domingo, 28 de outubro de 2012

O TERRIVEL " MAL DOS SABIÁS "


                          Historias malucas as ouvimos, todos nós, quase todos os dias, vindas das mais diversas fontes, com tematicas de todas as matizes, ora inusitadas, outras, nem tão surpreendentes, mas todas, sem duvida, de uma forma ou outra, nos afetam, comovem, pondo-nos pensativos.

          Historias que tocam, seja por seu aspecto grotesco, sua comicidade, ou então pelo enfoque pungente, angustiante, exemplo das grandes tragedias, sejam elas individuais ou coletivas. Sensibilizam pelo intenso sofrimento que infligem, e, particularmente, pela sensação de desesperança que evocam, mesmo no mais indiferente dos humanos.  

       A tragicomedia humana encenada no palco dos fatos da vida.
A dor na manifestação da tragedia mais execravel, ou  da comedia
mais surpreendente pelo seu inusitado desfecho. 

    Seja pai violando seus filhos, marido vitimando a companheira,
familiares brutal e bestialmente exterminados, tragedias da natureza, onde a coletividade é atingida, ou o ladrão incauto, entalado na chaminé da lareira, gritando por socorro.

       Aterrorizante ou engraçado, seja o fato da natureza que for,  o sofrimento, no entanto, estará sempre presente, dessa ou
 daquela forma. 
                  .....................................

         Parei de escrever e reli o que havia escrito até esse momento.
Fiquei surpreso com o que havia escrito, pois o objetivo a que me havia proposto para essa conversa, não tinha nada a ver com tragedias ou eventos de grande sofrimento. 

      Queria apenas repassar a historia, verdadeira ou não,
( nunca se sabe ), que Ghi Belique, dia desses, havia-me contado. O tema do enredo girava em torno de uma mulher que, praticamente, havia endoidado .... devido aos sabiás.

          Sempre que nos encontramos, não deixo de apreciar seu
senso teatral, seu humor cativante e suas exposições  engraçadas,
ora comicas ou jocosas mas nunca deixando de ter um ar espirituoso e divertido. 

                 E a historia que me conta, é apenas mais uma das tantas historias malucas que ouvimos todos os dias. Contudo, maluquice à parte, no dizer do  amigo, a dita senhora estava à beira da insanidade devido... aos sabiás.

         O raiar do dia era a hora do seu maior tormento, o instante
crucial, um verdadeiro martirio do qual não era capaz de se livrar.
O canto calamitoso, de saudação ao sol, do maldito bicho emplumado.

         Dona Juvencina encontrava-se aos cuidados de especialistas renomados, peritos das mais diversas areas de especialização, que investigavam, com obstinação, a surpreendente morbidade, tentando resgatá-la do seu mal, o intenso sofrimento a que estava sendo submetida.

      Medicamentos de ultima geração haviam sido testados, debates acalorados, exames sofisticados, discussões interdisciplinares, questionamentos a não poder. Por fim, sessões de psico, sono, quimio e radioterapia tambem foram aventados, o mal, no entanto,
se aprofundava dia apos dia, restando pouca esperança  quanto a reversão do caso.

         A terrivel enfermidade foi até catalogada no Codigo Internacional de Doenças como o "mal dos sabiás". A essa altura  havia uma conjunção de forças da medicina high tech, das maiores autoridades globais, tentando debelar o misterioso disturbio da dona Juvencina; a essa altura, ela propria, tambem, não menos afamada,  portadora de tão estranha enfermidade. 

              Ghi Belique, que é por natureza de personalidade um sujeito extravagante e dado a travessuras e provocações quanto  seus relatos, deixou-me tambem curioso quanto a exposição, do excentrico mal sofrido pela dita senhora.

          - Afinal, que desgraça é essa de "mal dos sabiás", indaguei-o
entre nervoso e desconfiado.

         Olhou-me, fixamente, como sempre faz, teatralizando o evento, para dar-lhe importancia, tanto ao evento, como para si
proprio. Seus olhos estavam semi-cerrados, como quem ajusta a visão, para definir melhor seu ponto de vista. Parecia estar olhando atraves de mim. Parecia comico, mas havia emoção no seu relato.
Não havia como não ficar envolvido e tomado por extrema
curiosidade.
                       Verdadeiro ator do suspense, como quem está prestes a revelar a solução de um extraordinario misterio. Por fim, segredou-me, com voz pausada e em tom quase inaudivel, o verdadeiro terror envolvendo a famigerada historia.

         - Sabe como o sucedido foi equacionado ?  ( estava euforico, ele proprio impressionado com seu relato bizarro ).

  "Caçadores de elite". Isso mesmo, caçadores de elite foram importados de um país distante, verdadeiros mestres na arte de tiro ao alvo ....  para exterminar, sem exceção, os possiveis e até improvaveis sabiás existentes. E, foi então  que concluiram, graças a deduções sofisticadas de alta engenhosidade, as eminentes autoridades envolvidas, que, sem sabiás, não haveria cantoria e sem cantoria, o "mal dos sabiás"  seria, então,  definitivamente extinto dos anais da historia da medicina. 

            Uma grande vitoria, sem duvida, para a medicina, com suas
requintadas tecnologias, mas, sobretudo, a tão almejada paz  para dona Juvencina, que, daí por diante, o raiar do dia deixou de ser um  suplicio, um momento de sofrimento e tanta desgraça. 

       Falei que aquilo parecia conto de ficção ou loucura da sua cabeça. E, com o ar mais serio do mundo, me perguntou, porque
eu haveria de pensar que uma pessoa não seria capaz de endoidar devido ao canto do sabiá. Esclareceu que, nesse mundo, tudo é possivel. Enquanto a pessoa não colocar para fora o que é desnecessario na vida, tudo se torna perigoso, pois é capaz de trazer para fora o que há de pior dentro dela. 

          Eu sabia que estava sendo sarcastico, embora tivesse uma expressão seria e ao mesmo tempo se divertindo com minhas duvidas e estranhezas.  

             Suspirei fundo, e quando dei por mim, Ghi Belique já 
estava longe, envolvido pela multidão dos transeuntes.  Ainda o vi,
à distancia,  antes de dobrar a proxima esquina.
 Passo tranquilo e pachorrento, sem se virar, levantou o braço esquerdo em sinal de aceno, como quem se despede e desapareceu. 



   

   

        

      

       
                         

          

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O SEGREDO DOS PARDAIS



    Não faça aquilo que não gostar de fazer,
  o que não te der prazer, satisfação ou contentamento.
  Irá se cansar, ficará doente, frustrado, queixoso e reclamão.

Terá enxaqueca, zoeira no ouvido, noites mal dormidas,
unha encravada e bobeira na cabeça.

Frustração é isso
falta de envolvimento e verdadeiro compromisso,
 o comprometimento interno com esse momento,
a atitude correta de colocar-se inteiro no que estiver fazendo.

Prosseguir ... e sempre !
Determinação de propositos, disciplina e empenho,
capaz de encontrar satisfação e verdadeira realização pessoal
em tudo que estiver envolvido,
identificando-se com a alma quanto as escolhas assumidas.  

Se achar que a vida é dura, uma luta,
o trabalho fica pesado,
voce se cobra, compete,
e a pessoa se torna chata.

A energia se contrai,
a pessoa se encolhe, diminui, se atemoriza
e uma resistencia interna se cria.

Por isso tudo se complica, se dificulta,
faz força, empurra, corre,
loucura sem fim.

É bom, se te faz feliz.
É saudavel, preserva e imuniza,
protege o coração, as tripas e o pensamento.

Não terá que buscar tratamentos preventivos,
imunizações artificiais ( falsas seguranças ),
truques e malabarismos forçados,
ou quem sabe, rezas pesadas para o babalaô de plantão.

Sofrimento é isso
quando se perde o entusiasmo, a curtição
e a rotina se torna sem graça.

A vida se mede pela paixão, pelo gosto,
pelo encantamento, pelo bem estar que proporciona,
e não pela vangloria das conquistas fugazes e itinerantes.

Lembra ainda
 quando cantarolou pela ultima vez sua canção predileta ?
Não lembra ? 
Ou até já se esqueceu dela completamente ? 

Caminhos por onde não se passa com frequencia,
o matagal se encarrega de apagá-los por completo.

Não é função das coisas
preencher nossas necessidades de prazer e satisfação,
mas é pelo prazer e contentamento que as coisas são criadas.

A sensação de insuficiencia
não é uma questão de não ter,
mas de não se sentir satisfeito com o que se tem.

Antidoto para o sofrimento ?
A alegria ! Exclusiva e unicamente a alegria ! 
Fazer pela alegria que o fazer proporciona,
pelo prazer em si de estar aí
e não pelo resultado ou ganhos que possam seguir.

A alegria faz que esteja de bem consigo,
pois estará a seu lado, se tratando bem, se curtindo,
sem luta nem esforço,
pois quem faz força não compreendeu o significado do jogo.

O pardal não necessita de grandes feitos para sentir-se satisfeito.
Se a realização pessoal passa pela conquista,
identificação com a aparencia e os valores,
é porque tem uma visão equivocada de quem é.

Se acredita no esforço
é porque o estusiasmo não faz parte da sua agenda.

Não faça se não sentir tesão pelo que estiver fazendo.






domingo, 21 de outubro de 2012

" E..... QUEM MATOU MAX " ?


                     Chegou fazendo barulho, falando alto, gesticulando aos quatro ventos.  Sorriso franco, aberto, solto como quem está de bem com a vida, sem problemas, conflitos ou qualquer forma de inquietação. A imagem tipica do sujeito bonachão, folgado e espaçoso.  Sua faceirice lembrava o cãozinho quando reencontra novamente seu benfeitor. Barulhento mas festivo.

          Aproximou-se do amigo, saudando-o, irreverente, com um tapão nas costas. "E dai, malandro, tudo em cima ? "
Sem esperar pela resposta, foi emendando : "que achou do remate final ? "

           É sabado, ainda cedinho, com pouca gente nas ruas, à exceção dos caminhantes de sempre. Os sabiás não haviam  concluido ainda sua saudação do alvorecer. Seu assobio melodioso era ainda ouvido em todas as direções.
Corria uma aragem fresquinha, propria desse momento, com as fragrancias da manhã, quando a atmosfera  não se encontra ainda 
poluida.

         Local  :  praçinha da matriz, lado oposto aos balanços,
local dos aparelhos de alongamento. Perna direita sobre o cavalete, corpo inclinado sobre a  perna, forçando os musculos da parte posterior da coxa.

             Não conhecia, nem o que acabara de chegar, tampouco
o que se alongava. Sem me perturbar, continuei  meu aquecimento. Como a distancia que nos separava era pequena, fiquei como ouvinte cativo da algazarra do inesperado visitante.

                      O que se alongava respondeu à saudação, que, no entanto, não me pareceu do mesmo nivel de entusiasmo do intruso brincalhão. Com voz abafada, de quem se encontra em posição incomoda, inclinado sobre a perna, com diafragma contraido, respondeu, perguntando :  "que remate final ?"

         A entonação da sua voz passou-me a impressão não estar a fim de conversa, talvez em função do momento, ou, quem sabe, o outro fosse um daqueles folgados, chato, espaçoso, sem desconfiança nem limites, e se fosse dar trela, aquilo bem que poderia não ter fim.

Deparar-se com perguntas burras sobre bobagens, principalmente para ter assunto ou em determinadas circunstancias, eleva o nivel de adrenalina, consumindo qualquer reserva de paciencia ou boa vontade. Cansa, desgasta e enche os tubos a não poder.

        Percebi que a resposta  deixou-o um tanto sem graça. Seu sorriso, há pouco franco e descontraido, foi recuando lentamente, murchando, até sumir de vez. Ficou embaraçado, mais talvez pela sua indagação não ter encontrado uma reação à altura, que, ao parecer dele, deveria ser evidente, em função da sua importancia.

A pergunta, mesmo sem ter sido clara, ao ver dele, não poderia deixar duvidas sobre o que estava sendo questionado, tal sua relevancia. Em função disso, teria que entendê-la assim mesmo.

           ( as coisas que nos são importantes, como podem deixar de ser importantes para os outros ?! Absurdo ! Falta de consideração... e por aí vai )

        Um se alongava para iniciar a caminhada, o outro
querendo tagarelar sobre o final da novela. Deu a entender
que estava fazendo uma enquete, um ibope particular, para
saber o que as pessoas tinham achado sobre as deliberações
finais da "fantastica e emocionante" ( palavras dele )  
 ficção televisiva da noite anterior.

              Enquanto dava os primeiros passos, iniciando a caminhada da manhã desse sabado, consegui ainda ouvir os comentarios finais do que se alongava, articulados em voz baixa, como quem fala para si mesmo : " .... e querem ser felizes " !

   Os sabiás ainda cantavam,  alheios às frivolidades e à tragicomedia humana.

          ( quem se importa com o que não importa, jamais compreenderá a importancia daquilo que verdadeiramente importa )

      Voce tambem fez bolão com seus amigos para saber
quem matou Max ?....



        

              

sábado, 20 de outubro de 2012

AMBIÇÃO E MULHERES - QUAL A SEMELHANÇA ?


             
           A ambição é possessiva. E uma vez capturado pelo seu feitiço, não encontra a pessoa outra alternativa que não seja seguir o destino por ela definido. 

      É uma energia feminina. É como uma mulher, e, como tal, adula, agrada, seduz.  Faz  com que o homem se sinta especial  e envaidecido. É essa a forma como as armadilhas são arquitetadas. 
E, se for encantar-se demasiado, o entusiasmo transformará a ambição na certeza de ser esse o unico caminho a ser seguido. Há outros caminhos, claro, mas sua astucia e presteza nos assegura que o caminho dela é o unico.  
               A cobiça é o corolario do medo. O efeito padrão, quase logico e natural perante nossa impotencia e a complexidade que o tema determina.
                              Já não nascemos aos berros, apavorados, sendo esse pavor que irá nos acompanhar ao longo de toda nossa
 existencia ?   O medo nos segue de um modo implacavel, frio, imperturbavel, presença pegajosa, como se fosse assombração. Não dá tregua nem folga, igual  inimigo oculto, sempre à espreita, de tocaia, vigilia permanente. Tornamo-nos assim indefesos, e vulneraveis às suas manobras astutas, elaboradas com total hablidade. 

                      A duvida e a incerteza quanto ao resultado de qualquer situação, criam invariavelmente o temor. Estando em permanente estado de alerta e sobressalto, tanto os pensamentos quanto as ações humanas serão motivados, em seu nivel mais sutil, por esse sentimento devastador.

       As decisões tomadas em todas as esferas da vida, seja nos negocios, ou na industria, na politica, ou religião, nos departamentos diplomaticos das nações,  nos envolvimentos economicos de investir, poupar ou consumir, tudo que se refere à guerra e paz, as determinações de acumular ou distribuir, unir ou dividir, os  movimentos quanto à disputa ou conciliação,  entre competir ou colaborar, compreender ou intransigir -  serão sempre decisões referendadas, em ultima analise, por esse inimigo tão poderoso. O medo !  

                         Desse modo, a motivação basica de tudo que realizamos na vida, se origina dessa atividade psiquica com seu poder implacavel de torturar. 

       Em verdade, aprendemos a conviver com o medo, que, por fim,
se torna subliminar, isto é, não mais percebido de forma nitida, manifesta e consciente. Será constatado de forma disfarçada, oculto nas motivações dos nossos procedimentos. Sabemos do medo pela
ambição que alucina, nos subordinando aos seus dominios, confiscando o bom senso e a sensatez. De igual modo, quando se perde o homem pelos caminhos da sedução e feitiço oferecidos
pela mulher. Diz-se que perdeu a cabeça ! Seria apenas a
cabeça ?

        Aprendemos bem cedo que a sobrevivencia é do mais forte,
que o sucesso está na habilidade de se tornar esperto, diferente e melhor que o outro. E, ver-se como menos, insinua, instintivamente, a imagem de perdedor. Tem a ver com não dar conta, ser descartado, não alcançar seus objetivos. Ficar para tras. Ser ultrapassado. E objetivos não alcançados, remete ao conceito de fracasso. E fracasso, como equivalente à danação.  

         Frente a isso, fica claro, que buscará a ação que o medo justifica. E essa ação promovida pelo temor - qual será a dinamica do empreendimento quando a motivação estiver sob seu dominio ?

         Dentro dessa baderna mental, haverá ainda espaço para o sossego ? Poderá algum dia finalmente encontrar a paz ? 

   O medo apequena, nos torna vulneraveis e indefesoso. Sendo um movimento interno, inacessivel por vias simples e rapidas, buscaremos, em tal caso, a solução atraves de uma postura externa. O movimento se fará então para fora, para os outros. Ação determinada pelo retorno, pela aprovação, pelas conquistas. Foi isso que aprendemos, todos, e é assim que  a humanidade caminha. Se coloca como a alternativa mais acessivel e habitual  para tentar  libertar-se desse tormento tão desagradavel.
                                            Mesmo assim, apesar de tantos esforços, permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, sempre à espreita. Sem enfrentá-lo de frente, reconhecendo seus enredos, suas manobras, terá o medo posto fim à  busca de redenção atraves do conhecimento.

       Para tanto ,há que ser um homem forte, viver uma vida verdadeira, com propositos claros, identificando-se com eles. Tem de estar  desperto, ter uma inabalavel confiança em si proprio e uma forma de autodisciplina que visa a realização pessoal.  Não se esquivar dos esforços no sentido de enfrentar desafios. É isso que dará sentido e direção à vida. Não se deixando motivar pelo que está alem, pela recompensa dos seus esforços, pelo que o futuro possa trazer. Estará consigo mesmo, pelo que está ai, por este momento, pela curtição.    

      Sem isso, não se sentirá completo nem saciado. Haverá a necessidade indefinida de atulhar atraves de uma ação incessante e cansativa. A satisfação será momentanea e passageira, tendo que buscar cada vez mais e outra vez. Será abatido pelo proprio sucesso. Sucumbe frente ao triunfo, pois a motivação principal foi pelo medo. Alcançou seus objetivos, o medo, entretanto, permanece presente e inalterado. Andou tão longe e não chegou a lugar algum.

        A vida não é uma maratona com largada e ponto de chegada.
Os louros e aplausos do mundo verá, finalmente, que são vazios de
significado e conteudo. São como pó ao vento que logo irá se desfazer, deixando em sua trilha um sentimento de desgosto pelo
vazio existencial que provoca. 

          O medo não foi superado, apesar das metas terem sido atingidas. O equivoco foi o que motivou o empreendimento. As
conquistas que não mobilizarem um movimento interno, no sentido da alegria de viver, uma sensação de paz e extase interior, se demonstrarão, antes da proxima esquina, como simples atrativo, chamariz enganosa que vitimiza e aprisiona.
Será abatido pelo sofrimento, decepção e por sentir-se perdido e
sem direção. 

       O aplauso virá do seu prazer de fazer aquilo, estando centrado em si. Não terá necessidade do aplauso das arquibancadas, da 
admiração do mundo. Mesmo assim ele virá, o reconhecimento virá, no entanto, não irá importar-se pois estará satisfeito frente à sua postura, seu auto-reconhecimento.
                                        A ambição lança mão do esforço que busca retorno, tendo em vista metas e reconhecimento. Ser bem sucedido, contudo, nas coisas do mundo, não é a verdadeira expressão de realização pessoal, pois não virá acompanhada dessa sensação de plenitude, de paz e sossego.

           Se empenhará, sim, mas esse esforço virá da sua satisfação,
do seu contentamento, por estar se experimentando de formas tão
variadas, sendo eficiente e fazendo tudo bem feito. Busca a eficiencia, não pelo retorno, mas pela curtição. Curtir-se fazendo.
Por isso se sentirá bem. Sentir-se bem agora, por esse momento, e
não pelas coisas que virão depois. Não estará centrado no futuro,
no virtual, sempre à espera, num estado de eterna prenhez e de parto improvavel.
                           Não irá sabotar o presente com as promessas gloriosas de bem estar por tudo que haverá de vir. Depois !
Será  que virá ?

       O paraiso é sempre uma miragem, um devaneio em forma de uma ideia, de algo a ser alcançado num outro tempo. Assim, esse
momento se torna um obstaculo, algo a ser ultrapassado o mais 
rapido possivel para chegar lá. Por isso a pressa, a afobação e a impaciencia  que norteiam  o funcionamento de tudo que fazemos
a cada momento. Sempre olhando para frente, porque agora  é só
monotonia e chateação.

             Quando, finalmente, não forem mais as criticas e os elogios
que determinarem a dinamica da vida, estará a pessoa ancorada
em outra realidade, num outro universo, sem o drama do medo,
nem a salvaguarda fantasiosa da ambição. Sem escoras nem muletas, se orientará por um impulso interno, com um proposito que transcende conquistas ou reconhecimento.

              Verá então que a vida se modifica, tendo acesso ao verdadeiro significado do que seja viver.




            

           

            
                     
              

domingo, 14 de outubro de 2012

O LUSCO-FUSCO DA LAREIRA CREPITANTE


               O verdadeiro poder se revela quando se tornar desnecessario.

     A pessoa perde o interesse. Não importa mais,  já não se sente
envaidecido, qual sapo estufado, ante o prestigio e a exaltação.

       O que fez até então para sentir-se importante, percebe agora que foi tudo em vão. Tornou-se grande mas compreende, desencantado,  que sua grandeza o apequenou.

     Tornou-se escravo do reconhecimento em retribuição ao
poder que lhe conferiu. O valor que o prestigio proporciona,
reclama, invariavelmente. compensação relevante. 

           Os grandes feitos e conquistas, na realidade, o vitimaram. 
Constata que não valeu para nada. Apenas aparencias, tolices sem serventia, sem consistencia ou significado algum. Viagem atraves do vazio da soberba e da afetação. O movimento se fez apenas para fora. Encastelado na altivez, pretensão e soberba, aprisionou-se
dentro da propria imagem que construiu como salvaguarda.

        Valeu tão somente para impressionar e projetar uma imagem de grandeza e importancia.  No entanto, não alcançou a paz e a serenidade, nem tampouco a genuina sabedoria da vida,  com todo  poderio, realce e aclamação.

       A gloria e o sucesso não irão eximir a pessoa da responsabilidade dos aspectos transcedentais. Se a visibilidade externa não levar luz para os ambitos da essencia, ficará o individuo
na escuridão do ranger de dentes e da ruina.

        Não se aprofundou nos misterios da vida para poder aventurar-se por caminhos incomuns, e circular por mundos inimaginaveis. Ficou nas aguas rasas acomodado na segurança domestica.

           À medida que a auto-importancia tornar-se imprescindivel, distancia-se a pessoa cada vez mais daquilo que busca com tanto brio e decisão. Aposta equivocada conduz, de qualquer modo,  ao insucesso e  dano.

          ( No pai-dos-burros importancia e impostura, como poder e
podre andam um apos o outro. Não seria, por ventura, de igual modo, tambem na vida ? ... Simples divagação ! Nada cientifico !... ) 

           Feliz daquele que deseja o saber, e o verdadeiro conhecimento, pois encontrará dentro de si a solução para seus impasses e contratempos, não se apegando a falsas divindades para não transformar-se num falso heroi.

         Quem se volta para a auto-idolatria, segue os caminhos da
idiotice. Retornará de mãos e coração vazios. O delirio da vaidade
não tem outro destino a não ser o desengano e a desilusão.

        No tempo em que os aplausos não fizerem mais eco dentro
da sua imagem de presunção e notoriedade, e o pedestal tiver
ruido, restando apenas o glorioso vazio de um poder sem sentido, 
é chegado, finalmente a oportunidade de uma nova perspectiva, de um novo recomeço, onde uma compreensão mais lucida conduzirá a  um movimento mais ponderado, sereno e com sobriedade.

      Onde a realidade não estará  mais fundamentada na sedução do grandioso e do resplendor.
 Ou poderá, em tal caso, submergir ao desespero do desencanto das ilusões frustradas, não encontrando amparo nem forças para outra dinamica,  ou dar partida a um novo realinhamento.

            Engajado ao movimento da consciencia e ao verdadeiro conhecimento das coisas, ou seguirá o caminho do aniquilamento.
Caminho seguido por todos aqueles que não se conformam, desesperançados, devido ao fracasso do seu projeto de poder e 
ambição. 

       A significação que projetou no prestigio e autonomia, o privou
da sua verdadeira grandeza e essencia, que não requerem, por sua vez, palanque nem a ovação das galerias. 
  
         O narcisismo, pela sua mediocridade, busca no feitiço da
ostentação e importancia a sua façanha de supremacia. O dominio da soberba deforma e corrompe. Sem a discrição da simplicidade e
da modestia, a postura se torna ofensiva, pois age a partir do medo.
Busca proteção e segurança escorado na força do prestigio, e no
peso dos seus feitos.

       O poder pretendido pela motivação pessoal de grandeza e interesse, não conduzirá  para a verdadeira maestria. Irá apenas projetar-se neles como simples mecanismo de identificação. 

       Não obstante, quando tiver dominio sobre si mesmo, qualquer outro poder ou contexto deixará de ter relevancia. Não será
desviado ou desvirtuado por acenos oportunistas, ou promessas ilusorias, que possam desencaminhar seu projeto de conhecimento 
e verdadeiro aprendizado.

             Não apenas os grandes e poderosos são vitimas das suas
proezas de apego e engrandecimento. Todos somos. Não encontrando outra rota para o encontro consigo mesmo, alcançando desse modo, a paz e o equilibrio, constroi sua imagem às feições e exigencias do mundo. 

          Naturalmente o caminho é longo. Levará tempo. Aplicação
de uma existencia inteira. É  para fortes e destemidos, com fibra, espirito de desprendimento, sacrificio e uma visão clara e definida daquilo que se busca. Sem um proposito e uma vontade irrepreensiveis, o destino será o fracasso e a decepção.  É por isso que são poucos os que chegam.

       A imagem primordial é forjada nos fornos da temperança e da
sobriedade. Qualquer pessoa pode ir em busca do conhecimento, mas poucos o conseguem, e isso é natural. Há expectativa de um retorno rapido pelo seu investimento, que não acontece. Não faz ideia do longo caminho a ser percorrido para ter acesso
à verdadeira  aprendizagem. É tudo muito lento ( como tudo que 
é importante na vida ), e é essa vagareza que leva a imensa maioria
buscar resultados mais rapidos seguindo outros esquemas. 

      Os caminhos faceis tem sua atração e magia. À seu tempo, no
entanto, mostrarão sua face oculta de engano e simulação. Face de puro horror e tormento.
 Verá então que o palco do mundo era de mentirinha, utopia onde as ilusões de grandeza finalmente serão desfeitas e canceladas. 

          Por fim a vaidade e o poder haverão de cumprir seus verdadeiros designios. Desapontado e humilhado pela propria
ostentação e gloria, os aplausos deixam de fazer eco, a imagem luminosa se desfaz e um vazio devastador entra em cena.

      Recolhe, por fim, os cacos do que restou, resignado, olhar incredulo e cabeça baixa, volta para casa desfigurado, qual guerreiro abatido.
Laureado, nem por isso vencedor.

           Senta em frente à lareira crepitante, e, silenciosamente,
deixa-se envolver pelo ambiente aconchegante e alentador. Sente o
conforto de quem se sente acolhido. Por fim, acolhido por
si proprio. Por fim, consigo mesmo.
Distante da balburdia da adulação e dos holofotes, abrem-se
lentamente as cortinas de um mundo novo, mundo feito de poesia e de silencio.  Um silencio eloquente, repleto de significado e sentido.
O silencio sagrado onde a verdadeira vida palpita.

       E, no lusco-fusco da lareira que crepita, uma sementinha
fragil mas valente, de um novo recomeço, é lançada por terra.

               Quem sabe, venha a germinar. 
           
                       É por isso que se diz que o caos sempre antecede um novo arranjo, uma estruturação que faça sentido, dignificando a
vida e aquilo que realmente valha a pena de ser vivido.   

       

               

  

domingo, 7 de outubro de 2012

AS ARMADILHAS DAS ILUSÕES DE GRANDEZA


             Buscar a importancia de si atraves das conquistas externas, as tentações do poder, a ostentação do prestigio, a influencia, são 
apenas armadilhas onde as nossas fraquezas são testadas.

          Aceitar ou rejeitar os atrativos da grandeza, o tornar-se
especial, notavel, é, sem duvida, o grande tema que cada ser humano tem de considerar.

     Evitar tais armadilhas ou tornar-se prisioneiro delas, é o problema pessoal e individual de cada um de nós.

        Sucumbir à idolatria por tornar-se interessante, e às promessas do poder, é o caminho mais seguro para o aniquilamento.

          O grande desafio para todos, é pegar apenas o que for
necessario. E saber o que é necessario torna-se a virtude mais notavel dos que buscam a realização interna e não apenas os aplausos do mundo.

      Não há realização  mais significativa que contentar-se apenas
com o necessario. Carregar pesos para além da conta, torna a bagagem inutil, gerando preocupações e desgastes inconvenientes.

      Sem essa compreensão converte-se a pessoa em presa facil das
armadilhas da ambição e grandiloquencia, cujas sequelas, sem
duvida, são desoladoras. O preço a ser pago está alem da 
capacidade humana para dar conta do calvario que se segue.   

       A oferta é vistosa e tentadora. Os atrativos são sedutores. A verdade, no entanto, está disfarçada, a armadilha não está à vista, pois se encontra dissimulada com artificios. A cilada tem seus objetivos, não fosse assim, não haveria necessidade de disfarces e tantos truques.

             A busca pelo poder e a importancia de si está repleta de armadilhas. E sucumbir a elas é o efeito da promessa de transformar-se em alguem vistoso e especial. Alcançar visibilidade. No entanto,qualquer coisa oferecida traz sempre embutida uma divida, que, a seu devido tempo, será reclamada.

                   Buscar o poder para engrandecer-se e não pela sabedoria de viver cada vez melhor, é a rota mais curta e precisa para a desdita e a amargura. O poder que vem do conhecimento de 
saber a cada momento a melhor forma de viver, cada vez melhor, é
essa a verdadeira expressão do legitimo poder.

          Esse poder realça a vida da pessoa, orientando suas ações no sentido de colocar-se com sabedoria, ao mesmo tempo aumentando seus conhecimentos. O poder que é capaz de transportar o homem
além das suas proprias limitações.

         A sensação de tornar-se influente, com prestigio, em destaque, é algo que envolve, seduz, algo que atrai como uma mulher.  Sua conquista devolve ao homem um sentimento de bem
estar. Sente-se poderoso e importante.

      O poder é isso. E quem o conhece, fica com gosto de querer
cada vez mais. Mas quem se deslumbra com seus artificios de sedução e encantamento, se verá envolvido na loucura do delirio
de uma paixão desenfreada e sem limites. 

        O poder dá força. E quando essa força não for mobilizada  no sentido de produzir um movimento interno de evolução e consciencia, esse poder será lamentavel tanto a nivel pessoal quanto para o meio circundante. 

         Realizar façanhas e feitos singulares, atrai os holofotes da
admiração, do respeito e importancia. Receberá a ovação das galerias, dos que gritam olé. Torna a pessoa especial, e pior,  ela  dá credito de valor ao vozerio da exaltação.
Essa magia e deslumbramento, a seu tempo, se mostrarão falsos, sem densidade, significado ou serventia. 

                 O caminho é arduo e penoso. Não existem facilitações nem atalhos, mas saber que é possivel, dá à pessoa um raro senso de entrega e resolução. É o caminho que leva ao verdadeiro
poder, eficiencia, força e virtude. Dominio de si proprio que encaminha para uma consciencia clara e com equilibrio.

          Para ir alem dos niveis da consciencia normal, o comprometimento é profundo, a pessoa encontra-se desperta, disposta, apesar dos medos, pois o compromisso é de vulto.

       Terrivel é pensar num homem sem o conhecimento, sem a perspectiva real dos fatos. Em quê irá apegar-se ? Será presa facil
das promessas tentadoras de privilegios tendenciosos. Buscará satisfação atraves da vaidade ou dos atrativos do ego. Cansa de tanto olhar para si, preocupado com segurança e com suas tralhas.
Não consegue estar alem das suas manobras de realização e de fazer-se cada vez mais atraves do esforço de amontoar sem treguas  nem limites. Achar-se nas coisas, projetando-se atraves delas.

               Poder que escraviza ao inves de libertar das amarras e
limitações internas. Irá buscar até cair cansado, pois não encontrará no mundo aquilo que não for capaz de encontrar dentro de si proprio. O mundo é feito de coisas, mas não serão elas que irão sacia-lo da sua necessidade de paz e encontro consigo mesmo.

      O poder e a satisfação que não fortificam o coração,
tornam a pessoa obsessiva e dominadora. Quem se deixa corromper pelas brilhos e penduricalhos do mundo, torna-se fraco
atraves do poder que adquire. Perde a sobriedade e a temperança.
Vende a alma e tudo o mais para o diabo.
  
            A pessoa não pode ignorar as razões pelas quais se envolve. O que busca, quais suas intenções, seus propositos. Está aí pela vaidade, pela luz que projeta atraves das conquistas ? Ou seu passo se orienta pelo auto-conhecimento para sentir-se naturalmente feliz e realizado ?

             Nem todos os assentos são bons lugares para se acomodar ou estar. Há aquele que é unico, onde a pessoa estará na melhor forma e na melhor postura.
O ponto da felicidade, da paz e da modestia. E cada qual terá de encontrá-lo por si proprio.
                    Para tanto, terá de ser inflexivel e austero nos seus propositos. Sem a sobriedade do dominio de si proprio, não sucumbindo às influencias das promessas facilitadoras, ou a visibilidade das falsas aparencia, não é esse o caminho que conduz, afinal, ao verdadeiro poder ? Poder emanado da sua sabedoria, o reflexo das conquistas do mundo interior.

           Quem não consegue sentir-se importante pelo que é, irá buscar essa importancia  atraves do prestigio ou da quantidade.
Arapuca armada para pegar ratão desavisado.

         O poder reside no tipo de sabedoria que a gente tem. O saber
que não visa  viver melhor, não é o saber que leva ao verdadeiro poder.
                    Quando se está atrelado a alguem ou qualquer contexto externa, perde-se a liberdade e a tomada de posições por si proprio. A pessoa fica refem das suas resoluções inadequadas, promissorias assinadas em branco confiadas à quimera das falsas ilusões.

                         Apegar-se a facilitações ou convites tentadores de
qualquer forma, é a indicação do total desconhecimento do perigo sempre embutido em tais movimentos.  A cilada está sempre
armada.
                  Se não sucumbir às tentações, estará livre para seguir seu caminho com serenidade, sem decepções ou sofrimento.

            Confiar nas promessas de vangloriedade leva à consequencias que ninguem está a fim de pagar. O unico modo de crescer, é fazer o que tem de ser feito, investir em si mesmo, confrontar suas fraquezas e limitações, sem os atalhos das tramoias ou ofertas sedutoras. Há que ter fibra, têmpera, carater,  um profundo envolvimento, compromisso consigo proprio, com a autenticidade da busca e lisura de propositos.

               Somos todos presas faceis de favorecimentos e ganhos
extras. É o fascinio que nos torna vulneraveis. Nos sentimos apequenados, desimportantes, indefesos, carentes, assim sucumbimos facilmente ao canto das sereias das promessas de poder, não se dando conta que aquilo que deslumbra hoje, será o que inferniza logo ali adiante.

               Sem disciplina, diligencia e aplicação vigilante, o perigo de tocaia nos fará presas faceis. Indefesos e ingenuos mordemos a isca
como peixe faminto.

              A paixão dos que buscam a grandeza, o prestigio e a influencia, cedem passivamente e com credulidade quase infantil, como um idiota, ao seu aceno chamativo.

            Acham-se superiores, notaveis e espertalhões, não dando-se
conta que se encontram aprisionados na armadilha das promessas astuciosas das ilusões de grandeza.

                Cada um representa a sua paixão a seu modo.

             O verdadeiro poder se acompanha sempre de sabedoria e
integridade.
     
 












              





quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CENTRADO NO PRAZER DE FAZER. OU SIMPLESMENTE SUCESSO


              Falar da relação entre trabalho e dinheiro é propor o obvio, 
pois ambos tem relação direta de causa e efeito. Trabalhamos,
assim ganhamos nosso dinheiro.

      No entanto, se acrescentarmos à equação o elemento espiritualidade, o cenario muda de configuração, pois esta não se relaciona, como os elementos anteriores, ao mundano, à materialidade, pois está vinculado ao transcedental, com enfoque 
psiquico, para alem do pragmatismo. 

      Poderiamos falar em polaridade  "profano versus sagrado", ou simplesmente, mundo externo versus mundo interno; este vinculado à consciencia, como elemento de evolução, crescimento no sentido de maturidade, compreensão e lucidez. Mas existe paralelismo 
entre eles, uma ponte que faça conexão entre o realismo e o abstrato ? 

     É possivel relacionar elementos de natureza diferente e vinculá-los entre si como numa dança, ou como numa reação quimica ?
Serão capazes de interagir, mesmo fazendo parte de universos
distintos e em oposição ? Ou, simplesmente,  mundo material de um
lado e  realidade atemporal do outro ? 

     Vale a pena ajustar a lente e concentrar o olhar.

      Vivemos no mundo da forma, num mundo de coisas, e temos
necessidade delas para viver. Coisas se ligam a dinheiro, e dinheiro,
geralmente ( ! ), ao trabalho. Portanto, precisamos trabalhar.

     Primeiro questionamento : trabalhamos em função do dinheiro ?
A finalidade em si do trabalho é o fator monetario ? Se for, porque
então aqueles que tem, que tem muito, para bem alem de qualquer necessidade, porque continuam ainda no seu oficio, e muitas vezes trabalhando até mais, com mais energia e empenho que aquele que menos tem ? Estarão ainda em busca de mais dinheiro, do tanto que já possuem, ou não existirá, quem sabe, um outro estimulo para tanta disposição e tenacidade ? O que será ?

        Desconsiderando os que vão pela ganancia, o vicio, a vaidade ou a simples compensacão por um sentimento de menosvalia, se ancorando no poder e na grandeza como recurso de auto-afirmação, para impressionar  - que outra justificativa se põe para aqueles que permanecem firmes no seu posto, honrando o seu trabalho, para alem do prestigio, do resultado ou do simples ganho ? 

      São felizes, não em função da sua fortuna, mas pela paz que vivenciam. Há satisfação naquilo que fazem. Existe empolgação, envolvimento, curtição, entusiasmo. Se mobilizam internamente, se descobrindo cada vez mais capazes e eficientes, se expressando de formas que não tinham conhecimento. Se lançam nas coisas com tesão como se fosse uma grande aventura. Se descobrem à medida
que vão explorando seu mundo de trabalho. Tem envolvimento consigo mesmos, se curtem atraves do que fazem, do que realizam. Transformam o trabalho num ato de criação. E à medida que vão
fazendo, vão se descobrindo, revelando aspectos até então ocultos.

        São os verdadeiramente afortunados. 
     Não é o ter que faz o individuo rico, mas aquilo que não tem, deixando de fazer falta.
  Se torna rico pelo que não precisa. A vida se torna mais leve. Sem  peso e tanta bagagem para carregar.

      Não necessitam gastar energia em ansiedade, temores e preocupações, pois o foco não está no resultado. Para eles o ganho não virá depois, pois o contra-cheque está sendo apresentado a cada momento em forma de curticão, a faceirice por estar aí fazendo aquilo com entusiasmo e tremenda disposição. Isso leva a uma sensação de profundo bem estar e serenidade para bem alem de qualquer exito ou triunfo.

                Estão aí no seu trabalho mas não se cansam. A gente só se cansa na proporção em que corre, perseguindo objetivos, olhando para frente, na expectatica de chegar. Será que chego lá ? A espera sempre cansa, e quem se cansa, nunca chega.

            A busca incessante e o esforço fazem voce correr feito louco. Ao passo que o prazer ou a curtição fazem a pessoa se movimentar inteligentemente.

            Não estão aí pela vaidade, pelo aplauso das galerias ou por resultados. E quem não se foca no resultado, é porque se compromete com a satisfação, com a inteligencia, com a arte da criação. E por não perseguirem as estatisticas de crescimento, os ganhos serão mais expressivos, facilitados e tranquilos.  

            Eles personificam a figura mitologica de Dom Juan, que expressa o arquetipo do sucesso, o paradigma da vida exitosa da abundancia, do bem estar, saude, paz e contentamento.

      Dom Juan encarna o padrão da auto-suficiencia e despreocupação. Por não se deixar envolver por objetivos, pela deslumbramento das visões do amanhã, conquista e cativa com naturalidade, sem fazer barulho, tampouco olhando para os lados.
A visibilidade não faz parte do seu roteiro nem da sua agenda. 

      Quando se abdica do esforço, ocorre um movimento paradoxal, um movimento contrario. Cabo de guerra é isso. Se não puxar numa
ponta, não irá criar uma força de resistencia, se opondo ao seu
objetivo. Quanto maior a força do desejo, maiores as dificuldades
da sua realização. A ambição produz uma contração na energia que
se sente como ansiedade. Atuar para estar bem depois, estará em estado de contração, de sufoco, de encolhimento interior.
Energia retraida, e ao se retrair, reduz, escasseia. Faz força contra.
Não estará aí pela alegria do momento, pela coisa em si. Desse modo, não fará com alegria, não estará solto, com garra, com pique,
pois o objetivo é a chegada. A pessoa se força porque não consegue curtir, encontrar prazer naquilo que está aí, porque o prazer só pode vir depois, depois das metas cumpridas.

       Por isso se diz : quem espera, cansa de esperar. Sempre.

            O forçar em busca de objetivos é equivocado por ser contra a natureza. Observe o pé da bergamota. Não faz força, não investe
na bolsa, não se inquieta por resultados, e, a cada inverno, no entanto, estará carregadinha com frutos viçosos e em abundancia.
Apenas permite que a natureza manifeste a sua plenitude atraves
dela. Não faz planos, não perde noites de insonia buscando a melhor forma para  cada vez mais ganhos. Sem medos; pois quem tem medo de perder, perde sempre.
  Simplesmente deixa acontecer, por isso acontece.

           A natureza revela os segredos do sucesso atraves do mito de Dom Juan. Não faz força para as suas conquistas. E por não buscar,
as coisas vem. Ele conhece os designios do pé da bergamota. E ao imitá-la, obtem o mesmo exito.

      Nesse ponto impõe-se um questionamento crucial. O que faz um Dom Juan ser Dom Juan ?  Qual o movimento interno que determina a sua realidade ? Qual é, afinal, o seu segredo ?

    E uma pergunta ainda mais intrigante. Como transformar-se
num Dom Juan ?   Ou, como trazer para a nossa vida a sabedoria
do pé da bergamota ?

         A vida é regida por leis. A vida é normatizada por leis. Toda
manifestação se realiza em obediencia a principios.

     Quais as resoluções que regem o fluxo do dinheiro ? O que faz o dinheiro fluir com a mesma naturalidade de como flui a natureza, sem forçar, impor, sem pressionar ou insistir ?
O fluxo do dinheiro ou o fluxo da natureza seguem o mesmo padrão, regido pela mesma lei, ou seja  :

     "Vá em frente e faça aquilo que quiser. Preocupe-se com sua
habilidade e competencia que o dinheiro irá aparecer, mas não se
preocupe, não corra atras dele ". Que não seja o dinheiro objetivo primario do seu trabalho.

     Enquanto faz, diz o preceito, preocupe-se com o que estiver fazendo. Comprometido com a aptidão, com a habilidade e a competencia. Enquanto faz, voce coloca algo mais.
Coloca sua tecnica e se coloca tambem. Coloca o seu entusiasmo,
a sua curtição, faz com alegria, com inteligencia, com jeito. Faz com satisfação e a eficiencia se seguirá certamente. Quem se curte enquanto faz, fará com capricho. Tudo fluirá com facilidade, sem perturbações, sem esforço. Voce estará do seu lado, centrado em si e não no resultado. Por isso tudo virá com naturalidade. Vida descomplicada, despretenciosamente.  As coisas acontecem. Simplesmente acontecem.  Fazer acontecer, é estar no esforço. Esforço é fazer força. É do burro  fazer força, que puxa carga, que se cansa, que luta, que sofre.

      Essa postura interna torna tudo mais facil, as coisas começam a fluir cada vez melhor, com menos chateação, menos problemas. E aos poucos, o trabalho vira prazer pois começa a se sentir bem naquilo que estiver fazendo. O trabalho deixa de ser essa coisa chata que sempre foi, uma obrigação, um dever, um ter que.

     Essa atitude transforma a pessoa. A energia começa a fluir com
mais suavidade, caminhos se abrem, as complicações magicamente
somem e tudo começa a facilitar-se. 

    Ao olhar para o trabalho de um modo diferente, a pessoa se torna diferente, transforma-se atraves desse olhar e o trabalho tambem se
modifica. Não considera mais aquilo como um peso, ter que trabalhar para dar conta, compromissos sem fim, obrigações de toda
ordem. Trabalha tanto mas as necessidades estão sempre um passo à frente. Sem tregua, sem sossego, e quanto cansaço ! 

        Faz tanto e mesmo assim o dinheiro não vem. Será mesmo 
 o trabalho, o quanto trabalha, que fará o dinheiro aparecer ?
Tem gente que trabalha tão menos e as coisas se facilitam tanto.
O dinheiro aparece, mas não é pelo esforço. Quando vem pelo esforço é escasso e penoso. Quando não debilita ou adoece.

     A força não dignifica ninguem, e quem investe esforço no trabalho, está fazendo mau uso do que faz. É pela falta de
inteligencia que se busca pela força. Apenas isso sobrou. Como não tem o movimento interno da atração, busca atraves do movimento
externo da força  para alcançar seus propositos .

      Centrado no prazer, na satisfação, curtindo o que estiver fazendo, sem se focar em resultados mas envolvido por esse momento, comprometido com o seu prazer - nessa postura haverá necessidade de esforço para sua realização, para que as coisas aconteçam ? 
                            O entusiasmo substitui a força, a luta, o sofrimento. A coisa está ruim ? Se entusiasme ! Curta esse momento, o gostoso de estar aí, envolvido, com disposição para ser util, alegre, atencioso, bem humorado. Sentir-se bem pelo que está aí e não pelo que há de vir. Se não olhar para frente, esse momento
será completo por si proprio. Não haverá necessidade de nada para que seja perfeito. E é exatamente por isso que as coisas simplesmente acontecem. A bergamotinha amadurece. Segue um ritmo. O ritmo natural das coisas acontecerem.

      Trabalho assim realizado, o sucesso se torna inevitavel. Não
está inquietado pelos bens materiais nem pelas metas. É exatamente esse o paradoxo de Dom Juan. Quando deixa de preocupar-se com ganhos e resultados, é que os caminhos se abrem.

      É por isso que o esforço é a antitese do sucesso. Atrai por não fazer força. Atrai pelo prazer e pela satisfação de estar aí. Pelo que está aí. Por esse momento.

                   Quem está pelo prazer, não busca, e é por isso que as coisas vem.  O prazer não necessita de nada para se completar. É completo e perfeito por si proprio.

    Se não for facil é porque está no esforço. A vida não é luta. Não é uma corrida para atingir a linha de chegada. Alias, não existe
linha de chegada, porque não há para onde ir.

       Quem dança, não está indo para lugar nenhum e é por isso
que sempre vai longe. Vai longe porque fica aqui, no seu prazer, no
seu contentamento, na sua curtição, no seu tesão por esse momento.

         Definitivamente, não há outro lugar para ir que seja melhor
que esse momento !