quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A DIMENSÀO DO SAGRADO

   
              Parece bobagem, perda de tempo ou coisa sem graça. Ficar olhando sem fazer nada parece coisa de quem não tem o que fazer. Todavia, a graça da nossa vida depende
exatamente disso.

             Estamos viciados no pensamento. Não existe nada mais narcotizante que a atividade mental por ela mesma, pois nos passa a ideia que a solução da problematica existencial passa necessariamente por ela.

           Sempre há coisas à espera para serem resolvidas. Estamos em alguma atividade
normal do dia a dia ,e o que acontece ? Enquanto estamos dando conta disso, a cabeça
estará em eventos futuros tentando resolvê-los  agora. Perdido num mundo de pensamentos, sem paz nem alegria para o que está aí. Afinal, não há como solucionar
agora fatos que não são desse momento. Queremos controlar agora o futuro e é assim
que perdemos esse momento. Nào conseguimos estar onde a vida está contecendo,
porque o que estamos fazendo agora parece menos importante que as coisas  que vem
depois.
                    Não podemos ter controle sobre o futuro, nem sobre o passado. Somente
o agora está disponivel, sempre, e qualquer interferencia mental  faz com que a gente
perca esse momento, e desse modo, acabamos ficando sem nada.

           Manifesta-se então o mau estar, essa inquietação permanente, perdido num
mundo de complicações e de problemas. E qual a solução que nos parece ser a mais
evidente ? Pensar, claro ! E o que faz o pensamento ? Nos leva para as coisas do
depois. Temos a ideia que, resolvendo o futuro agora, teremos futuro. É o pensamento magico atraves do qual imaginamos dias melhores, nos apressando na atividade do momento para termos acesso o mais rapidamente possivel aos compromissos  de um
outro momento. E nada melhor que resolvê-los agora !

              É o descontrole da atividade conceitual da mente. Pensamento sem disciplina
sempre irá gerar ansiedade, impaciencia e essa pressa maluca que nos arrasta para todos os lados, sem nunca chegarmos a lugar algum. So há um destino possivel  :  o
agora e aqui. Fora isso, o que vemos é miragem e nada mais.

                Então irá fixar sua atenção em alguma coisa, tenta ficar aí  mas o que acontece ? A atenção voltará novamente para a mente, para pensar. A pessoa irá
perder esse estado calmo e silencioso no qual esteve enquanto se manteve atento, e
se fixará outra vez nas coisas da sua agenda, no movimento mental.

           Manter a atenção centrada, é uma atividade monotona, sem graça, sem atrativos. O costume de ouvir de um modo permanente o ruido dos pensamentos, nos
dá a sensação de que falta algo nesse silencio criado pela atenção.
    Há o ruido do velho ventilador, anos de ruido, o dia todo. A pessoa já se acostumou,
já está habituada, faz parte da rotina e considera isso perfeitamente normal.

           E quando vai para o estado de atenção, a mente não quer ficar à parte.
Tudo bem que esteja atento, diz ela, mas eu quero participar. Fica atento, continua
ela, que eu vou identificando, avaliando e fazendo os meus comentarios a respeito
da coisa observada.  Entretanto, atenção pensada, não é atenção.
  É por isso que a atenção sem a atividade da mente não é uma atividade atraente.
A vontade entra em ação, há esforço pois não é um movimento automatico. É uma
decisão. Uma escolha consciente. Não acontece sem a interferencia e uma postura interna onde a pessoa se põe nesse estado por uma decisão consciente.
  O pensamento, esse sim é um movimento automatico. Não preciso pensar para
pensar, pois, no mais das vezes, somos pensados, não temos autonomia sobre o
processo.
                     É por isso que a atenção desliga,  ao menos momentaneamente, o velho
e barulhento ar condicionado da sua sala. De repente percebe que pode estar aí sem
esse ruido chato e enervante. Basta sair do comodismo do piloto automatico da atividade mental que promete tudo mas, em verdade, o que acontece, é cada vez mais
confusão e chateação.

         Esses breves instantes de atenção ao longo do dia trarão consciencia, uma percepcão cada vez mais acurada, lucidez para encaminhar as coisas de cada momento. Onde há consciencia há luz. Luz para ver o que tem de ser visto e determinação para
fazer o que tem de ser feito. E tudo o que se fizer, estará bem feito.
  
              Os cientistas já de algum tempo nos informaram que a pessoa consciente,
não apenas sua qualidade de vida se modifica, mas tem um tempo de vida maior.
   A consciencia dá qualidade de vida e uma vida mais longa. Faz pensar, não parece ?

             A atenção nos leva para dimensões dentro da gente que confirma a informação
que fomos criados com potencialidades  sequer imaginadas.

        Isso parece tão estranho, pois se trata de um aspecto aparentemente sem valor.
 Mas porque fazemos o comentario, quando alguem comete algum erro, que faltou
atenção ? Um segundo de atenção, por exemplo no transito, é suficiente para uma
tragedia. Não é mesmo ?

             Não seria a atenção o elemento fundamental para os que são bem sucedidos ?
   
    Distração e sucesso definitivamente não dá casamento.

E não há duvida, que a pessoa tem de enfrentar as consequencias dos seus enganos.

                 Viver não significa apenas funcionar  no mundo, mas viver uma existencia
que tenha significado e sentido. E isso se encontra na alegria, e ela se encontra
nesse spaço onde há calma e silencio.

           Já percebeu enquanto a flor balança lentamente, suavemente   à brisa no final
da tarde?  Ela não vibra em função de uma imagem dentro da qual tem de se firmar.
Ela não precisa vir a ser nada, pois quem está na dimensão do sagrado encontrou o
verdadeiro significado da vida.

              É simples assim, mas precisa tentar para saber que é assim.




domingo, 26 de fevereiro de 2012

A CANÇÀO DE LOUVOR À VIDA

            O que me deixa muito intrigado com relação a ficar atento, diz respeito ao seu aspecto contraditorio. Por se tratar de uma qualidade tão importante ( talvez a mais ) do
complexo da consciencia humana, e aparentemente ser algo tão simples, porque então a
dificuldade na hora de ser colocada em pratica ? É extamente essa propriedade psiquica
que irá determinar a qualidade de vida de uma pessoa. Portanto tudo começa ou termina
aí. A atenção expressa o nivel de consciencia, e é esse nivel que irá condicionar a sua realidade (  dinheiro, relacionamentos, trabalho, familia etc ).

     Colocado assim, cabe a cada um de nós a responsabilidade do seu conhecimento e da
sua aplicabilidade. Sem saber do que se trata e sem reconhecer a sua importancia  estaremos na vida como quem está num jogo desconhecendo suas regras.

              As peças desse tabuleiro  :  o estado de presença, a atenção, a mente ( pensamento ) e o plano que transcende a mente.
Simplificando  :  a superficie e a profundidade

               É desse conjunto de elementos que iremos manifestar nossa realidade de vida.
Os dois elementos chave  :  pensamento ( superficie ) e a atenção ( para ter acesso ao
plano profundo ).
E a conexão deles se faria desse modo  :  o pensamento se qualifica e se torna mais
eficiente na sua ausencia, o que é dado pela atenção.
           Afinal precisamos do pensamento, pois em ultima analise é o grande arquiteto
da nossa realidade.
                                  Entretanto, há dois tipos de pensamento. Aquele que é apenas um
barulho na nossa cabeça, aleatorio, repetitivo, sem controle, como se fosse um vicio.
Esse tipo de movimento mental gera medo, preocupações e toda a confusão na vida
das pessoas. Está num vai-vem continuo e ininterrupto entre as coisas que já foram
( gerando tristeza ou ressentimento ) e as que hão de vir ( gerando ansiedade e toda
forma de preocupação ).
       E há a forma de pensamento ( que nos interessa ) que é condicionado pela atenção,
que nos conecta à nosa verdadeira Natureza, a isso que verdadeiramente somos. Esse
pensamento assim qualificado, qualifica nossa vida.

              É exatamente aqui que entra a importancia dessa coisa estranha chamada
atenção, essa propriedade  fantastica que está disponivel para todos , a qualquer
momento, em qualquer situação. E quanto mais usada, mais honramos a vida que
está passando por nós.

                  A atenção se faz por esses breves instantes em que cessa o movimento da
menteatraves de um estado de presença Tornar-se presente para algum aspecto do
momento atraves da percepção sensorial. Escolher um elemento do cenario e estar
com ele. Olhando ou ouvindo por exemplo.
        Não seria por acaso a exortação feita por nosso Amigo quando nos falou em vigiar ?  "Vigiai e ficai atentos" !
      Falou com convicção, a qualidade de quem fala em nome da Verdade.
Mestres de todos os tempos e modelos de crença nos tem passado a mesma mensagem e com a mesma veemencia.
             Nos tem lembrado para que a gente não se esqueça de lembrar desse momento.

      Um tempinho de atenção para algum aspecto, para alguma coisa que escolheu
ficar junto naquele momrnto. É como se dizesse :  "Olá, estou aqui e estou contigo. Estou de olho em voce ".
     É esse estado de presença em que a gente se ausenta momentaneamente do contexto
global do momento em que a gente está, para se ater apenas a um aspecto desse todo.
É como apreciar em camera lenta, ou olhar atraves de uma lenta de aproximação para
ver aquilo em close, bem devagar, atentamente, curiosamente. Assim como se faz
quando se olha para alguma coisa que se vê pela primeira vez. Há um encantamento,
um sentimento de surpresa e de magia.
     A reverencia diante da beleza como um ato sagrado.

              Nesse momento de elevação a mente silencia e há grande jubilo.
A superficie conectada com a dimensão de todas as possibilidades.
O tronco alcançando as raizes. A seiva fuindo livre e abundante . A arvore festiva  entoando no seu silencioa a canção de louvor à vida.

       E quando a gente retorna desse estado de ausencia de pensamento, o momento se torna vibrante  dando- nos uma sensação de um novo vigor e de uma outra disposição.
É por isso que se diz que o pensamento se potencializa e se quallifica nesse processo.

               Quando não pensa, o pensamento se torna poderoso.

             






                       

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A MAGIA DE OLHAR SEM PENSAR

                      Quando se fala em pensamento surgem muitas duvidas. Dizem que somos
o que pensamos.   Desse modo, seria ele o responsavel pela estruturação da nossa
realidade, i. é., o nosso dinheiro, saude, familia etc . Mas nos informam tambem ser o
 pensamento a causa dos conflitos e do sofrimento pelo qual a maioria de nós passamos.

           E, então, como entender essa estrutura psiquica que ao mesmo tempo me traz a
abundancia e me faz viver com carencias, que me deixa saudavel e tambem desestrutura
meu corpo, que me proporciona plenitude e do mesmo modo me faz trilhar caminhos de
dor e sofrimento ? Que é isso afinal paradoxal  e misterioso desse jeito ?

               Verdade  numero 1 : o pensamento realmente determina nossa realidade, seja
ela positiva ou negativa. Portanto a estruturação da nossa vida passa necessariamente
pelo pensamento.
                                  Posso usar a faca para que me seja util, porem ela tambem poderá
me ferir. Vivemos num plano de polaridades.  Onde há cara, haverá sempre a sua contraparte como coroa.

                       Então a pergunta  :  qual o segredo do seu uso para que possamos nos servir dele e usufruir  sua potencialidade e capacidade de criação ?

         Necessitamos do pensamento, pois é atraves dele que organizamos nossa vida,
resolvemos problemas e damos conta dos compromissos. Contudo, o pensamento representa apenas um aspecto muito particular e restrito da nossa Consciencia.
É a parte mais superficial de algo verdadeiramente grandioso. É a arvore com sua estrutura externa e a profundidade com os seus misterios. A beleza da flor ancorada
num espaço sem cor  e sem luz. Para que o de fora seja exuberante tem de se enraizar,
ir para dentro.
                              O pensamento gerencia a vida, toma decisões, supervisiona. É o
grande timoneiro da nossa realidade. Contudo, a confusão se cria quando a superficie se desconecta das suas raizes. Na arvore essa possibilidade não existe. As coisas de
cima e as de baixo estão em constante conexão. Não há interrupção do fluxo da seiva
por algum mecanismo psiquico da arvore. Em nós esse fluxo se desfaz atraves da
desconexão com esse momento.
            O que significa isso ?  Compreender essa transição é estar de posse do grande
segredo que separa sucesso de fracasso. Normalmente apenas pensamos. Lembramos
ou prevemos. Tristeza ou raiva pelas coisas que já foram, ou ansiedade e medo  pelas
coisas que buscamos. E esse tempo antes ou depois, nada mais é que a ilusão projetada pela mente, nos desconectando, desse modo, da presença desse momento. É essa a chave que abre o grande cofre. Precisamos do pensamento mas não alienado desse
momento.
                        E qual é o mecanismo atraves do qual ancoramos o pensamento a essa
estrutura interna que dá qualidade  e poder à sua ação ?

              Voce está executando as funções do seu dia a dia. Está pensando para que as
execute da sua melhor forma ( muitas vezes são executadas no piloto automatico ).
Está concentrado naquilo que está pensando muito mais do que aquilo que está
fazendo. Voce faz agora, aqui, mas onde está realmente enquanto está fazendo ? A
energia não está aqui, a atenção não está centrada nesse momento. E é esse estado
desconexo a grande causa da perda de energia que leva o sistema à exaustão.

              O pensamento faz parte da consciencia global. E a sua energia provem dessa
consciencia. Portanto existe uma conexão entre ambos. E para que o pensamento
possa receber essa energia necessita manter-se conectado. E a ligação se faz atraves
da atenção, que acessa esse espaço que é anterior ao pensamento.
   Arvore e raizes com sua seiva nutritiva.

                Então, ficar atento por um momento sem o fluxo do pensamento. Apenas
olhar como quem aprecia. Apenas olhando... sem querer saber nada... sem querer
descobrir coisa alguma... sem achar nada. Sem a cabeça dando qualquer palpite.
Um momento de silencio. Um momento de ausencia para me tornar presente. Ausencia de ideias, de julgamentos, de avaliações. É esse o grande vicio da raça que habita esse
planeta. O pensamento é como um narcotico que desfaz a ligação com aquilo que realmente importa para que possamos viver a vida que tanto sonhamos viver.
        Quer produzir mudanças, transformações, nos tornar diferentes. A mente acha que há algo errado em nós, e ela quer realizar essas grandes reformas.

                       É por isso que se torna tão dificil sair desse transe mental desse
mecanismo profundamente implantado dentro de nós. Perdidos em pensamento,
olhando ora para tras, ora para frente ( com mais frequencia ), igual sonambulo, sem
controle, sem rumo.
                                       Parar por um momento esse turbilhão mental parece perda de tempo, uma alienação ou fuga da realidade, dos compromissos e das responsabilidades. Há tanto para fazer, assim não há tempo para parar de pensar.

                  Todavia, se prestar atenção por alguns segundos apenas, já será tempo suficiente para essa religação com a Energia. Seiva subindo pelo tronco.
Sentir-se-á revigorado e trará uma nova luz para esse momento, para aquilo que está
fazendo. O momento se amplifica, se ilumina, se energiza.
                 Veja, o momento é o mesmo, as coisas continuam aí, os mesmos compromissos, mas algo dentro desse contexo ficou mais suave, mais vibrante.
As pessoas são as mesmas, nada externamente se alterou, mas a energia foi modificada.
                         E o mais impressionante desse processo é que o pensamento se
qualificou. Exatamente esse pensamento atraves do qual criamos nossa realidade, do
qual dependemos para uma vida digna e plena, ele se qualifica e se torna mais eficiente. A nossa postura muda,  assim como o rendimento do nosso trabalho.

                     A atenção cria esse espaço para receber esse momento que antes era  tomado pelo fluxo maluco narcotizante dos pensamentos. E quanta mudança isso
traz para esse momento !

                    Não parece loucura ? Simples assim e a gente não consegue parar por
um instante sequer para apenas olhar... olhar com atenção... assim como quem não quer nada... apenas olhando... apreciando... cabeça vazia.

               Sair do fluxo da mente e ir para esse espaço sem mente, sem pensamento,
onde existe calma, silencio, sem desejos e sem medos. Um vazio que completa,
que disponibiliza tudo aquilo que tentamos inutilmente atraves da mente, das
conquistas e do fazer incessante.

                 E quando retorna dessa breve ausencia mental, seu pensamento estará
curiosamente vitalizado, e voce se sentitá tambem revigorado. Não parece magico ?

           Quando olha sem pensar, olha em profundidade e religa a energia do momento
trazendo-a  para esse momento.

                  Verdadade numero dois  :  o pensamento na ausencia do pensamento é
o verdadeiro pensamento da criação eficiente, daquilo que verdadeiramente
buscamos com o pensamento.



                          

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ISSO TAMBEM DÁ SAMBA

            Voce já se deu conta do que acontece internamente enquanto está pensando nas coisas que o deixam preocupado ?
      Há um sobressalto em toda sua estrutura seja ela psiquica ou fisiologica. O coração
altera seu ritmo, a respiração se torna mais curta e superficial determinando uma absorção menor de energia a cada ciclo respiratorio. E menos energia significa menos
combustivel, energia racionada para todos os orgãos, alterando com isso a eficiencia da sua função. Isso irá gerar um stress metabolico, i. é., os funcionarios terão que desempenhar suas funções por um salario menor. Insatisfação geral. Queda no
desempenho e na qualidade. Crise na instituição.  Curva do lucro descendo ladeira à baixo.
                 Os chineses falam em crise como oportunidade. Não há duvida. Ou afunda ou  se safa. Entretanto, para quem cai , é porque desconhece o caminho, pois se o conhecesse, não estaria agora no tubo. "Elementar, caro Watson" !
     E mais, se não consegue relacionar causa e efeito, ou seja, sua postura com suas
consequencias, como irá ter ao caminho  do sucesso ? Desconhece a mecanica da
coisa , está num jogo em que não tem noção das regras.

          As coisas amarradas do dia a dia, as dificuldades de toda ordem, não são elas em si a causa do nosso sofrimento. E a confusão sempre surge quando confundimos o
efeito como se fosse a causa. Creditamos o pesadelo da nossa vida  à falta de dinheiro,
às doenças sem fim, à falta de sossego em casa, às confusões no trabalho, à incompreensão e intolerancia dos outros, enfim, pelo visto, a causa de tudo é sempre
externa, ou são os outros, ou é o governo, ou o tempo, ou, quem sabe, Deus por
estar me cobrando algum carma com o seu tempo de resgate já vencido.

                       Constatação basica e primaria  :  se olhar para o problema achando que
é o problema,  as luzes vermelhas do painel irão piscar como se fosse  pinheirinho
de natal.  Sem ajustar o foco, não conseguirá ver com clareza.

              Vejamos o comportamento das nações,  a tentativa de se aniquilarem mutuamente em função de uma ideologia, de um conceito de vida, e um modelo de
governo. Não é assim tambem com as religiões do mundo, os partidos politicos ( não
é à toa que são par tidos ), as torcidas de todas as bandeiras, as ideologias de todos os
credos, as diferenças de cor, de sexo, as opções diferentes dos outros ?
 
      Vivemos num mundo de disputas onde há sempre inimigos a serem combatidos.
E há canhões apontados para todos os quadrantes da vida, sejam eles internos ou externos. Se não houver contra o que lutar, a vida parece sem sentido, sem gosto.
 Tem-se a sensação de que algo precisa ser eliminado para que a vida e o mundo
estejam melhores.
                                     Contudo, a desratização acaba por acaso com sua raça ?
A destruição nunca foi em epoca ou circunstancia alguma, solução para o quer que seja. As grandes queimadas fazem brotar grama mais verde, não é mesmo ?

                  "Nada se cria, nada se perde". Provavelmente para os ilustres doutores da Lei e da Ciencia o Sr Lavoisier deve ter sido apenas um françes falante que veio  para confundir, ou, quem sabe, querer aparecer.

         Voce que tem preconceito e que tambem tem sua latinha de detephon para
matar bichinhos, seja os que se escondem nos cantos da casa, ou nas redobras do seu
estomago, voce tambem acha que o Sr Lavoisier foi um cidadão frances que gostava
de contar piadas ? Ou não acha nada porque esse nome não consta na lista do seu
caderninho de aniversario ?

                      Não tá, por acaso, com vontade de cantar a vinheta alegre de
carnaval da Grande Emissora ? Tá ? Então tu canta lá que eu bato o bumbo aqui.

     Isso dá samba,  Ó  !





                 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

VOCE SABE QUEM SÀO OS CCR ?

                 
                       Sempre que surge uma noticia importante vinda do Circulo dos
Cientistas Renomados ( CCR ), Ghi Belique é sempre o primeiro a ter conhecimento
do fato. E assim que pode, comenta  a noticia com algum dos seus amigos.

               E foi o que aconteceu. Quando me viu,  me puxou para um lado, e com voz
solene, pausada, num timbre mais grave, foi anunciando  :  sabes da ultima ? E a novidade  me foi passada em minucias.

                    A noticia dizia respeito a uma descoberta importante vinda desses CCR
( voce já deve ter ouvido falar deles, existem em tudo que é lugar ).
    
       Apos exaustivos testes microbiologicos, feitos em aparelhos de ultima geração,
acoplados a gigantescos computadores, esses representantes da modernissima medicina
hi tech, chegaram a uma conclusão realmente bombastica ( parece que estão sendo
indicados para o premio Nobel  da dita ciencia ).
         
                        Descobriram que em qualquer canto ou buraco que se vasculhe, seja
por dentro ou por fora , existe  um batalhão de perigosos,
perigosissimos bichos, muito pequenos, tão pequenininhos que o olho não consegue
ver . Eles estão por aí, por toda parte, sempre de tocaia, igual indio trepado em
arvore esperando por uma presa desatenta.
            Ao minimo vacilo e  cran, mais uma vitima da ação macabra desses bichos
traiçoeiros.
                         E a proposição desses  CCR é a esterilização literalmente do mundo,
pois a visão deles é engenhosa e ao mesmo tempo reveladora  :  sem bichos não
haverá doenças.
                             Não é que as grandes ideias são sempre muito simples ?

             Estão agora reunidos no país sede dessa grande organização tentando descobrir um insetecida potente o suficiente, desses que se usa para matar mosquitos
e baratas, em forma de sprai ( modernos e mais faceis de aplicar ), para acabar com a
raça deles. E a partir dai, tchau doenças.
( à medida que meu amigo ia relatando os fatos, pessoas que passavam, algumas pararam para saber de tamanha hilaridade do contador da historia. Muitas vezes,
já deve ter acontecido contigo tambem, a gente cai na gargalhada pela gargalhada
estripitosa de quem acabou de ouvir uma boa piada. Gargalhada é isso, contagia )

              Me falou tambem de um outro grupo ( dos mesmos CCR ) que está em busca
de uma luz diferente, mais moderna, uma super luz, em que não haja mais a
necessidade de dois polos para ser gerada.
                   Dizem que os dois polos  geram uma diferença de potencial, e a
polaridade oposta é causadora conflitos.  Dizem que já há violencia demais no mundo.
E concluiram sabiamente : um elefantinho faz menos barulho que dois.

               Há tambem a turma dos que se debruçam arduamente estudando os imãs.
Esses tambem estão em busca de um super imã eliminando um dos dois polos. Se
chamaria imã Monopolo ( o nome até que combina ).
     E seu argumento é muito simples ( a sabedoria é sempre simples ). Dizem eles :
  "que bobagem é essa de dois polos. Simplifiquemos, e que o excesso vá para o lixo !"
     
            Assinado  :  comissão de frente

     Estão apenas esperando a autorização do Conselho dos Magistrados Magneticos
para transformar todos os imãs do mundo em Monopolos. Genial !

                    E os cientistas biologos, esses um pouco mais radicais, tambem estão achando um exagero a flor ser bela e perfumada ao mesmo tempo. Algo está sobrando,
dizem eles, talvez não sem menos razão que seus colegas das outras areas da ciencia.
   Estão tambem em busca da simplificação. A unica duvida atroz que os angustia, é
saber qual dos dois elementos a ser eliminado : a beleza ou o perfume.
    Estão se reunindo periodicamente em  congressos globais para debater essa importante pauta. Há até onganizações governamentais e não governamenmtais dando
todo apoio ( monetario ) e incentivo ( moral )  para pesquisa de tamanha importancia.

                  Entretanto o estudo mais inusitado e revolucionario desses cientistas tão preocupados com o bem estar do povo, diz respeito à tentativa de neutralização de um dos polos terrestres. Isso mesmo, os polos da Terra ! Dizem eles que tem fortes indicios cientificos, geologicos e eclesiasticos de que toda a confusão reinante nesse
nosso belo planeta se deve ã Terra ter dois polos. Dizem que o numero dois é por
essencia o numero do conflito. Onde há dois, há barulho, dizem eles.

            Então novamente a grande ideia da simplificação. Apenas uma duvida : será
o polo sul ou o polo norte que tem de ir para a latinha do lixo ?!
Essa duvida resolvida, todos os problemas do mundo terão sido solucionados.

       Gente, não é simples ?

               E que seria de nós sem essa turma maravilhosa dos CCR !

                             A turma que se formou ao redor da gente enquanto Ghi Belique
fazia sua narrativa, foi uma coida bonita de se ver. Parecia palanque de
politico, só que ao inves da seriedade do discurso do politico  ( porque todo
politico tem essa cara de serio e honesto ? ) , a fala do amigo arrancava gargalhada
até do mais serio e ponderado dos ouvintes.

             Enquanto a turma dos CCR trabalha serio, nois aqui se divertimo às pampa !...


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

FOLHAS CAIDAS

                          A importancia está  toda nesse momento. Nào há momento mais importante.
  Quando há algo importante acontecendo, direcionamos toda
 atenção para esse evento. Não é assim ?
     Se  não houver interesse para o que está aí, a atenção será desviada para algo mais
interessante. Ela será desviada para a mente, ou melhor, a mente irá requisitá-la,
transformando-a em falatorio na cabeça. Consegue ouvir a cabeça falando enquanto
está falando com alguem ? Se consegue ouvir, a atenção foi novamente chamada para
esse instante, devolvendo-lhe sua importancia.
           
             A atenção ativa e consciente imobiliza momentaneamente a mente, ficando a
pessoa livre, nesse intervalo, do fluxo incessante e ruidoso dentro da cabeça,
bloqueando exatamente isso que buscamos atraves do pensamento ( paz, alegria,
sossego e essa revigorante sensação de bem estar e liberdade ). O que perdemos com
a desatenção, tentamos resgatar atraves de um estado desatento.

                 O pensamento tem por função organizar a pauta da nossa agenda. Se for usado para
organizar nosso mundo interno, esse engano trará dolorosas consequencias. E mais, a
pessoa não terá noção da causa do seu sofrimento.
     O pensamento usado numa função que não lhe cabe, é, sem duvida, a grande causa
de confusão na vida das pessoas.
                       Se não priorizarmos esse momento atraves da atenção calma e
silenciosa, ele perderá sua importancia e, desse modo, seremos deslocados para um
outro tempo, para um espaço virtual, que será tomado enganosamente como
sendo real.
                           O que sustenta a importancia das coisas de cada momento, é sempre
a atenção.
                              A moça fotografando as garças negras do mar. E ante a imagem da
moça fotografando o bando das garças negras, fiquei refletindo sobre a importancia
das imagens congeladas das coisas desse momento,  nos filmes das maquinas fotograficas.

               A fotografia é uma tentativa de captar algum evento, desse momento, para apreciá-lo num outro tempo, já que não houve tempo agora para fazê-lo com precisão.
   Apreciar é um verbo do tempo presente. Registrar em imagem congelada
algo que chamou momentaneamente a atenção, de um modo superficial, para
apreciá-lo num outro momento, significa olhar para ele outra vez no futuro, e então
sim, prestar-lhe a devida atenção e o adequado apreço.

                       O fato foi capturado e aprisionado pela lente, como
clicar a tecla do pause e parar o tempo, num modo de descanso de tela. A imagem
fica num movimento monotono, desconectada de todo  o contexto dentro do qual
se originou. Uma imagem em suspensão, aleatoria, isolada, fria, sem vida.

         E quando olhar novamente para a moldura, para aquele sorriso, para o rosto
festivo, para aquele momento de alegria e descontração, talvez a alegria de então
tenha se transformado num misto de triste satisfação por um momento que foi bom
mas que não foi vivido e  apreciado como poderia e deveria ter sido.
   O sorriso era lindo, o rosto era festivo, mas o amor daquele tempo - que foi que
aconteceu com ele ? Por onde andará esse rosto que tinha esse  sorriso tão lindo ?
Ainda consegue sorrir daquele modo, ou tambem se perdeu por caminhos estranhos
numa rua sem saida ?
                                      Ontem foi bom mas não o suficiente para que pudesse tê-lo
retido na alma ao inves de simplesmente clicá-lo numa imagem, supondo que esse
registro pudesse mantê-lo vivo para sempre. A unica coisa para sempre é esse instante
que não pode ser capturado por maquina alguma ou por algum artificio qualquer.

                 O poeta já nos alertou faz tempo, que  no ninho do ano passado,
 não há filhotes esse ano.

A alegria quando pensada se transforma em ideia, em foto. A vivencia que
não for acolhida internamente, simplesmente passa sem ter sido notada, ou então
transformada em imagem de album, guardado num canto e tambem logo esquecida.

                    Guardar momentos em forma de imagem para recordá-los e revivê-los
num outro momento, me passa a imagem de um caixão. O cara está aí, mas está
morto. E qual a importancia dessa presença já que não está mais presente ?
           Imagem morta de um tempo feliz.

                         Saudade  -   sentimento em que queremos reviver um tempo que não foi vivido,
 pois se tivesse sido, do que se queixar e porque a tristeza ?
Olhamos para tras porque ESSE momento é pobre, confuso, sem alegria.  Tentamos nos amparar no passado para preencher o vazio desse momento rico.
   Cada momento é completo em si mesmo. Buscar no passado ou no futuro um amparo para esse momento, com certeza nosso mapa necessita ser revisto.

                Se não houver continente, o conteudo tambem será perdido, mesmo que fique armazenado em arquivos ou guardado em volumosos albuns.Não passará de uma
imagem holografica, algo sem vida, sem realidade. Assim como a vida de quem
está suspenso dentro do tempo, apenas lembrando ou então prevendo, mas sempre
pensando  -  muito e muito.
                               
                 Reviver  -   tentar viver outra vez atraves de imagens frias, silenciosas e
muitas vezes já amareladas. O tempo amarelando o que não foi vivido a seu devido tempo.
                       Folhas caidas  não retornam aos seus galhos. Mas sempre há folhas
verdes balançando ao vento, louvando a vida.

                  Espiar a vida atraves de uma lente, é servir-se de tão pouco da mesa tão farta.

       Depois a volta. A caminhada foi revigorante.  É quando o cansaço do corpo
alivia o espirito.

                     O mar e o seu rugido. Crianças brincando. Uma pandorga imensa em
forma de borboleta bailando no ar. As garças negras já não estavam mais aí, nem
a moça com sua maquininha magica.
     Algumas coisas permanecem, outras somem para sempre, mas o momento
não se esvazia nunca. Assim como as aguas do rio. As aguas passam mas o
rio permanece.
                                É como no filme. Os cenarios mudam, as cenas passam,
mas a historia continua.



                    


                      

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O CANTO DA CARUIRA

             Terça feira de carnaval. O sol surgindo festivo dentro do mar ( por onde anda o sol à noite para ele nascer, todas as manhãs, vindo do mar ? ).
          O mar servindo de espelho para o sol poder apreciar-se. Os raios que se refletem
proporcionam um espetaculo de cores, de brilho e luz que estende por toda a superficie
até perder de vista. É o espreguiçar do sol anunciando o nascer de mais um dia.
                   Enquanto me integro a esse cenario sagrado, atento ao movimento silencioso  da vida acontecendo, aí me pergunto qual o verdadeiro significado de estar atento.

       A palavra  "atenção" não consegue dar a medida justa  do verdadeiro significado  
da dimensão que ela expressa .Livrar-se da necessidade da busca de uma imagem
centrada em fatos e acontecimentos e, à seguir, tendo cuidados em proteger e realçar
essa imagem.
Livrar-se da importancia que normalmente damos às coisas.  A seriedade, o peso.
O momento será então visto dentro de uma nova perspectiva. Conseguiremos captar
a alegria e a beleza envolvidas em cada evento, resignificando o conteudo daquilo
que cada momento nos traz.
                                                    Olhar sem interpretar. Apenas sentir, notar, saber que está aí. Olhar sem julgar. Apenas ver, dar-se conta que aquilo está aí, do seu jeito, sem
ter que estar de um modo diferente, ou ser diferente.
Olhar sem criticar. Apenas olhar como quem aprecia, sem se distrair ( trair-se ) com
a falação da cabeça.
Estar aí com aquilo que está aí. Perceber. Estar junto. Estar com ( com -  junto ).

               Muitas palavras tentando encontrar o verdadeiro sentido e significado desse
estado atento, feito de silencio, de harmonia, de paz.
Mas como falar do silencio se a propria palavra faz barulho ? O pensamento não
consegue captar o espaço vazio criado pelo silencio do estado de atenção.

                A gente apenas consegue perceber seu verdadeiro significado pelos
efeitos produzidos no nosso campo de energia. Efeito curativo e regenerador.
Harmonia e paz. Vibração em outros niveis de frequencia. A dimensão do sagrado
sendo revelada.
O mesmo espaço onde habita a beleza. A beleza percebida atraves da atenção
silenciosa ( mente silenciosa ).

                  Processo onde a pessoa se religa em si mesma, nesse nivel mais
profundo onde se supera  a sensação de separação imposta por ideias e conceitos.

                     A atenção é talvez a estrutura  mais importante da consciencia
humana, pois é atraves dela que teremos acesso ao verdadeiramente humano em cada
um de nós. Sem ela seremos apenas como simples programas automatizados pelos
condicionamentos e crenças do passado e talvez até da genetica.
O tal do livre arbitrio fica sendo simples imagem de retorica. Que livre arbitrio pode
ter uma pessoa completamente engessada por ideias preconcebidas ?

                                    A verdadeira liberdade está para além de conceitos e de ideias.
O pensamento estrutura uma matriz, um pequeno espaço vital dentro do qual se
movimenta com muita dificuldade. Não há muito para onde ir, porque as paredes
proximas, como muros altos, impõe limites estreitos e extremamente desconfortaveis.

                Sofrimento é isso. A perda da liberdade para viver a vida disponivel. 
O grandioso tendo que se ajustar ao que é pequeno. A mesa farta com  prato vazio.

                    Aí a doença, a falta de tanta coisa, conflitos, perdido num mundo de
problemas sem soluções à vista. Não é sem razão que tantos falam, tratar-se a
vida de um verdadeiro inferno.Mas é tambem verdade que a panela de pressão tem
sua valvula de escape.

             Cansado de procurar saidas pelo pensamento, pensando nisso ou naquilo
para se libertar do sofrimento e de tantas enrascadas, obstaculos de toda ordem
e magnitude, que tal  sair da mente atraves da observação atenta, calma, silenciosa e
assertiva da caruira que canta, da flor que balança suavemente de um lado para o outro
sem se importar se é vento do norte ou do sul, de perceber, de notar a disposição e a
alegria do seu cãozinho sempre festivo, sempre faceiro, sempre disposto.

                  A disposição vem desse estado interno, onde o que conta é esse momento.
Afinal, existe outro momento para a alegria a não ser  agora ?

         Se esperar para ser alegre depois, voce sabe como chegar a ele ? Sabe onde fica essa coisa chamada depois ?

                        O depois é apenas uma ideia, um pensamento, uma fantasia, uma
miragem. Não se guie por miragens, é o mesmo que seguir mapas cujas linhas
se movem continuamente.

           A caruira canta.... consegue ouvir quando a caruira canta ?


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

QUANDO A CARA É A CARA DA PESSOA

                   Meu amigo espirituoso falando para um companheiro de balada,
explicando seu estilo pegador.  " Para ver se vale a pena, olho primeiro para o rosto,
porque é muito dificil que o rosto não seja a cara da cara ".

           O rosto é revelador. O olhar do bandido não será o mesmo  da pessoa decente.
Não há como simular ou como esconder.

              É verdade que não podemos ter conhecimento do que vai por dentro. Suas intenções, seus malabarismos mentais, suas reais motivações. Esse conteudo é inacessivel à primeira vista, quando se olha apenas de relance, apressadamente.

              Entretanto, não há segredos que possam ser guardados e que resistam a um
olhar mais apurado e mais atento.

        Se no macro a coisa parece indecifravel e de leitura confusa, o micro é regido pelas  mesmas leis, pelo mesmo movimento.
O de cima e o de baixo são a expressão da mesma realidade apenas de dimensões
diferentes. O grande em cima e o pequeno em baixo, mas de natureza analoga.
O todo no grande assim como no pequeno.  A expressão do holograma.

               Desse modo, não há como esconder-se dos segredos e dos conteudos
tão sigilosamente guardados em tantos cofrinhos mentais.
O de fora sempre denuncia o de dentro. Sempre haverá o momento do flagrante
delito..
                      E a estrutura interna sempre se organiza a partir da energia psiquica,
cuja polaridade é constituida pelo mundo conceitual do pensamento e do mundo
interno da consciencia. Dos condicionamentos que nos identificam, e do silencio
da percepção calma.
                                          É essa polaridade que irá constituir o espectro, os limites
dentro do qual a realidade irá se organizar.
Familia, trabalho, saude, dinheiro - tudo irá tomar forma dependendo da localização dentro desse espectro.
                                           Poderá estar mais à esquerda ( pensar ), ou mais à
direita ( sentir, perceber ). Sequestrado pela banda da esquerda, estará sob o efeito
de conceitos mentais condicionantes, crenças que estruturam e imobilizam,
engessando a consciencia, impossibilitando o crescimento e a expressão de toda
a potencialidade disponivel.
                                               E o que não se move, degenera, fossiliza, engorda,
enfeia e produz odor desagradavel. E essa desgracez toda se agrava à medida que
se aproxima cada vez mais do polo sinistro ( da esquerda ).

                    No centro do espectro existe e equilibrio. Precisamos do pensamento para organizar nossa vida, para dar conta das nossas contas. Todavia, a função do
pensamento pára aí.
                                     Usar o pensamento para apreciar, para perceber, para sentir,
é conferir-lhe uma função que não lhe pertence. E pior, isso nos distancia cada vez
mais da polaridade oposta.
                                               O pensamento capta a forma, o visivel externamente.
Não será capaz de captar a essencia,  fazer a conexão entre o visivel e o essencial.
Percebe as linhas, as cores, o textual, mas não o sagrado que a forma manifesta.
E quando percebe esse sagrado na forma, manifesto na beleza de tudo que há,
irá se dar conta, aos poucos, que é tambem constituido da mesma  coisa, da mesma
essencia.
                              O que determina o visivel, não é visivel, e não pode ser captado
pelo pensamento. E se isso não for percebido ao olhar, não terá visto nada. Terá olhado
apenas  para a caixa , mas não para o presente nela contido

                               Por sua vez, se a pessoa estiver perdida na faixa da direita,
centrada apenas no mundo interior da consciencia, terá problema da mesma forma
de quem estiver perdido no mundo dos conceito condicionantes e das crenças paralizantes. Temos compromisso com o mundo das coisas.

                 Então, nem só Deus, nem só o demonio. No nosso altar tem de figurar
a imagem tanto de um, quanto do outro. Sagrado e profano não opostos irreconciliaveis. Rezando para ambos, teremos a benção dos dois ( calma, gente,
não tenho culpa da vida ser regida, em todos os contextos, sempre, pela lei da
polaridade !....) .
                                 O santo não é santo por não ter pecados. Ele apenas esconde,
reprime, resiste a um limite deshumano. E faz isso porque tem medo. Medo de
olhar para os seus pecados, para os seus monstrinhos internos e reconhecê-los como
sendo seus, fazendo parte da sua natureza.  Encontrar o capetinha sentado no seu altar
ao lado de todas as suas divindades. Passa a vida exorcisando o que é impossivel de
exorcisar. Assim como na medicina, quando se tenta destruir as bacterias, vistas
como a causa original de quase todas as doenças. Quando a lei da polaridade não é
contemplada, criam-se monstros onde não exsite nada.

              A massa da qual somos feitos, não é constituida apenas de luz. E voce saberá
disso na sua trsiteza, no terror de quando  encontrar o aviso de "rua sem saida", no
desengano na doença e no desengano no amor.
A porção de luz da qual somos constituidos somente irá brilhar se conseguirmos nos
libetrtar do movimento à esquerda ( sinistro ) do espectro da consciencia.
É sse o lado obscuro da luz. O nosso lado macabro que condiciona a realidade, o
gerador de um mundo de sofrimento e de medo.

                   Entretanto, onde há luz, sempre haverá sombra. Não são excludentes
mas complementares. Se completam, se complementam.

                        O pensamento é importante, do mesmo modo, o mundo interior
da percepção calma , atenta e assertiva.
            E na presença dessa percepção, o pensamento se qualifica, dando-lhe um
poder que de outra forma não conseguiria alcançar.

                     E se olhar, até sem muita atenção, terá a noção da tribo que está à
esquerda, em contraste com os que estão à direita, e os centrados no meio.

            Ghi Belique falou que é muito dificil que o rosto não seja a cara da cara....

               
                 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A BELEZA COMO EXPRESSÀO DO SAGRADO


                            Será que o cãozinho tem nocão da sua graça, do seu encanto, da sua fofura ?
                         A beleza dos elemento  -  não seria talvez o sagrado tomando forma e
se manifestando atraves da beleza ? O sagrado tornado visivel ?

Seja na flor, no passarinho, na arvore frondosa ou no simples arbusto, a beleza se manifestando em todos os cantos, num contraste de cores, de tons ,como uma sinfonia, em que as notas correm celeres atraves dos dedos ageis do artista, ora subindo, ora
descendo, mas todas perfeitamente conectadas ao fio invisivel do tema musical.

São individuais, as notas, mas fazem parte de algo que é unico. São diferentes uma das outras, mas não são separadas. Não tem necessidade de se afirmarem, criando uma imagem de si mesmas, e depois se preocupando em proteger essa imagem.

        As notas não destoam exatamente por isso, pois cada uma na sua pauta, correndo livremente no seu espaço, dançando todas a mesma sinfonia, produzindo um movimento que é a expressão da beleza, desse sagrado transformado em melodia.
E é por isso que nos toca, fazendo eco no equivalente da gente.
              A lei que rege o movimento musical, não é diferente da lei que rege  em nós o  movimento da vida, querendo tambem bailar.

       Geralmente destoamos porque nos tornamos notas isoladas, desconectadas desse fio invisivel unificador. Nos tornamos "eu", onde só há espaço para  "nós" .
O "eu"  fará parte do "nós",  apenas se desfizer a imagem atraves da qual se cria uma
identidade, uma noção equivocada daquilo que se é.
E nesse vazio, deixado pela identificação dessa imagem ilusoria, que irá sobressair
algo real e verdadeiro :  "nós" .
          O "nós" se manifesta na ausencia dessa imagem auto-centrada, estrutura que nos
identifica e na qual nos projetamos. E será dentro dessa estrutura que iremos cria nossa
realidade de vida, elaborada, portanto, por algo irreal, algo fantasioso.

                  O sujeito, quando se comporta estranhamente, latindo, levantando a perna
ante qualquer objeto na vertival, é porque está sob o efeito de uma hipnose, um
encantamento. Está possuido por um "mau espirito".
Perdeu sua lucidez de ser humano, seu julgamento, sua liberdade.Submetido a um
comando canino, identificando-se como tal. Mas o louco disso, é que não poderá
fazer parte de uma matilha, não será aceito pelos cães, apesar de se parecer com
um deles. Se parece com eles, mas não é um deles. Eles comentarão entre si  : "nós não
somos assim".

                          Aí está. Quando queremos ser diferentes, vivendo uma imagem,
uma caracterização, não faremos mais parte da nossa matilha, daquilo que somos.
        O "nós" é isso, identificados com a matilha, mas sem perder a individualidade,
isto é, a realidade daquilo que somos.

                  Todos os numeros necessariamente contem a unidade. São todos diferentes
mas feitos da mesma coisa. O dois é diferente do tres, mas aquilo que os faz serem diferentes, é igual para todos.
O diferente se cria a partir do que é igual. As notas musicais são diferentes individualmente, mas iguais entre si. São notas musicais não querendo ser outra coisa.
Um dó sustenido maior nunca se imaginou sendo uma rosa. Mesmo que se imaginasse uma rosa, não seria uma rosa. Mas por ter-se identificado com uma, se projetaria nela,
acreditando ser.  Um dó sustenido maior, que se acredita sendo uma rosa, não poderia
participar de uma sinfonia. Não é mesmo ?
Ao inves de produzir um som, estaria fazendo uma força danada para exalau um perfume. Nada contrario ao perfume, mas vindo de um dó sustenido maior, aí tambem
já é demais.

                       O cãozinho fofo não tem noção da sua fofura, do seu encanto, da sua
magia. Assim como a flor com sua beleza, com seu perfume, o canto  suave do
tico-tico ao final da tarde, sentado num galho seco, no alto de um arbusto.
   A vida é orquestrada dentro de uma estrutura de perfeição, onde a beleza de linhas e curvas se harmonizam na grande sinfonia do bailado das formas.

            Será que a beleza sabe da sua beleza ? Tem ideia que é o veiculo para a
expressão do sagrado, do misterio, do magestoso invisivel ?

         E nós por acaso temos essa noção ?
Nós pensamos. Usamos o mudo conceitual das ideias, dos condicionamentos, em
detrimento da pura percepção e do silencio interior.
            
                   Pensamos a beleza ao inves de senti-la.

      O pensamento organiza nossa agenda, mas é incapaz de apreciar o canto do
tico-tico.  O pensamento quer conhecer, identificar, avaliar, medir. Não é da
estrutura do pensamento apreciar, se encantar, perceber, sentir.

              Assim como a flor, o passarinho e a arvore, nós tambem, no mais das vezes,
 não temos  noção daquilo que somos.

                       Quando foi a a ultima vez que urinou na perna de uma mesa, no pé
de uma porta ou na cara de alguem ?

                   Tem certeza que não é aquilo ?

   Se não é, ao menos tem ideia do que possa ser ?
  

















sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A GRANDE NOTICIA


                           Ghibe Lique quando me encontra, me puxando para um lado, com
cara de serio, chegando pertinho, com fala pausada, timbre mais grave, 
tom mais baixo, como quem passa um segredo, uma informação sigilosa - eu  sei
que aí vem coisa. Algo bombastico está prester a sair da sua boca nem sempre
cuidada.
                  Espirituoso, apesar de moleque, possui um olhar aguçado, apesar de
despretencioso, como quem não quer nada, sobre o " teatro da vida "  ( suas palavras ).

                          Não quero salvar o mundo, me falou certa vez. Quero apenas viver e
contar o que vejo. Além do mais, continuou, o mundo não é salvavel. É perfeito do jeito
que está. O  possivel, é a gente se modificar um pouco dentro dele.
Aí soltou o verbo : voce quer salvar o mundo, mas não consegue parar de fumar !
Fume, diz ele, fume quanto quiser, mas pare de encher o saco do mundo !
Quando atingir a perfeição que exige do mundo, então verá  que o mundo é perfeito.

               Aí ele dá aquela batidinha nas costas, gargalhando à toa, como quem acabou de ouvir a ultima piada do papagaio, e se manda faceiro. Sua risada ainda é ouvida,
mesmo já longe, e quem o visse daquele jeito, não teria a minima duvida, tratar-se de
mais um biruta rindo à toa  ( quando se tem motivo para o riso, geralmente a
preocupação retorna ligeirinho ).

                       E o encontro, dessa vez, diz respeito a uma importante noticia, veiculada, diz ele, mas  não sabe por qual orgão de comunicação, nem se foi
realmente informada.
Maluco é assim mesmo ! A noticia é importante, mas não sabe a fonte, e pior, nem
sabe, ao certo, se ouviu. Desse modo, a noticia que irá passar, poderá nem ter sido
noticia. Entendeu ? Nem eu...
         Mesmo assim, tentarei passar  a tal da noticia importante, que talvez nem seja
noticia . Mas, vinda dele, quem sabe, haja algum coelho nessa toca.

            Vamos nessa ?
                                         Os oftalmologistas descobriram um novo e surpreendente
defeito de visão. E logo o chamaram "o efeito unidirecional".

         Seria um tipo particular e muito estranha de visão, em que o paciente tem sua
percepção visual direcionada  num unico sentido.
E há uma serie de particularidades muito estranhas, envolvendo esse estranho defeito.

             Uma das caracteristicas mais malucas é sua unidirecionalidade, e por ser
uma visão analogica .
Unidirecional  -  somente do sujeito para o objeto. Sempre nesse sentido. Há exceções,
dizem, mas raras.  Talvez, apenas para confirmar a regra !

Analogico   -  propriedade especial em que o paciente vê no objeto, ou o objeto em si,
não  pelo que está  vendo, mas pelo modo como ele se vê, sem contudo
ter essa percepção.
     Eu sei que parece doidera, mas é isso que os cientistas mais avançados da visão
humana, estão descobrindo. É evidente que eles ainda não tem ainda uma explicação cientifica para o fato.  Por enquanto, apenas sabem que é assim.

                  Então, o que o paciente vê, está correlacionado com ele proprio. Desse
modo, sua visão  é dependente. Nào é uma visão real, pois o objeto é percebido
atraves, como se fosse um filtro. E mais, esse filtro não é uniforme, isto é, não é o
mesmo para todos. O que tambem é uma grande incognita para os cientistas.

               Assim, diversos pacientes olhando para o mesmo objeto, não verão todos,
ou quase nenhum, o mesmo objeto. Nào haverá conformidade quanto a realidade do
que está sendo observado.
                                                     Cada um vê a coisa a seu modo, em função do seu
filtro. A realidade não é percebida  é apenas a realidade de cada um.
O olho vê, mas a visão que ele determinada, estará condicionada a esse elemento
estranho, a esse filtro que faz ver algo que não está aí.
Então, isso que vê do que vê, o que é ?

                   Os cientistas perceberam que o olho apenas reconhece no objeto , aquilo
que é reconhecido como  proprio dele..
A natureza do que se vê, será determinado por algo pessoal.

                   Os estudiosos ainda não sabem se a doença tem possibilidade de cura.
Já tentaram a cirurgia, o transplante, laiser, lentes corretivas, tampões e toda ordem
de tentativas. Nada funcionou. E o que mais chamou atenção, foi o de um paciente
que, mesmo transplantado, o olho continou com o mesmo filtro do olho anterior.

                          A pergunta que mais confunde  :  porque só recentemente os cientistas
se deram conta de tamanha anomalia visual ?

                     Não será, quem sabe, por ter sido pela primeira vez , que os pesquisadores olharam, não apenas para os olhos que veem , mas para aquilo que realmente faz os olhos verem ?

                               Quando o olho não está mais desconectado com QUEM vê,
aquilo que é visto, não estará mais desconectado com aquilo que é.

         Essa é a ultima conclusão a que chegaram os sabios cientistas, relacionado
a essa estranha visão, que olha para fora, e , tudo o que vê, é sempre visto num
espelho.

                             O paciente olha para fora,  mas curiosamente sempre acaba
se vendo.

                              O que voce vê, quando olha para os outros ? ! ....







  



                     

                                 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O LIRIO DO CAMPO

            
                               Os bichinhos são esquisitos. Descoloridos, corpinho pequeno e extremamente ageis. Frente à visão de alguem, num piscar de olhos, desaparecem num
orificio, estrategicamente cavado, antes de se aventurarem na superficie.
A praia está cheia deles. Voce sabe como se chamam ?

                Percebeu o que fazem, quando se sentem ameaçados ? Eles vão para dentro.
A segurança está dentro.
                                          Recolher-se. Recolhecer-se para dentro de casa, da toca ou de
si mesmo. A superficie não é segura. Ela tem os seus encantos, prazeres de toda ordem,
a sua luminosidade e tantas coisas para fazer. Mas quando se trata de proteção, o negocio é se entocar.
                             Apesar do movimento para dentro ser o movimento natural, instintivo de proteção, mas quando focado para fora, ser de superficie,  esse reflexo, por falta de uso, aos poucos, perderá sua função.
E é desse modo que se cria a necessidade das coisas. Precisamos das coisas para nos sentirmos seguros A toca de proteção se transformou em toca de superficie ( toca de
superficie ? ). Se não for possivel cavar uma toca em cima, a toca virtual que
cavamos, não poderá nos proporcionar o que buscamos nela.

                  As coisas não foram feitas para desempenhar a função de guarda-costa.
Não é da natureza delas. Iremos usufruir do que o mundo tem para nos oferecer.
Iremos brincar, iremos nos divertir, tanta coisa  para aproveitar. Há a beleza das
formas para se encantar, o encontro, o abraço, as conquistas.

            Mas há tambem o sofrimento, a contração da energia, o retraimento provocado pelo medo, as angustias geradas pela busca sem fim de tanta coisa.
Se a gente for aprofundar-se um pouco, ficaremos com a impressão que o mau estar da feriferia, não é algo inerente à periferia, mas uma consequencia de como lidamos com
seus brinquedinhos, a função de segurança que lhes conferimos.
            Dito de outro modo  :  buscamos no mundo o que o mundo não pode dar.
Ele nos oferece esse espaço sem fim, a distração, a descontração, a brincadeira de toda forma com todas as formas existentes. As possibilidades são infindas.

                   Veja os cachorrinhos quando despertam. O parque de diversões já abre
suas portas bem cedo. Levantam se mordiscando, rolando um por cima do outro,
correndo, fazendo barulho, felizes, alegres. E não há stress em seu dia a dia. Quando se cansam, deitam num cantinho para refazer as energias, mas logo já estão de volta
com sua algazarra e vibração.
                                                    O que chama atenção, é que precisam de tão pouco
para serem tão felizes e encantadores. Nunca estão ressentidos, magoados, mesmo,
apos uma arte, serem repreendidos com um xingão. Sem culpa. Esquecem logo.
Aquilo já passou. Agora é outro momento, momento de brincar, de ser feliz.

                       O que foi que aconteceu com nosso cachorrinho interno, com nossa faceirice, nossa alegria e descontração ?
A necessidade de brincar, foi substituida pela necessidade de acumular.
Acumular para ter segurança. Vendemos a vida pelas coisas do mundo, por um sentimento fugaz de segurança.
                                                       O cãozinho não se sente inseguro, porque não busca segurança em nada. Não precisa de nada para estar seguro. Não é genial ?

                   Já se deu conta que a cruz é o encontro da horizontal com a vertical ?  A
cruz é o simbolo da redenção. É atraves dela que alçamos outros niveis de ordem
dentro de nós. A cruz salva, porque nos põe em contato com nossa verticalidade, com
nosso mundo interior.
                                       Aprisionado no superficial das coisas da superficie, por mais firmes que sejam as muralhas que ergueste como proteção, não te sentirás protegido.
Continuamos indefinidamente reforçando os muros, com mais sentinelas, com mais
munição.
                         Quando a segurança não for mais buscada nas nossas conquistas, nas
coisas, nosso cachorrinho interno, finalmente terá se livrado do seu cativeiro, amarrado
a uma corrente. E ficará feliz correndo e pulando por esse mundo sem fim, assim
como o passarinho, tambem, recem libertado da sua gaiola.

                                Sem problema com a superficie e com todo seu conteudo, que
é maravilhoso e divino. O problema surge quando conferimos função a algo que
não tem essa função.
                                         A realização pessoal não se fará, por apenas realizar-se no mundo da forma. Sofrimento é isso,  a necessidade da forma, da conquista como
forma de superação e segurança. Em verdade não há necessidade de nada para nos
sentirmos protegidos. Contudo, não há problema algum em ir para o mundo,
empreender, realizar, conquistar. O problema surge, e o sofrimento tambem, quando
projetamos nossa segurança nas nossas conquistas. Desse modo, nos identificaremos
com as coisas e não com o que somos. E isso é um profundo engano.

                    Vamos para o mundo como quem vai a um passeio. Mas o retorno
é necessario. É assim que se volta para casa.
E se buscamos repouso fora, não teremos descanso.

                    O medo, o desejo, a busca e a necessidade são construções mentais,
quando se faz da superficie a morada definitiva.
Isso que a cabeça nos fala não é real, apesar de poder se transformar em realidade.

            O cãocinho não tem desejo porque não tem medo de não ter.

                      E é por isso que o lirio do campo se veste com pompa
e magestade



                        

                    



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ORAÇÀO AOS FILHOS

                   Cinamomo frondoso. Um banquinho de madeira. A aragem fresquinha
do final de tarde, e um olhar.
             
            Um olhar parado, olhando para o nada, assim como quem olha em busca
de respostas, de respostas, quem sabe, improvaveis, mas imprescendiveis para
seguir em frente.
                                      "Beco sem saida" !  Quando se chega lá, qual a saida ?

                              A relação entre eles, havia tempo, já se tinha desgastado quase no
limite. O filho insatisfeito, o pai incompreendido.  Conflito de gerações ?  Necessidades
conflitantes ?  Carencias (  mutuas ? ) não elaboradas ?

                       Em que momento o caminho se  desfez ?  Agora caminhos opostos
e visões  desencontradas.  Antes juntos e agora essa distancia intransponivel.

               Sentado no banquinho de madeira, sob o grande cinamomo, imaginou-se,
sentado diante do filho, talvez no mesmo banco, falando palavras não ditas, quebrando
o silencio que gerou, quem sabe, os descaminhos, o sofrimento.

               Imaginou-se  falando....(  sentiu a dificuldade, mesmo imaginando )

         "Meu filho, sei que está chateado há tempo, e tudo é motivo para se
indispor comigo. As coisas que faço ou deixo de fazer, o que digo ou deixo de dizer,
o olhar é sempre de desaprovação e de critica.
       Nem sempre o que ouvimos ou recebemos, é do nosso agrado, meu filho, e
nem sempre preenche nossas expectativas.  Diante disso, ou nos indispomos
( o que é sempre  o mais facil ), ou então compreendemos. Compreendemos que
cada um tem suas limitações e dificuldades.
      E, se olhar com atenção, irá perceber que, no mais das vezes, julgamos mais em função das nossas carencias pessoais, pelo que imaginamos que o outro deveria ter
feito e não fez.
                               O amor que o outro nos tem, não pode ser medido pelo tamanho
do buraco da nossa carencia existencial.
Afinal, quase nunca somos tratados como gostariamos. E o que vem,  quase nunca
consegue preencher esse vazio de nós mesmos. Essa é a causa principal do nosso
ressentimento para com os outros (  " voce diz que me ama, mas não faz as coisas
que quero " ), e o desencanto no relacionamento entre pais e filhos.

                     Meu filho querido , crescer sempre é doloroso, sejamos jovens ou velhos.
Sempre haverá quem se queixe da gente, e a gente tambem sempre terá de quem se
queixar. O dia em que aquilo que vier, seja critica ou elogio, já não perturbar,
teremos saido do ninho, andando com os proprios pés. E será um dia de gloria !
  Bem sei que isso é para poucos.  E não é sem motivo tanto sofrimento, tanta magoa,
ressentimento, critica nos nossos relacionamentos.
                  Contudo isso tambem tem sua função. O milho só se torna pipoca mediante
a pressão e o calor do fogo. Mesmo assim, haverá grãos que não irão pipocar.
 Piruá é isso, quando o grãozinho continuar apenas grão de milho.
E o piruá sempre irá para o lixo. O que não cumpre com sua função, sempre
será descartado.

                           Quando exigimos algo do outro para estarmos bem, com certeza
há algo em nós que não está bem. O amor que o outro nos tem, não é medido
por esses parametros, isto é, pelo quanto pode nos dar.
      
                Amor-necessidade não é amor. O amor não exige, não condiciona, nem
é condicionavel.
                              Que exigencia faz a bergamotinha à planta, para que possa se desenvolver ? A planta faz a sua parte, e a frutinha fará a sua. Sem ranço, sem
queixas nem  lamentos.

                           Já ouviu, por acaso, uma bergamotinha ressentida, por um motivo ou outro, com a bergamoteira ?
A arvore faz as coisas dela. A fruta fará as suas. E tudo fica bem.
                   Ordem e paz no pomar !

         Meu filho, não me queira mal pelo teu mau estar. Isso não te fará bem , nem
a mim. Mas tambem sei que longo é o caminho dos que se amam, para que
possam se amar de verdade.  Para que possam se encontrar. Se aceitar.
 Compreender. Perdoar.
                   Sabendo disso, já é algo. Mesmo assim, continuaremos nos criticando,
mas talvez com critica menos ferina, menos pontuda. Uma critica já não levada tão a serio, que  não  decepcione nem machuque tanto.

        Desse modo, como a bergamotinha, iremos tambem crescendo aos poucos,
mas sem nunca perder de vista o piruá. Sempre cuidado com o piruá !

                Meu filho querido, mesmo parecendo estranho que te diga , mas continuo
te amando, já crescido desse jeito, do mesmo modo quando era bem pequeno,
quando me chamava de "papai ", e eu dizia "meu filhinho ".

           Fomos felizes naquele tempo, não fomos ? Continuamos ainda filho e
papai. E a felicidade daquele tempo, porque não trazê-la de volta, agora, para junto de
nós, novamente  ?

                Afinal onde foi o tempo em que mutuamente nos falavamos "eu te amo" ?

               O cinamomo frondoso. O banquinho de madeira. O crepusculo.
A brisa leve, morna, silenciosa. Olhar distante e turvo. Lagrimas quentes rolando,
  de gosto salgado . Não seriam talvez amargas ?

                       

                          
                              

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O SORRISO DO CARANGUEJO

                                       Caranguejo fora da agua ( seria um siri ? ).
    Não era grande e parecia debilidado ou talvez até morto. Quando olhei mais
atentamente, percebi que se mexia. Foi um movimento muito sutil, quase não
perceptivel, mas o suficiente para concluir que aí ainda havia viada.

               As perninhas não conseguiam erguer o corpo, para que pudesse voltar para
o mar. As forças haviam se exaurido.
Debil, fraco, mas o leve movimento, dava a entender que a fraqueza ainda não havia se transfoemado em desistencia.

                   Chega o momento em que a resistencia é apenas interna. Não há mais forças disponiveis. A pessoa quer, a vontade está aí, há ainda um desejo latente, mas a
debilidade do corpo já não consegue dar conta da disposição de ainda seguir adiante.
É o grito que apenas grita para dentro, sem esperança de ser ouvido. O socorro
impossivel. O resgate imponderado.
É nesses momentos que se percebe no ar a energia da grande indagação ( ou seria
indignação )  :  Ó  Deus, onde estás, que tambem não me ouves ?

          Mas a  voz do nosso pequeno crustaceo, seu grito de desespero, não ficou apenas
ecoando no mais profundo do seu ser.
Sentado à sua frente, fiquei olhando para esse pequeno ser agonizante, mas que ainda
reagia com valentia,  procurando se arrastar para a agua. Afinal ele ouvia o
movimento do mar, as ondas que quase o alcançavam. E porque haveria de não
conseguir ?
                              O palco onde se desenrola a luta da vida e da morte, sempre se reveste de horror e tambem de compaixão.
Doi em nós a dor do outro, e mais ainda quando nada ou quase nada há para se fazer.
       Já assistiu alguma vez a cena  do lobo cravando  seus dentes na presa incauta ,
imobilizando-a até à morte ?
                                                   O movimento da vida se faz atraves da morte, mesmo
que nos angustie, e tantas vezes, não conseguindo compreender o seu significado.

                       E eu estava sentado diante desse bichinho  que ainda lutava.
Já olhou alguma vez para um caranguejo ? Seu rosto mais se parece com  um painel
quadrado de um carro antigo. Dois pequenos olhinhos como duas pequenas lampadas
do nosso painel de carro antigo.
Os olhinhos pareciam esbugalhados, projetados para frente, talvez querendo
enxergar  melhor. E aquelas pequenas bolinhas pretas concentraram toda sua atenção
em mim, talvez profundamente surpreso por alguma coisa estar aí.
        Aproximei lentamente meu dedo e tive a sensação que algo nele se encolheu.
Até os olhinhos parece que recuaram para dentro do painel.
                  O meu movimento produziu essa reação de defesa, mas como não houve
ataque ( sua desgraça já era grande o suficiente ),  foi se desencolhendo aos poucos e as duas bolinhas pretas saltaram novamente para frente, quem sabe, para se certificar
do que estava vendo. Só poderia ser Deus, ajoelhado à sua frente, tendo ouvido seu
grito de ajuda.
          
                É possivel um caranguejo sorrir ? Eu não sei, de qualquer forma ,
aquele rostinho tão estranho, mais se assemelhando a um monstrinho da pré historia,
a feiura que abusou e muito de ser feia, isso, de repente, se iluminou na minha frente.
     
             É mais ou menos a mesma expressão de felicidade do cãozinho que volta
a nos ver . Saltita, fica de pé sobre suas patinhas trazeiras, late, orelhindas em alerta,
olhinhos correndo de um lado para o outro dentro de suas orbitas... enfim, feliz
( e eles precisam de tão pouco para tanta felicidade ) .

                          E a felicidade não produz sempre esse sorriso...... de felicidade ?

       E o meu amigo crustaceo, vendo Deus pela primeira vez, ficou muito feliz.
E talvez tenha sido esse seu primeiro sorriso.

         E eu, da minha parte, tive a sensação que ele pensou, que Deus pode ser
encontrado nas situações e momentos mais improvaveis. E mesmo achando  não sermos ouvidos, de alguma forma, sempre somos ouvidos.

                     Porque fiquei feliz na caminhada dessa manhã ?

     Em primeiro lugar, porque um caranguejo acreditou ter visto Deus

     Em segundo lugar, porque vi um caranguejo sorrir

    E por ultimo, por saber que os caranguejos tambem podem filosofar.


                         Nada mal para uma caminhada.

                  Nada mal para começar um dia.