domingo, 21 de outubro de 2012

" E..... QUEM MATOU MAX " ?


                     Chegou fazendo barulho, falando alto, gesticulando aos quatro ventos.  Sorriso franco, aberto, solto como quem está de bem com a vida, sem problemas, conflitos ou qualquer forma de inquietação. A imagem tipica do sujeito bonachão, folgado e espaçoso.  Sua faceirice lembrava o cãozinho quando reencontra novamente seu benfeitor. Barulhento mas festivo.

          Aproximou-se do amigo, saudando-o, irreverente, com um tapão nas costas. "E dai, malandro, tudo em cima ? "
Sem esperar pela resposta, foi emendando : "que achou do remate final ? "

           É sabado, ainda cedinho, com pouca gente nas ruas, à exceção dos caminhantes de sempre. Os sabiás não haviam  concluido ainda sua saudação do alvorecer. Seu assobio melodioso era ainda ouvido em todas as direções.
Corria uma aragem fresquinha, propria desse momento, com as fragrancias da manhã, quando a atmosfera  não se encontra ainda 
poluida.

         Local  :  praçinha da matriz, lado oposto aos balanços,
local dos aparelhos de alongamento. Perna direita sobre o cavalete, corpo inclinado sobre a  perna, forçando os musculos da parte posterior da coxa.

             Não conhecia, nem o que acabara de chegar, tampouco
o que se alongava. Sem me perturbar, continuei  meu aquecimento. Como a distancia que nos separava era pequena, fiquei como ouvinte cativo da algazarra do inesperado visitante.

                      O que se alongava respondeu à saudação, que, no entanto, não me pareceu do mesmo nivel de entusiasmo do intruso brincalhão. Com voz abafada, de quem se encontra em posição incomoda, inclinado sobre a perna, com diafragma contraido, respondeu, perguntando :  "que remate final ?"

         A entonação da sua voz passou-me a impressão não estar a fim de conversa, talvez em função do momento, ou, quem sabe, o outro fosse um daqueles folgados, chato, espaçoso, sem desconfiança nem limites, e se fosse dar trela, aquilo bem que poderia não ter fim.

Deparar-se com perguntas burras sobre bobagens, principalmente para ter assunto ou em determinadas circunstancias, eleva o nivel de adrenalina, consumindo qualquer reserva de paciencia ou boa vontade. Cansa, desgasta e enche os tubos a não poder.

        Percebi que a resposta  deixou-o um tanto sem graça. Seu sorriso, há pouco franco e descontraido, foi recuando lentamente, murchando, até sumir de vez. Ficou embaraçado, mais talvez pela sua indagação não ter encontrado uma reação à altura, que, ao parecer dele, deveria ser evidente, em função da sua importancia.

A pergunta, mesmo sem ter sido clara, ao ver dele, não poderia deixar duvidas sobre o que estava sendo questionado, tal sua relevancia. Em função disso, teria que entendê-la assim mesmo.

           ( as coisas que nos são importantes, como podem deixar de ser importantes para os outros ?! Absurdo ! Falta de consideração... e por aí vai )

        Um se alongava para iniciar a caminhada, o outro
querendo tagarelar sobre o final da novela. Deu a entender
que estava fazendo uma enquete, um ibope particular, para
saber o que as pessoas tinham achado sobre as deliberações
finais da "fantastica e emocionante" ( palavras dele )  
 ficção televisiva da noite anterior.

              Enquanto dava os primeiros passos, iniciando a caminhada da manhã desse sabado, consegui ainda ouvir os comentarios finais do que se alongava, articulados em voz baixa, como quem fala para si mesmo : " .... e querem ser felizes " !

   Os sabiás ainda cantavam,  alheios às frivolidades e à tragicomedia humana.

          ( quem se importa com o que não importa, jamais compreenderá a importancia daquilo que verdadeiramente importa )

      Voce tambem fez bolão com seus amigos para saber
quem matou Max ?....



        

              

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