terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

" DEVE SER VIADO ..."


Sentadas à beira mar,
as duas moças conversavam animadas.
O alarido era intenso, como se ali houvesse
um mundo de gente,
e não apenas duas moças conversando. 

Das duas, a mais alta, era mais apessoada,
sua beleza mais chamativa,
seu charme mais evidente,
seu corpo mais bem definido.

É sempre mais seguro a bonitona
fazer acompanhar-se pelas menos elegantes,
pois o contraste evidencia melhor sua beleza.
De certa forma, a competição diminui,
sentindo-se assim mais confiante.

Mas foi a menos charmosa a aventurar-se,
enquanto o moço elegante por aí passava.

Levantou-se da cadeira,
fez menção de apanhar qualquer objeto,
inclinou-se para frente,
deixando exposto um mundo exotico
de desajuizadas fantasias.

O moço, porem, passou imperturbavel,
alheio à encenação maljeitosa.
E o esforço da mocinha sonhadora
acabou em vão, não dando em nada.

Recolheu-se triunfal, apos a passagem do malandro,
supondo ter acontecido.
Mas, assim que sentou-se,
a outra não foi de perder tempo  :
- Sabe, ele nem olhou.

Não quis dar credito às palavras da amiga,
mas pelo jeito dela, reconheceu a verdade.
 Ajeitou-se na cadeira, impaciente,
sentindo-se humilhada pela desatenção do moço,
ao mesmo tempo ridicula por sua tola exibição.

Mesmo assim, não podendo conter a frustração,
 murmurou entre dentes para si mesmo :
 "deve ser viado, o desgraçado".

 ... misteriosos são os caminhos da sedução.
Se o muchacho tivesse cedido à tentação,
talvez fosse insultado como tarado,
como não cedeu à cantada, virou "viado".

Eu, da minha parte, que tambem passava por aí,
prossegui  tranquilo minha caminhada,
enquanto o moço elegante já ia longe.

O mar continuava lindo.
Uma pandorga flutuva no ar,
fazendo travessuras,
por entre um bando de garças e gaivotas
que por aí tambem passava nesse momento.

De qualquer forma, a vida é cheia de graça !

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O MAGESTOSO PALACIO


Impotente, monumental, magestoso,
obra prima da mais perfeita e talentosa arquitetura. 

Luxo, espaço, conforto,
nada que pudesse desprestigiar
o esplendor, a pompa e a suntuosidade
do imponente Palacio.

Os mil e um aposentos, com suas milhares de aberturas,
tudo perfeitamente ordenado,
conferindo à habitação e ao seu ilustre proprietario,
ostentação, alem de aconchego e segurança.

Algo estranho, porem, rondava o interior
das suas deslumbrantes dependencias.
Embora a criadagem estivesse a postos,
não havia ninguem, aparentemente, para servir.

Porque estaria ausente o ilustre senhor,
não exercendo dominio sobre seu deslumbrante imperio ?

O magestoso palacio, dos mil e um aposentos,
e  das milhares de aberturas,
era, todavia, num cubiculo estreito,  
sordido, desconfortavel, sombrio
onde vivia confinado o ilustre senhorio.

Não era refem de qualquer inimigo,
pois mantinha-se aprisionado  nessa masmorra,
unicamente por desconhecer o segredo
de como livrar-se do seu carcere.

O palacio inteiro lhe pertence,
o conforto, o luxo e a abundancia estão disponiveis,
mas para usufruir desse universo,
terá que libertar-se da cela imunda,
onde aprisionou-se por vontade propria.

Existe uma abertura
no suntuoso palacio da vida.

Uma vez superado o embaraço,
aí tomaremos posse
do que verdadeiramente nos pertence.

Gire a maçaneta,
abra a porta,
liberte-se,
o palacio inteirinho te aguarda.