sábado, 26 de janeiro de 2013

A DOENÇA COMO RESULTADO DE BESTEIRAS NA CABEÇA



       A frase, curta, rapida, sem rodeios, ou efeitos de retorica, atiçou a imaginação, ideias em redemoinho, ante a surpresa e o
quase espanto da pretensiosa informação. 

   Sempre que o senso comum é confrontado, posto à prova, 
vemo-nos indefesos na contra-argumentação, quase assim como
quem é pego de imprevisto, pelo inusitado da mensagem.

  Ouvimos a colocação, mas a gente finge que não, para
ter certeza, ou para dar tempo e recompor-se. Ouvimos, no entanto, destoa, não se faz coerente, desafiando nossas mais sagradas convicções.
 Os esclarecimentos parecem urgentes ante a perplexidade da colocação. O sentido justo das coisas foi rompido, e um elo de ligação tem de ser encontrado.

   "Não existem doenças. O que há, são besteiras na cabeça".
                          - Dom Juan Matus - 

  E, agora, meu santo padroeiro ? Confere, ou é a proposição sem proposito algum, desajuizada, sem nexo qualquer ?
Descarta-se, simplesmente, o anunciado por ser destituido de
conteudo e, mais, ferir a sensatez da coerencia e do juizo
 perfeito ?
   Há sempre assombro em tudo que não justapõe-se  aos
postulados das nossas "verdades". Por isso o descarte de pronto,
sem rodeios ou questionamentos, declarado sem valor, ou sem logica. Julgado dessa forma, não há porque polemizar. É tamanho
 o disparate, na logica da nossa avaliação, que passa-se simplesmente ao largo, como se nada mais tivesse acontecido. 
O ponto de vista coloca-se de tal forma categorico, que não há para onde fugir, por isso o conceito de falso e equivocado para os elementos em questão.

  Ou, então, quem sabe, valha a pena aproximar-se, ajustar o foco,
 com o espirito desarmado, sem as convicções dos dogmas e
preceitos que até então determinavam nossa visão das coisas.

  Olhar sem a bagagem do conhecido ou aceito como
inquestionavel, olhar como quem olha pela primeira vez
para aquilo que nunca viu. Olhar não viciado, como o olhar da criança, que se encanta apenas, sem juizos de valor. Sem julgamentos, ou ponderações precipitadas, em base do que
 se aceita como certo.

 Quem não consegue livrar-se das lentes para perto, não terá condições de uma visão mais distante. Verá mais longe, unicamente
quem conseguir livrar-se das visões antigas, acomodadas, e, no
mais das vezes, obsoletas e rançosas.

  "Não há doenças", proclama o mago. Dificil olhar para isso sem  agitação na mente, ou, ao menos, fica-se à espera de uma explanação coerente, ou que tenha nexo. Ouvimos, mas fica-se em duvida se isso que ouvimos, foi realmente o que ouvimos.

 Sabemos que doenças existem. Não temos duvida. Porque então a afirmativa em contrario ?
Quem a formulou, deverá ter suporte em constatações precisas e
inequivocas, apesar do aspecto irreal e, de certa forma, 
inconsequente e leviano da afirmação. Seria talvez simples capricho para confundir ou polemiza, como tantos malucos com proposições sem quaisquer qualificações ? 

  Sua ousadia se confirma quando, sem rodeios, complementa, assim
como fazem os plenamente convictos dos seus principios.
"O que há, são besteiras na cabeça".

  "Não há doenças, o que há, são besteiras na cabeça". Sem duvida,
dentro da visão mecanicista da medicina sintomatica, nada 
soa mais absurdo e desvairado. O que tratamos, não são doenças ?
Caso a doença não exista, conforme a declaração aguda, o que tratamos, afinal ? Ou, dito de outra forma, quando curamos, não curamos nada ? E, se curamos, o que curamos ? Ou, simplesmente, nada há para ser curado ?  O ninho está recheado de cobras !

 Essa investigação torna-se procedente e carregada de desafios, pois somos todos pacientes, todos acometidos por mal-estares
 que  perturbam, gerando aflição e sofrimento. Frente a isso, qual a postura a ser adotada, e com que visão olharemos
 para tal contexto ?  
Sem uma compreensão lucida, ficaremos quais refens inocentes de dogmas confusos, verdades caoticos e equivocadas, ao inves de libertar, ocasionando, tão somente, mais embaraço e frustração.

A afirmativa nos fala de dois aspectos. Menciona a doença, no
plano fisisco, e nos lembra, igualmente, do aspecto psiquico, quando chama a nossa atenção para as "besteiras na cabeça". Em que nivel se vinculam, caso tenham qualquer
 vinculação entre si ?

  - Paciente ( com doença grave e profundo desequilibrio
 emocional )  lamenta-se, amargurado, por ter sido preterido, na
infancia, pelo irmão, que era o queridinho da mamãe. Sentiu-se enjeitado, como posto de lado, sem valor.  Sofreu muito na epoca.  Era apenas uma criança. Doeu, machucou, produzindo magoa, abrindo feridas que não cicatrizaram nunca mais.

 Hoje, com mais de 50 anos, a dor ainda persiste, assim como
a magoa e o descontentamento. Não conseguiu esquecer. Está
 ainda à espera da mamãe que venha consolá-lo, prestando-lhe os cuidados que ainda sente falta. Qual o atalho ? Transferiu para a companheira tal empreendimento. Esposa-mamãe do maridinho infantil. Resultado ?  Ela cansou-se, cansou de niná-lo, seu grande
menino-marido, pegou o boné e foi cuidar de sua vida. E ele ?  Continua a queixa-se, como sempre, inconformado, que ninguem o ama, não lhe fazem agrados, não cuidam dele... Lamentos e mais lamentos. Quem virá me salvar, exclama desiludido ?
( chapolin colorado parece não estar disponivel ! ). 

 Não temos, quase todos, historias dessa configuração, onde as
lembranças de um tempo infeliz ainda fazem eco, repercutindo de uma forma intensa no momento presente ?
O passado ainda se agita, convulsivamente, impedindo a pessoa de
seguir em frente, viver com graça e florescimento.

 Não são apenas as mazelas de uma infancia sem o calor do desvelo, mas tambem os reveses da sorte, decepções afetivas,
fracassos pessoais, assim como todas as formas de situações que
protagonizaram sofrimento, dos quais não conseguiu a pessoa 
desembaraçar-se, que aprisionam, transformando a vida em algo
dificil de ser digerido. Fatos que convertem-se em lembranças
duradouras, eternizando o sofrimento.

O não perdoado, feridas ainda não cicatrizadas, expurgam dor e
azedume de cheiro repulsivo, infestando sua realidade e de
todos quantos estejam nas proximidades.

  Enquanto a pessoa não abdicar definitivamente da choradeira de
criança lamurienta, não conseguirá transformar-se em adulto, não
haverá crescimento, sua vida será esteril, sem criatividade.

Faz tempo que deixou o bico e largou as fraldas. No entanto, apenas, aparentemente. Na realidade continua criança clamando
por mamãe, incompetente para atender suas necessidades.
Acabará num divã de analista, repassando entre minucias, sessão
apos sessão, durante anos sem conta, sua vida de sofrimento, as injustiças que se considera vitima,  e todo o bla-bla-bla sem fim, 
de uma vida mediocre, ordinaria, sem expressão alguma.

  Aceitar com humildade o que não pode ser mudado, que isso,
no entanto, não se transforme em fonte de pesar. Reconhecer
com sobriedade as limitações e fraquezas, sem, em função disso,
 entregar-se á lamentos, ou humor de desanimo.
Lava tempo para reconhecer a diferença, e mais ainda para
vivê-lo plenamente. Não estaria, por acaso escondido aí o
segredo de uma vida abençoada e auspiciosa ?

  A pessoa pode ser ferida por eventos, situações ou pelos outros,
mas ofendido, não ( sentir-se ofendido por isso ).
Não temos dominio sobre as ações do mundo, são externas a nós, mas a reação interna, o sentimento, isso, sim, corre por nossa conta.

Queixar-se é capricho de criança mimada. Faça sem esperar
por ninguem. Se algo vier, será bem vindo. Caso
contrario, sem magoa. 

Rotulamo-nos carentes, cheio de caprichos, o que, alem de nos 
tornar obtusos, leva-nos tambem à estreiteza mental, fragilização
da temperança, e incapacitação da boa vontade. 

  Na medida que fica ralando mentalmente, sem cessar, o quanto é
desassistido da vida, o quanto é um coitado, e por aí vai, esse
movimento mental, atraves dos sentimentos que produz, gera uma
quantidade imensa de energia ( emoção = energia ). Essa energia,
apos atingir seu ponto critico, precipita-se para o fisico, convertendo-se em desconforto, o que chamamos  doença.

Ou, ainda dá credito que enfermidade é consequencia da má sorte,
trabalho feito, inveja de parente ou mandinga de desafeto ? Que o 
enfermo é tão somente vitima indefesa, talvez de algum microbio tenebroso, de nome complicado, ou, quem sabe, algum malfadado golpe de ar, ou mau olhado da megera  fatalidade ?

O corpo responde ao comando das emoções, ( sempre ), adequando e modelando-se ao enredo do roteiro mental. 
Conforme a Fisica, é a energia o substrato da materia, do que
adquire forma, do que é real. As celulas hão de diferençar alegria
de tristeza, e seu funcionamento irá adequar-se ao sentimento em
questão. 
O corpo é o reflexo das emoções. Do barulho da mente ou do seu
silencio.
Paz cria saude. Alegria gera conforto fisico, funcionamento perfeito
de todo o sistema. 
O medo não assusta apenas a pessoa, como amedronta a operacionalidade de toda a estrutura organica, o complexo celular,
liberação de enzimas, coordenação hormonal etc etc. 

O que se passa no espirito, corre atraves do sangue, alcança a
intimidade dos orgãos, convertendo-se em saude ou doença.
O corpo traduz em realidade o abstrato dos sentimentos. Diante
disso, o que é  real ?  O visivel, ou o invisivel ?
 A forma que se vê, ou aquilo que o olho não capta ?  

                 Imagem no espelho. A imagem está aí. Os olhos 
percebem, não mentem. No entanto, é a imagem real ? Pelo
fato de estar aí, não justifica sua efetividade. Ou justifica ?
Remova o objeto refletido, uau, a imagem sumiu. 
Se é real, como pôde sumir ? Estava aí, ao menos, parecia estar, mas sua existencia é virtual. O que se vê, não é real ! ?  É simples
ilusão de otica, é imaginação, ou, se queira, uma simples convenção social, em que  acata-se, coletivamente, o fato , apesar de
não ajustar-se à realidade dos fatos tais como são.  

 A realidade é determinada por aquilo que não se vê. O visto é
mera aparencia, formalidades de convenção, despretenciosas
"besteiras na cabeça".

  


  

  

  


domingo, 20 de janeiro de 2013

QUANDO O CÃOZINHO PEDE DESCULPAS. LINDO !



               O moleque é espirituoso, tanto quanto seja possivel a ingenuidade de uma criança.

Com apenas tres aninhos, caracteriza-se essa idade por tiradas
divertidas, questionamentos e constatações que encantam e
surpreendem por sua vivacidade e ligeireza de argumentos. 

  Chiquinho não se desvia do padrão. Falante, movediço,
 divertido e um jeito gracioso de colocar-se frente ao fatos
do seu pequenino mundo.

A criança está, no geral, em estado permanente de maravilhar-se
com os acontecimentos que o mundo apresenta.
Não pára de surpreender-se, pois o espetaculo da vida, para ele, renova-se sem parar. Não foi ainda aprisionado dentro do movimento da logica, que nos transforma a todos em simples joquetes da racionalidade.
 O passado e o futuro não fazem ainda parte da sua agenda de vida. 
Vive este momento com toda intensidade, por isso surpreende-se
a cada momento, encantando-se com tanta novidade e magia. 

   Apesar de pequeno, miudo para sua idade,  torna-o ainda
mais engraçado e chamativo, não perdendo, contudo, em esperteza e vivacidade o quanto lhe falta em tamanho.
Dir-se-ia que é um menininho, antes de mais nada, alegre, faceiro,
divertido, e que diverte com sua vivacidade e graça, todos quantos cruzem com ele.

   Faz-nos lembrar, talvez saudosos, o quanto perdemos do nosso
encantamento pela vida,  da incapacidade de nos maravilharmos
com pequeninas coisas, coisas que dão sentido e um genuino  proposito à vida. Afinal, na ausencia de contentamento, paz e 
serenidade, o que há mais para ser buscado ?

 Tornamo-nos preocupados, temerosos, inquietos com tantas bobagens, que a visão já limitou-se e o espirito, por fim,
tornou-se insensivel. A graça pela vida deixou de ter graça.

Chiquinho, não é apenas faceiro e cativante, tambem ornado
com a beleza tipica que toda criança ostenta.
 Questiono-me se é a beleza  consequencia da  alegria, ou se é a alegria que traz o encantamento.
De igual forma, a beleza da flor não seria ela a expressão do seu
entusiasmo ? Não há, por acaso, uma relação de familiaridade
 entre beleza e alegria ? 

A beleza emociona, e é esse atributo que transforma-se em alegria. Proporciona tal qual  sensação de saciedade da alma, pois o espirito alimenta-se dessa magia feita beleza, que se converte em arrebatamento e plenitude. 

A vida tornou-se esteril, não-criativa, porque a alegria perdeu-se
ao longo do caminho.  As pessoas estão entediadas, pois não há coração no seu passo. Não conseguem admirar a beleza das arvores porque não tem tempo para sentar-se à sua sombra. Estão apenas preocupadas em planejar, com o olhar fixado em outro tempo,
para chegar o mais rapidamente possivel. Dizem que planejam para aproveitar. Mas como ? Sem conseguir aproveitar esse momento,
como irão aproveitar qualquer outro tempo ?

Já se deu conta que o grande prazer é planejar ? Sempre
com muitos planos, para então aproveitar ? Depois. Este
momento esvaziou-se de qualquer significado, e é por isso que nos
socorremos das quimeras de um outro tempo. Planejando !

Chiquinho, que não tem nada a ver com essa barulheira infernal,
 foi mordiscado pelo cãozinho da vovó, quando este foi visitá-la. Vovó que não gostou do acontecido, colocou nosso peludo de castigo.
Negaram-lhe atenção, ficando as pessoas da casa indiferentes à sua presença  ( não é a indiferença a forma mais cruel
 de negar afeição a quem quer que seja ) ?
 O bichinho pula, late, faz-se notado, mas ninguem concede-lhe
algum agrado, retribuindo sua felicidade. 

Quando o menino volta, outro dia, para visitar vovó, percebe,
imediatamente, o tratamento a que o bichinho está sendo submetido.
Passam-lhe então a informação do castigo.
Foi aí que se deu o acontecido, motivação dessa conversa.
O guri vai para a vó e pede que o cãozinho seja tirado da punição,
pois este já lhe havia pedido desculpas.

Como assim, indaga a vó, ele se desculpou contigo ? Como foi que
se desculpou ? Falou contigo ?

Vó, ele me mordeu só um pouquinho mas nem doeu.  Estava
brincando comigo, mas já me pediu desculpas. Ele veio e
beijou minha mão.
 Vó, não é uma forma bonita de desculpar-se
quando a gente faz alguma coisa que não se deveria
 ter feito ?
A lambidinha que deu na minha mão foi o agrado que me fez
para a gente voltar a ser amigo.
Não fica mais braba com ele. Gosto tanto dele, e ele fica tão
feliz quando faço cafuné nele !

  As sutilezas são a caracteristica da beleza e de tudo que
traz  elegancia consigo. Não é mesmo ?

P.S.  Ao terminar de ler a narrativa, passou-m, de relance,
 pela mente uma imagem que chamou logo minha atenção.
     Qual seja, a relação existente entre
        uma anedota gostosa, divertida, engraçada e um moleque
     faceiro e gozador.
          Enfim, ambos surpreendem e divertem pelo seu
       arremate inusitado e desconcertante. Ambos desopilam,
descontraindo, ao menos por um breve momento, nossa fuça de
seriedade e mau-humor de gente adulta, trazendo um pouco
de alegria e vivacidade.

        É  por isso que necessitamos tanto tudo que
 nos faça rir ! Nem que seja, ao menos, somente um
   pouquinho !

E o mundo modifica-se, nem que seja um tiquinho, 
quando alguem consegue emocionar-se de forma tal que os
 pensamentos silenciam. O mundo para o qual está acostumado
a olhar, irá parar, e terá, finalmente, a certeza que existe 
bem mais para ver e sentir do que comumente faz.

 Há mais possibilidades possiveis, muito mais do que somos
 capazes imaginar. 

   


     

  

  







  

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

PELO QUAL A VIDA VALE A PENA DE SER VIVIDA


         O menino apanhou. Não somente apanhou, apanhou muito. Fora de tal forma espancado e com tamanha crueldade, que não conseguiu manter-se de pé. Desancou. Caiu por terra, sem sentidos, em parte pela dor, igualmente pelo espanto por tamanha truculencia e covardia.

  Papai estava fora de si, visivelmente transtornado, não tanto, talvez, pela simples desobediencia do filho, que já havia sido advertido, tantas vezes, para  não afastar-se  longe de casa, mas, quem sabe, por frustrações pessoais,  tantas coisas que fogem do controle, criando dificuldades, amolações e sofrimento.

   E aquele fora um dia infeliz para o nosso pequeno. Um dia 
inesquecivel, que ficaria registrado, indelevel, eternizado, não apenas na memoria, como imagem estratificada em forma de lembrança, mas tambem a nivel corporal, em forma de dor, que se converte em couraça muscular, verdadeiro escudo contra as
adversidades da vida.
                 Papai havia viajado,  voltaria apenas ao final do dia.
 No entanto, o plano falhara, e sua ausencia não estendeu-se pelo
tempo conforme havia sido previsto.

   Em consequencia disso, nosso pequeno aventureiro foi traido
pelas circunstancias, pelos imprevistos fatidicos e, quando deu por si, já era tarde, tarde demais, pois a armadilha transformara-o, implacavelmente, em vitima indefesa.

  O sonho havia sido acalentado por tanto tempo. Fantasiava, nos
seus momentos de devaneio, pescando no riacho que fluia
por entre a mata densa, vindo de longe, das montanhas sinistra
que se estendiam ao norte. A floresta era  distante de casa, onde sempre fora, de um modo taxativo, proibido aventurar-se. Lá, no entanto, a pesca haveria de ser emocionante, fantasiava ele, peixes sequer imaginados, enormes, estranhos, com formas e coloridos diferentes, num mundo antes nunca  visto,  desconhecido, e não menos ameaçador.  Emoções intensas para serem vividas, dentro de um universo ainda inexplorado.

   Papai voltaria tarde naquele dia. Estaria livre, por fim, para
sua grande aventura, investida juvenil por caminhos negados, passos limitados por normas severas, o que acabaria, no entanto, por transformar-se numa experiencia infeliz, verdadeiro ritual de passagem, tendo o sofrimento como o ilustre mestre do cerimonial.

 Saiu de casa cedinho com seu instrumental de pesca, e lançou-se, faceiro e radiante em sua proeza ousada, tanto tempo sonhada com tanta emoção, com a intensidade que somente um coração de criança é capaz.  

     Foi então que o inconcebivel e inimaginavel transformou-se em realidade de horrores, nunca imaginado em sua inocencia pueril.
Havia embrenhado-se pela mata a dentro, seguindo o curso do
riacho, como verdadeiro explorador de dominios perdidos no mundo da imaginação. Estava fascinado pelo ambiente estranho, pelo canto de passarinhos desconhecidos,
pela coloração mais escura da agua em função da pouca luminosidade, pelo silencio e uma estranha paz, com misto de 
sensação de temor. Não sentia-se seguro, mas a sensação era agradavel, algo nunca reconhecido antes.
                      É esse, porem, o mesmo sentimento, quando se vai além de certas fronteiras, cruzando limites, seguindo trajetos raramente trilhados. O caminho solitario é o caminho da ousadia, da aventura, da revelação de mundos notaveis contrastando com a mesmice maçante de todo dia, não obstante, tambem do risco, da incerteza e a sensação de vilnerabilidade.
 Acaso, não são aqueles que se atrevem, os abençoados, verdadeiros herois, exploradores do desconhecido, onde a liberdade interior é o trofeu supremo a ser conquistado ?

   Havia acabado de fisgar um peixe enorme, que lutara muito
para trazê-lo à margem. O momento foi de emoção e encantamento. Percebeu seu coração acelerar-se e a respiração tornar-se mais rapida. As imagens da sua fantasia fizeram-se
realidade, em forma de experiencia, que não seria mais esquecida
jamais.    
    
   Nesse exato instante um grito à distancia  desfez o extase e a atmosfera de fascinação.
Sentiu um liquido quente escorrer-lhe pernas abaixo, o
coração aos saltos, quase audivel à distancia, querendo saltar
 pela boca, a respiração retina e o estomago
embrulhado. Uma terrivel sensação de desconforto, de nausea, com ansia de vomito, tremor generalizado com fraqueza repentina e corpo amolecido.

    Reconheceu a voz do pai que o chamava, à distancia, estando à
sua procura. Momento que, face uma escolha, se lançaria num precipicio, ou, mesmo, no mais profundo dos infernos, ante a ameaça do sofrimento que  antevia como impossivel de
suportar. Pavor semelhante não sentiria mais em sua vida.  

   Saiu correndo em direção ao pai, como quem se dirige ao cadafalso. A cena era patetica. O pai batendo de tal forma no
infeliz, totalmente indefeso, sem possibilidade de reação, berrando por socorro,  por alguma forma de amparo,
suplicando piedade. 

   Gritou até perder a voz e as pernas. Não conseguia nem
mesmo arrastar-se, mesmo assim, a crueldade não cedeu ao clamor desesperado do guri. Por fim, estatelado no chão, demolido, já sem sentidos, vizinhos acudiram, mitigando o desatino daquele pai sanguinario, carregando o pequeno para casa.

   Ficou dias de cama para recompor-se, suavizar as dores, os
machucados e a humilhação. Odiou profundamente o pai, desejando-lhe a morte e toda forma de desgraceira enquanto
 tivesse vida. O pai perdeu o filho, enquanto o filho
tornou-se orfão. Momentos definitivos de vida impossiveis de
serem reparados. 

                Ouvia, nos seus delirios, enquanto se restabelecia, os gritos enraivecidos do papai, exigindo obediencia e respeito às suas  intransigentes determinações.

Não é essa a mesma voz ouvida por todos vida afora, do
"papai-cuidador-do rebanho humano", para evitarmos veredas e escolhas que nos levam a sermos a gente mesmo ? 
Nada é mais ameaçador para o bando que alguem desistir das
fileiras, não mais seguindo o passo compassado de todos,  não abrindo mão da sua liberdade e do seu poder pessoal.
A degradação humana passa sempre pela subserviencia ao sistema,
curvando-se atraves de comportamentos estupidos, que bestializam,
e massificam, coletivizando a singularidade individual.

    Afinal,  não é o cidadão perfeito aquele que segue à risca as
ideologias prescritas  pela estrutura estabelecida ?
A castração psicologica é a metodologia mais eficiente para manter
a humanidade inconsciente. E o interesse empenhado é que a pessoa não seja ela mesma. O rebanho não sente-se à vontade com quem perdeu o coletivo dentro de si. 

    Abdique de si, da sua autenticidade, que será reverenciado,
talvez até posto em pedestal, para que seja seguido e admirado, servindo como cidadão exemplar. E os coroinhas de vigilia baterão suas sinetas para que o povareu se aproxime, expressando seus respeitos e veneração .... ou, não seriam, talvez, condolencias  ? !

    Apesar de tudo, o espirito do moleque não rendeu-se à truculencia inclemente do pai. A rebeldia do espirito reverencia a integridade e a originalidade do individuo, jamais transformando-se
em enfileirado, batedor de continencias, em posição servil de 
capachismo, dissimulada bajulação, em troca de sentir-se acolhido e fazendo parte. 
Em todos os credos, sistemas e ideologias existem escoras de
toda forma, quando abre-se mão da autenticidade pessoal. Não é que eles sejam espertos, é a pessoa que perdeu a cautela.

            Deixamos de ser quem somos, no momento em que o coletivo dentro da gente torna-se manifesto, cristalizando-se.

    Quem não espantar-se com a inclemencia da oposição do mundo,
conseguirá afirmar-se. Manter-se-á ereto, jamais um corcunda de si proprio.  Não será escravizado. Descobrirá a alegria por reconhecer-se, sendo ele mesmo.
Sua vida será criativa. Florescerá e a fecundidade será sua força motriz.

P. S.  Nosso pequeno heroi não deixou de percorrer os
caminhos ao longo daquele riacho que levavam para aquela
mata, ao pé daquelas montanhas sinistras ao norte.
Quando papai viajava, lá esta ele novamente com seu arsenal de pesca, em busca de novas aventuras, descobrindo dentro de si mesmo, ao desafiar perigos e contingencias ameaçadoras,  o verdadeiro sentido de vida. Tornou-se astuto e percebeu que são os riscos que moldam o homem, pelo qual a vida vale a pena  ser vivida. 
   
  ( Esta historia me foi passada pela mãe do nosso valente moleque.
        Hoje, ela, em idade avançada, doente,em estado terminal. Entristecida,  profunda magoa de espirito por não ter conseguido fazer frente às loucuras do marido com relação ao filho, que em idade tão precoce experimentou as agruras da vida. Sinto por ele pelo que sofreu, diz ela, mas lhe tenho consideração incomparavel pelo ser humano que conseguiu transformar-se, não obstante o
meio precario em que viveu.
Com voz debilitada e lagrimas amargas,  diz que, assim mesmo, valeu a pena, não por si, claro, pois sua sujeição a destruiu, mas pelo menino maravilhoso que manteve-se integro e fiel aos impulsos
do seu espirito.
Sei que não posicionei-me como deveria ter feito, e  minha submissão deixou-me nesse estado patetico em que me encontro.
 ( é no palco do corpo onde são encenados, geralmente,nossos fracassos mais eloquentes.
Adoecemos pelas tristezas interiorizadas, nutridas com tanto sofrimento, resguardadas profundamente, cuja dor persiste, apesar dos fatos estarem distantes ). 
  
 Ele, um homem realizado, não pelo que acumulou, ou pelo prestigio das suas conquistas, mas, sobretudo, por não 
ter-se convertido num adulto estupido, mediocre, sem entusiasmo, com todos os tipos de ideologias idiotas, cheio de tolices.
  Tambem é pai de um filho maravilhoso, e, sempre que
 pode, ...  pescam juntos ! )

   [ O estrume, para quem estiver disposto, e não importar-se
com a fedentina,  pode, invariavelmente, converter-se
 em fertilizante. ]

     

    

  


   


   

  

domingo, 13 de janeiro de 2013

A REBELDIA DA AUTO-DEFINIÇÃO


           Sabedoria é poder. Não há quem duvide. O saber nascido dos fatos, das experiencias, vitorias e derrotas do longo caminho percorrido. 

  Caminhos intrincados, incertos e não menos complexos, mas trilhados sempre com a maxima persistencia e obstinação.

   Na avaliação final da historia, terá a pessoa alcançado a compreensão que foram a tenacidade e a firmeza de propositos que fizeram a diferença. 

   Não foi o resultado que deu significado à jornada, mas a jornada em si. A evolução em nivel de consciencia, o crescimento interior,
o sentimento de liberdade e autonomia, a convicção de si.
Os ganhos e as perdas se perdem no tempo, mas aquilo não passa.

  E o que passou, torna-se irrelevante, conta apenas na agenda da vaidade e auto-importancia, ou no inventario das frustrações. O que não passou, transformou-se em poder, em habilidade para lidar
com os enigmas da vida.

   Não são os eventos que determinam o valor ou o merito do incidente, mas a forma de como superou as provações. 
Os desafios não são outra coisa que a iniciação para outras
esferas, planos onde a frequencia vibratoria permite o reconhecimento de si proprio. Saber, afinal, quem somos.
Não é esse o maior desafio ao qual somos todos chamados ?

 A superação é a habilidade humana para irmos alem das dificuldades e privações. 
A desistencia determina a paralizia psiquica, que condiciona
o conformismo, a covardia e a acomodação.

O caminho é solitario e penoso. A força do rebanho é efeito da
desistencia pessoal. O bando forte é consequencia da fragilização
individual, da incapacidade de um posicionamento inflexivel e
coerente.

  A ovelha que abandona o rebanho, não é mais orientada pela
consciencia do grupo. Individualizou-se. Transformou-se nela
propria. Estará, com certeza, sujeita a toda sorte de aperto e
ameaças, mas é exatamente isso que lhe dará poder,
 transformando-a  num elemento diferenciado, com capacidade de explorar o mundo, porque tornou-se atento, astucioso e desperto.

Abdicou da segurança do coletivo, da fileiras do recrutamento,
as formalidades da liga, do partido, do agrupamento. Não carrega bandeiras, nem conhece fronteiras, tampouco bate continencias. 

Não se confina em limites estreitos que aglomeram ou reunem .
Ao não render-se às forças  do corporativismo, não sentirá
necessidade de buscar guarida em agremiações como salvaguardas
para sua debilidade.

 Sem a fragilização do individuo, não haverá rebanho.
A rendição atesta o fracasso pessoal, mesmo que com isso torne
a instituição fortalecida. Ela irá alimentar-se e transformar em poder, esse mesmo poder que negou-se a si mesmo. 

A pessoa não é o grupelho, a insignea que carrega na lapela como
auto-identificação. As honrarias obtidas por pertencer a esse ou
aquele bando, apenas evidenciam a falencia pessoal. Desistiu de si
proprio para aparentar importancia que o grupo lhe confere.
Traiu-se por um punhado de privilegios.
Limitou-se para evidenciar o meio. 
O anonimato é o atestado de descredito, e a inabilidade de honrar 
os propositos da sua singularidade. 

O poder é pessoal e sua conquista é intransferivel.
Assumir-se, é a condição irrevogavel para a emancipação e o
auto-governo. Sem esse cuidado, não há como conduzir-se sem  olhar para os lados, nem ousadia, nem resolução.

 Ser rebelde no que conserne aos designios e propositos da
 sensatez das decisões pessoais. O ponteiro da bussula direciona
nesse sentido.
Não submeter-se ao que não tiver coração, mesmo que a
 escolha leve  por caminhos mais penosos e indigestos.

Não são, acaso, as adversidades mais medonhas verdadeiros ritos de passagem ? Sem se pôr à prova, não há como acumular poder.
Para ter conhecimento da substancia de que é feito, terá de passar
pelo fogo das tribulações, pequenas ou grandes, e, para tanto, terá
de tratar de tudo voce mesmo.

  Se quer saber o que é o poder, e se quiser armazená-lo, terá de confiar em si mesmo, seguir, apesar dos contratempos, tendo a
consciencia que é esse o ritual.

  Não há, todavia, o que temer, pois nunca estará sozinho, apesar de
seguir por caminhos solitarios. 
Nunca estará só se não tiver cedido o poder e dignidade ao
que quer que seja.

  Extrair a força pessoal do agrupamento forte, não faz mais que
apequenar, fragilizar, e levá-lo a uma posição de descarte permanente. Pois, quem já descartou-se a si mesmo, por falta de
idealismo e auto-deferencia, transforma-se, instintivamente em
expurgo humano.

  Solitario, sentir-se-á vulneravel, sem garantias ou qualquer forma de imunidade, será, contudo, dessa fragilidade que extrairá seu poder, sua autonomia, o criterio e a convicção de si proprio, a
sensação que é uma criatura de sorte.   

E quando o medo surgir, é o sentimento dos que seguem rotas
pouco trilhadas. A ovelha solitaria sentir-se-á indefesa, não
 mais sob o teto do rebanho protetor. Será, entretanto, desse sentimento, que obterá as estrategias de poder e astucia.  
Caminhos seguros são para os fracos de espirito, daqueles enfileirados, que reverenciam o status quo, o senso comum, o
determinismo do bando.

A força que se busca fora, expõe as mazelas do espirito.
O caminho da maioria, não é, com certeza, o caminho da 
auto-determinação, da emancipação individual.

  Tão somente os destemidos compreenderão, um dia, os
misterios dos desafios da vida. Olharão então para tras, e terão
a certeza e o entusiasmo do quanto tudo valeu a pena.

     


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

RELAÇÃO ENTRE FEBRE E SUPER-BACTERIAS


              Esta postagem é resposta a uma pessoa que me
questionou sobre a relação existente entre febre, medicação quimica e superbacterias.

     Achei a indagação relevante pois apenas confirma a impressionante confusão e duvida que a medicina hi tech lançou as pessoas com conceitos erroneos e crendices caracteristicos de um
tempo de obscurantismo e total aleinação.

    Isso se confirma porque um dos fenomenos mais notaveis da
fisiologia humana ter sido desacreditado, com eloquencia implacavel, como se a Natureza tivesse equivocado-se, equipando o sistema com esse lamentavel mecanismo chamado febre.

   Sendo um aspecto pertinente à fisiologia, evidencia que faz parte 
da estrutura, do todo, inerente à vida, portanto imprescindivel ao perfeito funcionamento do corpo. 

    A febre carrega consigo o admiravel mecanismo que condiciona
a defesa contra os poderosos agentes responsaveis pela aniquilação da vida. Representa, não apenas um engenho perfeito de proteção,
visto que, toda vez que é acionada, torna-se mais eficiente, dotando o sistema com um poderio crescente de salvaguardas.

  Protege, e ao fazê-lo, aperfeiçoa mais e mais sua competencia.
O que não se usa, atrofia e enfraquece. Enquanto a ação fortalece
e  desenvolve. Isso é lei, e verifica-se em todos os ambitos da vida.

   Frente a isso, percebe o efeito danoso, perverso e lamentavel da interferencia quimica, contrapondo-se aos quadros febris ? 
Posiciona-se o pelotão, basucas na alça de mira, mas a ação não
se efetua, permanecendo a cena no modo stand by.
O inimigo avança, e a defesa impossibilitada de reação.

    O anti-termico inviabiliza a ação natural, comprometendo,
com isso, sua atuação e eficiencia, fragilizando a capacidade inata
de auto-proteção do organismo.  
Eliminando a febre, o antibiotico perfeito por natureza, terá, nesse caso, lançar-se mão de uma substancia quimica, artificial, com efeitos adversos, lesivos, em substituição à dinamica logica e espontanea com a qual foi o corpo aparelhado.

É complicado, senão impossivel, justificar tamanha incoerencia e
desproposito, com total ausencia de bom senso e discernimento.

  Em outras partes do mundo, entende-se a febre sob uma perspectiva  radicalmente oposta, usando substancias ( naturais ), cuja finalidade é de aumentar a febre, ao inves de eliminá-la.

Alias, não era exatamente isso que o pessoal das gerações passadas
fazia ?  Lembro-me quando vovô encontrava-se em estado febril, tomava chá quente e cobria-se com muitos cobertores para poder
suar. Era o tal do suador, que consistia em aumentar mais ainda
o calor para que pudesse suar. No dia seguinte ia pra roça e tudo
estava resolvido. Não havia a intervenção da parafernalha quimica
ou qualquer outro cuidado no sentido de eliminar a febre.

   Funcionava. Sempre funcionava. Porque deixou de funcionar
nestes tempos modernos em que temos disponivel uma medicina de sofisticada tecnologia e avanços surpreendentes ?
Naquele tempo não havia a facilitação que possuimos na atualidade; nem por isso deixavam de ser saudaveis. Não havia farmacias nem pronto-atendimentos, pois não necessitavam, no
mais das vezes, desses requintes para dar solução às suas enfermidades e contratempos.

 Porque será que a Natureza iria dotar-nos com um mecanismo totalmente destituido de sentido e função, já que é combatido e eliminado tão logo se faz presente ?  
Se é combatido, conclui-se que não tenha serventia, não é assim ?
E quem ou o quê dotou-nos desse recurso, deve, para dizer pouco,
ter-se equivocado de todo. 

  A febre existe tanto no reino animal quanto no vegetal. A plantinha tambem defende-se atraves de um mecanismo analogo ao da febre do reino animal. Desta forma, a febre faz parte onde haja vida, não deixando de ser um dos requisitos mais fantasticos e elegantes na manutenção da vida. 

   Como medico, foi longo o percurso para que pudesse ter o entendimento da sua dinamica e do seu verdadeiro proposito. 
Nos logos anos de formação, ou mesmo apos, nos cursos de
aperfeiçoamento, o assunto febre permaneceu sempre como tabu.
A unica informação objetiva, ouvida por todos, era sempre
 a mesma : frente à febre, trate de anulá-la. Porque será ?

   Somos medicos, mas que tipo de medicina praticamos, quando
não temos, ao menos, a compreensão daquilo que o organismo lança mão como engenho notavel, ao mesmo tempo, sofisticado, de defesa e proteção, para seu perfeito funcionamento ?  A que senhor servimos, quando pautamos nossa conduta atraves de atos de violação à vida, e total desrespeito à natureza. 

   Nos primeiros anos de oficio, frente às instruções provenientes
da erudição dos "mestres", de todos, segui tambem a mesma agenda.
Sem duvida, foram anos confusos, de intensa inquietação do espirito. De um lado, o mundo cientifico com seus dogmas e tributos, tendo que manter-se fiel à litania do senso comum, dos
preceitos unanimes, acatados, coletivamente, sem contestração, como verdades inquestionaveis, e, do outro lado, a duvida e a descrença, sem, no entanto, ter condições "cientificas" para justificar a incoerencia embaraçosa. 

   Na hipotese de todos aceitarem algo como verdade, mesmo sendo uma farsa, aquilo se põe como verdade.
    Caoticos e obscuros são os caminhos que o homem tem de  percorrer, para que a VERDADE, enfim, possa ser reconhecida.
O acesso à luz é sempre rastreado nos labirintos mais profundo e
sombrios da escuridão da ignorancia humana. 

   Autonomia e liberdade são atributos da mesma realidade. Somente atraves do poder pessoal, conquistado atraves da superação do caos da normatização do falacioso, que a pessoa
terá lucidez para assimilar as leis que regem os fenomenos vitais,
e agir em consonancia com a natureza.

 Sem isso, ficará a pessoa enclausurada em crenças falaciosas,
mitos idiotas, verdades que em verdade bestializam qualquer
bom senso.

    Voce me questiona se são as superbacterias, ou se são as 
drogas quimicas, de ultima geração, que nos causam prejuizo.
Veja, que foi a medicina com seu cientificismo unipotente, que
transformou o simples, aquilo que é da natureza, em complexo,
confuso e obscuro, impondo, desse modo, medo, duvida e
inquietação. Existe, por acaso, algum vivente, nesse mundo sofrido,
que seja capaz de dar credito a esse fenomeno natural, ao mesmo
tempo tão extraordinario, e não combatê-lo como 
inimigo ameaçador ?  Quando houve epoca, não faz tanto tempo,
era encarada a febre com incontestavel naturalidade, sem uso da
quimica, ou qualquer outra forma, para anulá-la ?  E nem por isso
as pessoas evaporavam, transformando-se em assombrações ?

   Evoluimos tecnologica e cientificamente, mas foi, na mesma
medida, em que nos embrutecemos, deixando de ser simplesmente
humanos. Perdemos a fé, e, nesse sentido, apoderou-se o medo, 
e, com ele, a pressa. 

  A febre pode ser vista como a fervura da agua. A agua fervida é
isenta de qualquer forma de microrganismo nocivo.
Quando um agente danoso invade o organismo, imediatamente
nosso sistema de defesa entra em ação. O corpo começa a ferver,
aumentando a temperatura, porque ele sabe que o invasor não
será capaz de suportar, nem sobreviver, a esse impacto de calor.
O corpo não é burro, apenas um amontoado de carne e osso. É
um sistema munido de inteligencia, de admiravel inteligencia, criado de tal forma que é capaz de defender-se e dar conta... se permitirmos que o faça ! 

  No entanto, se usarmos a estrategia de intervir quimicamente e
interferir nos apurados e complexos procedimentos naturais, anulamos a defesa intrinseca, que é inata ao organismo.
E quanto mais vezes essa tatica for posta em ação, gradativamente,
perde o sistema a capacidade de defender-se, naturalmente, ficando refem de procedimentos quimicos. 

  Quanto mais laxante, mais o intestino fica indolente, e laxantes
mais poderosos terão que serem usados para que o efeito desejado
seja alcançado. O intestino fica preguiçoso, não é assim que o povo 
explica o acontecido ?  Há, por acaso, qualquer laxante  que cure prisão de ventre ?

   Quanto mais quimica, mais poder transferimos aos "bichos", até
perdermos de todo a capacidade de resistir com nosso arsenal
terapeutico. 
É dessa forma que a medicina da alta tecnologia e eficiencia cria
as super-bacterias, produto da nossa incompetencia, da nossa
intempestiva, absurda e desatinada intervenção medicamentosa.

O modelo falido da medicina convencional fundamenta-se na sua
explicita onipotencia. Julgou-se competente e com recursos 
adequados para dar conta das mazelas humanas, carecendo de
modestia e sobriedade para delegar e, ao mesmo tempo, doutrinar
a criatura, para que aprendesse a cuidar de si proprio.
Fiou-se unicamente na engrenagem quimica e deu no que deu.
Falhou sonora e estripitosamente. Os fatos não desmentem a 
assertiva, ao contrario, apenas a abonam.

A situação caotica e deprimente em que se encontra, atualmente, essa admiravel profissão, fundamenta-se, basicamente, nesse equivoco, que está colocando-se como irreversivel. Desconsiderou, imparcialmente, a dualidade psico-somatica, vendo o paciente
tão somente como um mecanismo destituido de uma realidade 
animica, onde o sintoma a nivel fisico, não tendo ressonancia
alguma com essa realidade imaterial. 

  Alegria ou tristeza, cristalinamente, tem a ver com o funcionamento de toda a estrutura no ambito da corporalidade.
Ou não  ? !

  O que leva ao prejuizo é o que tentamos, artificial e farmacologicamenmte, para estarmos bem, ou para nos
 recompormos, tão somente por não darmos credito ao maravilhoso
esquema que a natureza providenciou para vivermos bem e
termos saude. Fisicamente estruturados. Emocionalmente em paz.

  Precisamos de tão pouco para estarmos bem em todos os 
dominios da vida. A complicação apenas complica ao inves de
facilitar e trazer proveito.

   Quando o medo e a pressa tiverem sido, finalmente, superados, 
meramente, então, teremos alcançado a condição de viver
como os passarinhos e as arvores vivem.

   Já deparou-se, alguma vez, com algum pardal incauto com
tosse ou dor nas tripas tendo no armario da sua casinha um
monte de drogas para manter-se saudavel e faceiro ?
   



  
  


domingo, 6 de janeiro de 2013

DE QUEM É, AFINAL A RESPONSABILIDE ?


       Não é desabafo.  Nem se trata tambem de protesto, lamento de
auto-piedade, e/ou culpa, tampouco sentimento de contestação, carregado de magoa, ou, quem sabe, contrariedade, ou até mesmo
ressentimento.  

  Não, de forma alguma, trata-se disso.

   Quando se olha em retrospectiva, na avaliação dos fatos e acontecimentos relacionados à atuação na vida, como oficio, são
dois, ao menos, os sentimentos que podem, de imediato,
revelar-se à nossa consciencia.

   Ou, sentimo-nos desconfortaveis pelo que deixamos de fazer, o
que foi deixado para tras, mas que podiamos ter executado, pois
esteve ao nosso alcance. Por algum motivo qualquer, o devido
empenho, não aconteceu. 
Ou, então, o que foi realizado, não alcançou, talvez por displicencia, pressa, descuido, indiferença, ou qualquer outra questão, o beneficio ou o ganho a que nos tinhamos proposto.

  Neste caso, pode ser que, realmente, tenha havido competencia, conhecimento ou empenho. Ou comprometimento e aplicação.
Empenho. Historia pessoal. Envolvimento ( e não somente negligencia ou desleixo ).
A agenda foi cumprida e o projeto, realizado.
Missão concluida. E dever adequadamente desempenhado. 
 No entanto, o resultado final não foi condizente ao quanto de 
energia, cuidado e entrega foram investidos no empreendimento. 

 O questionamento critico a que me lanço nesse momento é :  a irrelevancia  do resultado final dos fatos,  pode ser considerado, tão
somente, como responsabilidade ou onus pessoal ? Ou seja, o que
foi que não se ajustou para que o exito não tenha sido alcançado ? E, olhando, agora, para tras, ter-se a sensação de malsucedido ?  

  A ponderação é pertinente, pois, apesar do empenho e de ter
  havido comprometimento, de consciencia serena, algo não alinhou-se ao que havia sido, inicialmente, proposto.
Assim sendo, qual o ponto ? Ou, melhor, porque ?

  Como profissional da area medica, dediquei-me, o quanto foi
possivel, não por capricho da vaidade, para ser diferente, ou
alcançar visibilidade,  mas por decretos e designios de instancia mais complexa, que transcendem a vontade ou simples desejos de originalidade e ostentação, seguir uma orientação não ortodoxa,
alheia ao padrão ortodoxo de fazer medicina.

   Nesta condição, o preço a ser pago por não seguir o modelo corporativo, o consenso da norma, a ideologia coletiva ou o paradigma da concordancia, é, de forma inegavel,  um preço extraordinariamente elevado.

 Abdicar dos preceitos da medicina quimica, de alta tecnologia, que enfatiza, tão somente, a manifestação somatica, o efeito final de uma longa cadeia de eventos, cujo inicio encontra-se nos dominios do mundo sombrio da mente, com suas culpas, crenças, sentimentos, temores e inquietações, e buscar, exatamente aí, no nivel da energia não manifesta, a causa de todo o desequilibrio manifesto, não deixa de ser, inequivocamente, uma tarefa obstinada, de extrema temperança, e inegavel exaustão, com extremo desgaste de forças psiquicas..

    Foi um tempo de intensa angustia, conflitos internos sem
 tregua e inquietações desalentadoras.
 Sentir-se indefeso frente uma vivencia de hostilidade e antagonismo, animosidade e franca rejeição, qual expurgo a ser
simplesmente descartado, quando ainda as convicções eram hesitantes, como a plantinha fragil, sem resistencia nem valentia, 
somente estando alicerçado e sob a influencia de forças
notaveis, ao mesmo tempo misteriosas.

Manter-se fiel aos propositos e seguir em frente, diante tal
adversidade, feito de horror e execração, necessita a pessoa, alem
da simples aplicação e vontade inflexivel, ser tambem norteado por uma singularidade incomum, alheia ao sistema validado coletivamente, para não deixar-se abater qual animal indefeso.

   São extraordinarios os caminhos pelos quais a verdade segue os
seus designios para ser compreendida.  Maior ainda, contudo, será a dificuldade para tornar-se realidade, e, dessa forma, transformar-se em experiencia pratica, em comportamento humano.

  Quantas vezes perde-se o rumo que nos parecia seguro e efetivo.
Certezas absolutas transformam-se então em duvidas impiedosas.
A unica verdade que, neste momento, nos norteia, e a unica certeza que resta, é nos sentirmos, definitivamente, perdidos.

   A bussula parece confusa e os mapas distorcem as linhas, deixando de ser confiaveis. Estar no mato sem cachorro, não é
essa a imagem que define com exatidão esse momento de vida ?  Apesar disso, no entanto, a jornada continua. E, para dar validade ao projeto, necessita a pessoa de austera aplicação, sem deixar-se abater por reclamos e queixumes qual criança choramingas. Terá
que manter-se fiel ao seu idealismo sem desistir, sem reclamar, sem
hesitar, até alcançar, por fim, o entendimento que nada realmente importa. Pois o que estava em jogo era o poder pessoal. Não foram as batalhas vencidas, ou as que perdeu, nem as alegrias ou perplexidades, frustrações, desencantos. Os eventos que nos desafiavam, tinham por meta, não o resultado em si, mas o poder
a ser ganho atraves da sua execução.
  O que determina a maneira de se fazer as coisas é o poder pessoal.
 O homem se valida por esse poder. É ele que define sua postura 
na vida. 

     O poder pessoal é um estado de espirito. Um sentimento de convicção. E para alcançá-lo, será a pessoa submetida à iniciação
que as adversidades dos acontecimentos impõe. Sua superação cria
essa certeza que se transforma em poder. 
Pois, de que outra forma, a não ser percorrendo os arduos e criticos caminhos das adversidades, para alcançarmos as qualidade desse poder ? 
 As dificuldades não são mais que estimulo, quais halteres, que nos
libertam da acomodação, temor e covardia para seguir rotas incomuns e solitarias. É nessas esferas que o poder pessoal  se disfarça, cristalizando-se em vivencia. 
   
    Sem resistir às forças do vitimismo ou do esteril conformismo, 
sem esse poder, não somos mais que lixo, folhas mortas dançando ao vento. 
  Cabe a nós, como individuos, opor-nos às forças que tornam a 
vida sem sentido nem função.

   Tentei conscientizar todos quantos viessem estar comigo. 
Tentei colocá-las numa perspectica incomum da visão conservadora da realidade dos fatos, das crenças habituais com relação aos
aspectos do adoecimento humano, do cuidado pessoal quanto
à terapeutica quimica, da inconveniencia da intervenção intempestiva e desnecessaria, a necessidade da ruptura de um
consenso paradigmatico, e, desse modo, alcançar autonomia e qualificação que colocasse a pessoa em condições para dar conta de si proprio.
Premissas imprescindiveis, enfim, para alcançar equilibrio, saude e auto-determinação.
 Liberdade sobre as limitações impostas de todo e
qualquer sistema que nos mantem alinhados à visão comum de
crenças insanas e "verdades" que estupidificam  o espirito. Que nos
apequenam, alijando-nos das nossas reais possibilidades.

Para reconhecermos nossa singularidade, temos que transcender a
consciencia comum, cotidiana de todos os dias.
E a realização dessa mudança interna, no nivel da percepção, do entendimento, é, de fato, um feito sem paralelo.

Tentei.  Tentei passar a mensagem. E o conteudo da agenda  poderia ser sintetizado na modesta assertiva  :  " aprender a
 cuidar-se, fazer o que tem de ser feito e dar conta de si proprio ".

   Consegui ?   NÃO  !  Ou, ao menos, minguadamente.

  Entretanto, o paradoxal dessa empreitada é que sai com o
discernimento e a certeza de que é possivel mudar. É possivel
fazer por si mesmo e sair da dependencia dos condicionamentos
da vida inconsciente, do comportamento, simplesmente, automatizado.
 Colhi exatamente aquilo que não consegui transmitir aos outros.
A mensagem não foi ouvida pela multidão, no entanto o som permaneceu retido no mais profundo do meu ser e se fez verdade, entendimento, lucidez e ação. 
 Donde se conclui, que, geralmente, ensinamos o conteudo que necessitamos aprender. Damos enfase ao que nos falta atraves
da mensagem que emitimos para o mundo.

 Assim, o fracasso externo fez-se dinamica bem sucedida a nivel pessoal.
Compreendi então que a necessidade que temos de ajudar o
outro, reflete apenas o quanto estamos em falta conosco mesmos.
A sujeira que vemos no caminho do outro, não é diferente da sujeira da qual não conseguimos livrar-nos ainda. Projetamos nossa mediocridade no mundo, na expectativa de reformá-lo para podermos, dessa forma, alcançar a paz. 

  A solução parece sempre situar-se nos limites externos. Mentimos a nós mesmos quando partimos em inglorias cruzadas tentando salvar o mundo.
O final da historia, contudo, é sempre igual  :  profunda decepção, quando não, ressentimento e azedume incluidos no mesmo pacote.

  Cada qual terá de percorrer o longo percurso, não menos penoso, e, ao mesmo tempo intransferivel, caso queira desvendar os segredos e misterios nos quais encontra-se a vida envolta. 

Sem decepcionar-se, continua a pessoa no caminho de sempre,
fazendo pelos outros o que não consegue fazer por si mesmo.
Quando a necessidade de amparar o outro, finalmente, cessa, é
onde reside a compreensão que não é o outro que tem de ser ajudado.

   Organizar-se internamente, é a ajuda maxima que alguem pode executar. É um ato heroico, não tendo, porem, analogia alguma com egoismo ou simples indiferença.
Sentir-se bem, cuidar-se a nivel animico, é, de longe, a dadiva
mais significativa que podemos legar ao mundo, pois
ninguem, nunca, cura-se apenas a si mesmo, ao se curar. A energia dessa benção será transferida, incondicionalmente, a nivel coletivo.

  Quando ajudamos, a pessoa utiliza a energia de quem a está ajudando. Não é uma posição vantajosa, pois terá que aprender a
disponibilizar a moderação, a sobriedade, o controle e a energia que
lhe são inerentes, caso queira libertar-se da consciencia comum que
apenas busca resultados confusos e metas sem sentido.
Portanto, a ajuda incapacita e fragiliza. Se transforma em mendigo
psicologico, sempre à espera, passando o chapeu.

   Quanto mais estivermos envolvidos com as questões do outro,
mais estará a pessoa aleinada de si mesma, e, dessa forma, distante
da solução das suas coisas.

   Não são, afinal, as dificuldades a matriz de onde todos extraimos do que necessitamos para que o despertar aconteça e nos coloquemos à caminho ?
A geração espontanea ainda não está, desafortunadamente , disponivel. Temos, ainda, todos, que fazer o que tem de ser feito
para que as mudanças aconteçam e a paz, finalmente seja possivel.

  Uma longa cadeia de circunstancias e acontecimentos são
necessarios para que possamos resgatar-nos do sequestro no qual
estamos aprisionados para alem de uma eternidade.

  Os caminhos que nos conduzem ao encontro conosco mesmos
são, indubitavelmente, misteriosos, arduos, doídos, mas plenamente
suportaveis, plenos de sabedoria, proporção, harmonia e beleza.

   A mudança doi, mas sem  mudança nos destruimos.

  Sem concedermos à nossa força natural e impeto compulsivo uma
causa valiosa, qual o destino que encontraremos logo aí à frente ?

   Apos tantos caminhos andados, compreendi, finalmente, que
não dar esmolas, não é crueldade, nem, tampouco insensibilidade,
mas apenas desapego. Apegamos-nos à ilusão quixotesca de salvadores do mundo, pela resistencia interna da mudança pessoal. E, encontrei, exatamente aí, o significado magico da ausencia de piedade. Quando deixamos de sentir pena
por nós mesmos, é que a compaixão deixa de ser expressiva, e 
 reverte-se finalmente destituida de valor.
Sem o aval da autopiedade, a compaixão não tem objetivo.

   Disse-me um amigo que este planeta pode ser de provas e
expiação, ou então de plena realização e desenvolvimento de
potencialidade. 

     Fazemos o que tem de ser feito, ou podemos simplesmente
continuar a nos queixar, reclamar de todos e até de Deus para que possamos estar bem, ter saude, dinheiro, paz....
Os culpados, quem  são eles a não ser sempre os outros, não é  assim  que funciona ?

   A felicidade exige a valentia da responsabilidade das mudanças.