quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CENTRADO NO PRAZER DE FAZER. OU SIMPLESMENTE SUCESSO


              Falar da relação entre trabalho e dinheiro é propor o obvio, 
pois ambos tem relação direta de causa e efeito. Trabalhamos,
assim ganhamos nosso dinheiro.

      No entanto, se acrescentarmos à equação o elemento espiritualidade, o cenario muda de configuração, pois esta não se relaciona, como os elementos anteriores, ao mundano, à materialidade, pois está vinculado ao transcedental, com enfoque 
psiquico, para alem do pragmatismo. 

      Poderiamos falar em polaridade  "profano versus sagrado", ou simplesmente, mundo externo versus mundo interno; este vinculado à consciencia, como elemento de evolução, crescimento no sentido de maturidade, compreensão e lucidez. Mas existe paralelismo 
entre eles, uma ponte que faça conexão entre o realismo e o abstrato ? 

     É possivel relacionar elementos de natureza diferente e vinculá-los entre si como numa dança, ou como numa reação quimica ?
Serão capazes de interagir, mesmo fazendo parte de universos
distintos e em oposição ? Ou, simplesmente,  mundo material de um
lado e  realidade atemporal do outro ? 

     Vale a pena ajustar a lente e concentrar o olhar.

      Vivemos no mundo da forma, num mundo de coisas, e temos
necessidade delas para viver. Coisas se ligam a dinheiro, e dinheiro,
geralmente ( ! ), ao trabalho. Portanto, precisamos trabalhar.

     Primeiro questionamento : trabalhamos em função do dinheiro ?
A finalidade em si do trabalho é o fator monetario ? Se for, porque
então aqueles que tem, que tem muito, para bem alem de qualquer necessidade, porque continuam ainda no seu oficio, e muitas vezes trabalhando até mais, com mais energia e empenho que aquele que menos tem ? Estarão ainda em busca de mais dinheiro, do tanto que já possuem, ou não existirá, quem sabe, um outro estimulo para tanta disposição e tenacidade ? O que será ?

        Desconsiderando os que vão pela ganancia, o vicio, a vaidade ou a simples compensacão por um sentimento de menosvalia, se ancorando no poder e na grandeza como recurso de auto-afirmação, para impressionar  - que outra justificativa se põe para aqueles que permanecem firmes no seu posto, honrando o seu trabalho, para alem do prestigio, do resultado ou do simples ganho ? 

      São felizes, não em função da sua fortuna, mas pela paz que vivenciam. Há satisfação naquilo que fazem. Existe empolgação, envolvimento, curtição, entusiasmo. Se mobilizam internamente, se descobrindo cada vez mais capazes e eficientes, se expressando de formas que não tinham conhecimento. Se lançam nas coisas com tesão como se fosse uma grande aventura. Se descobrem à medida
que vão explorando seu mundo de trabalho. Tem envolvimento consigo mesmos, se curtem atraves do que fazem, do que realizam. Transformam o trabalho num ato de criação. E à medida que vão
fazendo, vão se descobrindo, revelando aspectos até então ocultos.

        São os verdadeiramente afortunados. 
     Não é o ter que faz o individuo rico, mas aquilo que não tem, deixando de fazer falta.
  Se torna rico pelo que não precisa. A vida se torna mais leve. Sem  peso e tanta bagagem para carregar.

      Não necessitam gastar energia em ansiedade, temores e preocupações, pois o foco não está no resultado. Para eles o ganho não virá depois, pois o contra-cheque está sendo apresentado a cada momento em forma de curticão, a faceirice por estar aí fazendo aquilo com entusiasmo e tremenda disposição. Isso leva a uma sensação de profundo bem estar e serenidade para bem alem de qualquer exito ou triunfo.

                Estão aí no seu trabalho mas não se cansam. A gente só se cansa na proporção em que corre, perseguindo objetivos, olhando para frente, na expectatica de chegar. Será que chego lá ? A espera sempre cansa, e quem se cansa, nunca chega.

            A busca incessante e o esforço fazem voce correr feito louco. Ao passo que o prazer ou a curtição fazem a pessoa se movimentar inteligentemente.

            Não estão aí pela vaidade, pelo aplauso das galerias ou por resultados. E quem não se foca no resultado, é porque se compromete com a satisfação, com a inteligencia, com a arte da criação. E por não perseguirem as estatisticas de crescimento, os ganhos serão mais expressivos, facilitados e tranquilos.  

            Eles personificam a figura mitologica de Dom Juan, que expressa o arquetipo do sucesso, o paradigma da vida exitosa da abundancia, do bem estar, saude, paz e contentamento.

      Dom Juan encarna o padrão da auto-suficiencia e despreocupação. Por não se deixar envolver por objetivos, pela deslumbramento das visões do amanhã, conquista e cativa com naturalidade, sem fazer barulho, tampouco olhando para os lados.
A visibilidade não faz parte do seu roteiro nem da sua agenda. 

      Quando se abdica do esforço, ocorre um movimento paradoxal, um movimento contrario. Cabo de guerra é isso. Se não puxar numa
ponta, não irá criar uma força de resistencia, se opondo ao seu
objetivo. Quanto maior a força do desejo, maiores as dificuldades
da sua realização. A ambição produz uma contração na energia que
se sente como ansiedade. Atuar para estar bem depois, estará em estado de contração, de sufoco, de encolhimento interior.
Energia retraida, e ao se retrair, reduz, escasseia. Faz força contra.
Não estará aí pela alegria do momento, pela coisa em si. Desse modo, não fará com alegria, não estará solto, com garra, com pique,
pois o objetivo é a chegada. A pessoa se força porque não consegue curtir, encontrar prazer naquilo que está aí, porque o prazer só pode vir depois, depois das metas cumpridas.

       Por isso se diz : quem espera, cansa de esperar. Sempre.

            O forçar em busca de objetivos é equivocado por ser contra a natureza. Observe o pé da bergamota. Não faz força, não investe
na bolsa, não se inquieta por resultados, e, a cada inverno, no entanto, estará carregadinha com frutos viçosos e em abundancia.
Apenas permite que a natureza manifeste a sua plenitude atraves
dela. Não faz planos, não perde noites de insonia buscando a melhor forma para  cada vez mais ganhos. Sem medos; pois quem tem medo de perder, perde sempre.
  Simplesmente deixa acontecer, por isso acontece.

           A natureza revela os segredos do sucesso atraves do mito de Dom Juan. Não faz força para as suas conquistas. E por não buscar,
as coisas vem. Ele conhece os designios do pé da bergamota. E ao imitá-la, obtem o mesmo exito.

      Nesse ponto impõe-se um questionamento crucial. O que faz um Dom Juan ser Dom Juan ?  Qual o movimento interno que determina a sua realidade ? Qual é, afinal, o seu segredo ?

    E uma pergunta ainda mais intrigante. Como transformar-se
num Dom Juan ?   Ou, como trazer para a nossa vida a sabedoria
do pé da bergamota ?

         A vida é regida por leis. A vida é normatizada por leis. Toda
manifestação se realiza em obediencia a principios.

     Quais as resoluções que regem o fluxo do dinheiro ? O que faz o dinheiro fluir com a mesma naturalidade de como flui a natureza, sem forçar, impor, sem pressionar ou insistir ?
O fluxo do dinheiro ou o fluxo da natureza seguem o mesmo padrão, regido pela mesma lei, ou seja  :

     "Vá em frente e faça aquilo que quiser. Preocupe-se com sua
habilidade e competencia que o dinheiro irá aparecer, mas não se
preocupe, não corra atras dele ". Que não seja o dinheiro objetivo primario do seu trabalho.

     Enquanto faz, diz o preceito, preocupe-se com o que estiver fazendo. Comprometido com a aptidão, com a habilidade e a competencia. Enquanto faz, voce coloca algo mais.
Coloca sua tecnica e se coloca tambem. Coloca o seu entusiasmo,
a sua curtição, faz com alegria, com inteligencia, com jeito. Faz com satisfação e a eficiencia se seguirá certamente. Quem se curte enquanto faz, fará com capricho. Tudo fluirá com facilidade, sem perturbações, sem esforço. Voce estará do seu lado, centrado em si e não no resultado. Por isso tudo virá com naturalidade. Vida descomplicada, despretenciosamente.  As coisas acontecem. Simplesmente acontecem.  Fazer acontecer, é estar no esforço. Esforço é fazer força. É do burro  fazer força, que puxa carga, que se cansa, que luta, que sofre.

      Essa postura interna torna tudo mais facil, as coisas começam a fluir cada vez melhor, com menos chateação, menos problemas. E aos poucos, o trabalho vira prazer pois começa a se sentir bem naquilo que estiver fazendo. O trabalho deixa de ser essa coisa chata que sempre foi, uma obrigação, um dever, um ter que.

     Essa atitude transforma a pessoa. A energia começa a fluir com
mais suavidade, caminhos se abrem, as complicações magicamente
somem e tudo começa a facilitar-se. 

    Ao olhar para o trabalho de um modo diferente, a pessoa se torna diferente, transforma-se atraves desse olhar e o trabalho tambem se
modifica. Não considera mais aquilo como um peso, ter que trabalhar para dar conta, compromissos sem fim, obrigações de toda
ordem. Trabalha tanto mas as necessidades estão sempre um passo à frente. Sem tregua, sem sossego, e quanto cansaço ! 

        Faz tanto e mesmo assim o dinheiro não vem. Será mesmo 
 o trabalho, o quanto trabalha, que fará o dinheiro aparecer ?
Tem gente que trabalha tão menos e as coisas se facilitam tanto.
O dinheiro aparece, mas não é pelo esforço. Quando vem pelo esforço é escasso e penoso. Quando não debilita ou adoece.

     A força não dignifica ninguem, e quem investe esforço no trabalho, está fazendo mau uso do que faz. É pela falta de
inteligencia que se busca pela força. Apenas isso sobrou. Como não tem o movimento interno da atração, busca atraves do movimento
externo da força  para alcançar seus propositos .

      Centrado no prazer, na satisfação, curtindo o que estiver fazendo, sem se focar em resultados mas envolvido por esse momento, comprometido com o seu prazer - nessa postura haverá necessidade de esforço para sua realização, para que as coisas aconteçam ? 
                            O entusiasmo substitui a força, a luta, o sofrimento. A coisa está ruim ? Se entusiasme ! Curta esse momento, o gostoso de estar aí, envolvido, com disposição para ser util, alegre, atencioso, bem humorado. Sentir-se bem pelo que está aí e não pelo que há de vir. Se não olhar para frente, esse momento
será completo por si proprio. Não haverá necessidade de nada para que seja perfeito. E é exatamente por isso que as coisas simplesmente acontecem. A bergamotinha amadurece. Segue um ritmo. O ritmo natural das coisas acontecerem.

      Trabalho assim realizado, o sucesso se torna inevitavel. Não
está inquietado pelos bens materiais nem pelas metas. É exatamente esse o paradoxo de Dom Juan. Quando deixa de preocupar-se com ganhos e resultados, é que os caminhos se abrem.

      É por isso que o esforço é a antitese do sucesso. Atrai por não fazer força. Atrai pelo prazer e pela satisfação de estar aí. Pelo que está aí. Por esse momento.

                   Quem está pelo prazer, não busca, e é por isso que as coisas vem.  O prazer não necessita de nada para se completar. É completo e perfeito por si proprio.

    Se não for facil é porque está no esforço. A vida não é luta. Não é uma corrida para atingir a linha de chegada. Alias, não existe
linha de chegada, porque não há para onde ir.

       Quem dança, não está indo para lugar nenhum e é por isso
que sempre vai longe. Vai longe porque fica aqui, no seu prazer, no
seu contentamento, na sua curtição, no seu tesão por esse momento.

         Definitivamente, não há outro lugar para ir que seja melhor
que esse momento !


       

       

          
           
                   

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