domingo, 5 de fevereiro de 2012

O ENCONTRO DAS DUAS AMIGAS

        Centro da cidade esperando carona para ir para casa.
Duas amigas se encontrando a pouca distancia de onde me encontrava.
Primeiro a grande satisfação do encontro ( quase sempre mentira ), sorrisos largos, beijinho de um lado, do outro tambem e a conversa inicia.
    Quase sempre começa assim  :  minha amiga ! ( esse "minha amiga" foi dito num tom
com tanta enfase, tão exclamativo, num misto de surpresa e, quem sabe, até de inveja, que, escrito, ficaria mais ou menos assim  "miiiinhaaa  amiiigaa " ).  A intensidade e a empolgação da moça ,chamaram imediatamente  minha atenção, pois sabia que ia ter.
       E ela continuou, com seu entusiasmo barulhento :  amiiiga, não te conto nada, ( se
prepare, porque irá contar o que sabe, mais um outro tanto que sua cabeçinha irá inventar), voce conhece a Verinha, não conhece ? ( claro que  sabia que a tal Verinha era conhecida dela. Era apenas para dar mais colorido, um ar de surpresa e preparar mentalmente a outra para o que estava por vir ).  Afinal, é esse o encanto da fofoca, reside aí a sua beleza e o charme do seu veneno.
             Então ela despachou sem pena nem escrupulo : ela deu para o Ricardo ! ( esse tal de Ricardo anda em tudo que é boca ), e pos a mão na frente da boca em sinal de estupefação, assim como se faz frente a um acontecido dificil de digerir. Parece que a mão ajuda aquilo para descer melhor. Mas, nesse caso, sua mãozinha tapando levemente a boca, era apenas para dar mais expressividade e  dramatizidade ao relato.

                    Nesse momento, participando indiretamente desse cenario, me vi como numa plateia, no grande teatro da vida, onde, diante do comico, cada qual põe o seu
tragico a publico. Nem sempre ( quase nunca ) a pessoa dá-se conta que a critica e a malediscencia, não são outra coisa que dados auto-biograficos, uma forma velada de
não perceber a "trava no olho" da gente.

                      Mas o assunto era o tal Ricardo que a Verinha havia traçado ( ou vice versa , e alem do mais, que importancia tem, já que a ordem dos fatores não altera o final da trepada , não é mesmo ? ).
  Retirando, como em camera lenta sua mãozinha da boca ( mas com os olhos ainda esbugalhados), deu continuidade à sua narrativa  :  será que o marido dessa vagabunda
( foi assim que ouvi, não tenho nada contra nem a favor !) está sabendo disso ? E voltou então novamente a tapar a boca, olhando fixamente para a amiga, esperando que fizesse algum comentario, de preferencia em apoio à sua indignação.

       Nesse momento, como já estava bem envolvido no caso, eu me perguntei qual era afinal o problema. Teria sido por ela ter dado, ou o medo do marido descobrir ?
Aquilo que a pessoa não tem coragem, mas muita vontade para fazer, quando alguem faz, ops ! carreguem-se as metralhadores, levantem-se as basucas, ajustem-se os canhões, porque aí vem chumbo grosso. Que direito tem o outro de fazer para o que me falta coragem para fazer ? Nào pode ! Então dê-lhe fofoca, dê-lhe critica acompanhado de um riso amarelo de canto de boca. Mas isso tem nome, não tem ?

              Contudo, que seria da vida das gentes sem fofoca ! Haveria mais tedio, mais
depressão, mais tristeza. Assim, salve a fofoca e abaixo a fluoxetina ! A troca é no minimo inteligente...
                                        Imagina como seria o encontro dessas amigas, sem a Verinha
que deu para o Ricardo. Não seria sem graça ? Apenas um beijinho, um leve abraço, um oi e cada qual seguindo seu caminho, como se nada tivesse acontecido.
E o bom desses encontros é que cada um, sutilmente, sem querer, acaba contando para
o outro os seus "pecados" guardados a tantas chaves.
   O que a amiga concluiu da sua amiga ?  ( ela tem certas intimidades com o Sr Freud)


                          1) que está realmente interessada em algum Ricardo da vida
                          2) mas ao mesmo tempo, com medo do marido descobrir


      Nesse momento, quem sabe, ela tambem se questionasse sobre o assunto, se é que já não tenha superado tudo isso há muito tempo, achando uma tremenda banalidade a teatralização da inveja.
   Talvez tanto ela, quanto o marido já estejam alem disso tudo.
        Afinal, temos primeiro que resolver nossas coisas pessoais, para depois nos relacionarmos adequadamente com os outros.
                   E experiencias pessoais nem sempre conseguem ser compartilhadas.
Cada um terá que andar por caminhos  diferentes para descobrir o seu verdadeiro caminho, e então verá que todos os caminhos levam para um mesmo lugar.










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