sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O BOTAO QUE NÃO FLORESCEU


É magico testemunhar, qualquer forma de vida
assumindo sua verdadeira natureza de ser.
É o admiravel prodigio da transformação.

As flores desabrocham,
 quase despudoradamente,
externando sua exuberante beleza,
em mil formas diferentes,
harmoniosas,
transformando em cores
sua alegria interior.

Dificilmente alcançamos a façanha das flores.
Elas desabrocham com  suavidade, naturalmente,
cumprindo seu destino
de maravilhar o mundo;
ou, quem sabe, uma forma sutil,
um convite velado,
para nos lançarmos tambem na mesma aventura.

No mais das vezes, porem,
mantemo-nos no modo de botão,
uma flor apenas botão,
que não conseguiu florescer.

O jardim poderia estar colorido,
perfumando o mundo, encantando,
mas o coração permaneceu fechado,
amedrontado, confuso,
até o botão fenecer, murchar, cair,
e a beleza nele contida,
 perdida para sempre.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

PORQUE NOS TRATAMOS TODOS TÃO MAL ?


    Tem certeza absoluta que está chateado
pelo que o outro fez ou disse ?

É a atitude dele que está causando seu desconforto ?
Pode jurar que é ?

E se estivesse aí com uma disposição diferente, 
com outro animo,
com outros ouvidos,
sem estar armado com tanta defesa interna,
como receberia o que vem do outro ?

Consegue ver com imparcialidade
que a atitude do outro não tem nada de pessoal ?
Que está se colocando dessa maneira,
pela confusão dele,
pelo momento dele,
pela inabilidade de conduzir suas coisas,
e não pelo pelas tuas coisas ?

Já não teve tambem a mesma postura,
já não fez as mesmas criticas,
o mesmo dedo acusatorio,
com tantos outros,
 sem distinção do que está verificando agora ?

Criticamos e somos criticados
tão somente por não nos sentirmos bem.
Pelo medo que não conseguimos superar,
pela raiva que nos mantem refens,
pela hesitação, incertezas, frustrações,
e o incessante sentimento de pouca-valia.

O que sentimos pelo outro,
eu, voce, todos,
tem mesmo algo a ver com essa modesta criatura,
com suas limitações, falhas e imperfeições ? 
Ou, não seria, talvez, pela nossa incompetencia
 em dar conta das nossas limitações,
gerando em nós ainda mais desconforto,
mais medo,
mais confusão ?

Descarregamos no outro 
 nossa frustração,
 insatisfações, e toda ordem de dificuldade,
não sem outro argumento,
que não seja nossa quase total desqualificação,
 no sentido de levar paz, bem estar, segurança
para nossas vidas.

Se não estivessemos tão confusos, todos,
haveria outra justificativa
para atormentarmos a vida de tanta gente,
e sermos, igualmente, atormentados ?

domingo, 17 de novembro de 2013

REFLEXÕES DO COTIDIANO SIMPLESMENTE


"Que bichinho bonitinho", diz a senhora, encantada, ao deparar-se
com o cãozinho simpatico, e finaliza com ares de surpresa :
 "parece até de mentira".
Estranhei sua declaração. " Tão gracioso o bichinho, que parece 
mentirinha".
Fiquei pensativo enquanto continuei a caminhada matinal. 
A tapeação não parece ter par no mundo da realidade. O faz de
conta aparenta quase sempre ser mais fascinante que a verdade.
"Tão bonitinho que até parece mentira".  Conclui-se que, por
ser verdadeiro, não poderia ser tão engraçadinho e mimoso. 
Afinal, o verdadeiramente belo, não poderia ser assim evidente e concreto. Tem de parecer comum, ordinario e banal.
Pertence ao imaginario a qualificação da beleza.
Caso contrario, perderia a graça.
                            17/11/13

Quando os outros nos dizem coisas terriveis, uma das maneiras
mais rapidas para saber se é verdade, é verificar se ficamos na defensiva. Na defensiva, tentamos bloquear a ideia, e iniciamos
uma guerra interna contra eles. Sofremos. 
Mas se olharmos com atenção, iremos perceber que estão dizendo
a verdade, o que, alias, faz tempo estamos procurando.
Estão nos dando isso de graça, mesmo assim ficamos contrariados.
Temos mesmo certeza do que queremos ?
                     19/11/13 

Voce só pode estar bem com aquilo que é. Acreditar que não deveria ser assim, é uma crença insana, que, invariavelmente,
leva ao sofrimento.
Opor-se à realidade, não irá modificá-la.
O leite derramou. Reclamar, xingar, culpar, criticar pelo
acontecido, não recolocará o leite de volta.
É um fato. É real. E todas as evidencias o confirmam.
Um pano e um balde de agua colocará as coisas no devido lugar.
E sem sofrimento !
                 20/11/13

A realidade é do jeito que é, independente de aceitar ou não.
Goste ou deixe de gostar, fará diferença alguma. 
O fato é um fato, não há como contestá-lo.
Se achar que "não deveria" ter acontecido,
não irá contribuir uma virgula para solucionar a questão.Ou irá ?
              20/11/13

Os outros não vão te julgar de um modo diferente
de como se julgam.
Nem voce.
                    20/11/13

Voce não é o que os outros acham ou deixam de achar.
Eles apenas são assim. São de achar coisas nos outros que
perderam dentro de si mesmos.
Porque então a opinião deles se torna tão importante ?
Se o voto deles for decisivo, estará buscando a paz
e o bem estar distante de onde é possivel ser encontrada.
               20/11/13

Não espere ouvir o que gostaria de ouvir.
Nem espere que o ouçam.
Ouça seu pensamento enquanto está com o outro,
para que possa ouvi-lo.
Quem se ouve geralmente é ouvido,
ou não, apesar de não mais fazer qualquer diferença.
Estará bem, porque se tem como ouvinte.
            24/11/13

Queremos que os outros nos tratem
 como gostariamos de ser tratados. É loucura !
Eles vão nos tratar como nos tratam, porque é assim que são.
E está perfeito que seja assim.
Porque ?  Porque É assim que são.
            24/11/13

Quando reclamo que não sou ouvido,
o quanto eu realmente me ouço ?
Não seria pelo fato de não ouvir-me,
 que crio a necessidade para que os outros façam
 o que não sou capaz de fazer por mim mesmo ?
O que reclamo do outro, em que medida falho nisso comigo ?
          24/11/13

A falha que percebo no outro,
 quem é o verdadeiro detentor dessa falta ?
Se sou atencioso comigo mesmo,
qual a necessidade de exigir isso de mais ninguem ?
          24/11/13

Quando saimos da ilusão, percebendo a verdade,
o julgamento cessa, assim como as criticas, 
e as exigencias para com os outros.
Nos daremos conta, que o que é percebido lá fora,
não é mais que um dado auto-biografico.
Nós nos vemos continuamente,
 com tudo quanto nos causa alguma forma de impressão.
           24/11/13

Assim que nos respeitarmos,
não teremos mais a presunção que façam isso conosco.
Estando ciente disso,
 tem fim a guerra interna que se trava contra o mundo.
Há uma força notavel nessa consciencia,
onde tudo começa a fluir com naturalidade e perfeição.
              24/11/13

Eu te cuido
porque sinto-me bem cuidar-te.
Mas não faço isso por ti,
faço por mim,
porque ao fazê-lo, sinto-me bem.
           25/11/13

Se não for bom para mim,
não pode ser bom para ninguem.
Faço ao outro,
o que me fizer bem.
Se não for honesto comigo,
como poderei sê-lo com o mundo ?
          25/11/13

Desagradar-se para agradar ao outro,
isso tem nome.
Porque então exigir lealdade dos outros,
não sendo capaz de manter-se autentico consigo mesmo ?
              25/11/13

Raiva é uma caracteristica 
dos homens fracos.
Por não darem conta das contrariedes da vida,
enfurecem-se, buscando na histeria,
o que lhes falta em bom senso.
             25/11/13

Não faço para agradar-te,
mas acabo sempre agradando
quando faço por sentir-me bem.
Como posso agradar-te
se não me agrada por fazê-lo ?
           27/11/13

O passado é uma casa de horrores.
Seja cauteloso, caso se atreva 
a fazer-lhe uma visitinha.
          30/11/13

Ao querer que alguem seja dessa ou daquela forma
para que possa aceitá-lo,
estranhamente, o outro me faz as mesmas exigencias.
É no que dá, do encontro de dois espelhos.
               30/11/13

Eu não necessito que o outro esteja bem
para que possa viver bem com ele.
A condição para viver bem, seja com quem for,
é que eu esteja bem comigo mesmo.
E, para tanto, não há exigencias externas.
           30/11/13

A ajuda só ajuda,
se vier com minha ajuda.
Afora isso,
é desmerecer o bom-senso.
          30/11/13

Ante qualquer contrariedade :
"o que há para ser feito agora frente a isso ? "
Não seria essa a postura mais adequada ?
A ação que resulta de uma atitude de entrega,
compreendendo que é essa a realidade do momento,
é  diferente da ação que parte de uma resistencia interna,
ou negatividade emocional, opondo-se ao que está aí.
            30/11/13

Os passarinhos nos passam um ensinamento ajuizado.
Eles não guardam,
mas não deixam de ter no dia seguinte.
Por isso, quem acumula, nunca terá o suficiente
para sentir-se seguro.
O medo não se sacia com coisas.
          09/12/13

Enquanto precisarmos que pessoas ou circunstancias mudem,
para podermo-nos sentir bem,
será longo o caminho a percorrer
até nos darmos conta do equivoco das nossas pretenções.
A plenitude está sempre a um passo
de uma mudança de padrão mental.
     09/12/13

Acreditamos piamente nas historias que a cabeça nos conta,
sem, no entanto, percebermos ser essa a fonte 
de toda e qualquer forma de sofrimento.
Não há conflito na ausencia de um pensamento
que aponte para isso.
         09/12/13

Os impasses, do dia a dia, estão aí para serem resolvidos
e não para serem sofridos.
           09/12/13

Quando se faz o que tem de ser feito, a cada momento,
SEM MEDO,
nada mais é necessario.
Quando a pessoa se motiva pelo medo,
é essa a forma mais confusa
que alguem possa usar como motivação.
           09/12/13

As pessoas geralmente são motivadas pelo medo, e preocupações.
Se não acreditassem nessa historia,
sua eficiencia e serenidade,
não seriam de outra qualidade ?
Deixariam de ter o suficiente ?
Acreditar que o sucesso depende do medo e das preocupações,
é, no minimo, desconhecer as regras do jogo.
            09/12/13

A felicidade é um estado de espirito sem pensamento.
Não há necessidade da mente para ser feliz.
           09/12/13

A segurança motivada pelo medo,
gera insegurança.
             09/12/13

Só não terei paz nesse momento,
se estiver mergulhado em pensamentos.
              09/12/13

Se acredito na ideia que preciso fazer muito para ter dinheiro,
poderei até acumular bastante,
mas não sem perder a paz e a saude.
Eu faço o que tem de ser feito, a cada momento,
mas SEM MEDO.
           09/12/13

Se achar que será o dinheiro que trará segurança e proteção,
estará a pessoa sob o efeito da ação do medo.
Certamente, é mais facil fazer dinheiro,
quando se faz o que tem de ser feito, sem a atucanação do medo.
Tenha a pessoa quanto tiver, enquanto houver medo,
não terá nunca o suficiente para sentir-se segura.
           10/12/13

É pelo lixo e poluição que existem no mundo
que nos lançamos em jornadas heroicas para salvar o planeta.
No entanto, se cuidar do meu proprio meio ambiente,
da poluição dos meus pensamentos,
estarei fazendo mais que o suficiente
para o saneamento do mundo.
             10/12/13 


Nada tem o poder de magoar-me
sem que haja um pensamento falando sobre aquilo.
É por acreditarmos na historia que a cabeça insiste em contar,
que nos descontrolamos e a inquietação toma conta.
Pensar com clareza,
faz com que tudo fique mais claro.
           12/12/13

Sem uma vigilancia permanente sobre a mente,
tornamo-nos refens da sua confusão,
perdendo a paz, a serenidade e a saude.
           12/12/13

Foco no outro por medo de olhar-me,
para não ter que encarar meus bloqueios, minhas limitações.
É sempre mais comodo olhar para fora, para o outro.
Critico-o, simplesmente, porque minha vista não alcança
uma visão clara do meu mundo fora de controle.
Não é tarefa facil reconhecer-se no que criticamos no outro.
          12/12/13

Percebo o outro
 atraves de uma imagem invertida de mim mesmo.
Uma projeção da minha propria mente.
Vemos o outro atraves de ideias,
ideias que faço dele.
        13/12/13

O amor incondicional por si mesmo,
é a condição para não impor-se condições para aceitar o outro.
O que se exige dos outros para aceitá-los
é o que não consegue se dar a si mesmo.
Amar-se acima de qualquer coisa,
determina que se ame os outros sem qualquer reserva.
           13/12/13






            


sábado, 16 de novembro de 2013

É POSSIVEL MODIFICAR O MUNDO ?


 A pessoa terá, sem duvida, um encontro surpreendente ao reconhecer-se nos julgamentos que faz das outras pessoas.
A realidade percebida é o reflexo do seu pensamento
projetado de volta na tela da sua propria percepção. 

Queremos mudar tudo. Queremos que os outros sejam
diferentes. Montamos num rocinante, qual personagem quixotesco,
para reformular o mundo, transformando-o num paraiso.

Desde sempre, o mundo é da forma que é, e ninguem conseguiu
jamais modificar sua estrutura em algo diferente para que a vida
não fosse essa carga, nem sempre suportavel.

Já falou-se em inferno. Para tantos, não passa de uma descrição primorosa. A vida transformada num verdadeiro inferno.

No entanto, aquilo que presumimos que deva ser modificado -  as
chamas ardentes de tanto sofrimento - não é uma realidade do
mundo à parte da realidade pessoal. Não é o mundo em si
que é da forma como o reconhecemos, pois a realidade percebida
é a imagem refletida no espelho das nossas percepções.

O mundo é como um gigantesco lego onde cada qual constroi
sua realidade conforme movimenta as peças-pensamento no tabuleiro mental. O que vemos lá fora, não é mais que a
montagem do seu jogo mental.

Os pensamentos vão tomando forma sem a pessoa dar-se
conta que é o arquiteto do seu proprio inferno. 
A aparencia do mundo é o reflexo das concepções mentais. 
A pessoa é o protagonista, ele mesmo idealizador do enredo 
da historia que está vivendo. É o negativo da imagem deformada
que está vendo.

Nada pode transtornar-nos sem que aquilo tenha sido antes
elaborado em forma de impressão mental. As peças, à medida
 que forem acomodadas, darão forma a uma estrutura
 que será projetada na tela do mundo, constituindo-se
  em realidade para o proprio programador.

Dessa forma, deparamo-nos com nossos criterios mentais 
transformados em realidade. Assustamo-nos com o que vemos
pois não nos parece cabivel sermos o criador de tamanha
loucura. 

Investigue seu pensamente. Será de grande valia.  Pois é a
materia prima a partir da qual confere realidade ao 
universo que habita.

Se olhar com pensamento diferente, aquilo que vê tambem
se modifica. Quem dá forma às coisas é essa coisa em nós
que pensa, critica, julga e avalia.

Dessa forma, nada é real. A suposta realidade é tecida de imagens
projetadas para o mundo à partir do filme interno elaborado
por conceitos.
Aquilo que está dando voltas na cabeça, magicamente, encontrará
fora de si. É o caos da mente que cria um mundo caotico, uma
realidade de inferno.

Quando lançar-se em jornadas heroicas, tentando modificar
o mundo, investigue antes aquilo que está tentando destruir, pois
poderá achar-se nos escombros da sua propria faxina. 

O que vivo, a minha realidade, não é mais
que a percepção visual do conteudo mental
projetado para fora, para o mundo, que  funciona como
tela, para que possa reconhecer-me como o criador dessa obra. 

O que vejo, não tem existencia real, ou melhor, tem a mesma realidade das imagens ao assistirmos um filme.
É possivel modificar as imagens na tela ?

A realidade é interna. O percebido fora é ilusão. Nem por isso
 deixa de produzir sofrimento. Alias, sofrimento é apenas
outra forma de definir ilusão. 



domingo, 10 de novembro de 2013

O TEMPLO, A BODEGA E A FARMACIA


 Lá vai a devota senhora, com passito lento, recatada, com 
aparencia sobriaà caminho do culto dominical.
Vai cumprir o dever sagrado com as divindades 
da sua devoção..

Vestiu sua roupa melhor, a que veste em dias festivos,
 com as cores e o estilo combinando à rigor.
 Sapato lustroso, maquiagem discreta, perfume igualmente suave.  Cabelo embranquecido,
 mas devidamente engomado, que o vento matinal
não consegue desalinhar. Estava enfeitada como quem
espera inquieto por seu querido.

Segue em frente com certo requinte. A elegancia
afetada, porem, não dissimula o que o passo arrastado 
evidencia. Quando as ideias perdem a flexibilidade, ou quando
falham, não há postura externa que minimize tal ausencia. 

O inflexivel interno torna-se visivel, por mais que se
tente ocultar com artificios de toda especie. 
O que a maquiagem esconde, a postura sempre evidencia.

Seja lá como for, lá vai a devota com seu traje impecavel,
 e aparencia sobria, em busca da benção para continuar 
se levando, um bocadinho mais, mais de arrasto,
 pelos caminhos da vida.

Eu ainda ouvia os sinos repicando, chamando o povo do lugarejo
 para a liturgia domingueira. 

Enquanto isso, do outro lado da avenida, outros seguiam para a
bodega, outra forma de santuario, executando outro ritual,
mas com o mesmo fervor religioso que qualquer outra crendice. 
Imagino que a bebida inspira uma 
certa dignidade, pois, igual ao igrejeiro, busca tambem 
 consolo e alento para manter-se desperto, escorado aqui e acolá,
da maneira que der no jeito.

Afinal, cada devoro abraça seu milagreiro predileto.
A reverencia passa por templos, santuarios de todos os credos,
com suas liturgias sagradas, ou mesmo profanas, com o unico
e singular desejo de alcançar conforto para a angustia existencial, que pesa fundo no espirito de cada ser humano. 

Cada porta que se abre com tal perspectiva, não faltarão
 devotos a consagrar suas vidas por um pouco de esperança.
Quando perde-se a perspectiva de si mesmo, será erguida, em
pedestal, qualquer esquisitice, para reverencias de idolatria.

Acreditamos em deidades ou demonios, seja como for, o que
buscamos, é segurança e proteção. 
Não importa a representação do simbolo. Se for glorificado pelo
fervor, há promessa de salvação.

É por isso que, nas adjacencias, ladeando a igrejinha, uma farmacia, da mesma forma movimentada, seus devotos buscando conforto,
que, de outra maneira, não foram capazes de recobrar.

Os negocios prosperam. Basta observar. Cada qual com seu comercio, mercantilizando a infelicidade e o sofrimento alheios conforme a danação de cada buscador.

Fiquei pensativo. Cada um vai à cata dos seus orixas, dos seus
santos, cada um selecionando sua droga predileta,
 para entorpecer-se da realidade,
e ir levando a vida como deus quiser.

Que seria, contudo, do povo humana sem essas
 e outras mil forças de distração (destruição), para encarar
 o tedio e a condição infeliz
 dos enfraquecidos, psiquicamente confusos,
 entristecidos e desnorteados ?

A infelicidade  essencial, contudo, não será superada com
os mesmos males dos quais tentamos nos libertar. 


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

POR QUEM OS BICHINHOS CHORAM ?



  Os bichinhos tambem sentem saudade ?

Não são gente, mas desconfio que sentem como a gente.

Seu olhar tambem se entristece,
já percebeu ?
Assim como o coração tambem se atormenta.

Talvez, até chorem,
mas imagino que choram em silencio,
sem dar na vista,
para que a gente não se entristeça tambem.

Ou, quem sabe, choram,
pela nossa tristeza,
pelas nossas lagrimas mal choradas.

Nem sempre choramos nossa dor.
Quem sabe, seja por isso
que nos endurecemos,
desumanizamos,
insensibilizados pela dureza da vida,
e o peso por tantos desgostos.


Quem seus pesares não chora,
transforma-se em couraça,
uma forma de blindagem,
tentando assim proteger-se da dor,
dor que apequena a vida,
aniquilando a coragem,
e a disposição de espirito.

Entorpecido, frio, impassivel,
já não chora seus dissabores,
nem tampouco expressa suas angustias.
A dor da saudade ficará guardada
no quartinho dos fundos,
junto com velharias sem utilidade.

Aparentemente, não sofre.
Vestiu-se com tantas defesas,
que debilitou tambem a motivação
para encantar-se,
a possibilidade para o fascinio,
o deslumbramento.

Não chora mais,
a magia, da mesma forma, tambem se perdeu.

Será que é por isso que os bichinhos entristecem,
 chorando em silencio,
por perceberem o engano
das nossas escolhas confusas ?

Eles choram tambem pelas suas tristezas,
- há tantas pelas quais chorar - 
por tanto descaso a que tantas vezes são submetidos,
pelo desrespeito, maus-tratos
e por tanta insensatez.
Eles tem tambem as suas coisas pelas quais chorar.

Eles não sentem diferentemente da gente.
Tambem tem sentimentos, tambem se emocionam,
e tambem sentem dor.
Afinal, a dor sempre doi,
seja lá em quem a estiver sentindo.

Mas, eu penso que choram pela gente,
para que a gente aprenda a chorar novamente,
para, quem sabe, nos tornarmos humanos outra vez. 

Emprestam sua dor, sua tristeza,
seu meigo coraçãozinho,
para que o nosso volte a bater, 
uma vez mais, compassadamente.

Que seria da gente sofrida
sem esses adoraveis companheirinhos ?




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

NA AUSENCIA DA MENTE HAVERÁ SOFRIMENTO ?



Discutimos, dentro da cabeça, como as coisas deveriam ser. 
Há um pensamento antagonico que contraria os fatos, discutindo 
com a realidade para que não seja da forma que se apresenta.

É como se a mente quisesse sabotar a realidade, para retroceder
 um passinho, e tudo volte novamente como sempre foi.

Rebelar-se contra aquilo que é, não vai alem de um devaneio
idiota, pois, numa avaliação maluca, julga que o que está aí,
 não poderia, de forma alguma, estar aí.
Achamos que a vida não tem o direito de opor-se aos nossos planos.
A rebeldia, contudo, de forma alguma, modifica os fatos.

Resistimos internamente, contestando o evento, rebelando-se, sem
aquilo, contudo, não ceder um centimetro que seja, apesar de  toda argumentação, controversia e contestação ruidosa dentro da
 cabeça. O barraco, armado mentalmente, em sentido algum
modificará a realidade dos fatos.

O carro atolou. O FATO é que o carro atolou.
"Isso não poderia ter acontecido comigo".
 Devaneio idiota que não levará à solução alguma.
"Já que o carro atolou,  que posso fazer" ?
Finalmente a lucidez entrando em ação.

Afinal, nada no mundo conseguirá modificar determinada coisa,
simplesmente, porque JÁ aconteceu. Isso não significa que esteja satisfeito com a situação, afinal ninguem quer ver seu carro
 atolado, mas, uma vez atolado, qual a serventia do resmungo interno, tornando a situação ainda mais desconfortavel ? 

Acreditamos na ideia de que vale a pena brigar com a realidade.
 E essa resistencia mental, inevitavelmente, leva ao sofrimento.
É o pensamento que se opõe, e a pessoa identifica-se com ele.
Achamos que a voz do pensamento seja a gente falando. É por isso
que a defendemos com todas as forças, supondo estarmos nos 
defendendo.

Sem entregar-se, porem, a esse pensamento de não-aceitação, permanece apenas o fato, sem o envolvimento emocional, isto é, sem sofrimento. 

O sofrimento é causado porque acreditamos no que o pensamento
informa. O carro atolado, em si, não é gerador de desconforto,
 mas a ideia que faz do evento. Ao eliminar o pensamento, não haverá sofrimento. Permanece apenas o fato.
 Sem carga emocional. Sem chateação.

A cabeça acredita que, resistindo internamente, pode manipular
a realidade, conseguindo o que deseja, ou, então, dissolver algo
não desejavel. O fato é que essa estrategia em absoluto soluciona seja lá o que for.

O carro atolado produziu irritação ou raiva. E qual o objetivo 
dessa irritação ?  Supõe que algo possa modificar-se com ela ? Porque então a produziu ? A verdade é que não foi voce que a criou. É uma reação instantanea da mente opondo-se à situação
desfavoravel. E, se observar, verá que os comentarios
 na cabeça são bem mais desagradaveis que
 o fato em si que está tentando solucionar.

Um fato que não esteja vinculado ao enredo mental, é isento de
qualquer sofrimento. O fato pode ser desagradavel, mas 
 ele não está aí para ser sofrido, mas para ser resolvido.
 Abstraindo-se os pensamentos, deixa de haver
envolvimento emocional, tampouco negatividade,
 por conseguinte, sem sofrimento. 

Sem o envolvimento emocional, criado pelo pensamento, não há
possibilidade de qualquer forma de sofrimento.

Ninguem há de ficar satisfeito com os contratempos da vida,
sem a interferencia da mente, no entanto, não há como envolver-se
emocionalmente, resistindo ao que está aí.

A emoção turva a percepção. Ao inves de olharmos para o
problema, acreditamos na voz do pensamento que conta uma historia terrivel sobre aquilo, à qual damos credito, não sendo
 mais a situação em si que nos detona, mas a balburdia
 na cabeça.

O pensamento é um porta voz inadequado da realidade, pois
interpreta a situação, fazendo uma leitura exagerada dos fatos,
contaminando as circunstancias com negativismo.

Desvinculando o fato do pensamento, vemos o fato com clareza
e não mais atraves da imprecisão do pensamento.

Dar-se conta do movimento mental é a condição primaria para
 safar-se da cilada da mente.
E uma nova escolha torna-se então possivel. Uma postura adequada. Uma ação que dê conta da situação ao inves de ficar
se remoendo em lamentos frustrantes. 

A vigilancia sobre a mente evita o ruido do pensamento,
evitando qualquer forma de tensão, qualquer possibilidade
 de tormento.

Sofremos, não pela coisa em si, mas pelo enredo criado na 
mente à cerca da realidade. 
Nada pode perturbar-nos sem que haja a intervenção mental.
Reagimos, não ao fato, mas aos fuxicos da cabeça sobre o fato.

Quem seria voce, diante do que está aí, sem o pensamento que
aquilo não deveria estar acontecendo ? Não estaria transtornado, estaria ? Então o que aquilo tem a ver com sua infelicidade ?

Qual, afinal, a procedencia do sofrimento humano ?
A fonte é externa, ou se origina dos devaneios da mente  ?

Que é, afinal, essa entidade chamada sofrimento ?
Não seria, por acaso, um julgamento da mente sobre a realidade ?
Sem essas considerações mentais, que seria do sofrimento ?