domingo, 26 de agosto de 2012

A DOENÇA COMO CAMINHO DE LIBERTAÇÀO


                         
                    Qual será afinal o verdadeiro motivo, o real significado para a massa de sofrimento, em forma de perdas, enfermidades, danos de toda ordem, carencias e fracassos que, desde sempre, andam juntinhos, acompanhando de mãos dadas, para onde quer 
que a pessoa vá ou o que faça ? 

     Pelo fato de praticamente ninguem  estar imune ao seu efeito, deve o sofrimento representar um importante papel na vida de cada um. Afinal nada é por acaso,  ou deixando de ter uma função, um
objetivo especifico quanto manifestação. 

       Vamos dar uma olhada, com mais cuidado, na polaridade doença  versus cura e tentar compreender, num nivel mais apurado, as forças  que se encontram em jogo.

       A doença tende sempre a nos remeter para uma conexão, num
nivel mais profundo, com nossa essencia, com aquilo que verdadeiramente somos, no entanto desconectados.

         Cura é conexão com essas camadas mais profundas , tanto no nivel psicologico, quanto nos corpos fisico e emocional.

                      O campo de energia terá de modificar sua frequencia para alcançar a vibração necessaria que produz as mudanças que existem no espectro da consciencia. Niveis diferentes de vida tem 
a ver com niveis diferentes de energia, que, por sua vez, tem relação com outros niveis de compreensão. Com mais compreensão assumimos com responsabilidade questões internas não elaboradas,
ao inves de simplesmente nos defendermos delas, culpando os outros, o passado, fatos ou situações em que nos sentimos vitimas ou mesmo injustiçados.
                              Nesse novo nivel de percepção ocorre uma alquimia pessoal, uma transformação, uma mudança de posição do ponto de aglutinação da consciencia. Esse processo de transformação de consciencia abre caminhos internos de liberdade e auto-realização nunca antes alcançados.

                A verdadeira função da doença é a de alcançar niveis de
vibração de frequencia superior, onde a necessidade de julgamento
ou critica vai cedendo gradativamente espaço para uma compreensão mais ampla e apurada do verdadeiro sentido da vida.

       A doença nos convida a olhar para dentro de si mesmo,  ao inves de simplesmente buscar soluções externas para se ver livre do
sofrimento. A enfermidade é, de certa forma,  um tropeço para nos
alinharmos com uma nova forma de caminhar. Desse modo, encontraremos luz na escuridão da doença. A gente se perde mas
acaba se achando em novos caminhos. 

             Resistir ou apenas buscar soluções temporarias, nos levará 
a escolhas que produzirão apenas mais sofrimento. A doença, dessa
forma, não terá cumprido com sua verdadeira função. Pelo temor, ou mesmo desconhecimento da necessidade de olhar para dentro, encarar  bloqueios, o vazio interior asfixiante, se refugiará então em soluções faceis e rapidas, abortando o processo.

              Buscamos no mundo a solução para o medo de não sentir-se aceito. Precisamos nos reafirmar constantemente atraves de uma
validação externa, alimentando-se com o reconhecimento e admiração alheios. Por não sentir-se seguro, pois a conexão interna está desfeita, volta a consciencia para fora.

        Toda uma vida pode se estruturar dentro desse movimento, sem a pessoa ter consciencia disso. Como percebe, é um caminho que não leva a lugar algum. As coisas do mundo não podem saciar
nossa necessidade de paz e serenidade. Por isso a doença, ou qualquer outra situação que visa romper essa estrutura ilusoria. Seja
a perda de alguem querido, um fracasso nos negocios, uma
decepção barulhenta etc, tudo enfim, que traga um grande sofrimento, brecando a vida abuptamente, sem aviso previo.

        Enquanto buscar, no mundo externo, fatos ou situações que preencham seu vazio existencial ou sua sensação de asfixia interna, a pessoa estará encolhida num estado de paralisia constante,
perdida, seguindo caminhos que apenas produzem mais inquietação,
medo e frustração. Sente-se cada vez mais sem proteção e sem saida.
                E como oculta isso de si, por desconhecimento ou conveniencia, terá de encará-lo atraves do sofrimento. A doença
encarna, portanto a solução que não quis encarar conscientemente.

         Sem olhar para dentro, para as trevas do mundo interior
negligenciado, trazendo-as para a luz do entendimento, não há como nos livrarmos das garras de cada vez mais sofrimento.

            Não é por fugirmos do caos central, que ele deixará de estar
aí. E quanto mais retardamos a verdadeira solução, nos afundaremos mais e mais em estrategias inuteis e vazias de um
verdadeiro significado.

       A doença, ou qualquer outra forma de sofrimento são apenas instrumentos para pararmos de resistir ou lutar contra o medo e toda forma de inquietação originadas por buscarmos, obstinadamente, nos resolvermos com soluções paliativas e superficiais.
                         A necessidade de amor e segurança não serão mais
buscadas na aprovação ou reconhecimento por parte dos outros.
Enquanto confundirmos amor com sermos admirados pelos nossos
feitos, estaremos ainda distantes da verdadeira solução.

           Como não vai para dentro em busca desse amor e proteção,
irá se esforçar cada vez mais para estar em evidencia, adequar-se
ao mundo para não sentir-se rejeitado. Refem desse reconhecimento, busca segurança na unica forma que conhece.

                Confia no julgamento dos outros, agendando sua vida nos desempenhos externos e não pela qualidade do seu ser. Mas a estrategia não cumpre com suas promessas, pois, mesmo assim, não
encontra alivio para seu sufoco e confusão. Aliás, a coisa se torna
cada vez mais insustentavel, como panela de pressão, aumentando
cada vez mais o desconforto e a descompensação interna. 

      Afinal, qual não seria a causa de tanta irritabilidade, pressa e
insanidade a não ser esse desencontro consigo mesmo, o descompasso a que se lançou ao buscar  salvaguarda em ambitos
impossiveis de serem encontrados.

          A recusa de seguir por outros caminhos, abandonando a necessidade de controlar o meio com desempenho, irá apenas
gerar mais desconforto, até o ponto do equilibrio fragil ser rompido,
transformando-se em doença, ou qualquer outra forma de martirio.

      O sofrimento é apenas um estagio no longo desenvolvimento e
desdobramento da consciencia, onde irá finalmente abrir mão de
toda forma de salvação exterior, das estrategias cuidadosamente
elaboradas como mapas de orientação.

             De repente o ninho se desfaz; caminhos misteriosamente
se fecham e as soluções de ontem já não equacionam como
sempre fizeram. Sentir-se-á desorientado,perdido, sem rumo.
Terá que buscar novas acomodações talvez não tão confortaveis,
mas com certeza mais espaçosas.

            O sofrimento gera um novo nivel de energia que irá criar um lugar para acomodar essa nova percepção de uma consciencia amplificada. Lançado no caos e no medo, renasce numa dimensão
diferenciada, modificado internamente.

       Viverá agora ancorado no seu mundo interior, fazendo apenas o que lhe trouxer alegria, relaxado, sem tensão nem medo e confiante na vida. 
Finalmente os milagres começarão a acontecer com naturalidade, 
sem mais o esforço que ditou sua vida até então.

    A bergamotinha sempre amadurece sem  esforço algum. E quando conseguirmos ser como a bergamotinha é, finalmente teremos descoberto talvez o maior segredo da nossa vida. Tudo acontece a seu devido tempo conforme tem de ser. Natural e silenciosamente.

      Livre da necessidade da aceitação dos outros para sentir-se bem
pois está agora conseguindo alimentar-se de si mesmo; não mais sob o efeito do modelo de dar para receber, de submeter-se servilmente
para encontrar um espaço onde possa sentir-se bem. Já não terá necessidade de parecer doce ou simpatico em função da auto-negação, pois superou em si a carencia que o motivava pela aprovação e reconhecimento vindo do mundo. Autonomia interna.
Reconhece-se a si proprio, fonte do verdadeiro amor e auto-estima.

       Sob o efeito dessa nova percepção, velhos padrões de raiva, medo e duvida deixarão de estar no comando. Essa nova consciencia desacomoda o que parecia obvio, e uma nova parte da
gente alcança a consciencia. É a parte que ama a verdade ao inves
do poder e controle. E fluxos espontaneos de sentimento e intuição,
antes reprimidos pelo velho padrão, virão à tona.

       As doenças são apenas o reflexo dessa energia reprimida e
sufocada, que vaza para o fisico em forma de desequilibrio e
desfunção.
                     A espontaniedade é recuperada quando se dá conta do que realmente sente, em vez daquilo que supõe que deva sentir.
A integridade retorna ao tomar contato com os verdadeiros sentimentos e emoção, não mais tendo que reprimi-los pelo medo
do julgamento e avaliação dos outros.

          Dessa forma, libertamo-nos do medo e da necessidade de
buscar fora o que existe em abundancia dentro de cada um de nós.

     Somos seres extraordinarios mas tão poucas vezes temos
consciencia disso. E é exatamente a doença que nos remete para
aquilo que verdadeiramente somos. E do fundo do inferno encontraremos os caminhos da paz e da liberdade.

          Não é a doença afinal, ou toda qualquer outra forma de sofrimento, uma verdadeira benção para todo estado de bloqueio e impedimento para o grande encontro conosco mesmos ? 
  
                 


          

sábado, 25 de agosto de 2012

COMPREENDENDO O PROCESSO DE ADOECER


                     Tratando-se de doença, temos sempre muita pressa. Queremos livrar-nos o mais rapidamente possivel tanto do desconforto fisico, mas, principalmente, da preocupação e angustia
que estão sempre associados a qualquer enfermidade. 

        Qualquer perturbação em qualquer parte do nosso corpo nos
põe vulneraveis, pondo à descoberto a fragilidade humana frente ao
poder destrutivo de agentes hostis  à nossa integridade. Somos grandes e parecemos resistentes, no entanto tão pequenos e debeis
frente à ação de seres tão miudos mas poderosos que a vista sequer alcança. O poder do pequeno frente à debilidade do grande.

     Isso que irá ler agora, foi passado pelo seu medico ao paciente
portador de doença infeccto contagiosa, apresentando impaciencia
frente à morosidade da reversão do seu quadro clinico. O profissional tenta passar a ideia que a cura do corpo é sempre
posterior a uma compreensão maior pelo que a pessoa está passando nesse momento em sua vida.

                                 Caro C.J.S.

              " Há muitas coisas envolvidas no processo  da cura, mais
ainda tratando-se de doenças cronicas, de evolução lenta. A correção não é um mecanismo linear, pois há o envolvimento de campos de energia, aspectos psiquicos, tanto emocionais quanto fisicos.

          " Não se trata simplesmente de um confronto entre as forças
do medicamente frente à resistencia do elemento invasor. Mesmo
sendo a energia do farmaco mais vigoroso e eficiente, a resolução
está sob o dominio de influencias nem sempre acessiveis à 
 compreensão da nossa racionalidade. São os misterios insondaveis
do que significa ser humano.

           " Há um tempo de espera, um tempo de amadurecimento
para que uma mudança interna possa se fazer. Até o ponto em que
isso não tenha se encaminhado de um modo adequado, a verdadeira cura não poderá se efetivar. 

            "Sempre atraimos para a vida, nada senão aquilo de
que necessitamos para  nossa evolução. Nada nos acontece, seja
interna ou no aspecto cotidiano de todos os dias, que não esteja, de alguma forma, conectado com esse movimento de crescimento.
Afinal, de que outra forma abandonariamos a segurança do ninho,
para nos aventurarmos por caminhos não tão confortaveis, mas
infinitamente mais espaçosos ?  A vida sempre vem em auxilio,
com seus mecanismos de caos e medo, quando nos acomodamos às limitações e aborrecimentos de um passo que já não faz sentido pois não conduzindo a lugar algum.

       "Tudo é magistralmente previsto dentro de um quadro maior,
nem sempre ao alcance da nossa visão. É por isso que nos
inquietamos para nos vermos livres o mais rapido possivel do que nos molesta, nos pondo impacientes e desconfortaveis.

       "  Desejamos descartar os incomodos o mais rapido possivel.É isso que queremos, no entanto, existe o envolvimento de outros aspectos , não apenas fisicos, organicos, contagem de virus, Cd4 ou coisa do genero. Há muito mais, e são exatamente esses outros aspectos que representam a relevancia de tudo. E, por paradoxal que possa parecer, a pertinencia não é a cura da molestia em si, mas a pressão que cria no sentido de um encaminhamento para outros niveis de evolução de consciencia, para outros niveis de vivencia que, de outra forma, talvez não fossemos ser capazes de alcançar.

           "A enfermidade não é o inimigo; está aí como mensageiro para uma compreensão mais apurada da vida, tornando-nos acessiveis às mudanças necessarias.

             "A doença não tem por função nos destruir, mas
destruir em nós o que já não representa nenhum valor. Eis o verdadeiro inimigo a ser erradicado atraves de uma visão
lucida dos aspectos superfluos, simples penduricalhos, peso morto,
que inviaviliza  tornarmo-nos pessoas melhores, para que o mundo
seja melhor, e  que haja menos sofrimento.

          " Dessa forma, sob esse angulo, a doença torna-se uma benção, um facilitador, que nos impõe um descanso, uma folga, parada forçada para realizarmos um inventario, redirecionando o passo, atraves de uma visão amplificada, com mais clareza e discernimento. 

                " A molestia não está aí para simplesmente ser erradicada, combatida como um demonio a ser exorcizado, ( já houve epoca em que se atribuia a maus espiritos os maleficios do corpo ), algo que nos afetou e que tem de ser despachado de qualquer forma. É por isso que adoecemos cada vez mais, por considerarmos a doença cuja unica finalidade é a de proporcionar desconforto e sofrimento, sendo, desse modo, que ser erradicada a qualquer custo. Usamos o efeito como sendo a verdadeira causa. Queremos nos curar pelo efeito, desconsiderando a causa que o projetou. 

           "Ser saudavel não é equivalente a não ter doença; pois a
verdadeira vitalidade se relaciona com paz interior, bem estar,
contentamento, confiança na vida e niveis crescentes de uma consciencia cada vez mais elaborada. . Ter o entendimento que tudo está no seu devido lugar, e que a cada momento a vida nos traz
aquilo de que necesstamos. Ter a sabedoria para compreender que não somos vitimas indefesas de forças sinistras conspirando contra
nossa integridade, equilibrio e bem estar. Saber que tudo que nos acontece, é sempre para o nosso melhor, mesmo que não sejamos capazes de compreender o movimento no qual nos vemos envolvidos.

           "Parece complicado, confuso ou meio maluco ? No entanto,
são por esses caminhos que a vida nos leva, os caminhos da doença
para curarmos o homem interior. O verdadeiramente digno de ser
curado.
                       "A doença é sempre o caminho para a cura, desde que a doença não seja aniquilada pela intervenção quimica.
Se a doença não produzir consciencia, de nada terá valido a pena.
E uma nova doença terá então inicio para realizar os seus designios.

                 "A saude resultante dos farmacos, cada vez nos fragiliza 
mais, tanto fisica quanto psiquicamente. É apenas um bem estar de
mentirinha, um faz de conta, uma solução paliativa e momentanea.
Pois o digno de ser curado, não foi curado. O dialogo interno persiste e o ponto de aglutinação da consciencia não alterou.

              "Quando adoecemos, o corpo é tomado de emprestimo para representar aí, como num palco, a encenação dos desequilibrios, frustrações, temores e odios que, de outra forma,
não conseguimos dar vazão. O corpo, desse modo, é sempre o ultimo recurso para aliviar tensões extraordinarias geradas por tantas dificuldades e impasses de toda ordem.

              "A evolução é a lei, e ela se fará cumprir de qualquer forma. A dor e o sofrimento são geralmente os catalisadores desse movimento. A mudança do nosso ponto de vista, do nosso enfoque sobre o que nos aflige e aperta, será esse o momento que irá induzir um novo movimento interior, fazendo com que a doença vá cedendo paulatinamente. Quando internamente não brigarmos mais, a luta finalmente cessa, e a doença terá cumprido sua missão.Não se resiste mais; somente então o virus perderá força, pois o cabo de guerra se desfez. E a nova consciencia, motivada por essa compreensão, o aniquilará. Dessa forma, o virus terá cumprido seu papel e sairá de cena. Foi um bom ator, merecedor de ovações.

             " Começamos assim a compreender aos poucos, gradativamente, o misterioso de nós mesmos, para então desfrutarmos a alegria de descobrir o que realmente somos. Não seria, por ventura, essa a meta mais elevada que um ser humano pudesse se propor ?  E são exatamente os sofrimentos e angustias geradas pelas enfermidades, na sua quase totalidade, se não for de todo, que oportunizam e possibilitam tal movimento.

             " Caro amigo, à medida que puder se tranquilizar, sabendo
que tudo está no seu devido lugar, será nesse sentido que a coisa irá se resolver, tanto mais rapidamente quanto maior a serenidade e a
certeza da sabedoria do processo.

        " Que se danem a contagem de virus e os niveis de Cd4. Pois
o relevante pertence a outra classe.
Voce está fazendo o que tem de ser feito. Já deu conta da sua parte;
portanto fique calmo, sabendo que a seu devido tempo, tudo irá
para o seu devido lugar. 

         " E quanto mais se mexe mais a coisa fede; não é mesmo ?
À vista disso, o mexedor é a mente, a cabeça infernizando com seu
roteiro barulhento e ininterrupto. Faça silencio para que o misterioso em nós possa realizar suas maravilhas.

          " Saudações fraternas.
  
                







































                               

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O EQUIVOCO DA UNANIMIDADE


                  O mal triunfa quando o homem de bem fraqueja. Aquele que poderia ser a diferença do fiel da balança, para que a coisa tendesse a favor da honradez e dignidade, abstem-se, de uma forma ou outra, ocupado demais em defender-se dos seus medos e inseguranças.

            Por isso, quem herdará a terra ( aliás, como sempre foi ),
são os vendedores das ilusões do medo. Demagogos, em sua essencia, exploram a boa fé da coletividade, valendo-se de astucia oportunista, manipulando, atraves de um dominio sutil, no entanto, extremamente efetivo e competente.

           Não há sentimento que debilite mais, em forma e intensidade, que o temor. Plantar a inquietação na mente humana
promove infortunios e danos, muitas vezes, irreparaveis  para quem os nutre, trazendo, contudo, beneficios vantajosos e facilitados para todo aquele que faz uso desse truque ardiloso, de impostura e 
engodo.
                   E todo aquele que fica envolvido nessa artimanha
engenhosa, torna-se emocionalmente refem da mensagem, habilmente repassada, e sempre carregada com ares de boa fé,
lisura e autenticidade. Não há como não dar credito, pois parece
perfeito e incontestavel. As fileiras, bandos e rebanhos são
constituidos dentro desse artificio. Mecanismo perfeito para a
hipnose coletiva, onde todos respondem ao mesmo comando,
guiados agora a partir deles proprios, verdadeiros mediuns de mensagens interiorizadas.

              Apenas obedecem, em posição de sentido permanente, batendo continencia na sua crença inocente. Já sem autonomia interna seguem tranquilos, controlados como gado submisso, seguindo seus controladores até a destruição.

          Se, por ventura, alguem lhes falar de uma outra margem, de
outras paisagens, ficarão inquietos e alvoroçados internamente, pois
já estão comprometidos com a voz de mando dos seus credos e
opiniões formadas por seus exploradores.

        Estão em paz, a paz dos rebanhos obedientes e da sujeição indolente. Resolutos nas suas convicções, seguem suas vidas, cuidando das suas coisas,  tentando dar conta dos seus temores infundidos, exatamente, pelos espertalhões que seguem, sem se darem conta do estratagema de controle.

     Buscam segurança, segurança que foi perdida ao ceder o livre
arbitrio para o sistema massificante. Não percebe que seus medos,
dos quais está tentando se libertar, provem dessas vozes a que deu
ouvidos e obediencia. O medo parece interno, pessoal, mas não é
outra coisa que a possessão do discurso externo que se fez voz
interna. O que sente, é o reflexo das "verdades" incorporadas,
traiçoeiras, às quais um dia deu credito. 

     A verdade é sempre um incomodo espinhoso para toda forma de autoridade, pois a verdade cria um individuo livre, com autonomia interna, visão dos fatos como são, tomando a argumentação e a experiencia como fundamento. Conhecimento que não é de segunda mão mas fruto de verificação pessoal.

A obviedade não é unanime. A unanimidade é para os que
batem palma, pois desejam mais do mesmo, da continuidade comodo mas enfadonha. Dos que não querem ser
questionados, perturbados no seu quadradinho de segurança. 

              A unanimidade é equivocada. Existe para que a ignorancia
se eternize e para que haja autoridade. É o argumento dos que veem
pela visão alheia, pela visão dos que perpetuam o status quo, a uniformidade paralisante. Visão propria e autonomia de decisão é o contra ponto que rege as fileiras, daqueles que detem o poder. 
Autogoverno representa  ameaça e risco,  forma de rebeldia que necessita  firme e determinada vigilancia e repressão.

        Soberania interna é a antitese da arbitrariedade. Os mercadores do medo se refugiam em mensagens falaciosas, impregnando a mente das pessoas, não apenas as afetando, como
as pastoreiam ativamente. Com ares de sutileza, requinte e
perspicacia. Velhacos em trajes de paladinos. Consegue reconhecê-los ?   
                          Bater palma, não é o mesmo que atuar. Seguir suas convicções, fruto de observações pessoais, experimentação e busca por respostas. A convicção é sempre solitaria e não menos sofrida.

 Sair do modelo passional e coletivo é a perda de seu ninho confortavel, mas muito limitador e enfadonho no mundo da vida
cotidiana.
                      As novas acomodações não são confortaveis, mas
são infinitamente mais espaçosas. Um dia a nota de despejo chegará
em forma talvez de um grande sofrimento, ou, quem sabe, uma
perda irreparavel. Ficará então depressivo com perda até do desejo
de viver. O que aconteceu, foi apenas uma mudança de departamento. Uma  nova ordem terá se instalado em seu mundo.

           Dê boas vindas pois está finalmente descobrindo os
caminhos da liberdade, os misterios da vida. Está triste por haver perdido seu ninho apenas por não ter-se dado conta ainda que as penas estão crescidas e já em condições de voar. Voar impõe o medo, no entanto é a condição natural de quem nasceu para voar.

           É chegado o momento de dignificar-se e bater continencia
para o relevante  que há em cada um de nós. Já não faz 
parte do contexto da vida  a subserviencia ingenua dos que simplesmente seguem, cedendo  aos sabichões os designios dos
seus caminhos.

            Abaixe sua mão da testa que está em sinal de continencia e siga a vida fora dos rebanhos, dos bandos e das fileiras.

               A rebeldia, comprometimento, compromisso com seu mundo interno, bem sei, não é para tantos.  Mas, se um dia encontrar alguem, verá em seu rosto um brilho incomum, surpreendente, que não encontrará nos olhos dos que apenas
 batem palma e gritam olé !


                 
     

                                    


sábado, 18 de agosto de 2012

LEITE COM MELANCIA


           Sem duvida, a maior de todas as dificuldades com a qual tenho me defrontado ao longo desses anos, lidando com doenças de toda
ordem, tipo, tamanho e cor ( sem cor ), é o que se refere ao rompimento de paradigmas, crenças profundamente internalizadas, cristalizando o entendimento, inviabilizando  toda e qualquer possibilidade de novas posturas ou outras formas de proceder.

     A pessoa se encontra literalmente aprisionada em certos pontos
de vista, posicionamentos que não provem da sua propria experiencia, mas de informações ou opiniões ouvidas e acatadas passivamente por onde tem passado. E, aquilo que se ouve, quando faz parte do dominio publico, se transforma em "verdade", sendo então arquivado, interiorizado sem questionamento ou contestação.

     É assim que é, e ponto final, não havendo outra justificativa 
para o consentimento a não ser que todos concordam, sendo de conformidade geral e unanime.  Afinal ,se todos concordam, não há duvida que é assim que deve ser  !   Não acha tambem  ? !

    É esse o tecido que confecciona as crenças e opiniões mais  "sagradas" e inquestionaveis dentro da sociedade, profundamente arraigadas,  não cabendo um novo entendimento, uma revisão ou uma visão diferente para dada circunstancia.

Por ter sido aceito, dando fé de credibilidade, a conjuntura se
veste de coerencia, nexo e racionalidade, mesmo não sendo sustentada ou amparada pela realidade dos fatos. Os fatos não
condizem com a convicção, simplesmente porque a pessoa não se
dispos a ver por si, concluir por ela propria a veracidade ou não
daquilo que deu credito atraves de uma verificação pessoal.

 Uma vez assumido internamento, transformado em certeza ( afinal alguem falou e todos dizem ser assim ! ), se submete passivamente, e, mais, defende até com veemencia e valentia "seu" ponto de vista, que nada mais é que o ponto de vista de todos. O "seu" ponto de vista é coletivo, de todos quantos não possuem ponto de vista pessoal, de todos quantos incapazes de concluir por si proprios, enxergar eles mesmos a pertinencia  da coisa.
             Vira crendice, credulidade de segunda mão. Ingenuo, sem
coerencia nem consistencia, seguindo a uniformidade patetica do passo sem rumo dos que apenas se alinham. A voz da igualdade, a voz em coro de todos quantos não tem voz propria, nem 
discernimento ou argucia de percepção.

                  Apenas seguem, manipulados e controlados como gado
obediente por seus controladores até à destruição. Incapazes de
um olhar arguto e judicioso para confirmar ou não do que lhes foi
passado. Informar-se está fora dos seus propositos, e muito menos
questionar verdades escusas e nebulosas, abonadas pelos doutos da ciencia, ou por autoridades eminentes que estão, tantas vezes, a
serviço .... de quem mesmo ? Voce, por acaso, tem conhecimento ?

        Manipulam e dominam atraves do medo, aquilo que mais se teme. E a pessoa, incauta e credula, vai se resguardando em agendas distorcidas e falaciosas exatamente daqueles que os
usam, controlam em proveito proprio, ou de suas organizações.

         Passam a imagem de bem intencionados, como os verdadeiros
arautos do genero humano. No entanto, são os temores de todos
que criam a sociedade que estamos vivendo. O medo criado
pelos que dizem nos querer bem e salvaguardar. O medo que debilita o animo e enfraquece o entendimento.

 E o terror externo não é em nada diferente da loucura interna de cada um. O desencontro consigo mesmo. Orientado por bussulas
falseadas e mapas distorcidos.

                Lembro-me das vozes distantes da infancia em que nos era  passado, a todos nós, a  informação que a associação de melancia com leite poderia, entre outras coisas, produzir a morte.
Não seria tão pouca coisa. Morrer ! Quem diria.
 Melancia com leite. Uau  !

  É evidente que ninguem contestaria tal sentença e ninguem se atreveria a tal desventura. Era como um preceito sagrado e todos se submetiam religiosamente. E não coube a ninguem que fosse, testar a veracidade da informação. Papai falou e está falado, e pelo fato de papai ter falado, torna o fato inconteste. Voce tambem traz vozes que ainda ecoam no seu interior, e por mais inverossimeis que parecem, ainda continuam aí, lhes dando credito e veracidade ? 

        A febre é, de longe, o prototipo mais caracteristico de uma
crença profundamente enraizada e arquivada como algo que não
cabe contestação possivel. Foi nos passado, de boca em boca, que
o estado febril tem de ser combatido a qualquer custo, como se a febre fosse enfim a propria doença. Anulando a febre, ter-se-á por
acaso eliminado a doença ? Ou não seria ela, por sua vez, uma defesa magistral contra o estado patologico que está se instalando ?

           Por não deixarmos a febre seguir seu curso, por medo ou por
pressa, intervem-se com drogas quimicas potentes, que, entre outras coisas, acarretam um abalo perigoso no  sistema de defesa, interferindo na capacidade natural do organismo se defender.

      Fervemos a agua para esterilizá-la de possiveis germens. O calor da fervura a torna isenta da possibilidade de qualquer microorganismo .  E febre é a "fervura" do corpo para defender-se da invasão de algum "bicho" que o tenha invadido. A febre é a defesa mais espetacular que a natureza colocou à disposição de tudo que é vivo. Os animais, assim como as plantas, dispõe desse mecanismo magistral de defesa. Provavelmente, não fosse pela febre, não haveria a possibilidade de vida nesse planeta. É pela febre que tornamos experto nosso sistema de defesa, que nos tornamos mais saudaveis e vigorosos.  

           Se o antitermico fosse assim algo tão importante para a sobrevivencia das especies, como ficaram então as gerações do passado quando não havia isso de antitermico ?

      Sobreviveram à febre, e mais, com um estado de saude, com
certeza, muito diferente das gerações subseguentes ao advento
dos remedinhos para a febre.

       A febre torna o sistema imunologico robusto, vigoroso. É nesse
momento que o organismo se mobiliza para a guerra contra os
invasores, e, neutralizar essa defesa, fragiliza cada vez mais esse
sistema, a ponto de tornar-se totalmente inoperante, e a pessoa
ficar totalmente dependente da defesa artificial da quimica.
( consegue, nesse momento, ouvir alguma vozinha na sua cabeça
lhe falando que é ajuizado, sensato, prudente, correto combater
SEMPRE a febre, porque nunca se sabe ?..... Afinal, não foi isso
que ouviu de todos e sempre ?  ).

                   Precisamos, sem duvida, termos cuidado com o que se
ouve e lê. A que atribui afinal seus medos e duvidas que não  dão descanso nem tregua ?  Tambem crê que não vale o suficiente para
ter uma vida melhor ? Já se deu conta que o medo e a duvida não
são uma questão pessoal, mas é de dominio coletivo como se fosse possessão de um mau espirito ? 

      Cada vez mais doente e mais dependente de ajuda externa.
Queremos todos mais saude, mas ficamos muito temerosos de
misturar leite com melancia !... 

P.S.  Para quem tiver interesse há tres postagens longas disponiveis
                sobre a febre, no começo desse blog.




  

domingo, 12 de agosto de 2012

QUANDO A LUZINHA VERMELHA PISCAR


                 
                     Apos quase 40 anos de jaleco branco, leitura de exames, diagnosticos, prescrições, doenças de tudo que é forma, nome e
aspecto, chega um momento de reflexão em que se olha para tras,
como se fosse um inventario, avaliando o que trouxe de ensinamento, o que ficou como verdadeiro aprendizado, e, ao mesmo tempo, como legado, como herança de vida, tanto a nivel pessoal quanto coletivo. 

                  Uma vida sentado atras de uma escrivaninha, ouvindo
historias, anotando queixas, nem sempre paciente com a impaciencia do outro, com suas preocupações, seus temores,
apreensões e receios. Historias que comovem, pois vem carregadas
com sofrimento e incertezas, muitas vezes sem solução, apenas a dor. A dor sentida quase como punição, em não havendo um
senso de compreensão maior, ou um sentido de significação para  o contexto em si.

          Muitas vezes o medico necessita mais de um medico do que
aquele sentado à sua frente esperando por algum consolo, uma
palavra tranquilizadora frente suas inquietações que são, muitas
vezes, mais da alma que qualquer desconforto corporal. Se queixa
do corpo, todavia a verdadeira dor está bem alem dos orgãos.

 Por tras do profissional existe tambem um ser humano com as mesmas limitações e angustias, que busca tambem , de todas as formas possiveis, soluções para os seus impasses e sufocos, muitas vezes, não diferentes daqueles para os quais está sendo chamado 
para intervir.

    Buscam então, no medico, aquilo que, naquele momento,  tambem lhe faz falta e tem tanta necessidade. Mas do fundo da sua carencia, nem sempre, sem muito esforço, busca a palavra magica, o gesto indulgente, a atenção silenciosa, para, desse modo, muitas vezes, sem  dar-se conta, mesmo assim, sem saber como, aquilo  repercute no outro e faz sentido, trazendo um pouco de luz.

               É, sem duvida, um momento de magia. Não conseguindo
desvendar seus proprios enigmas, ou dar conta das suas dificuldades, e embaraços, o medico encontra, nesse  momento, a palavra lucida do verdadeiro sentido e  real significado como a chave adequada abrindo portais até então inacessiveis e inexplorados. Um novo espaço interior então se abre, com novas possibilidades, e o renascer de uma esperança que já se havia esquecido há muito.

           E essa palavra, que produziu a ressonancia na alma do outro,
irá tambem ecoar em espaços sombrios na alma do medico. O
conforto dado ao outro, não ficará restrito ao outro. Se fará sentir
para além daquele ambiente em que foi proferida, se espalhando
igual o repicar do sino da tarde cujo som se fará ouvir para bem
alem do campanario da capela.

            O medico sempre se cura um pouco tambem  quando traz 
 conforto ao seu paciente com sua postura, bem mais
que com sua prescrição. Afinal, o desconforto do corpo não é
outra coisa que os reclamos da alma, de espaço interno,
extremamente reduzido, para os verdadeiros misterios da vida.

         Será a vida apenas isso que estamos, quase todos, vivendo ?
Será a vida feita apenas de sofrimento, amargura, angustia e temor?
Medo de tanta coisa, da loucura vinda de todos os lados, sob as
mais variadas formas e circunstancias ?

      O sofrimento do corpo é essa agonia do espirito, esse abatimento interior por não encontrar saídas, alternativas para uma
vida digna com perspectivas e respostas adequadas. Não visualizar
horizontes alentadores dentro desse espaço miudo e sufocante em
que se encontra aprisionado.

              Sem alento, torna-se resignado e submisso, sequestrado e
sem esperança. Esperança confiscada por uma visão confusa,
brumacenta como consequencia de um movimento mental
carregado de crenças e "verdades" verdadeiramente limitantes.

                  Doença é isso e nada mais. Essa confusão interna na
qual a pessoa se vê enredada, não tendo ideia  como se recompor,
a tristeza pela vida pequena, miuda, uma vida que não passa de
uma simples e deploravel sobrevida.

           " Dr, a gente sobrevive, vai levando como Deus quer, não
é assim a vida ? "  Baixa então a cabeça, olha para as mãos como se buscasse uma resposta, espremida pelos dedos, como num passe
de magica. 
                         Solucionar os dodois do corpo, não irá, de forma alguma, aplacar o sofrimento da alma. Este sendo apenas a causa daquele.
 Buscar a causa no efeito, tem-se mostrado tragico e
patetico, com o aprofundamento cada vez maior das doenças,
internalizando os conflitos em tais niveis, tornado improvavel e praticamente impossivel a reversibilidade. Estão aí as doenças se cronificando em niveis assustadores, como nunca antes visto, e estas, por sua vez, sinalizando o tormento interior, verdadeiro fundamento das labaredas do inferno que arde fundo dentro de
quase todos.

               A verdadeira causa de todo e qualquer desconforto
fisico se chama tristeza, ou se queira, medo, ou ainda, desesperança.

        Onde houver alegria, satisfação, paz.... pois é, a definição de
saude passa exatamente por esses conteudos. O bom animo cria isso que chamamos saude, bem estar fisico como consequencia desse
bem estar de alma. 

        A dor do corpo não pode ser sanada sem o encontro dessa
sensação interna de estar bem consigo mesmo, com o mundo que
nos rodeia e tudo o mais que a vida nos apresenta a cada momento.

      A junta doi, o coração bate descontrolado, o colesterol sube,
a pressão altera, a unha encrava... definitivamente, não fomos 
criados dentro desse  molde e vivermos num corpo que a cada
momento liga a luzinha vermelha no painel, nos impossibilitando
seguir em frente. 
                              Será que o problema da luzinha vermelha
está no painel, ou quem sabe, talvez, na propria lampadazinha ?

             Na vida, o problema que se vê, está sempre, em verdade,
onde a vista não alcança. É sempre ajuizado levantar o capô,
olhar para dentro, e buscar em outros ambitos a verdadeira
solução de tudo quanto se queira solucionar, ou melhor, se
estivermos realmente dispostos para focar o ponto a ser focado.

       Doença que não altera o nivel de consciencia, não nos tornando pessoas melhores, com padrões de percepção mais
apurados, seu intercurso de nada terá valido a pena.

             Doença é um chamamento, um despertar para novas e inimaginaveis possibilidades totalmente esquecidas, deixadas de
lado, por desconhecimento de tais realidades, que ficam vibrando apenas na virtualidade, como possibilidade quase remota.

                        Combater simplesmente sintomas é não ter
compreendido o verdadeiro significado da situação, pois ela funciona como  mensageiro da alma nos trazendo respostas para tantos questionamentos sem solução e codigos ainda não decifrados. 

           Se a dor não nos transformar em algo melhor, com uma
visão amplificada, um nivel de entendimento mais aguçado, mais
sensiveis e descontaminados de tudo quanto nos mantem refens
dentro de uma realidade sem significado, mediocre e confusa...
pois é, de que outra forma alcançaremos nosso intento, se nem a
propria dor, como mestre maximo, o conseguiu ?

             A vida sempre ligará uma luzinha vermelha, mesmo quando
menos se esperar, no entanto, será sempre de grande valia e no momento certo, pois de outra forma, o motor faria fumaça.

           Decididamente, a luzinha vermelha não é o problema, apesar de ter sido ela a interromper  momentaneamente  nossa  viagem. 


             

           


            

           

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A BELEZA DO FEIO


                           
                             A beleza é um infortunio e um transtorno  que se
desenvolve e toma conta  à medida que se admira.


           É esse um dos maiores obstaculos a serem superados
pela pessoa. Fica refem da sua beleza e da sua
importancia pessoal. Se considera importante em função da sua
formosura. Refem da atenção, do elogio e da aprovação
de todos. É o supremo paradoxo da escravidão. A perfeição
externa não terá valor se não vier acompanhada do aplauso.   


      Exorbitancia  ?  Olhe em volta e observe as pessoas
bonitas. São as mais ordinarias possiveis. Se sentem importantes
e singulares. Há um ar de superioridade em sua postura.  Olhar
altivo e emproado como quem está apenas de passagem.


              Carregam sua beleza como quem desfila um trofeu.
Estão em carro aberto mesmo no meio da multidão, ou
aguardando impacientemente numa fila. O bonito sempre está
impaciente em função do seu ar de convencimento. Desfila sua 
graça como quem presta um beneficio aos menos favorecidos,
aos mal-acabados, aos que batem palma. 


            Experimente não concordar com a ideia que são bonitos e
importantes, e compreenderá então o que quero dizer. Desmereça
sua beleza que terá o encontro com um demonio feio e feroz. 


         O feio leva uma nitida vantagem em relação ao que se considera formoso e bem feito. O feio está concluido, acabado,
 não há concerto possivel, remendo que dê jeito em tanta
feiura.
                   O feio não se importa com seu nariz disforme e
extravagante, porque ele é esquisito no todo. De nada adiantaria
melhorar seu nariz escrachado, ou qualquer outro aspecto mais, porque iria apenas destoar do restante do seu aspecto feioso. 
Seria um nariz alinhado com o restante fora de prumo. Não
haveria harmonia de traços no seu conjunto. Ficaria feio !


            O malproporcionado não necessita de retoques. Conformado com seu aspecto, consciente da sua figura, não
investe em melhorias externas. Se aceita como uma pessoa comum,
tornando-se autentico, modesto, espontaneo e sincero.


         Assim, fica em paz com sua figura exotica, por isso se faz simpatico e agradavel. Uma boa compania. Um bom camarada Cheio de humor e espirituosidade. Os que fazem rir, os mais alegres, não são, sem duvida , os mais embonecados, esnobes, pois não tem senso da graça, preocupados com sua beleza, com sua performance. Egoistas e auto-centrados numa imagem de perfeição. Sendo belos se consideram perfeitos.


            O feio está conformado.  Não perde tempo nem energia com sua fealdade. Por isso se torna mais eficiente, pois não desperdiça
força com sua aparencia . Se sabe feio e sabe que todos sabem.
Ponto final e não há o que engambelar.


           A prioridade do bem apessoado é se melhorar sempre.
Investe alto na sua beleza que tem de ser aperfeiçoada a cada momento, retocada, corrigida, pois tem a sensação que existe algo
fora de lugar.  Por isso se repuxa, se ajeita sem parar.
 A beleza necessita cada vez mais, não está completa, é exigente,
 mal humorada e tomada de preocupação.


                O bonito quer cada vez mais beleza, necessita de mais
visibilidade atraves da sua figura chamativa. Cuida disso tanto
por ser talvez seu ultimo expediente como expressão da sua
identidade e do seu valor. Ao questioná-lo quem é, gostaria, sem duvida, de definir-se como bonito. No entanto, sabe que seria escroto, por isso se cala, mas não sem uma pontinha de desgosto. "Eu sou bonito ", não é essa a gloria suprema e a realização absoluta da pessoa que se sabe belo ? 


             Quando aparece, a beleza está em primeiro plano, somente
depois se apresenta a pessoa, ou melhor, a "coisa" que carrega 
aquilo. A beleza pesa, por isso o verdadeiro na pessoa deixa de ser. 
Sem sua formosura, o que restaria a esse pobre deus apolineo ?


       Porque soberba e beleza geralmente vem de mãos dadas ?
A beleza, em si, é imparcial, no entanto, acompanhada de
carga emocional, se torna psiquicamente um tormento. A pessoa  se
faz diferente, se distancia, produzindo isolamento. Necessita do destaque para parecer importante. A ideia de ser mais, sobressair-
se, brilhar, por-se em evidencia. Verdadeiro paradoxo em que a 
pessoa  se identifica como distinta mas necessita do aplauso de
todos quantos desdem para desse modo se sobressair e brilhar. 


              O mundo precisa girar à sua volta, aprisionando-se dentro
dessa necessidade, amarrado por fios invisiveis impossibilitando
qualquer chance de transformação.


           O foco está na aparencia e não na pessoa. Centrado em si
como o centro do mundo, em busca de admiração e reverencia.
  
                 Tal postura se voltará contra a pessoa com  poder de
destruição poucas vezes visto. O que nos separa dos outros, é o
que produz a separação interna, a fragmentação da psique, verdadeira causa de todo sofrimento humano. 


          O feio não sofre com tais contra-tempos, não nutre expectativas quanto seu aspecto externo, por isso se apresenta
como pessoa e não como estatua de beleza, ou como bonequinha
enfeitada. Não busca adoração como forma de satisfação pessoal.


          O bonitão, ou bonitona, na sua postura engomada, como   passado a ferro, está de prontidão, em estado de alerta permanente,
como quem resguarda um importante tesouro.  "Será que estou sendo notado (a) ? " Está por aí, se movimenta pelo mundo mas na vitrine, em exposição permanente.


            Por isso se ajeita sem parar como se houvesse algum incomodo, uma coceira, um desconforto. Ajeita aqui, olha, se aperta, se chacoalha, se repuxa, parecendo que não caber em si,
como roupa apertada pondo a pessoa sem jeito. 


        Sem duvida, a beleza incomoda, é desconfortavel, e há sempre
algo fora de lugar. Torna a pessoa pesada, artificial, afetada.


 Porque será que a beleza está assim insatisfeita com sua beleza, nunca conformada, sempre relutante, precisando mais ?


         Quanto esforço para se manter apropriado, à altura, sem
perder a compostura de uma imagem pré-moldada .Louca quimera
das ilusões da vaidade !


             Não é sem tempo, mas estou aqui me colocando de uma
forma generica. Como existe o feio tolo e sem graça, há o bonito
compensado e inteligente, despojado de toda prepotencia e
artificialismo. O elemento determinante é a identificação, o apego
a um estereotipo que cria uma imagem artificial a qual se dá credito e validação interna. Eis aí a bussula mediante a qual a pessoa
se orienta vida afora.


            Quando a beleza se transforma em ornamento, enfeite, 
penduricalho, a pessoa se torna patetica, grotesca, sem vida, um
simples cabide carregado de coisas. Algo postiço, fabricado,
verdadeira falsificação da verdadeira beleza humana.


            Por isso, salve a beleza do feio, porque na sua feiura se
torna, antes de mais nada, uma pessoa, uma pessoa bonita, pratica
e em paz.  Está satisfeito consigo, vive a vida e o corpo que Deus
lhe deu, sem conflitos, de bom humor, sem carencias e sem
necessidade de elogios. Vive a vida sem olhar para os lados, liberto
da necessidade de aprovação ou do aplauso do mundo.


             O feio se basta por si proprio, e não pela beleza que aparentemente não possui. Não necessita dessa beleza externa para se tornar uma pessoa maravilhosa, amada, querida e bela. A 
beleza que vem de dentro é genuina, original e espontanea. Não está num palco. Não está atuando. É real e verdadeiro. 


          Cumpre suas tarefas com naturalidade, segue pela vida com
alegria, livre da pesada carga do reconhecimento e admiração
alheios.


        O milagre acontece naqueles pequenos espaços onde menos esperamos que possa acontecer.


            O milagre acontece sempre por dentro.  













quarta-feira, 1 de agosto de 2012

QUEM IRÁ ESCUTAR OS PASSARINHOS ?

 De repente, acabou.


 Acabou assim, sem aviso previo, e pronto !


 Acabou como tudo acaba um dia.


 A flor se desfaz, as petalas caem e fica o vazio.


 Ontem havia beleza, um perfume discreto no ar,


       poema em forma  de cor,


        palavras com cheiro de graça.


 Agora o silencio. O silencio do vazio.


 Silencio ruidoso feito de imagens passando em camera


       lenta e sem som. Vida em suspenso.


 Imagens passando lentamente em forma de memoria.


 Uma evocação.


 Filme mudo que perdeu a graça, mas não perdeu 


        o sentido nem o proposito.


 O encanto se perdeu. As petalas murcharam. O que


          era flores se tornou lembrança.


 Os fios que davam sentido se desfizeram,


       afrouxaram, romperam.


 As janelas fecharam, cortinas puxadas, e uma


        penumbra espessa, pesada, solida se fez senhorio.


 Do lado de fora os passarinhos ainda cantam,


        no entanto, quem irá escutá-los estando a casa


                  agora em silencio ?


  Passarinho tambem sente saudade do tempo


         de portas e janelas abertas  ? 


  Seu canto continuará ainda cheio de musicalidade


       e significado tal qual era naqueles dias  ?


 Passarinho talvez não se importe, 


          mas quem sabe....