sábado, 30 de junho de 2012

PORQUE SERÁ QUE CORREMOS TANTO ?

                      CORREMOS.

                      CORREMOS MUITO.

                     PORQUE CORREMOS TANTO ?

        
                      CORREMOS PELA NOSSA VIDA, PELA NOSSA SEGURANÇA,

                               PELA NOSSA CASA, REPUTAÇÀO, CRENÇAS, PELAS NOSSAS COISAS. 

                      TANTAS COISAS.

                     NOS ORNAMENTAMOS COM TANTOS PENDURICALHOS, COM

                                       BALANGANDÃS DE TODA ORDEM,

                            QUE NOS TORNAMOS PESADOS, TÃO PESADOS

                                  QUE O PASSO SE TORNA TROPEGO E O OLHAR FORA DE FOCO.

              
                       CORREMOS PELAS COISAS QUE VALORIZAMOS, QUE NOS VALORIZAM.

                       CORREMOS PELA NOSSA IMPORTANCIA, ANTES, NO ENTANTO, PARA OS
                                 OUTROS NOS SENTIREM IMPORTANTE.

                         CORREMOS PELOS OUTROS, PARA NÓS. POIS O QUE SERIA DA GENTE

                                      SEM O OUTRO  ? A VISIBILIDADE QUE BUSCAMOS  É  PARA O

                                                   OUTRO.  PARA QUE O OUTRO NOS PERCEBA.

                         
                        CORREMOS PARA SERMOS ESPERTOS, NOS TORNARMOS VELOZES

                                  COMO SE A VIDA FOSSE UM PAREO NO GRANDE HIPODROMO

                                              DAS VÃS ILUSÕES.

                       CORREMOS, MESMO, POR CAUSA DO MEDO.  POR ISSO A PRESSA, A

                                      INQUIETAÇÃO.  E É POR ISSO QUE NOS ACORRENTAMOS A 

                                          TANTOS COMPROMISSOS, OBRIGAÇÕES, PROMESSAS.

                        CONFUNDIMOS A VIDA COM O QUE FAZEMOS PORQUE BUSCAMOS

                                 PROTEÇÀO.  TENTAMOS NOS SEGURAR.  FAZEMOS PORQUE TEMOS

                                           NECESSIDADE DE UM ESCUDO. NOS DEFENDEMOS

                                                             COM O QUE FAZEMOS.

                                             ASSIM,


                         POSSIBILIDADES EXTRAORDINARIAS NÃO SERÃO EXPERIMENTADAS,

                                  NÃO SERÃO VIVIDAS.  TANTA ALEGRIA, A MAGIA DE TODOS OS

                                     PARADOXOS E DE TANTOS MISTERIOS.


                      QUÃO ALTO O PREÇO A SER PAGO POR TANTO TEMOR  !

                       CORREMOS TANTO, NOS  PROTEGEMOS DE TANTAS FORMAS,  COM TANTA

                                 ASTUCIA, POR TANTOS MEIOS,

                                        MESMO ASSIM CONTINUAMOS COM TANTO MEDO.


                        E, À MEDIDA QUE O MEDO APERTA,

                                           CORREMOS CADA VEZ MAIS. FAZENDO CADA VEZ MAIS.


                        SERÁ A VIDA FEITA DESSE TECIDO QUE NOS FAZ CORRER TANTO  ?

                        FOI EM QUAL ENCRUZILHADA QUE NOS EQUIVOCAMOS PARA

                                  NOS SENTIRMOS TÃO PERDIDOS, TÃO ANGUSTIADOS E TÃO

                                          SEM ESPERANÇA  ? 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

QUANDO ENFIM O SOFRIMENTO ACABA


                    Procuramos, de todas as formas, sentirmo-nos bem, fazendo alguma coisa. Não é mesmo ?
     
                  Fazendo.  Indo para fora.  Buscando externamente.

                Coisas.  Segurança atraves de coisas.   As coisas do mundo.   O mundo das coisas   Esforço.

       No entanto, há um outro caminho para alcançarmos nosso objetivo. O bem estar, não como
consequencia dos recursos do mundo, aquisições, posses, poder, titulos, mas pela capacidade de observar
atentamente, com serenidade e despreocupação. Sem esforço, pretensão ou objetivos. É da natureza do
observador, do mesmo modo, como é da natureza da mente o medo e a preocupação.

                  Algo vindo de fora agitou teu mundo interno ?  É esse o momento para se estar em casa e não
permitir a desordem e a confusão. Estar atento, vigilante, alguem internamente que olhe para aquilo dando o
devido encaminhamento.
                                           Respira. Respira enquanto está na posição de observador. Não tenha objetivos. Não espere nada. Está desconfortavel, mas permaneça presente, de guarda, como a sentinela na sua guarita. Sem pressa. Principalmente sem pressa. Apenas olhando para aquilo, se dando conta do que
está sentindo, o mau estar interno, a chateação, o incomodo, o aborrecimento. Tenha consciencia do seu
sentimento, da situação desagradavel dentro da qual se percebe envolvido.

         Não está investindo energia em busca de alguma saida. Entretanto, é evidente que deseja se livrar da dificuldade. Quer se ver livre, mas aparentemente não está fazendo nada. Fazer algo já parece dificil, o
que dizer, não fazendo nada ?
                                                   É o paradoxo da solução. Quanto mais busca, quanto mais deseja,
quanto maior o esforço, será com essa mesma energia e intensidade que algo irá se opor internamente  ao seu desejo. É a lei da atração e repulsão. Cabo de guerra. O movimento para um lado, determinará sempre um movimento em sentido contrario. 
                                                          Normalmente buscamos a solução atraves de uma atividade
incessante da mente. Pensamos e pensamos muito. Arquitetamos estrategias, taticas astutas para nos
libertarmos daquilo. Há, nesse processo, um gasto enorme de energia. É por isso que nos cansamos tanto quando nos encontramos  diante de qualquer apuro, e, tentamos, de todas as formas, um resultado favoravel. 
                            A mente é drenadora de energia. Debilita. Enfraquece, e nos coloca numa roda de
pensamentos ininterruptos, rodopiantes, de inchar a cabeça, turvando o bom senso, o discernimento, mas
principalmente a percepção clara, sensata e coerente.


            Já se deu conta que existem sempre duas possibilidades frente à qualquer situação ?
Reagir ou não reagir. Responder ou não responder. Dar o troco ou calar. 
Pois bem, se existem duas possibilidades é porque existem duas estruturas internas, opostas, para dar conta
e responder frente à qualquer  eventualidade. Uma  reage e a outra se abstem. Uma quer o conflito, a outra, não quer nada. A mente quer reagir e dar a entender que é melhor que seu oponente.  Necessita
estar com a razão. Tentará se impor, argumentando, atacando e de todas as formas provando que está certo.
               Contudo, se não sentir a necessidade de estar com a razão, tanto faz estar certo ou não, pois
não está numa disputa onde tem de sair vitorioso. 
Para se colocar nessa posição, será imprescindivel sair do movimento da mente e se colocar como simples
observador, atento, desobrigado e isento de qualquer resultado. Desfaz-se o conflito interno, sem queda
de braço, necessidade de ter que se defender, ou  arquitetar situações de segurança e proteção.


                Quem não necessita se defender, não se encontra vulneravel. E o observador apenas observa.
Olha para o contexto sem ao entanto se envolver. Não se encontra na situação de ter que se defender,
pois não é da sua natureza ser atingido.
   A vulnerabilidade faz parte daquilo que é fraco. A auto imagem busca agregados de importancia em
função do seu sentimento de pouca importancia e insuficiencia.
Agrega para completar, e o que tem se ser completado, traz em si o inacabado.


              A testemunha é isso que somos, à parte de imagens, crenças ou identificações elaboradas dentro
do tempo ao longo da vida de cada um.
 Carregamos conosco o poder de criar ( fomos criados à imagem e semelhança...). Somos a imagem
a partir da qual fomos criados,e não a imagem que construimos  em função de ideias e conceitos mentais.


   Desse modo, não somos o que pensamos, pois é na ausencia do pensamento que visualizamos a verdadeira face da nossa verdadeira natureza.
    Quando o dialogo interno cessa, quando a necessidade de se segurar, defender, buscar, forçar, quando
o que sobra, for apenas o ato de observar, de olhar com serenidade, descompromissado, imperturbavel,
e calmo, somente então estaremos em condições reais de manifestar todas as soluções possiveis para todos os impasses e obstaculos de todo dia.


    Definitivamente, não será pelo movimento da mente, pensamentos  e sentimentos que teremos acesso à
tranquilidade e à alegria de viver. A mente força, a solução, contudo se manifesta num estado de não força.


     Já se deu conta da velocidade com que rebate e se ofende ? A necessidade vital de ter que se defender
para não se sentir menos ?  No entanto, esse eu que se sente ferido e diminuido não é o eu que voce é.
Quando responde, não é voce que responde, mas a ideia que faz de si. E como não está olhando para aquilo, atentamente, descompromissado como um observador independente, a mente toma a dianterira e se apossa da situação, como o guardião da nossa integridade.
É por essa razão que a testemunha não consegue se manifestar, pois não foi ativada, não passou por um
estagio de treinamento. Mas ela está lá, à espera, disponivel até o momento em que for disponibilizada,
para nossa gloria e esplendor.... sem esforço... sem luta.... sem sofrimento !  

sábado, 23 de junho de 2012

A OBSERVAÇÃO SERENA E ISENTA DE OBJETIVOS


                          O observador, uma vez ativado, estimulado, presente, produz modificações na pessoa,
que fogem à sua capacidade de entendimento. As coisas acontecem de um modo inexplicavel, acontecem
simplesmente, quando, em outro tempo, aquilo seria impossivel. Percebe uma especie de poder estranho, que antes não havia aí, se manifestando, com intensidade crescente, enquanto sua capacidade de observar se intensifica cada vez mais.
                                        Pensamentos e sentimentos determinam a realidade enquanto não houver a interferencia da testemunha. As crenças historicas, com todo o peso do passado, aos poucos deixarão de
ser a diretriz e a força moduladora da vida da pessoa. Não se orientará mais pelas estrelas, mapas, bussulas,
placas de sinalização, ou codigos de conduta. Não terá mais necessidade de olhar para fora para encontrar
seu caminho, para definir o certo do errado, o que deveria ou não deveria, o justo, o adequado, o
pertinente.
                   Quando se transformar naquele que observa, não haverá mais preocupações, não haverá
mais sofrimento. Aquele em nós que sofre, foi substituido por aquele que observa. É essa a grande
magica e a grande modificação pela qual a pessoa passa com a implantação da testemunha. Fim de toda
forma de sofrimento, preocupação e de todos aqueles aspectos que apequenam a vida, transformando-a
numa  expressão de sobrevivencia. Existe um outro enfoque na gente alem daquele que se transtorna, abala ou perturba. 
                        De repente, a chateação, a tristeza, o  desconforto. Ideias derrotistas, negatividade e o
medo. Problemas aparentemente insoluveis, dificuldades de toda ordem, com a sensação da vida ter-nos
dado o cheque-mate. Ao inves de se deixar dominar pelas ciscunstancias externas e tentar achar a solução
atraves de estrategias mentais, acalmar-se, silenciar a cabeça e simplesmente observar. Olhar, tanto
para as coisas que estão aí exigindo uma solução, como para o tumulto interno, os sentimentos causados
pelo turbilhão dos acontecimentos. Observar serenamente como se estivesse olhando para tudo aquilo
de uma certa distancia, assim como se fosse um espectador de si mesmo. É nesse espaço que se encontram as soluções e os recursos para dar seguimento a todos os impasses que momentaneamente bloquearam
 as saidas.
                            Se perceber que alguem está errado, isso denota um julgador, algo dentro de si
que necessita estar com a razão. A mente gosta de convencê-lo que é melhor que os outros, que tem
mais conhecimento, que é mais instruido, que tem mais poder e que pode mais. A rapidez e a intensidade
com que se descontrola, é o reflexo da sua imagem de auto importancia. Se considera mais relevante,
mais notavel e, definitivamente convencido, que é o tal . Desse modo, não consegue suportar que seu
enfoque seja superado, ou que seu ponto de vista seja vencido. Afinal, voce é o melhor e se munirá de
todos os argumentos possiveis para demonstrá-lo, derrotando o outro, seja atraves da replica, ou, caso
seja necessario, atraves da força, atraves da ignorancia. Perderá  a compostura e o equilibrio, pois  existe essa  necessidade imprescindivel que esteja com a razão. 
                         Entretanto, se estiver atento, simplesmente observando essa parte de si que busca, de
todas as formas, estar com a razão, não sentirá necessidade de se envolver em confronto, medindo
forças para estar certo. Não irá se importar em ter seu questionamento validado ou não, e com isso
acabará sendo gentil. Se sentirá bem e haverá paz tanto externa quanto internamente. E o que mais se
poderia desejar frente aos impasses de todos os dias ? 
                                         Se olhar para aquilo como simples observador sereno, à distancia, sem
envolvimento emocional, a necessidade de se sentir superior ou melhor, deixará de existir 
instantaneamente.
                                Sem o recurso da testemunha a vida se transforma, inquestionavelmente, num
verdadeiro inferno. A pessoa acaba se acostumando e por fim conclui que a vida é isso mesmo. Segue
interminavelmente os mesmos passos, a mesma rotina pesada e degradante, a corrida infindavel para
dar conta de tanta coisa. Nada disso poderá dar um sentido digno à  vida. Não há o encantamento
pelas pequeninas coisas de cada momento. Não achará graça de nada, pois como poderá haver 
graça, seja lá no que quer que seja, para quem está em busca de segurança e proteção ?


      E a vida acabará nisso, uma estrategia para a segurança. Seja atraves do dinheiro, poder, instrução ou
espiritualidade. Qualquer galho se torna util quando existe a eminencia de se perder, ou ser deixado para 
tras. Agarrar-se. Apegar-se. Não é isso que restou apos milenios de tentativas de se viver bem ?


     Viver bem se transformou em ser bem sucedido. Para não afundar. Equilibrar-se na superficie, na 
superficialidade das coisas. É nisso que se transformou o sentido da vida, pelo qual valha a pena se
viver. Sobreviver tornou-se a meta, ficar de pé, não ser destruido por tantas dificuldades e impasses,
por tanto sofrimento.
                                       Foi isso que nos passaram a todos, e é por isso que se tornou a bandeira
e o mote da vida da quase totalidade.
Pobre vida no que nos transformamos, ansiando por liberdade mas nos aprisionando simultaneamente em cativeiros cada vez mais sofisticados, e cada vez mais impossivel de nos salvarmos.
        Adquirimos instrução e saber para nos tornarmos espertos. A esperteza se converte na verdadeira
arte ( mal sucedida ) do homem perdido e sem rumo, possuido pelo medo e o desencanto, tentando se
salvar, procurando saidas salvadoras. 
A esperteza tornou-se o aliado pela busca frenetica e enlouquecida pela segurança e estabilidade. No 
entanto, isso não devolveu a dignidade e a magia. Não trouze suavidade e o encanto que a vida carrega
em si mesma.
                         É isso que a testemunha nos disponibiliza. Viver a vida ao inves de nos defendermos
dela como se estivessemos continuamente a perigo. Experimentar o gosto que a vida tem. Sem ter
que se proteger, se resguardar, buscar, desejar, lutar. 
Sentimos a necessidade de nos proteger, e é por essa questão que buscamos coisas, coisas para tornar
a  vida agradavel. Poderão as coisas substituir o verdadeiro significado da vida, aquilo que a vida em si
nos pode proporcionar ? Não nos damos conta do equivoco e é por isso que seguimos adiante, sem
perspectivas e não menos confusos e estupidificados.


                       Por isso a premencia para nos colocarmos  naquele espaço onde se situa a testemunha, e torná-la uma vinculação estavel, uma continuidade, uma constancia, um verdadeiro treinamento, um estagio
permanente, definitivo, estavel, efetivo....
     Estar aí a cada instante com aquilo que está aí. O fato nunca dissociado de uma verdadeira presença,
de um espectador atento, sereno e imparcial. Sem se deixar afetar. Sem se deixar perturbar.


      Aquele em nós que observa, é imperturbavel. Não busca, sem objetivos, sem expectaticas nem
desejos. E é exatamente por isso que alcança e faz acontecer. Os verdadeiros milagres acontecem
na ausencia de esforço, quando a força não se faz necessaria.

     É por isso que os que muito tem, mais terão, e os que poucos tem, o pouco lhes será tirado.

     Nos foi informado tambem que, buscando as coisas do Pai, o resto nos seria dado de acrescimo.

      A alegria existe na ausencia do esforço, na ausencia do desejo. Enquanto pensamento, há medo,
ansiedade e necessidade de segurança. Na presença da testemunha há paz, serenidade e abundancia.

      O que buscamos pelo esforço poderá ser alcançado apenas pela observação atenta, descontraida,
serena e desapaixonada. O mito do Dom Juan se confirma.
     
             Não está afim de dar uma espiadela tambem ?


        
   



            .


                                                    


domingo, 17 de junho de 2012

O DESPERTAR E O PODER DA TESTEMUNHA INTERNA


                                  O questionamento mais frequente na vida da pessoa se relaciona como fugir do sofrimento, quais os caminhos que conduzem para a paz, a alegria, a prosperidade e o bem estar.
Os mestres da filosofia oriental, todos eles, enfatizam a necessidade de estar atento, e nos informam que há em nós um observador à parte daquilo que é observado. Alguma coisa em nós pensa mas há tambem aquele que presencia os pensamentos do pensador. E é nesse ponto que entra a grande dificuldade. No mais das vezes, simplesmente, pensamos sem a presença desse assistente que se dá conta do movimento mental.
Isso dito, desse modo, implica que há duas estruturas envolvidas no processo. Alguem em nós realiza o pensamento, e a outra parte tem consciencia desse pensamento. Dito de outra forma, testemunhar o dialogo
interior.
                      Prestar atenção significa que há um observador que está atento para aquilo que está sendo
observado. O passarinho canta. Há alguem em nós que ouve o canto, alguem que percebe, uma percepção
consciente e não, simplesmente, uma percepção sensorial, apenas o ouvido que escuta como ato fisiologico.
Quer preste atenção ou não, o ouvido acusará o som. É automatico, é coisa do corpo.
      No entanto, com a participação desse algo em nós que se dispõe a prestar atenção, o ato fisiologico em si se modifica, experimenta uma amplificação, que irá promover uma mudança,  uma alteração interior.
Antes era apenas um som captado pelo ouvido, agora existe uma estrutura que testemunha esse fato.

           A pergunta inevitavel  :  qual a importancia desse processo ?  Alguem faz um comentario leviano a seu respeito que o deixa chateado. Voce se sente ofendido e não pára de pensar no assunto.
Está se dando conta que existe um sentimento de chateação que o leva a se sentir mal. Algo dentro de si
acusou a amolação. Isso equivale ao ouvido que acusou o som, no ato fisiologico Se,nesse instante,introduzir a parte em si que é capaz de observar, de olhar para aquilo como se fosse algo externo, desatrelado da sua pessoa, verá que essa parte não está perturbada, não foi afetada pelo comentario do outro.
   
       Portanto, existe um outro aspecto da gente que está além das emoções, dos sentimentos e das chateações do dia a dia. Aspecto esse que não sofre interferencia seja lá do que for. O observador não fica
enrolado nos dramas que nos afligem continuamente. Esse estado de presença nos desidentifica com
pensamentos e sentimentos que desequilibram emocionalmente. A gente se distancia deles e os
contempla da perspectiva do observador independente, à parte do que se sente e fora do corpo. É como se
nos colocassemos a uma certa distancia da gente olhando para aquilo que está acontecendo dentro  ou fora.
Nos transformamos, desse modo, naquele que observa aquilo que está sendo observado.

     Se a pessoa não estiver atenta, presenciando os acontecimentos, os sentimentos despertados por
tudo que acontece, eles "colam" no observador impossibilitando a percepção consciente. E, como consequencia, a pessoa se desequilibra e sofre. Para se dar conta, há necessidade de um espaço, uma certa
distancia enrtre aquele que observa e a coisa observada. Desse modo, não será afetado pelo que percebe sensorialmente no mundo externo. O de fora só pode representar perigo na ausencia da testemunha que
olha para aquilo de um modo imparcial. O mau estar é sempre consequencia  da falta desse observador
atento que cria esse espaço interno entre ele e o foco de observação. Se o foco se justapor ao observador,
não haverá reconhecimento. É como olhar para algo de muito proximo. A distancia determina a boa
observação. Ao ouvir o comentario leviano, aquilo se tornará pessoal, irá se ofender na ausencia dessa
testemunha que sempre olha de modo imparcial, sem nunca ser afetada, sem nunca se comprometer
pessoalmente. Apenas observa serenamente como se aquilo não tivesse nada  a ver com ela. Observa
quando está ansioso, quando está preocupado, quando sente medo, quando está trabalhando, dirigindo,
brincando, caminhando, quando está alegre ..... Observa, apenas observa. Sem objetivo algum, sem proposito, sem querer nada, sem desejos. Nada. Apenas olhando para aquilo de uma perspectiva de
alguem que presencia, como quem assiste a um filme. Olha para tudo a cada instante apenas como
observador e não como vitima ou culpado. Não se identifica, porque a pessoa não é aquilo que sente ou
percebe. Se olhar à parte daquilo que observa, não poderá ser afetado, não poderá sofrer.

      Sofrer é identificação, é apego como consequencia do medo. Voce não é a ideia que faz de si frente
ao mundo externo. Não identificar-se com os problemas mas como a testemunha serena frente aos
fatos do cotidiano. Essa desidentificação criará a solução que necessita para cada situação da sua
vida. Não ficará paralizado internamente pelos problemas, porque em verdade  não pode ser afetado
pelos eventos externos. Voce não é o seu problema. Voce é aquele que observa aquilo, a ao se descolar
atraves da observação, produzindo esse distanciamento, não se identificando, não achando que é aquilo,
irá se surpreender com as respostas e as soluções que resultarão desse processo.

                    Voce é aquele que tem consciencia do que se passa ao seu redor, e essa percepção lhe
dará proteção para não dar credito que é seus problemas e que irá sofrer até conseguir solucioná-los.
Se encarar os problemas atraves do intelecto, pensando, irá sofrer. Sofre por causa da identificação.
Sente que aquilo que é, foi molestado e sofre por isso. Foi afetado, não se dando conta que é sua
imagem que foi afetada, mas voce não é essa imagem que faz de si.

       Se encarar os problemas como um simples observador, não haverá sofrimento, porque voce não
foi afetado, apenas sua imagem. Voce não é aquele que experimenta a frustração. Voce não é aquele
que se preocupa, assim não pode haver preocupações. Se ficar atento para aquele que se preocupa
e as tais preocupações, não haverá sofrimento.

                 Quando, enfim, a testemunha começa a fazer parte da vida da pessoa, abrem-se portas
para realidades e mundos nunca imaginados, e uma energia poderosa é liberada, destruindo o mundo
velho para dar origem a uma dimensão sem limites, sem problemas, sem sofrimento.
                 Dá para querer mais ?

    Contudo, não irá se convencer do poder magico e das maravilhas proporcionadas por esse observador,
quando, enfim, despertado, e fazendo parte da sua vida, a não ser experimentando-o dentro de si
nas vivencias do seu dia a dia. Perceber-se como testemunha e não como vitima das emoções, dos
pensamentos e das circunstancias. Já não estaremos mais aprisionados ao nosso velho sistema de crenças
derivado de condicionamentos e identificações, de uma auto-imagem despropositada e irreal.
Estaremos livres para vivermos a vida imunes às agressões do mundo. Sim, tudo continuará como sempre foi,os mesmos problemas, caceteações, dificuldades, mas sem mais  sermos afetados, perturbados internamente,sem sofrimento. Liberdade é isso, despertar esse observador em nós, essa capacidade de testemunhar tanto as coisas de fora como o movimento interno da mente, os pensamentos e as emoções.

             Então, finalmente, saberemos o que é serenidade, paz, alegria, confiança. A plenitude, a totalidade.
     
              Então, finalmente, teremos consciencia de quem somos, da nossa verdadeira natureza, e do que somos capazes. Somos criadores. A capacidade existe mas tem de ser despertada.
       
     A capacidade de criar, está na dependencia desse observador sereno e independente.
          Vale a pena experimentar e prepare-se para surpresas.

           

           

sexta-feira, 8 de junho de 2012

SE HOUVER MEDO, NÃO HAVERÁ AMOR


            Quem construir sua realidade emocional baseado em dependencia,  na necessidade do outro para
dar conta das suas carencias internas, a nivel animico - nesse caso, falar em liberdade, não fará sentido algum, não haverá significado nesse contexto, coerencia comportamental ou qualquer proposito evolutivo para um outro nivel de consciencia e percepção.

              Entretanto,  tornar o outro prescindivel na circunstancia psiquica e no aspecto dos sentimentos, soa como indiferença, descaso, depreciação ou falta de amor.  A controversia se cria ao confundir  apego
com amor. O dicionario define apego como colar, aderir, agarrar, grudar, juntar, ligar, prender, segurar.
Seria isso, por ventura, o que compreendemos como amor ?  Posse, controle, dominação ?

      Onde há  apego, há ciumes, ansiedade, medo, odio, sofrimento. E quanto maior o apego, maior a dor,
a inquietação, a paúra. Mas se falar para seu companheiro (o) que não está mais apegado, o que irá
acontecer ? E esse não se sentir mais apegado, por acaso, nega o amor, o relacionamento?

    Já  questionou, alguma vez, o motivo pelo qual sente a necessidade de se apegar ? Seja o apego
da forma que for  -  ao seu nome, à sua esposa, ao seu marido, à sua casa, ao seu jardim, ao seu
dinheiro, apego às suas ideias, às suas coisas, enfim a todos os apegos aos quais se apega com tanta
força ?
                    Pode haver liberdade na circunstancia de apego ? E o amor sem o protocolo da liberdade,
chamaria isso de amor ?  Se for amor, porque então o medo, a premencia de toda sorte de artificios para
conter, controlar e monitorar ? Pode o amor sentir medo ? Onde houver medo, com certeza absoluta,
não pode haver amor. São elementos opostos do espectro da psique humana.

       Desse modo, porque o medo pelas coisas que tanto ama ? Percebe que isso não é amor ? Quando há o medo da perda, é esse o indicio inequivoco de que está apegado.

                Preencher as necessidades do outro, ou então ter as suas, satisfeitas, é o reflexo do
movimento sutil, inconsciente da projeção. Carregar um pano para limpar a casa do
outro, é a representação metaforica das suas coisas não elaboradas. Já se deu conta que é
sempre bem mais simples e tranquilo resolver os problemas alheios que os individuais ? Quando aconselha os outros, tem sempre uma solução brilhante para qualquer assunto ou dificuldade. Esse mesmo conselho, dado para todos, consegue tambem levá-lo para sua vida ?

                       A necessidade de ajudar, é apenas outra forma sutil de apego. Nos apegamos à imagem de
socorristas na tentativa de aliviar, ao menos, temporariamente, a exigencia interna da gente de tantos aspectos ainda não apurados. Ajudamos para nos sentirmos bem, e não pelo simples fato de fazermos aquilo com naturalidade, sem outros objetivos ou intenções. A ajuda é barganhada como numa permuta, uma negociata, um regateio.  Usamos o outro, ardilosamente, em proveito proprio, porque, a bem da verdade, o que buscamos, com  nosso auxilio, é nossa satisfação. Projetamos nossa dor na dor do outro. A dor que sentimos fora, no mundo que nos rodeia, é reflexo do mundo interno, da nossa realidade, das lacunas
ainda não preenchidas.
                                          Se já tivesse equacionado minhas questões de abandono, de menosvalia e
desajuda, não sentiria isso na outra pessoa, porque sua dor não encontraria ressonancia para ecoar
dentro de mim. Se não houver um elemento de recepção interno, as coisas de fora não terão como
se vincular. Assim como os dentes de duas engrenagens que se ajustam para que o sistema possa operar.
      Se não houver a engrenagem da dor interna, a dor de fora não encontrará ponto de apoio, superficie
de contato para a roda se movimentar.

                         Sem a estrutura interna de ressonancia, verá os conflitos, as dificuldades e o sofrimento
do outro, mas isso não irá te afetar. Poderá ser que faça algo ou não, mas se fizer, não será por pressão ou
qualquer exigencia emocional, um sentido de piedade ou dolorimento interno.  Fará com naturalidade,
sem afetação, espontaneamente, sem abalo emocional, humilde, com discrição e modestia. Para ajudar,
não ha necessidade que sinta dor ou desconforto interior pela adversidade do outro.

             Cria a ilusão que tem muito para dar mas necessita do outro para liberar sua potencialidade ?
Cria a imagem de pessoa boazinha, altruista, prestativa, solicita, mas sem o outro sua bondade não encontra
respaldo ?  Enquanto se levar tão a serio,  com espirito e cara de abnegação e desprendimento, não
terá condições de abandonar sua auto imagem de importancia de onde se encontra refem, aprisionado em
sua malha. Carece do outro para se sentir bem, porque é somente  capaz de se enxergar projetado na tela
do mundo. Os olhos sempre mirando para fora, porque se voltá-los para dentro, encontrará caos e
confusão. Desse modo,  foge de si para se encontrar na anarquia e no tumulto dos outros.  E é por isso
que quer consertar a baderna do mundo como expiação da sua propria incompetencia para se salvar.

        Romper essa continuidade, desfazer sua necessidade de importancia, a identificação com essa
estrutura egoica, que tenta, a qualquer custo, nos manter aprisionados na ilusão de uma imagem de seres
singulares, e que se apossa do amor a da bondade como paladino da redenção...... dos outros.
   Romper com a condição mental que confunde apego com amor. Porque continuar com toda essa
miseria, tantos equivocos, incertezas, enganos, prazer e alegria ocasionais ?

              A ruptura com o apego irá nos encaminhar para uma nova ordem, uma nova realidade. E sem a superação dessa estrutura mental,  permaneceremos no mesmo padrão, buscando, tentando aprimorar
cada vez mais a estrutura que nos mantem aprisionados na continuidade de uma rotina
massacrante, sem perspectivas nem esperança.
   
                     Sem apego compreenderemos o movimento da vida e iremos nos por no mesmo fluxo,
sem esforço, sem objetivos, sem querer mudar ninguem. O trabalho não será pelo dinheiro, mas pelo
prazer de estar aí, realizando aquilo .... . "e o resto virá de acrescimo.... ".
Não transformaremos o amor em apego. Nem usaremos os outros para compensar a desordem interna,
achando que amamos frente ao medo da perda.

               Quando se ama, existe sempre o receio e a preocupação de ficar privado da coisa amada.
    Mas seria isso realmente amor ?
               
                   Momentos de meditação sobre o assunto valerão a pena, pois se for para alem da superficie
encontrará surpresas, e talvez tambem grite  EUREKA !

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O MILAGRE DO CÃO DO VIZINHO


      Esse relato me foi passado por uma pessoa, mulher de meia idade, que se encontra
atualmente afastada das suas funções  motivado por um acidente, tendo, em função disso, sua  perna esquerda imobilizada.
                    Passa seus dias entre leitura, sonecas e momentos de recolhimento interior onde repassa
sua vida como num invertario mental, analisando cada aspecto onde se percebe imobilizada, onde a coisa
não anda, onde, não apenas a perna, mas a vida tambem parece engessada.

      Se dá conta que está apenas repetindo os mesmos comportamentos de modo inconsequente e
deprimente, muitas e muitas vezes em quase todos os aspectos da sua vida.
   Não sabe como libertar-se de um casamento ruim, desvitalizado, tendo perdido há muito o
encanto e o envolvimento que um dia nortearam aquela relação. Vivem os dois sob o mesmo teto, se conhecem há tantos anos, compartilham de tantas coisas mas, percebe, com clareza  sofrida, o quanto são estranhos e a distancia imensuravel que os mantem isolados.

       Não sabe como tudo desandou, como o encontro se desfez, e os laços que um dia uniram
aos poucos foram afrouxando, cedendo, até finalmente se romperem. Aconteceu de repente, ou foi um
processo, como um  movimento que, uma vez iniciado, segue sua trajetoria de um modo inexoravel até
cumprir seus designios ?

      Verifica tambem o mesmo caos na insatisfação com sua atividade profissional. Cumpre suas funções como quem cumpre um dever. Sem satisfação, envolvimento ou perspectiva. Apenas uma rotina massante,
sem graça, perturbadora. Olha para o trabalho, ao qual retorna todos os dias, igual prisioneiro em liberdade
condicional : à noite retornará ao carcere na condição de liberdade privada.

     Com dificuldade financeira, filhos sempre doentes e o espelho a lhe mostrar os primeiros
sinais inconfundiveis do movimento do tempo que vai passando. O encanto de linhas suaves e traços
harmoniosos de há pouco, tal qual as cenas do ultimo ato, aos poucos as vozes silenciando , o palco sem
movimento, as luzes se apagando e a cortina lentamente baixando.

     Come, não porque tenha fome mas porque a alma está vazia. Busca no alimento a satisfação
impossivel e improvavel. É a fome que mais doi, a fome da falta de realização, a alegria de se sentir
produtivo, a sensação confortavel de fazer parte. E dentro do vazio da falta de existencia, a desesperança,
o desanimo e a grande solidão.
     Vive repetindo os mesmos padrões que já não reproduzem os resultados esperados. Se sente
aprisionada em contextos onde o resgate já lhe parece duvidoso.
   Num certo momento da nossa conversa, de cabeça baixa e com voz debil, me falou  :  "estou dançando a minha vida segundo os passos ditados pelos outros ". À seguir, ficou novamente  em silencio por um longo tempo, e, ainda de cabeça baixa chorou silenciosamente.
   O enfileirado apenas segue, e o seu passo não é o passo da sua alma, pois quem segue não tem passo, não tem rumo, nem compostura. Se transformou em coisa coletiva. A individualidade e a humanidade
interna é algo que ficou extraviado pelo caminho, por tantos caminhos andados simplesmente seguindo.
          "Será que é por isso que tive esse acidente ? Será que é por isso que minhas pernas não querem mais
me levar por caminhos sem graça e sem alegria ? Será que minhas pernas não querem mais dançar sob o ritmo do movimento lento e monotono da grande fila de todos os enfileirados ? "
   Falou isso em voz baixa, como quem fala consigo mesmo sem se dar conta que está falando. Voz de murmurio mas num tom de lamento.

   E, no fim da nossa longa conversa, mais feita de silencio que de palavras faladas, me relatou um fato verdadeiramente relevante. Todas as manhãs em que o sol se faz presente, senta no fundo do lote à sombra de um frondoso cinamomo. Lembra que nunca fez isso em toda sua vida. Nunca sentou sob o frondoso cinamomo para apreciar a beleza e o ar festivo das manhãs de sol. O outono carrega uma certa magia
da ultima estação  que se despede. Parece um tempo de nostalgia, de silencio, de recolhimeto. Nunca parou em outono nenhum da sua vida para uma pausa, para um olhar mais atento e se dar conta do fluxo e refluxo das coisas e a vida se fazendo nesse movimento sem fim. E enquanto sentia o cheiro agradavel
do ar da manhã, a algazarra vibrante dos pardais, de repente viu um cão, o cão no lote do vizinho. Como nunca se deu conta nem dos outonos, nunca havia tambem  se dado conta do cão do vizinho, que, sem duvida, sempre esteve aí, amarrado a uma pequena corrente, latindo e se agitando com grande violencia. Era um cão de porte avantajado, amarrado a uma corrente que lhe permitia pequena mobilidade. Havia um patio enorme, um grande espaço disponivel, mas ele estava aprisionado àquele espaço diminuto do tamanho daquela pequena corrente.
Às suas costas, a pequena casinha que o abrigava das noites frias, onde a corrente se prendia.
  Estava aprisionado à sua propria casa, às coisas de todos os dias, a uma rotina terrivel, olhando para o mundo, para mil possibilidades, impossibilitadas por aquela pequena corrente. Todos os dias iguais, restrito
àquele pequeno espaço e tanta energia disponivel , e tanta vontade de correr, brincar, pular, ser feliz.. Era ele tambem um ser enfileirado, acorrentado, triste, desesperado, tentando uma vida digna pela qual valesse a pena viver.
     
     E foi então que ela se reconheceu naquele animal. Começou então a observá-lo dia apos dia com
mais atenção. Sempre que sentava, nas manhãs de sol, sob o frondoso cinamomo, não trazia
mais seu livro, como fazia normalmente, mas observava o comportamento daquele ser angustiado, pois o que mais chamava particularmente a sua atenção, era sua agitação enfurecida, pulando e forçando sua coleira ,querendo, a  qualquer custo, se desvencilhar daquele objeto que o mantinha aprisionado.
                 
      E, me contou, entre lagrimas, que numa bela manhã o milagre aconteceu . De tanto que forçou, a
coleira o feriu de tal modo que se tornou impossivel mantê-lo aprisionado àquilo. O pescoço se havia ferido de lado a lado. E, desse modo, seu "bondoso" dono lhe deu a liberdade. Finalmente podia
correr pela extensão do patio, ir de um canto a outro, pular, exultar, cantar ( o animal quando feliz,
sua  felicidade se transforma em canto, uma dança em forma de celebração ).
     E mesmo com o pescoço ferido, enfaixado com um grande curativo, não havia duvida que era
uma criatura feliz. Ela reconheceu a felicidade, e pela primeira vez em sua vida soube o que era a
tão decantada felicidade. Aquele animal lhe mostrou a importancia de ser livre e os caminhos por
ele seguidos para alcançá-la. Preferiu a morte a permanecer acorrentado àquele pedaço de corrente,
àquele pequeno espaço de vida. Feriu-se, estropiou-se, mas a dor do ferimento não tem comparação
com a sensação de bem aventurança de se movimentar conforme sua vontade, de escolher atraves das
suas proprias escolhas, de se movimentar ao ritmo do pulsar do seu coração.
                          E, quando se aproximava da cerca que separava os dois patios, ela conseguia
perceber o brilho nos seus olhos, o brilho da vitoria, da satisfação, da redenção. Nunca havia percebido
tal brilho nos olhos de ninguem. O sequestro havia finalmente terminado e o resgate, não há palavra no mundo que possam expressar seu significado e conteudo. Livre do cativeiro. Livre para a vida.
                  Ela olhava para alguem que havia alcançado o que estava desesperamente buscando, e, mais,
assistiu a cores e em tela cheia o fato se realizando. Viu o milagre acontecer e se deu conta que
isso é possivel. Se aconteceu com  o cachorro do vizinho, porque não seria possivel acontecer com
ela enfim. O pesadelo da sua vida poderia tambem ter fim.
                   E, sentada sob o frondoso cinamomo dos fundos da sua casa, numa manhã de sol de outono, se perguntou, solenemente, se estava preparada para se libertar tambem de todas as amarras que a
prendiam a um espaço melancolico e deprimente de uma existencia sem vida, tristemente chamada
vida . Afinal, já estava ferida de igual modo seu amigo do outro lado da cerca. Ele buscou com unhas e dentes seu grande objetivo. Sentia-se ela preparada o suficiente para o grande pulo, o salto mortal para
dentro de uma outra realidade ? Muitas são as coleiras que nos acorrentam a alma a espaços diminutos,
sem atmosfera nem importancia.  Estaria preparada, verdadeiramente, para se desfazer das amarras
que reduzem sua vida a uma rotina feia, confinamento de todas as possibilidades ?
       Se questionou porque percebeu que, enquanto enfileirada, existe a facilidade e a conveniencia de
simplesmente seguir, sem questionar, sem se indispor, ou pensar por si proprio. Estaria preparada para
se assumir, compromissada com diretrizes internas, desvinculadas da massificação coletiva ?
 Estaria preparada para seguir seu caminho sem olhar para os lados, para o passo dos demais ?
   Estaria preparada, igual o magestoso e imponente cão do outro lado da cerca, para, a qualquer
custo, reivindicar seu espaço, seu mundo, sua vida ?  Sua felicidade ? Seu passo, livre de qualquer crença,
ou ingerencia de qualquer ordem ? Estaria, por fim, prepara para tal jornada ?
   
       Por fim me falou um tanto decepcionada, assim como quem vacila  :  não podia imaginar que fosse tão dificil e tão doído para que as mudanças em nossa vida pudessem acontecer. Para que a gente pudesse ter a
vida de volta. Para que a gente pudesse realmente viver.