quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O PODER MAGICO DA ATENÇÃO


                 Já questionou-se, alguma vez, sobre as verdadeiras razões pelas quais torna-se tão importante a qualidade e o cuidado 
 atento com cada momento em qualquer situação ?
  Tem apenas a ver com eficiencia,  quando o que conta é o rendimento maximo da produção ?

 Afinal, sem esse apreciavel cuidado com o que está sendo executado, a cada momento, a ação perde em efetividade e segurança. Não há duvida quanto a isso.
 A desatenção, em qualquer aspecto da atividade humana, transforma-se no grande vilão para todo e qualquer desconforto, seja na vida particular, no trabalho, no transito, ou onde quer que seja. As tragedias não são, quase sempre, consequencia do alheamento e da falta de atenção ?

A atenção plena é a salvaguarda por excelencia para tanto tormento e infelicidade que aflige a humanidade como um todo.

 Já não seria isso o suficiente e um motivo notavel para estarmos cada vez mais alertas e plenamente conscientes com as pequenas
coisas de cada momento ?
No entanto, é apenas essa a razão que motiva para estarmos em 
constante estado de alerta ? Ou seja, estarmos à salvo da dor, seja  fisica, ou relacionada à toda forma de miseria emocional ?

   Somos seres de poder. Somos capazes de modificar coisas.
 Nos modificarmos.
 E a suprema façanha, a verdadeira genialidade do ser humano tem essa caracteristica : a transformação interna.

  Para aproveitar a vida com plenitude, as mudanças são compulsivas, no entanto, não acontecem assim, como num estalar de dedos. 
 Acontecem devagar, infelizmente.
A evolução não é como sopa pré-cozida que fica pronta em tres
minutos !

No mais das vezes, para o homem convencer-se da necessidade de
mudar, o tempo é longo.  As possibilidades existem, mas quantos 
irão acessá-las ? A caixa de ferramentas está aí, para ser aberta,
entretanto, há que ter sobriedade e determinação.

 O mais penoso é querer realmente modificar-se. Sentir que não há alternativa, e que o caminho mais simples para poupar-se de tanto peso, de tanta angustia, é submeter-se por fim ao projeto da transformação pessoal. Não há atalho possivel que não seja pelo
despertar da consciencia.

   Como tornar-se acessivel a esse poder que transforma, que faz
com que apareçam maravilhas antes talvez nunca imaginadas ? 
Viver de um modo diferente, como tantas vezes já sonhou.
 Deixar de fazer o de sempre, somente porque aprendeu a fazer daquele modo, com temor ou simples descaso para fazer diferente.
 Experimentar-se em outros niveis, novos contextos, dentro de uma nova historia, seguindo tantos outros roteiros. 
Conteudos com outro sentido, experimentando a essencia de uma
realidade incomum, onde cada momento é um novo momento,onde nada se repete e a paisagem muda como as cenas silenciosas
 de um filme.

O extraordinario não é compativel com a mesmice, ou a falta de 
ousadia para aventurar-se por vias secretas simplesmente
 por serem ignoradas.
Todo dia é de fato um NOVO dia ?  Uma experiencia diferente, com seu encanto, sua magia, sua dança, sem a monotonia e a rigidez do movimento que apenas se repete interminavelmente ? 

   A vida nos chama continuamente para novas possibilidades.
 Esse é o momento.
 E, agir com plena consciencia, na execução de qualquer procedimento, em qualquer circunstancia, é a exigencia.

  Tornamo-nos acessiveis ao poder, que nos é inerente, como seres
humanos, orientando-nos por esse mapa, isto é, seguindo o roteiro da soberania da consciencia de si mesmo, observando-se na condição de sentinela constante.

"VIGIAI e orai", não foi essa a exortação maxima que nos foi passada ?

   Voce sabe onde está neste momento enquanto aqui ?
É este o ponto. E este ponto torna-se o segredo. Nortear-se pela singularidade e o frescor de cada momento, ou então simplesmente permanecer aprisionado na mesmice aviltante das coisas iguais, feitas todos os dias, de forma identica.

  A atenção leva um poder especial a qualquer ato. O ato se torna
poderoso atraves da atenção.  
Os atos só podem ter o discernimento, a lucidez, o poder e a força
transformadora, quando executados num contexto de plena e total percepção.

O poder, quando existente, monitora e administra  nossos atos, ao
mesmo tempo em que se submete ao nosso controle.
É esse o poder magico e insuperavel da consciencia humana !
O poder catalisa a mudança, tornando-se essa mudança  a expressão desse poder.

A consciencia oportuniza, manifesta e disponibiliza
nosso bem maior  :  o poder do espirito, filho legitimo da consciencia.

  Quando tem poder, o homem deixa de ser digerido pelo sistema,
convencções ou pela tradição, sejam elas quais forem, religiosas, politicas ou economicas.
Não mais se submete ao comum por simplesmente estar familiarizado com ele.
Não dará mais enfase ao rotineito, ao movimento monotono
 da alienação da mente coletiva, exclusivamente por não perceber-se, por não ter acesso ao seu verdadeiro potencial, à sua 
genuina natureza de ser.

Quando tem poder, o homem sabe por fim quem ele é, e segue o
caminho do seu intento imperturbavel. Autonomia interna. Soberania de espirito. Emancipação da vontade. Resgate da
liberdade, sequestrada pela hipnose coletiva, pela inconsciencia,
frustração e  esforço de ter que transformar-se em algo diferente 
daquilo que é. 

Não podemos ser o que somos.  Nos transformamos em seres
grotescos gerados pelo sistema. A humanidade em nós foi perdida,
restando apenas a imagem caricata de um ser humano.
  Na  tentativa de nos acomodarmos ao processo institucional,  o poder se perde, e mais, a capacidade de 
nos orientarmos por nós proprios, pela alegria do nosso ser.

   Amei a descrição de Castaneda ao referir-se a uma circunstancia
em que teve sua atenção envolvida por inteiro.
"Minha consciencia era tão completa que o resto do mundo praticamente desaparecera para mim."

  Não seria essa uma forma magistral para definir o verdadeiro 
significado do que seja estar alerta, atento e consciente para tudo o que acontece em cada instante das nossas vidas ?

  E ... se pudessemos viver disso somente um pouquinho a cada
dia, que diferença faria em nossas vidas !

   


   






sábado, 22 de dezembro de 2012

É POSSIVEL UMA VIDA SEM ROTINA ?


            Tudo o que fazemos, todos nós, todos os dias, não o fazemos pela força do habito ?

      Somos treinados pelo comando das horas, fazendo tudo
sempre no mesmo horario, a mesma coisa, exatamente do mesmo modo.
 Coisas de humano ou humanoide ?  Pessoa ou
mecanismo ?

       Estabelecemos um ritmo, como um protocolo para tudo : falar
a palavra certa, sentir o sentimento apropriado, assim com o para comer ( mesmo que não tenha fome ), para dormir ( mesmo que não sinta sono ), para se colocar como todos esperam ( mesmo que esteja de saco cheio ), e tudo o mais, interminavelmente,obedecendo com rigor o mesmo cerimonial, como um autentico codigo de conduta.
Nave processada por controle remoto ?

    Vida rotineira, cansativa, feita de esquisitices permanentes, 
implantadas pelo costume e pelo reflexo condicionado.

    Por outro lado, tornar-se imprevisivel, para não permanecer aprisionado à uma vida de condicionamentos e principios intransigentes, não seria essa a premissa essencial quando busca-se o verdadeiro sentido da vida ?
 Ser livre, fluido, leve, sem as amarras dos padrões, ou o peso enfadonho dos costumes inflexiveis.

  Tenta amparar-se nas convicções coletivas, que são, aparentemente, seguras, mas causadoras do mau estar interno
e confusão de toda uma vida.
O utero é seguro mas desconfortavel e escuro.

    Juizos de valor e regras, por mais justificaveis que se apresentem,
dentro de um organograma de planejamento, nem por isso, no
entanto, deixam de ser uma acomodação, um arranjo, salvaguarda para defendermo-nos do inesperado e dos incidentes da má-sorte 
que, a qualquer instante, possam tomar-nos de assalto.

       Nos protegemos da vida atraves de rotinas fixas, regulamentos precisos, demarcados, que mais relacionam-se com aviltamento do
espirito que aprimoramento de conduta. 

   Vivemos a vida, ou simplesmente nos defendemos dela ? Não parece estranho ter que defendermo-nos da vida ?

    Transformamo-nos em robos quase perfeitos, mecanismos
submetidos a padrões pre-determinados, executando tarefas
maquinalmente. Automaticamente. Não muito mais que isto ! 
Aliás, não foi a robotica, acaso, uma invenção elaborada à imagem e semelhança do proprio homem ? Não copiou-se a si proprio ao
criar a automação ?
 E, ao deparar-se com sua criação, ficou maravilhado ao identificar-se plenamente com sua criatura. 

    Ficou bem feito, pensou. Parece demais comigo, sendo
assim, deve estar perfeito !

    Gaiatice à parte, impõe-se, nesse momento, um questionamento de merito : é concebivel uma vida sem rotinas, roteiros precisos para toda e qualquer forma de atividade humana ?
 Todavia, não parece tal contestação, de certa forma, absurda,
beirando à insanidade e insensatez ?  Ou, com mais precisão, uma idealização impraticavel ? 

    Toda a atividade humana baseia-se no paradigma da compartimentalização regida pelo relogio, que impõe movimentos
fixos de rotina, automatizando toda e qualquer forma de ação.

  Nós todos nos comportamos do  mesmo modo. Somos todos
iguais. O sistema impõe um modelo de conduta onde fica implicito
o movimento robotizado; e, para incerir-se na conjuntura, a premissa é o comprometimento com as convicções pré-estabelecidas, a nivel  coletivo.

     No entanto, quando tudo fica facil de ser previsto, nos tornamos
presas faceis do infortunio. Confiamos no rotineiro, por isso
consideramos estar à salvos dentro de um contexto de uniformidade e constancia. Já que todos rezam pela mesma cartilha, deve, este
modelo, ser o correto, e justificadamente confiavel.

 Confiamos, quais automatos, na força da rotina. Nos sentimos à
salvo das circunstancias e do não previsto, nos submetendo  à mesmica, ao rigor das regras e dos condicionamentos.

  Descuidamos do nosso ponto de proteção porque sentimo-nos
seguros e confiamos plenamente no modelo do conservadorismo
 rotineiro. 

  A armadilha, no entanto, estará sempre armada. O falatorio na  cabeça, com seu ruido incessante, é consequencia da falta de vigilancia para com este momento. Quanto mais fixo a uma rotina,
menor o nivel de atenção. Tornamo-nos, desse modo, vulneraveis a toda forma de tudo aquilo que não seja previsivel.

   O descuido, o engano e a desproteção manifestam-se pela força
do habito que a rotina determina em nossas vidas.
 A desventura conhece a rotina dos homens comuns, resignados ao
aviltamento da massificação da mesmice. É por isso que tornam-se presas faceis para toda e qualquer forma de equivocos e surpresas.

   O medo torna a pessoa vulneravel, fragilizada. Algo saiu  do contexto, do que era esperado, daí o medo, a ansiedade, e a inquietação. 
  A previsibilidade deixou-o na mão. Está por si, à mercê da sua sorte ( má sorte ). Talvez não haja mais tempo para recompor-se, nem seguir em frente à salvo e por inteiro.

Se estivermos atentos ao trabalho rotineiro de todos os dias, desaparece a rotina, a ação automatica, e portanto, a suscetibilidade. Dessa forma, não é a rotina das coisas, dos acontecimentos em si que nos traz infortunio e sofrimento, desqualificando e esfraquecendo o espirito, mas a falta de atenção para com as coisas deste momento. 

  Usamos a rotina em substituição ao estado de alerta.
Nos desprotegemos, de um modo temerario,  ao confiarmos, incondicionalmente, em tudo aquilo que fazemos todos os dias da mesma forma.

   A compreensão dessa diferença cria a autonomia interna, livrando-nos dos perigos do automatismo de todas as rotinas do
mundo. E perceberá, por fim, que não há proteção alguma em
qualquer sistema de rotina, sem a salvaguarda da atenção 
permanente a cada momento, frente a qualquer ação.

   A rotina seja talvez o substituto para o estado de alerta. Dessa
forma, a atividade humana transcorre de um modo linear, sem o colorido do inesperado, onde a alienação torna-se o conceito 
quando a vida perde o sentido. 

    A importancia disso ?  Não há modificação possivel, a nivel de
consciencia ou compreensão do verdadeiro significado da vida,
que não siga o roteiro de transformar a rotina externa em
permanente estado de alerta interno.

   O silencio interno transforma a rotina como um halter para o 
espirito. É quando a coisa ruim se transforma no seu elemento
 oposto, surgindo, desse movimento, um homem novo, livre e feliz, tendo, por fim, alcançado a autonia e a independencia sobre a
massante padronização do comportamento humano.



    

    

    



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OS VIVOS ESTÃO MESMO VIVOS ?


              Importunamo-nos,  perdendo a calma, a serenidade, a
compostura, porque nos consideramos importantes, gente
especial, particularmente, superior.

      Quando nos zangamos, sentimo-nos sempre no direito e
convictos, revelando uma tendencia para julgar-nos justificados por estarmos zangados. Já notou ? 
Nossas opiniões e julgamentos são sempre definitivos. São a palavra final, não é ?  Quem se atreveria a contestá-las ?

      Não há dificuldade em perceber que a auto-importancia
se estrutura em premissas mediocres, amparadas em banalidades. 

   Quanto somos capazes de enfurecer-nos pela desconsideração, atitude, ou palavra mal colocada ? Pela contestação, ou analise critica ?
 Sentimo-nos diminuidos, desmerecidos, sem valor. Valorizamos a critica porque não nos sentimos solidos. A desestruturação interna s busca sempre uma compensação exterior.  Orgulho é isso. Apego à imagem da importancia de si.

     Nos apequenamos por darmos significado à coisas miudas. Valorizamos o que não tem valor, e o preço a ser pago,  
trona-se sempre muito alto.

      Dentro desta perspectiva ...  quando enfastiado, por achar que está tudo errado, que o mundo não está tendo os cuidados que deveria ter, pela desconsideração e malicia, por sentir-se injustiçado, explorado, infeliz  -   perceberá, então, a mesquinharia por aborrecer-se com qualquer frivolidade, vendo que nada importa realmente ... ao ser confrontado à luz da morte.

         Quando sentir-se envaidecido, presunçoso ou mesmo chateado, pára por um breve instante e olha para frente, atentamente, para compreender a impermanencia de tudo, que a auto-importancia não dará sustentabilidade, nem irá livrar ninguem da aniquilação final.

         Porque então tanto queixo erguido, peito inflado e postura
barulhenta ? Como podemos sentir-nos tão importantes, com tanta 
indignação e rabugice, se a morte, sem qualquer aviso, a qualquer momento, poder nos tocar ?

      Quando alcança essa percepção e nivel de consciencia, não será a pessoa influenciada por um novo estado de espirito ? Será que
seu modo de ser, sua presença, seu posicionamento e premissas
permanecerão inalteradas ?

       Quando a impaciencia, a intolerancia e a inquietação nos aprisionarem com sua tirania, se, nesse momento, olharmos para o lado e nos perguntarmos se tamanha baboseira vale a pena -  qual será a impressão que essa atitude nos passará ? 

        Será que não perderemos uma quantidade enorme de mesquinhez, e estupida soberba, se percebermos, de relance, e nos dermos conta que ela está sempre aí, bem pertinho, de olho na
gente ?

      Talvez uma mudança se instale aos poucos. Mudança de
perspectiva, de visão, de força de espirito, de consciencia,
de atitude.

       Não parece uma tremenda tolice tanta aflição, desgosto e 
insatisfação quando se tem a morte nos vigiando 
constantemente ?

        Saber que a qualquer momento pode tocar-nos ( afinal, em
algum momento ela o fará ), representa uma grande diferença
entre viver aos sobressaltos e estar em paz.

      Companheira inseparavel de toda uma vida até o dia em que
finalmente se anunciar, confirmando-nos de um modo inegavel
 que nunca nos esqueceu. Qual será nossa expressão, nesse momento fatal ?

      Costumamos gemer e reclamar de tudo. Não é mesmo ? Até podemos ter motivos justificados por nos sentirmos injustiçados e desamparados pela vida, ficando a remoer por tamanha tristeza e desconsolo. No entanto, será que viver dessa forma torna a vida
mais facil e interessante para ser vivida ?

      Percebe que, num estalar de dedos, tudo pode acabar ?
 Seremos abatidos, de maneira muito semelhante, repentina e definitivamente, assim como fazemos com os animais
 que comemos ! 

Num mundo onde a morte nos espreita a todo momento, não há
espaço para quiqueriqui, posturas lamurientas, ou considerações
inuteis de auto-piedade. Ou será que há ?

       Tematica sem graça ? Assunto chato ?  Qual a serventia em se falar de morte quando há tanto para viver ? Porque falar de fim de festa enquanto os tamborins e pandeiros ainda estão animados ?

      Geralmente, o assunto nos põe desconfortaveis e nervosos, por sentirmos, em algum nivel mais profundo, que não estamos, afinal, desempenhando, à altura, nosso papel, ou que o tempo, inexoravelmente, está escoando, e os grandes temas, proposições relevantes, não estão sendo considerados. 

    O jogo "de faz de conta", apesar de ingenuo e infeliz, é pauta
para não menos de uma legião de adeptos fervorosos.
Entretanto, quando a morte bater à porta, não haverá mais tempo
para decisões ou propositos, boas intenções, nem estados
 de espirito idiotas.
Ninguem de nós terá mais tempo seja lá para o que for.

      Frente a isso -  em que nivel assuminos a responsabilidade pela nossa vida, pelo potencial à nossa espera para ser despertado, pelo espaço que deveriamos estar ocupando, pelas nossas escolhas, respostas, ou decisões ?

   Qual o real comprometimento com nossas resoluções ?  Em que nivel assumimos realmente a responsabilidade pelas nossas
deliberações ?  Quantas vezes nos determinamos por mudanças cheias de boas intenções ( cuidar da alimentação, exercitar-se diariamente, parar com o cigarro, silenciar a mente por alguns instantes, manter-se mais presente ... ), mas, por quanto tempo conseguimos , convictamente, sustentar nossas resoluções ? 

     Ao que nos propomos, o quanto envolvemo-nos, resolutamente,
assumindo aquilo com competencia, firmeza de animo, prosseguindo na ação sem duvidas ou remorsos a respeito ?

   Pouco importa quais sejam as coisas pelas quais nos decidimos, importantes ou não, pois teremos que assumir a responsabilidade, como se estivessemos prontos para morrer por aquilo.
Compromisso. Comprometimento.

     Do nosso ponto de vista, pela nossa avaliação, sentimo-nos
satisfeitos com nossa atuação no mundo ?  Porque, vez por outra,
essa estranha sensação, como se fosse remorso, culpa, como se algo
estivesse perdendo-se, definitivamente, sem retorno, não mais
possivel de ser recuperado ? 

     Houve tempo em que fizemos promessas, cheias de convicção
e entusiasmo, em que tivemos boas intenções e propositos de
valor. Lembra-se ainda desse tempo ?

   Todavia, o que sobrou de toda a empolgação, de tantos sonhos 
tão ternamente acalentados, agendados no mais profundo de
nossa alma ?

     O que sobrou da vida alem de rotinas interminaveis, 
maçantes, tedio e chatice ? Vida enfadonha, rala, sem graça,
da qual não conseguimos mais livrar-nos, por estarmos familiarizados, assim como o animal aprisionado, já  adaptado
 à sua desgraça e vida miseravel.

      Vida sem sentido, sem nexo, nem significado.
       Até quando ? Porque o sentimento, insensato, da disponibilidade infindavel de tempo ?

     Não te parece tambem que a morte é um instrumento
 fascinante e de imensa serventia para a humanidade ?  Afinal, por
determinação propria, ou envolvimento pessoal, quantos conseguirão dar conta da mesmice mediocre, dessa coisa feia que, mesmo assim, insistem chamar de vida ?

        Quando se perde o entusiasmo, o autentico encanto
do florescimento e da evolução, não é a morte uma
verdadeira benção, quando as forças já esgotaram
 e o olhar ficou sem luz, sem visão, pelo tempo que se perdeu ?

     O sofrimento interminavel e a vida alienante de um modo comum, atestam, inequivocamente, a triste premissa, que poucos
vivos estão verdadeiramente vivos. E que a VIDA humana,
neste planeta, não deixa de ser um acontecimento raro.

     A vida geralmente não acaba com a morte. Acaba bem 
antes, de modo abrangente, mesmo não tendo a morte ainda   
 anunciado sua presença.

    Nem todos os vivos, estão  VIVOS, enfim. 





         

domingo, 9 de dezembro de 2012

POR ONDE ANDASTE, OH! HOMEM SEM TEMPO ?


              Lamentar-se por mais tempo quando não há mais tempo
disponivel, é indicio inegavel que não foi capaz de  livrar-se, quando ainda era tempo, das malditas mesquinharias dos homens que vivem suas vidas como se fossem ficar aqui para sempre, como se tivessem tempo sem limites para fazer suas mudanças sempre postergadas, deixadas para um outro tempo.  

      Não assumiu a justa responsabilidade de estar neste mundo
de verdade. Como ser humano, não respondeu com habilidade
às exigencias do espirito para promover as mudanças necessarias.

        Continuou a vida toda dividido. Por fora uma coisa e por dentro algo completamente diferente. Tratou de todas as formas 
adaptar-se e ser aquilo que todos diziam que tinha de ser.

        Desviou-se da rota. Embarcou numa viagem sem sentido,
nem rumo. Desconectado de si proprio, norteou-se pelos outros. Seguiu o caminho de todos, orientou-se pelo ruido do mundo, numa 
incessante confrontação de poder e importancia.

      Esteve continuamente empenhado, olhos e ouvidos atentos às
galerias, em busca de aplausos ou sinais de aprovação. Não é essa 
a permanente inquietração e temor de todos quantos necessitam
do reconhecimento e legitimação do mundo para
 sentirem-se alguem ? 

      Não conseguiu ser ele mesmo. Perdeu-se para ser algo que nem
sabe o que é. Vai seguindo, porque é essa a sina dos enfileirados. Simplesmente segue, não porque queira, ou por opção pessoal, pois vai no tranco, no empurrão dos que partilham a mesma rota. Sem autonomia, nem liberdade de escolha, está aí pelo consenso, pelo conformismo, pelo coletivo.

 Envenenado pelo deslumbre da estupidez da ambição sem controle, da pretenção desmedida, pelo desejo de tornar-se
especial, sentir-se importante, diferente de tudo o mais.

Deixou-se contaminar pelas exigencias do meio.
Deixou-se dominar, não apenas pelos outros, mas tambem
 pela compensação da propria vaidade, o brilho da auto-imagem refletido nos seus feitos, valorização de fachada que conduz ao empobrecimento do espirito, pelo total desconhecimento de
si mesmo.

       Seduzido pelo mundo, perdeu o referencial da propria identidade. Já não reconhece o estranho refletido no espelho.
Quem será  esse que me olha no espelho sem parar ?  

      Nunca esteve em busca de si mesmo pois estava, em demasia, envolvido com a conquista do mundo. Deixou-se dominar para poder tambem ter dominio. E, haverá de ser tarde, quando se der conta por fim da cilada,  emboscado pelo poder, vitima do
proprio triunfo.

Entrou no jogo e fez concessões. Perdeu a liberdade de ser quem
é para se ajustar, acomodar-se ao padrão, às regras, às influenias,  
para sentir-se fazendo parte, à altura, para ser alguem.

      Que preço extraordinario a ser pago por uma vida desperdiçada, para provar, unicamente, que é um grande personagem, uma
pessoa importante, e sentir-se interessante.

       Nunca imaginou que a festa pudesse terminar. Percebe o
equivoco quando não há mais tempo, tempo para recompor-se,
reestruturar-se, para, enfim, poder viver. Será que existe ainda
alguma saida viavel, remedio que responda quando o mal, por fim,
 já tiver se alastrado por todo o sistema ?

      A mesa esteve sempre posta e havia fartura. Porque agora a sensação de fome e insatisfação ? Porque o desgosto, a amargura e a contrariedade ? Porque essa cara feia se o florescimento e a festividade invariavelmente faziam parte do grande cardapio ?

    Por onde andaste, oh! homem sem tempo, quando era tempo
de celebrar e entoar a canção de louvor à vida ?
Passaste ao largo, não foi ?  Repetias continuamente que não
tinhas tempo, lembra ?

     Compromissos, obrigações, envolvimentos, encargos,
tanta carga e sempre com tanta pressa. Pensavas que tudo
era importante e tão urgente, não era assim ?

    Vivias repetindo que, se a gente não tem pressa, como virar-se com tão pouco tempo ? Não deves ter-te esquecido ainda. 

     Não pensavas apenas no trabalho, ganhar dinheiro, cuidando de
 coisas, correndo, sem cessar, como tonto, para todos os lados ?   
Não foi essa a dança estupida que dançaste tua vida toda ?

    Viveste uma vida esteril, sem criatividade, nem deslumbramento.
Teu olhar esteve sempre voltado para os lados, para os outros,
para o mundo, afim de pautar a vida; sem te importares com
os anseios do espirito que clamava, sem cessar, por mudanças,
por crescimento, por florescimento.
As pernas, por fim, cansaram, a vontade degenerou e o espirito tornou-se fraco.

               A amargura aparece pelos enganos das escolhas
equivocadas.  Por não estar onde deveria estar, por não ter seguido
os caminhos da realização, pela beleza que não apreciou, pelo
 sabor que não degustou, e, por fim, pela vida que por aí passou
mas que não houve tempo para dizer  "olá, tudo bem ?  

       A pressa não recupera o que se deixou de viver; talvez apenas
informa o tempo, esse tempo que, desgraçadamente, não se viveu.

         E mais, olhar fixo ao retrovisor, impossibilita qualquer possibilidade de seguir em frente.





terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O AUTENTICO SENTIDO DA VIDA


         Quanto tempo permanecemos realmente conosco mesmos
durante o dia ?  Quando tempo estamos, com certeza, ao nosso lado para apreciar a beleza das arvores, ouvir o canto dos passarinhos, para sentir a vida que palpita numa eterna dança, apesar de toda
pressa, do barulho do mundo e a eterna falta de tempo ?

Nos ocupamos com tantas coisas, mas tudo feito de um modo automatico, no reflexo, simples condicionamentos, sem nos darmos conta, nem nos tocarem internamente.

   Observe a fisionomia das pessoas - estão aborrecidas, chateadas,
sem graça. Não conseguem encontrar prazer seja lá no que fizerem. Estão aí pelo dever, cumprindo horarios, apenas pelo
 dinheiro ( ou não ? ! ).
Vendem o que sabem fazer em troca de um punhadinho de moedas.
Não é essa a verdadeira definição de prostituição ? Uns vendem o
corpo, outros o que aprenderam, mas o fim é o mesmo, assim
como o significado.

       Ficam olhando continuamente o relogio, com vontade de sair
correndo. Não sabem ao certo para onde fugir, afinal, que importancia tem, quando qualquer lugar serve, desde que não seja AQUI ?  Nunca se sentem confortaveis em lugar algum, e é por isso que nunca estão onde estão. Permanentemente AUSENTES, fora.

       Pagamos um preço alem da conta pela falta de contentamento e o verdadeiro valor e compreensão do significado vida. 

      Perdemos a conexão com o momento presente, com sua conjuntura e apurada coerencia; por isso perdemos nosso espaço, e tambem nossa capacidade de funcionar num nivel de eficiencia e satisfação, que possa transformar as açoes num exercicio de auto-conhecimento e transformação pessoal.

         É por isso que aquilo que se faz a cada momento se torna 
essencial, quando a ação externa tem ligação com o mundo interior. O de fora repercutindo internamente atraves de uma atitude alerta e cuidadosa, para que aquilo possa se revestir de um colorido especial, algo revelador e, assim, transformar-se em algo especial.

      Retomamos nosso espaço perdido tornando-nos conscientes do momento presente, voltando para casa, recebendo-o com cuidado
e aplicação. Assim, a calma retorna, a paz retorna, um estado de mente alerta, sem pensamento, expectativas ou pretenções da sorte.

    Permanecemos ao nosso lado, atentos, em afinidade
e identificados com a estrutura desse momento. Sem a necessidade
de fugirmos para uma realidade virtual, em função do inconformismo e desagrado com o que está aí. Já não há relogio,
nem pressa, nem planos.

   A atenção impede o pensamento, a mente permanece presente,
motivando serenidade e satisfação. A vigilancia transforma 
a consciencia por nos trazer de volta para esta realidade, para a vida. Sem este movimento, contudo, não há mudança possivel, tampouco, transformação provavel.

      Desse modo, quanto mais estivermos vinculados a este momento, mais nos tornamos despertos, lucidos, conscientes. A eficiencia e a adequação nascem exatamente deste estado de vigilancia e cautela. Este ato simples muda o dia, e esta pequena mudança transforma a vida. Não acredita ? Já tentou alguma vez ?

        Alguma vez tentou verificar a que distancia está de si mesmo em cada instante durante o dia ? Voce sabe onde está em cada momento ?
A potencialidade e competencia  se restringe a este tempo. A energia está disponovel. A vida está disponivel.
 AGORA. SEMPRE.  Somente agora !

       Estar junto com o que está aí produz espaço, o seu espaço, para que haja espaço e a vida possa acontecer. A ausencia leva à 
 confusão e desordem que o mundo incansavelmente nos apresenta.

Ligado aos fatos que a vida nos traz, continuadamente, nos conecta
conosco mesmos, e essa conexão nos pluga à vida. Já não seremos
simplesmente como um transeunte passando, quase por acaso, perdido por aí, desconhecido, simplesmente à espera do proximo coletivo a nos levar para casa.

  Assim,  FATOS, ESTE MOMENTO, ESTE ESPAÇO, A GENTE, A VIDA -  não são, por acaso, elementos da mesma natureza, ou,
então, aspectos diferentes da mesma realidade ?  

        Será a vida tão somente a escalada sem fim da escada das
conquistas sociais, onde cada novo degrau é mais uma condecoração cravada na lapela do peito da vaidade ? 

      Enquanto sobe a longa escadaria da gloria, da visibilidade,
da influencia, degrau apos degrau, não passa, em função disso, 
 por uma transformação interna, pois continua sendo como é, não se tornando aquilo para que está aqui. Vai permanecer um
 não-adulto, vivendo uma vida esteril, sem criatividade, nem
florescimento.
                           Vivendo as mesquinharias de sempre,
com os mesmos temores, focado apenas e tão somente no mais, cada vez mais. Acha que é a coisa mais importante do mundo, por isso não consegue apreciar realmente o que se passa em torno de si. Separado de tudo o mais, não consegue desfrutar,
dar de si, ou relacionar-se com os demais como semelhantes.

       Se sente importante demais. Sua importancia o separa de tudo, 
colocando-se à distancia de todos. Já não se considera um igual, por isso não consegue considerar mais nada.

    Não está junto, pois se considera acima. Isola por estar isolado. E a possibilidade de qualquer encontro se inviabiliza de
um  modo definitivo. 

          Distanciado de tudo o mais, acaba por distanciar-se
igualmente de si proprio. A possibilidade de crescimento e mudança
se desfaz na esteira do sentimento da auto-importancia.  

       Terá acumulado, se transformado numa pessoa especial
  alcançando prestigio, admiração, notoriedade, manipulando influencia e poder, acomodado em posições de destaque e visibilidade, como um objeto raro em exposição para apreciação publica.... no entanto, permanece igual.

    Ufanista da pompa, dos grandes feitos, das conquistas memoraveis, personagem das romanticas sagas quixotescas, nem
por isso, contudo, desprovidas de insanidade e destituidas de sentido, de significado e coerencia. Vôos delirantes dos devaneios da vaidade !

            Sabemos que houve mudança, crescimento, melhoria
interna, humanização, transformação pessoal, se, apesar das conquistas e realizações, a pessoa mantem-se quieta, sem fazer alarde, nem tanger os sinos para anunciar  suas memoraveis proezas.

    Consegue seguir em frente como se não houvesse ninguem
por ali, sem fazer ruido, sem levantar poeira, nem se fazer visivel.
Passa, mas ninguem percebe que alguem passou.

       Silencioso, ponderado, discreto, amadurecido.Verdadeira imagem da sobriedade e despretenção. Não se rendeu à altivez, por isso alcançou a liberdade. Por não sentir-se importante, adquiriu 
força indomavel. E a humildade, de forma alguma, 
traz a imagem da submissão.

      Faz, executa, realiza, é,  mas permanece tranquilo, reservado na sua ação, como se fosse invisivel, quase um fantasma.

      Utopia ? Visão hipocrita ? Façanha impossivel ?  Ou tão somente imagem de retorica mas nem por isso improvavel ?
 Afinal, o prazer não está exatamente aí, no falatorio que desperta, na inveja que provoca, no amor-proprio exaltado ?

     Não são, por acaso, os aplausos que buscamos no nosso esforço de todo dia, na aclamação, nos olhares de respeito e deslumbre que nos são dirigidos a todo momento por onde passamos ? 

     Não gostariamos todos se tambem fossemos perseguidos por um
bando de paparazzi idiotas, fofocando sobre a gente, e ao 
consegui-lo, hipocritamente, reclamando de volta a discrição e a 
liberdade ?

        É este o motivo fundamental que torna tão ardua a tarefa de abandonar a egomania da imaturidade infantil, pois os apelos do engrandecimento e glorificação do mundo são intensos demais.

      Isto não é (des)privilegio exclusivamente de apenas alguns
incautos e desatentos. Somos todos assim, até não sermos mais.
 É da natureza humana a dificuldade do desenvolvimento interior, ao contrario do crescimento no plano fisico, que se faz de um modo
fisiologico, sem interferencia individual, naturalmente. 

      Somos crianças, a seguir nos tornamos adultos. No nivel de consciencia, entretanto, o desenvolvimento se faz intencional, está
na dependencia de quem queira envolver-se. E é por ser opcional
que permanecemos, a grande maioria, num estagio de infantilismo
psiquico e imaturidade de espirito. Crescidos por fora. Apenas
por fora. Ainda envoltos em fraldas num  plano evolutivo, a nivel de consciencia, desnorteados, carentes, indefesos e extremamente temerosos. 

         Não é porque crescemos que nos tornamo adultos. Para a imensa maioria apenas deixamos de ser crianças. 

    Ao nos tornarmos adultos, amadurecidos interiormente,  somente então alcançaremos a verdadeira compreensão do verdadeiro proposito da vida.
     Não seria essa, porventura, a premissa condicionante para o que se define viver bem, viver em paz, com sentimento de
 plenitude e excelencia em tudo que se  realiza ?

         Não seria isso que se proclama como
   realização pessoal ? 
  

         


  

      

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O ESCUDO FEITO DE PAZ E PRAZER


          Porque tanta pressa, tanta inquietação, correria sem fim,
querendo logo chegar, para não chegar nunca a lugar algum ?

     Buscamos um mundo melhor cavalgando velozmente
 no dorso liso das ilusões fugidias.
Levantamos vôo querendo voar para longe daqui, o mais distante possivel, porque o melhor está sempre lá;
o bom só pode vir depois.

            O paradoxal é que esse "lá" não pode nunca ser achado em qualquer lugar que seja. Por mais intensa e alentadora que seja a busca, o depois se é sempre intangivel, e onde quer que vá, estará sempre  "agora"  e  "aqui". 

   Por isso a pressa, a correria, o desinteresse e a indiferença
por este instante. Sem sintonia e real envolvimento com o que
está aí, com aquilo que a vida nos traz a cada momento, não haverá,
por consequencia, entusiasmo, serenidade e realização, tampouco.

        Nos colocamos como quem está de passagem,  simples transeuntes à espera do trem levar-nos para longe. Somos tal
como criaturas do futuro, perdidos nas inquietações e embaraços das circunstancias presentes. ETs de outras dimensões e de um outro momento. Assim sendo, não somos desta epoca, nem dessas circunstancias, por isso a urgencia e a agonia para libertar-nos, enfim, das dificuldades e amarguras deste momento.

          Vivemos uma vida provisoria, tal qual viajante à espera do
proximo trem, do proximo sonho, transformado em passaporte,
para o reino definitivo do universo virtual.  

      As pessoas se gostam, ao menos assim parece, estão juntas
 todo dia, mas quanto tempo passam juntos, de verdade ?
O verdadeiro encontro tambem  poderá se dar apenas depois,
somente depois de tantos projetos e objetivos terem sido conquistados. 

          Como pôde o longe transformar-se no melhor lugar do
mundo, a grande utopia da humanidade ?
Existe, porventura, condição mais favoravel que perto ?
Neste lugar, nesta ocasião, nesta vida ?
O perto tornou-se insustentavel pelas promessas desatinadas 
do que está distante. 

        Que preço triste para pagar por nossas defesas sustentadas
por visões futuristas, persistentemente à espera por um outro tempo, pela proxima temporada, quem sabe, por fim, mais 
agradavel !

      Em ultima analise, tentamos nos proteger de tantos medos
que nos assaltam o espirito. A vida é potencialmente feita  de
medos. Medos de toda forma, aparencia e conteudo.

                 Colocamo-nos, estrategicamente, atraves de tudo que
fazemos, buscando proteção e segurança.
Erguemos escudos para proteger-nos dos assaltos das forças
que tanto tememos. Os insucessos, a doença, fracassos,  decepções,  perdas, frustrações...

      Forças inexplicaveis e misteriosas que podem destruir-nos num relance, sem aviso previo, nem consentimento. Decisões sempre
tomadas de modo unilateral.
Usamos as atividades diarias para desviar o espirito do susto de tudo quanto percebemos como ameaça.
Distraimo-nos com nossas ocupações para não termos que nos ocupar com as inquietações e temores que nos paralizam o espirito.

         Cercamo-nos de todo tipo de coisas por nos sentirmos 
despreparados para fazer frente às forças inflexiveis, dos insondaveis misterios da vida.

        Nos protegemos, acumulando, cercando-nos do mundo.
Identificamo-nos com a imagem que o poder e as coisas nos conferem. Vemo-nos atraves das posições e do senso de importancia que nos atribuimos. Como os despotas, com o peitoral repleto de  condecorações auto-conferidas.

 Optam pela mentira, pela aleinação; afinal, viver a vida como ela é, e tornar-se real, não é tarefa para a pessoa comum.
 É destinado a poucos.  Valentes, capazes do sacrificio de desejos pessoais por uma causa maior, por um bem verdadeiro.

      Não é esse o verdadeiro significado de ser humano ? 

     O que nos prepara quando, por fim, formos tomados de
 surpresa, e tivermos que dar conta dos imprevistos, dos momentos
de aflição e terror ?
A tragedia pode aparecer diante dos olhos a qualquer instante. Estaremos preparados quando a força avassaladora da destruição
bater à nossa porta, e despertar-nos dos sonhos delirantes;
percebendo, finalmente, que não é pelo fato de transformarmos em interino este momento, que não teremos que responder por tudo quanto esta interinidade nos apresentar.

        O sofrimento não manda convite nem e-mail. Não se faz anunciar, é sem consideração, nem gentilezas tambem.

      Apesar da surpresa e do despreparo, de alguma forma, temos
que, deliberadamente, recompor e nos recuperar, pois a vida
continua. 
Nos entregarmos aos caprichos e queixumes, com certeza, não irá 
livrar-nos do aniquilamento, da devastação e do sofrimento, indiferente e insensivel aos nossos protestos e clamores por anistia.

     Debilitado, há que se recompor, ativar-se, avivar novamente, pois, apos o caos, que alternativa resta, que não seja mãos à obra ?
Se não estiver vivendo além das preocupações de todo dia, daquilo
que faz constantemente para se proteger, como escudo, não terá recursos para reassumir-se, quando, por fim, for atingido pelas 
forças imprevisiveis do mundo.

      Se não estiver vivendo alguma situação que lhe dê paz, prazer,
satisfação, condições que possa usar propositadamente para
desviar-se do roteiro mental de medo e dor, e, deste modo, 
manter-se solido, haverá muita dificuldade para reerguer-se, mais
uma vez, apos mais um reves. O peso da dor será insustentavel.

          Trilhar um caminho que proporcione satisfação, que sinta
prazer enquanto o estiver percorrendo, e grande dose de
contentamento.
É isso que torna a pessoa diferente da pessoa comum, é isso
que lhe dará solidez e compostura.

       Um caminho que dê paz e prazer. O verdadeiro escudo é
moldado por aquelas coisas que dão prazer e contentamento,
caso contrario, será aniquilado no proximo encontro.

          Não estará preparado quando se defrontar com as forças
devastadoras do mundo.
Não encontrará dentro de si resistencia adequada, tanto para
a defesa, quanto para reorganizar-se. 

             O verdadeiro escudo traz a insignea  :  PAZ  E  PRAZER.


     



           

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

" UM BOCADINHO MAIS DE TEMPO "


       
                Quando a vida está prestes a recolher-se, o lamento parece, invariavelmente,  sempre o mesmo. " Ah ! se tivesse mais um bocadinho de tempo... ", e se queda então silencioso, cabisbaixo, abatido,cansado, com sentimento de frustração,  desanimo e amargura.

                  Paira em sua alma a sensação de fim de festa, e pior, de festa não desfrutada. Agora é tarde, a banda já silenciou, a turma  dispersou-se e o ar festivo e animado do dia transformou-se em quietude, não sem melancolia, com sabor amargo de saudade.  O movimento, a algazarra, o vozerio, a alegria, tudo se reduziu, se acalmando, nada mais que silencio, recordações, imagens
 flutuantes na mente.

          Talvez a suplica por  "um bocadinho mais de tempo" seja a consequencia desse tempo desperdiçado, a vida não vivida quando a vida ainda era vida. Por isso o lamento, reivindicando mais vida atraves de um tempo suplementar.  Não se deu conta inclusive que o jogo acabou, ou, quem sabe, nunca tivesse mesmo dado-se
 conta do jogo.

         E .... se pudesse .... se fosse possivel ter novamente a vida de
volta, se tudo voltasse assim como a fita na tecla do "rew",
 o que faria com o tempo que lhe teria sido devolvido ? 

            Viveria diferente ? Faria as coisas de um outro jeito ? Teria tempo para ouvir o canto dos sabiás, sentir o cheiro da grama cortada, perceber a  multiplicidade sem fim de formas, e a riqueza notavel de cada momento enquanto a vida acontece ?

            Ou, quem sabe, não correria atras das mesmas vaidades,
das mesmas ilusões, vivendo as mesmas chateações, compromissos e buscas, seguindo as mesmas rotinas interminaveis, maçantes e enfadonhas, com a mesma pressa de sempre, sempre sem tempo para viver ?

        A bem da verdade, há sempre tempo suficiente para
 tudo que não temos tempo. 

Porque então a impressão da falta de tempo ?  Será o tempo que
anda escasso, ou simplesmente vida de menos para preencher
tanto tempo disponivel ?

     Desse modo, para que mais tempo, se não há vida suficiente
 para ocupar o espaço estruturado ?

    Preocupamo-nos com o tempo, quando a preocupação devia
ser com a vida.
A pressa nos passa a noção de falta de tempo. O relogio não é bom para ninguem, a não ser para quem tem pressa. A pressa é uma consequencia desastrada dessa maquineta perversa, pois nunca estamos no tempo certo, com o passo adequado ou a presteza necessaria.

             Não existe urgencia quando está atento, nem surpresas, tampouco, sobressaltos ou temores. Não tem pressa porque sabe que tudo acontece a seu devido tempo. Não se sente forçado a acelerar o passo, pois já compreendeu que o unico lugar 
possivel para ter paz e prazer é sempre aqui, neste momento, agorinha.

        Não é a impaciencia, por acaso, a falta de paciencia com este momento ?  Inconformismo com os fatos, intolerancia com o que está aí, queixumes, preguiça, sempre à espera de um tempo melhor
para viver, e cerveja para comemorar.

      Para onde será que foi o tempo ? Foi o tempo que encolheu,
ou a vida que perdeu o sentido ? 
Sem sentido ou discernimento, não há tempo suficiente para dar significado à vida.

       Não parece um desperdicio ter tempo ( tempo sempre há ), e
 não ter vida para viver o tempo disponivel ?

     O ar está festivo, mas não há animo para a diversão. Os pandeiros e tamborins estão animados, mas o dançarino está 
cansado. Esgotou o mundo e acredita que a vida não tem mais
misterios para ele.

        Desencanto por tantos descaminhos.
         Desgosto por tantas desilusões.

     Se torna amargo, olhar já sem brilho, passo lento e alma
mumificada. Em que encruzilhada será que se perdeu ?

          Porque insiste em esperar por algo quer não existe ?
Quanta vida pode ser vivida num dia  apenas!

        Não vivemos, porque esperamos por mais tempo. E tanto  esperamos, até não haver mais vida para ser vivida. O dia acaba e a festa tambem. Onde esteve enquanto os pandeiros e tamborins 
ainda eram festivos ?  Por onde andou quando os sabiás cantavam ?

      Confundimos tempo com vida. A vida não pode ser medida num
padrão de tempo. Não é pelo relogio que contamos a quantidade
de vida que vivemos. Tanto pode ser vivido num espaço de
tempo que nem conta.

      Poderá viver muito mais num dia apenas, que o tempo de uma vida toda. Não é a quantidade de tempo que importa, mas a qualidade da vivencia, a percepção de si, a consciencia de cada momento. 
                 Apenas vivemos no tempo, a vida, contudo, não é esse tempo. Barquinho na agua. O rio flui, e não são as ondas que
determinam o destino do barquinho.

        É o tempo que passa, ou somos nós que deixamos a vida passar,  escapando-nos por entre os dedos, se acabando, esmilinquindo, desbotando, se apagando lentamente, assim  como a chama quando a vela acaba ?

       Quem reclama por mais tempo, é porque ainda não tomou consciencia do verdadeiro significado da vida.

  

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A NOSSA CASA É ESTE MOMENTO



          Quando perde-se este momento, não há futuro possivel que resgate a vida que sumiu na ilusão dos sonhos.

      Quem espera, é porque perdeu o verdadeiro sentido da vida.
O vazio do agora tentando ser preenchido com expectativas vindouras. É esta a imagem fiel de quando se perde o rumo e nada
mais faz sentido.
      O possivel de ser vivido, degustado, sentido, apreciado, está
disponivel agora. Apenas e somente agora. Hoje é o dia. A vida
nunca é mais que este dia ( pense nisso ). Para mudar, basta hoje. Todo o poder está concentrado nesse dia, pois ele é o mensageiro de todas as possibilidades, de todas as mudanças possiveis.

       Não há outra vida disponivel, a não ser a contida neste momento, neste dia. Porque a vida é HOJE. É AGORA.

     Já se deu conta que a vida quando finda, o fato não se cumpre nem ontem, nem amanhã ? A vida, quando acaba, acaba sempre nesse instante. Moral. Não existe vida em outro tempo que não seja 
já-já, agorinha. A insistencia em procurá-la em outra instancia, é
como jogar um jogo sem o conhecimento das regras.

    Qual então o sentido da espera ?  Não há vida naquele outro tempo que aguarda para então finalmente viver.
O não vivido agora, não será mais vivido, tampouco.
     Quando  dança... o prazer da dança pode somente ser desfrutado enquanto dança. Não pode dançar agora e ESPERAR desfrutar seu prazer seja lá quando for. 

      E, não é a vida, porventura, uma permanente dança, em
continuo movimento, um constante bailado ? 
PROCURE por si enquanto dança, enquanto caminha, enquanto dirige, come, dialoga, trabalha... para verificar a que distancia está de si mesmo. É esta mesma distancia que o mantem longe da sua casa. Há sempre grande conforto e alivio quando se volta para casa.
Volte para esse momento, é este o seu lar !

    A importancia está sempre a nivel da alma. É lá que a luz se acende, trazendo inspiração e encantamento, renovando a
disposição e o entusiasmo em tudo que fazemos.

      A emoção está enquanto subimos a montanha.
Podemos apreciar continuamente o topo, ou então nos
maravilharmos com cada momento, a cada novo passo que damos. 

       Se a vida não for a manifestação da paz e da alegria,
é qualquer outra coisa,
mas não é a vida, com certeza.

      
   


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A VONTADE É PODER


             
          -  Seu João, isso que o senhor está relatando, são sintomas
que caracterizam uma doença das juntas o que, alias, se confirma aqui nos seus exames.
Alem do mais, a sua pressão tambem está elevada, assim como o  colesterol e a glicose. 
O medico continua examinando outros resultados e prossegue com
voz pausada para dar mais enfase às suas informações.
       
          - A dificuldade com a urina é porque sua prostata está aumentada. A falta de ar e a dificuldade para se movimentar, tem a ver com seu sobrepeso. Está gordo demais, seu João ! É peso demais para seu coração, suas juntas, seu figado, sua
cabeça.... o medico silencia, nesse ponto, se segurando pois seu desejo era complementar "demais para sua alma tambem".

        Se conteve. Continua olhando os papeis mas não se atendo mais aos numeros, apenas dando tempo para que os esclarecimentos a seguir pudessem fazer eco, levando a uma mobilização interno do paciente, que fosse capaz de um comprometimento consigo mesmo, e, a partir dai, uma mudança de postura, de enfoque, de perspectiva. Isto é, caminho para a cura.

       As verdadeiras mudanças não seguem os caminhos da razão,
 se realizam em niveis mais profundos, quando o intelecto
tiver sido posto de lado, sem a interferencia da racionalidade.

       Há aqueles momentos em que o silencio se reveste de um significado  especial,  muitas vezes  mais eloquente que discursos pomposos ou considerações logicas, coerentes, ou até sensatas. 

         O medico fez uma longa pausa entre a analise dos exames e suas ponderações finais quanto ao esquema terapeutico.  Parecia estar refletindo, a julgar por seu olhar atento, sua postura cautelosa, para encontrar a melhor forma ou a melhor palavra para se fazer entender e, desse modo, poder ajudar seu João a livrar-se de tanto sofrimento.
                      - Acho que o senhor já deve ter entendido, a essa altura, que sua condição fisica está a exigir, com relativa urgencia, uma serie de cuidados.
Começou então a falar da necessidade urgente de se movimentar
com regularidade, para que  as condições gerais do organismo pudessem se reestruturar.  Fez uma explanação extensa de todos os beneficios advindos da atividade fisica regular e disciplinada.

Expos tambem os cuidados relativos  à alimentação, o maleficio de certos habitos alimentares que, sem mudança nesse sentido, pouco efeito podia ser esperado do simples tratamento medicamentoso.

Não deixou de assinalar tambem os efeitos das emoções, a relação
existente entre o que sentimos e aquilo que o corpo manifesta como saude ou doença.

       Seu João, apos ouvir todas as ponderações do medico, foi
tomado por um sentimento de desanimo e desconsolo.

           Quando entrou no consultorio, viu a parede da sala de espera
emoldurada, de cima a baixo, de pequenos quadros com diplomas e
certificados de cursos.
Até imaginou que devia havia mais dessas molduras, apenas faltava
parede para mais exposição. 
Imaginou que um doutor graduado dessa forma, haveria, com certeza, de dar solução aos seus tantos sofrimentos. Teve, momentaneamente, a sensação que estava no lugar certo, e sentiu-se aliviado. 

           Apos a fala do doutor, no entanto, o sentimento de alivio
transformou-se em descrença e amolação. Esperava que seus males fossem resolvidos com alguns comprimidos ou qualquer outra intervenção terapeutica. Para que tantos diplomas pendurados na parede, pensou contrariado, se dependia dele, em grande conta, o
sucesso do seu tratamento. 

      Baixou a cabeça, em sinal de respeito, enquanto o medico continuava sua explanação sobre as mudanças que teria que realizar 
em sua vida, implementar novos habitos e desfazer-se de outros
tantos.

     Não quis polemizar, nem dar voz aos seus pensamentos.
Estava frustrado. Sua contrariedade tinha a ver com a esperança
que nutria para ver-se livre das suas questões, simplesmente atraves 
da intervenção do medico, do mesmo jeito que faz  papai quando o filhinho se encontra em apuros, resolvendo suas dificuldades.
Num ultimo momento, mesmo assim desabafou : doutor, quanto
sacrificio ! Isso tudo que o senhor falou, vai me cansar muito ! 

         Paulinho estava muito furioso com seu papai porque este
não lhe trazia mais um chocolate todos os dias. "Não gosto
mais de ti ". Amuado, baixou a cabeça, e fez beiçinho.

             São nossas crenças que determinam nossos julgamentos.
Não podemos ir alem do que formos capazes de conceber com
nossas convicções.

       Nos transformamos em função da nossa vontade. O poder de 
um homem é estabelecido por ela.
 As coisas impossiveis acontecem, emanadas por esse poder.

       A vontade é a realização maxima de um homem.