notoriedade
e reputação, o que nos torna cada vez mais incompletos e destituidos da verdadeira importancia em termos de vida pessoal.

       Nos tornamos visiveis socialmente, mas internamente temos 
a plena consciencia de, como pessoas, não somos nada. Atuamos
para fora, para o mundo, para a galeria. Mas os aplausos não
silenciam a insatisfação interna, nem as conquistas preenchem o
imenso vazio existencial.

     Procuramos no conhecimento e no saber nos sentirmos alguem.
E quanto mais acumulamos, tanto em notoriedade quanto em posses ou proezas, mais nos tornamos vazios de nós proprios, dependentes e necessitados do mundo.

       Nos escravizamos cada vez mais, à medida que nos tornamos
mais e mais importantes.

            Quanto mais procuramos fora, mais nos perdemos inexoravelmente daquilo que somos. A imagem que vemos no espelho do mundo, com nossas conquistas e façanhas, um dia 
 iremos despertar do pesadelo das ilusões e enganos, e veremos
que aquela imagem não é real, e irá se desfazer assim como se
desfazem todos os devaneios de uma noite mal dormida.

             As quimeras assim como os idolos ou falsos deuses um dia
 serão depostos e o logro finalmente virá à tona. 

        Aos aplausos segue-se o silencio. As galerias ficam vazias.
O prestigio e a importancia já não contam como referencial do
auto-reconhecimento.

      Despido do mundo, que restou à pompa, ostentação e
esplendor de quem tentou se redimir atraves
 da altivez e presunção ?

               A exuberante plumagem da cauda do pavão se desfaz 
apos os deslumbres e devaneios do verão. Surpreendente ?

          Com a luz, enfim, todas as sombras se desfazem ! 

   
  

           

sábado, 8 de setembro de 2012

O CANTO SAUDOSO DO TICO-TICO


                     Acho que vale a pena continuarmos a insistir um pouco mais nesse enfoque do ponto de aglutinação da consciencia.
Afinal de contas, é disso que depende a disposição da nossa vida, a
circunstancia da nossa realidade.

              Tudo que nos acontece está sempre vinculado a esse fato, atuando como verdadeira matriz e fundamento para qualquer evento, situação ou acontecimento na vida de todos nós.

       Dentro de todas as possibilidades do espectro da consciencia
humana se situam as realidades possiveis e até inacreditaveis de serem vividas. Desde o infortunio mais hediondo até a vida mais venturosa e talvez nunca sonhada. 

          Se o ponto de aglutinação atual for desalojado da sua posição, o mundo deixa de ser aquilo que está  sendo. A pessoa
continua aí mas não mais circulando dentro daquele universo.

      A estabilidade e solidez que parece pertencer à nossa realidade
perceptivel é apenas a força do alinhamento. A fixação do ponto
de aglutinação em uma posição especifica determina um modo de 
vida que lhe corresponde com precisão ao formato da matriz.

       É como criador e criatura, causa e efeito.

          A nova realidade desaparece diante de nossa vista, como se tivesse sido apagada, pois o mundo perceptivel como realidade,
nada mais é que o efeito da força de alinhamento.

      E a nova realidade é tão efetiva como a que estamos vivendo agora. A consciencia intensificada aglomera um outro padrão, um outro desenho, diferente daquele ao qual nos encontramos aprisionados desde sempre.

        Se houver energia suficiente, um novo ponto será glutinado,
isto é, um novo mundo será criado. E se esse incremento de energia for estabilizado, mantido, efetivado, a nova realidade, por sua vez,
será alicerçada como o novo modelo de vida.

          No entanto, a empreitada requer determinação e tenacidade
de vontade de um verdadeiro guerreiro. Pois sempre que passamos por um deslocamento induzido por um acrescimo de energia, somos
todos verdadeiros especialistas em compensar tal situação de imediato. A pessoa se reequilibra e tudo volta ao que era até então, como se nada tivesse acontecido.

            Voltamos para casa, para o casebre de uma vida pequena,
enclausurada no sofrimento de tantos temores e inquietações de
toda ordem e magnitude.

        Momentos de intensa emoção, seja alegria ou tristeza, são o
resultado  do deslocamento momentaneo do ponto de aglutinação para aquela posição de percepção.

     Somente voltará a sentir aquela emoção quando o ponto aglutinante se deslocar novamente para aquela posição do sentir.  Depois porem, o ponto de aglutinação irá se deslocar novamente para a sua posição usual, e a pessoa estará no seu estado normal 
de sempre, com suas duvidas, aflições e agonia rotineiras.

             Porque nos permitimos tanta tristeza e sofrimento, preocupações sem fim pelo dia de amanhã, se temos todos de
morrer e renunciar a tudo ? 

       Há incertezas e riscos a cada movimento. Sem duvida. Mas é assim que a vida é. Nada nos oferece garantias absolutas. Tudo é movel e indeterminado, e é exatamente isso que determina a impermanencia de tudo.

    Porque então a tristeza frente ao inexoravel movimento da vida ?
Se é assim, porque então a resistente teimosia da não aceitação ?
O que importa é o misterio, a excitação do desconhecido, tantas
possibilidades, trilhas ainda não exploradas e tantos universos para serem conhecidos.

             Há tantas rotas para serem mapeadas, porque então continuar seguindo caminhos rotineiros por onde anda a fila e pastam os doceis rebanhos conformados, acomodados à estrutura da norma, do arranjo das instituições ?

          Se pudermos mudar a visão desse quadro quanta aventura
estará à nossa espera ! Quanta aventura !

           Mais uma vez, vamos lá. Quando o ponto de aglutinação se desloca até a posição da tristeza, decepção, magoa, ressentimento, odio, medo, vidinha miuda, necessita de energia para trazê-la de
volta à posição anterior ( ao menos até a posição anterior ).

         De que fonte extrairemos essa energia ?

          Pare por um momento e se aquiete. Cesse todo movimento mental, silencie a cabeça, suspenda toda forma de pensamento. Respire suavemente colocando sua atenção nesse movimento do ar que entra e sai. Perceba-se respirando. Está todo aí, conectado, sem
divisão interna, apenas na respiração.

       É o movimento mental que consome a energia necessaria para
podermos sustentar uma nova posição de consciencia. A tragedia
é o pensamento indiscriminado, solto, sem redias, sem nos darmos
conta do seu  movimento. Quando somos pensados ao inves de 
usá-lo a nosso favor.

     Não há fonte de energia mais poderosa que esse estado de
presença, em que nos damos conta de nós mesmos, desse momento.

            Precisamos silenciar a cabeça. O silencio interior é o segredo. Parar a matraca interna com seus discursos que debilitam,
amedrontam, nos pondo indefesos e extremamente vulneraveis.

     Precisamos de energia. Esse é o ponto ! E essa energia tem a ver
com o dialogo que acontece dentro da cabeça ininterruptamente.

         Assim, qualquer forma de parar essa barulheira toda, é esse
o caminho. Mas sem atenção, nada será possivel, pois é pela atenção que paramos a atividade mental.

     Consegue dar-se conta do canto do tico-tico ao findar da tarde ?
Seu canto parece triste como quem sente saudade. De que sentirá
saudade o tico-tico quando finda a tarde ? Talvez não seja saudade
mas apenas uma louvação reverente por mais um dia de vida. 

             Percebe o sentimento do seu canto ?  Pousado no galho
seco da arvore grande, consegue avistá-lo ? 

      Há uma brisa morna no ar, envolvente, suave, quase caricia.
Consegue sentir o seu perfume, o seu fascinio, o seu encanto ? O aroma das mil flores da primavera condensado nesse momento, carregado pela  aragem amena que sopra com toque envolvente como um afago caloroso.... enquanto isso o tico-tico canta, pousado no galho seco da arvore grande à beira do caminho....  

       Qual o segredo ?

      Seria o tico-tico ou a brisa morna ?

         Ou nenhum deles ?

       Ou, quem sabe, o tico-tico e a brisa ?.....  

  


     






quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O PARAISO ESTÁ SEMPRE A UM PASSO


               Fora do condicionamento da consciencia comum, coletivizada, comunitaria, estará sozinho, por conta propria, sem a segurança dos que se acomodam em bandos em busca de proteção. 

         Abrigam-se em grupos para se garantirem. O sentimento de
confiança, nesse caso, não é resultado de um movimento interior de auto-determinação, de independencia. Não é uma conquista pessoal. Apenas um ato de acomodação, conformismo e adaptação ao consenso corporativo.

    Fora da fila da validação coletiva, não terá as salvaguardas e garantias dos que seguem caminhos coletivos, não individualizados e impessoais.
                       Não terá mapas nem bussulas, ou um firmamento com estrelas fixas para se orientar. Seguirá apenas pelo chamamento interior, uma voz debil, calma, silenciosa mas determinada e resoluta. Guia seguro, efetivo e perfeito, todavia, para que sua ação cumpra seu intento, terá que validar dentro de si
o seu chamamento, o seu apelo. É como um convite que será ou
não acolhido.
                       Não terá mais a seu favor as formalidades das
convenções institucionalizadas, como guias pragmaticos, verdadeiros protocolos de atuação.

      No inicio haverá duvida e hesitação, e levará tempo para saber
que o chamamento é seguro e infalivel. Somente a perseverança e tenacidade, ao não se deixar confundir pelas tentações das garantias das instituições, que terá finalmente condições de comprovar sua competencia e segurança, como caminho seguro e incontestavel.

         Para aventurar-se por caminhos tão desconhecidos e conviver
com o fantasma da solidão absoluta, é preciso ter amor. A pessoa necessita de amor. Amor pela vida, pela intriga, pelo misterio. É preciso ter determinação, o  fervor da tenacidade e coragem. 
Muita coragem ! Não estará livre, contudo, dos temores e das inquietações de estar isolado e desprotegido das benesses do sistema. Será um solitario, indefeso e, provavelmente, desconceituado. Um eterno estranho no meio dos conhecidos. 

     Romper com a tropa é tornar-se dissidente, persona non grata. Não estar mais no bando é transformar-se em excentrico, diferente, ou, talvez  (  com certeza )  de menor valor. Mas a vida é bem mais que o passo ritmado dos que seguem juntos ao som do grande tambor da uniformidade e do conformismo. É bem mais que o alinhamento, por temor ou fraqueza, a colegiados ou corporações em busca de proteção e segurança. A vida é bem mais que seguir caminhos compulsorios com objetivos de resguardar-se dos
riscos de ser por si proprio, sem as garantias do escudo  do bando protetor.   

         Poderá ter medo dos efeitos de não estar mais ajustado, tutelado por esquemas ideologicos institucionais, mas o amor pela  vida, o fascinio pelas paisagens sempre renovadas a cada novo passo, não há mais  como enfileirar-se e assim vislumbrar sempre os mesmos quadros, submetendo-se, desse modo,  ao inexoravel movimento da mesmice do continuadamente igual. O tedio das planicies aridas, de cenarios monotonos e paisagens sem vida !

    Há uma energia incalculavel aprisionada dentro de cada um, mas ainda adormecida, não legitimada. A vida cotidiana é produto de um percentual minimo de aproveitamento dessa energia disponivel. Aventurar-se por mundos desconhecidos, exige outro tipo de passo, outro ritmo, outra perspectiva, onde o rumo é auto-determinado, não mais pré-fixado por normas ou resoluções de carater coletivo.

            Romper  o limite estreito dentro do qual se encontra aprisionada a vida, com seus medos, preocupações e inseguranças, com a necessidade irresistivel  de cada vez  mais para sentir-se protegido e amparado -  é essa ruptura que abre caminho para fora das fileiras compactas e limitadoras, em direçao à liberdade, independencia e autonomia soberana.

      Quebrar a fixação da consciencia comum, da visão limitada e parcial, do consenso e da unanimidade, para uma percepção amplificada da vida e, por conseguinte, uma realidade baseada dentro dessa nova percepção. É esse o caminho para mundos inimaginaveis, contudo disponiveis, uma vez tendo-se descartado  da segurança e a proteção do consenso geral. 

                 O rebanho protege ao mesmo tempo que aprisiona. Se
sentirá protegido mas nem por isso estará livre. 

     É a força do rebanho, com suas garantias de proteção e beneficios, que alinha a consciencia humana, que nos torna a todos
exatamente isso que somos. Inseguros, apavorados, mesquinhos
e gananciosos.

     É pelo dialogo interno, pelo inventario sem fim da cabeça que nos distanciamos cada vez mais de possibilidades sem fim. Desse modo, o ponto de aglutinação da consciencia é fixado dentro de
um limite muito estreito, solidificando cada vez mais sua faixa de
atuação, não permitindo seu deslocamento para atualizar diferentes
realidades.
                      A embarcação lança suas ancoras e permanecerá imovel, girando em circulos  por temor de ondas bravias do mar aberto.
            Seguir apenas caminhos seguros nos manterá aprisionados em aguas calmas e de pouca profundidade, não apropriadas para navegação. Desse modo não haverá justificativas para sentir-se contrariado assim que a vida encalhar na indiferença, no fastio e tedio de um movimento sem sentido ou significado. É o mareo da
monotonia de um modo de ser repetitivo.

       Sem esse inventario na cabeça, o ponto de aglutinação torna-se
livre para aglomerar outro mundo, uma nova realidade. Viver
algo mais  que ganancia, competição e essa busca incessante por coisas que nos passam segurar. Queremos nos garantir com a solidez precaria das coisas do mundo, nos resguardando das inseguranças sugeridas pelo falatorio da cabeça.
          
             Consegue ouvir essa vozinha, quase subliminar,que nos atucana sem parar, aconselhando que se faça isso e mais aquilo para se fiar, porque, afinal, o mundo não é confiavel, e os perigos
são tantos ?

     Não é exatamente essa vozinha "amiga" que nos põe em movimentos tresloucados, como num delirio, em busca permanente de um esconderijo seguro, a salvo de tantas ameaças por ela sugeridos ?
                            Pára um  momento, dê uma olhadinha para
dentro e ouça a conversa que acontece obstinadamente na sua cabeça. Ouça essa voz que fala. É sutil e silenciosa. Fala sem voce  se dar conta, pior, sem sua autorização. Mesmo assim, lhe dá obediencia, submetendo-se às suas advertencias.

                           As crenças, ideias fixas são como cola poderosa que prende o ponto de aglutinação à sua posição original, bloqueando outras faixas de vibração com suas realidades equivalentes. Há vastos sitios inexplorados das possibilidades humanas, onde a qualidade de vida, comparado com o estagio normal, as palavras se tornam pequenas e sem sentido para descrever.
                      Consegue se imaginar habitando um plano com ausencia total  do medo ? Não conviver mais com tantos temores que carrega, dia e noite, não tendo a mais leve ideia de como se livrar de tantos  fantasmas ? Medo de não dar conta, medo das perdas, do fracasso, do abandono, de não ter o suficiente, de não ter importancia, de não ser aceito pelos demais  etc ? 

            Inquietações sem fim !  Uma vida de agonia !

         A condição para deslocar seu ponto de aglutinação da consciencia, a pessoa necessita reunir energia suficiente. O dialogo interno dispersa energia. É esse o motivo pelo qual a atenção a esse momento ser  tão importante  para que uma verdadeira mudança de vida possa acontecer.

      Para sair da ganancia, uma vida de inquietações e temores,
fracassos e lutas, torna-se necessario deslocar a posição costumeira do ponto de aglutinação para uma posição onde não haja mais 
esse movimento interno de perturbação.

    Relaxar, silenciar a cabeça, respirar com atenção, cantarolar sua
canção predileta, alegrar-se, girar os olhos em circulo, são, enfim,
todas tecnicas para coletar energia suficiente e, assim, projetar o
ponto de aglutinação atual até uma posição onde o medo e a duvida
não sejam mais companheiros de viagem.

           Essas tecnicas param o movimento interno da mente. E
quando a mente silencia, saimos do reteiro condicionante que acomoda a consiencia ao seu patamar de sempre.  

       Toda emoção negativa cria um padrão de energia que fixa a consciencia numa determinada posição. E para cada posição fixada,
haverá sempre uma realidade que lhe corresponde.

      Estamos todos em busca de mudanças, uma vida mais confortavel, paz, harmonia, saude, estabilidade financeira; no
entanto, tais mudanças somente se tornam viaveis caso haja deslocamento do ponto fixo de aglutinação da consciencia. E esse deslocamento necessita de energia. Silenciar o dialogo interno é, sem duvida, a fonte mais poderosa para se recrutar essa energia de transformação. Sem esse silencio mudança alguma será possivel.

                           Porque o silencio dentro da cabeça se reveste de tanta importancia ? Porque o medo e toda forma de inquietação mental são a consequencia mais imediata do inventario interno; os quais reduzem o nivel de energia, fixando assim o ponto de aglutinação à sua posição usual. Sem nos livrarmos do medo, isto é, do dialogo interno, qualquer possibilidade de mudança se torna totalmente inviavel.

                 No longo espectro das possibilidades de fixação do ponto de aglutinação da consciencia, se encontram os infinitos mundos
possiveis de serem habitados como realidade de vida. Tantos mundos !  Tantas realidades desejadas mas aparentemente tão
impossiveis de serem alcançadas !

      É a total escassez de energia que nos impossibilita remover o ponto fixo de aglutinação da consciencia atual para poder  aglutinar outras realidades, outros universos. Uma vida digna, com decencia.

     A energia atual é apenas suficiente para manter estabilizada a
posição usual, que aglutina esse mundo rotineiro de cada dia, de
cada um.
                     Para consolidar a estabilidade do ponto de aglutinação em uma nova posição, o importante é o esforço e a persistente vigilancia com relação a esse momento, estando conectado persistentemente, dando conta do movimento caotico dentro
da cabeça.
                    " Onde estou agora estando aqui" ?  será esse o mantra que irá impor o silencio dentro da cabeça. Pois, sem isso, não seremos capazes de obter a energia adequada para deslocar o ponto fixo onde a consciencia se encontra aglutinada.

       A energia gerada pelo silencio interior deixa o ponto de aglutinação atual em condições de romper a barreira dos condicionamentos e toda forma de influencia, para aglomerar um outro mundo, uma realidade totalmente distinta. 

      Nessa nova posição, não haverá mais duvidas, inquietações, temores, que são um mero resultado da posição do ponto de aglutinação usual.

        Quando o ponto de aglutinação da consciencia normal se desloca para uma nova posição, atraves do incremento de energia,
proveniente da atenção, do estado de vigilancia, o mundo no qual
estava aprisionado se dissolve, como por encanto, para viver dentro
de um novo universo, um mundo paralelo que sempre esteve disponivel mas não acessado.

      Estamos sempre a um passo do paraiso, onde os mais surpreendentes  e imprevisiveis sonhos estão para se tronar
realidade. 
                      Estamos sempre tão proximos que parece um
desatino não estarmos lá, definitiva e permanentemente, vivenciando e usufruindo  tantas dadivas, conforto interior e bem-aventuranças.
                              Perdidos continuadamente dentro da cabeça,
acabamos por fim perdendo a vida.