domingo, 14 de outubro de 2012

O LUSCO-FUSCO DA LAREIRA CREPITANTE


               O verdadeiro poder se revela quando se tornar desnecessario.

     A pessoa perde o interesse. Não importa mais,  já não se sente
envaidecido, qual sapo estufado, ante o prestigio e a exaltação.

       O que fez até então para sentir-se importante, percebe agora que foi tudo em vão. Tornou-se grande mas compreende, desencantado,  que sua grandeza o apequenou.

     Tornou-se escravo do reconhecimento em retribuição ao
poder que lhe conferiu. O valor que o prestigio proporciona,
reclama, invariavelmente. compensação relevante. 

           Os grandes feitos e conquistas, na realidade, o vitimaram. 
Constata que não valeu para nada. Apenas aparencias, tolices sem serventia, sem consistencia ou significado algum. Viagem atraves do vazio da soberba e da afetação. O movimento se fez apenas para fora. Encastelado na altivez, pretensão e soberba, aprisionou-se
dentro da propria imagem que construiu como salvaguarda.

        Valeu tão somente para impressionar e projetar uma imagem de grandeza e importancia.  No entanto, não alcançou a paz e a serenidade, nem tampouco a genuina sabedoria da vida,  com todo  poderio, realce e aclamação.

       A gloria e o sucesso não irão eximir a pessoa da responsabilidade dos aspectos transcedentais. Se a visibilidade externa não levar luz para os ambitos da essencia, ficará o individuo
na escuridão do ranger de dentes e da ruina.

        Não se aprofundou nos misterios da vida para poder aventurar-se por caminhos incomuns, e circular por mundos inimaginaveis. Ficou nas aguas rasas acomodado na segurança domestica.

           À medida que a auto-importancia tornar-se imprescindivel, distancia-se a pessoa cada vez mais daquilo que busca com tanto brio e decisão. Aposta equivocada conduz, de qualquer modo,  ao insucesso e  dano.

          ( No pai-dos-burros importancia e impostura, como poder e
podre andam um apos o outro. Não seria, por ventura, de igual modo, tambem na vida ? ... Simples divagação ! Nada cientifico !... ) 

           Feliz daquele que deseja o saber, e o verdadeiro conhecimento, pois encontrará dentro de si a solução para seus impasses e contratempos, não se apegando a falsas divindades para não transformar-se num falso heroi.

         Quem se volta para a auto-idolatria, segue os caminhos da
idiotice. Retornará de mãos e coração vazios. O delirio da vaidade
não tem outro destino a não ser o desengano e a desilusão.

        No tempo em que os aplausos não fizerem mais eco dentro
da sua imagem de presunção e notoriedade, e o pedestal tiver
ruido, restando apenas o glorioso vazio de um poder sem sentido, 
é chegado, finalmente a oportunidade de uma nova perspectiva, de um novo recomeço, onde uma compreensão mais lucida conduzirá a  um movimento mais ponderado, sereno e com sobriedade.

      Onde a realidade não estará  mais fundamentada na sedução do grandioso e do resplendor.
 Ou poderá, em tal caso, submergir ao desespero do desencanto das ilusões frustradas, não encontrando amparo nem forças para outra dinamica,  ou dar partida a um novo realinhamento.

            Engajado ao movimento da consciencia e ao verdadeiro conhecimento das coisas, ou seguirá o caminho do aniquilamento.
Caminho seguido por todos aqueles que não se conformam, desesperançados, devido ao fracasso do seu projeto de poder e 
ambição. 

       A significação que projetou no prestigio e autonomia, o privou
da sua verdadeira grandeza e essencia, que não requerem, por sua vez, palanque nem a ovação das galerias. 
  
         O narcisismo, pela sua mediocridade, busca no feitiço da
ostentação e importancia a sua façanha de supremacia. O dominio da soberba deforma e corrompe. Sem a discrição da simplicidade e
da modestia, a postura se torna ofensiva, pois age a partir do medo.
Busca proteção e segurança escorado na força do prestigio, e no
peso dos seus feitos.

       O poder pretendido pela motivação pessoal de grandeza e interesse, não conduzirá  para a verdadeira maestria. Irá apenas projetar-se neles como simples mecanismo de identificação. 

       Não obstante, quando tiver dominio sobre si mesmo, qualquer outro poder ou contexto deixará de ter relevancia. Não será
desviado ou desvirtuado por acenos oportunistas, ou promessas ilusorias, que possam desencaminhar seu projeto de conhecimento 
e verdadeiro aprendizado.

             Não apenas os grandes e poderosos são vitimas das suas
proezas de apego e engrandecimento. Todos somos. Não encontrando outra rota para o encontro consigo mesmo, alcançando desse modo, a paz e o equilibrio, constroi sua imagem às feições e exigencias do mundo. 

          Naturalmente o caminho é longo. Levará tempo. Aplicação
de uma existencia inteira. É  para fortes e destemidos, com fibra, espirito de desprendimento, sacrificio e uma visão clara e definida daquilo que se busca. Sem um proposito e uma vontade irrepreensiveis, o destino será o fracasso e a decepção.  É por isso que são poucos os que chegam.

       A imagem primordial é forjada nos fornos da temperança e da
sobriedade. Qualquer pessoa pode ir em busca do conhecimento, mas poucos o conseguem, e isso é natural. Há expectativa de um retorno rapido pelo seu investimento, que não acontece. Não faz ideia do longo caminho a ser percorrido para ter acesso
à verdadeira  aprendizagem. É tudo muito lento ( como tudo que 
é importante na vida ), e é essa vagareza que leva a imensa maioria
buscar resultados mais rapidos seguindo outros esquemas. 

      Os caminhos faceis tem sua atração e magia. À seu tempo, no
entanto, mostrarão sua face oculta de engano e simulação. Face de puro horror e tormento.
 Verá então que o palco do mundo era de mentirinha, utopia onde as ilusões de grandeza finalmente serão desfeitas e canceladas. 

          Por fim a vaidade e o poder haverão de cumprir seus verdadeiros designios. Desapontado e humilhado pela propria
ostentação e gloria, os aplausos deixam de fazer eco, a imagem luminosa se desfaz e um vazio devastador entra em cena.

      Recolhe, por fim, os cacos do que restou, resignado, olhar incredulo e cabeça baixa, volta para casa desfigurado, qual guerreiro abatido.
Laureado, nem por isso vencedor.

           Senta em frente à lareira crepitante, e, silenciosamente,
deixa-se envolver pelo ambiente aconchegante e alentador. Sente o
conforto de quem se sente acolhido. Por fim, acolhido por
si proprio. Por fim, consigo mesmo.
Distante da balburdia da adulação e dos holofotes, abrem-se
lentamente as cortinas de um mundo novo, mundo feito de poesia e de silencio.  Um silencio eloquente, repleto de significado e sentido.
O silencio sagrado onde a verdadeira vida palpita.

       E, no lusco-fusco da lareira que crepita, uma sementinha
fragil mas valente, de um novo recomeço, é lançada por terra.

               Quem sabe, venha a germinar. 
           
                       É por isso que se diz que o caos sempre antecede um novo arranjo, uma estruturação que faça sentido, dignificando a
vida e aquilo que realmente valha a pena de ser vivido.   

       

               

  

Um comentário:

  1. Olá, caro Dr. Rhein,

    sou um de seus, acredito, muitos leitores. Gostaria, num primeiro momento, apenas de apresentar-me, meu nome é Paulo Ricardo Boff, e dizer-te o quão grande é o meu prazer em lê-lo semanalmente. Mesmo na anonimidade, entrando em contato com seus ensinamentos através, somente, de seus textos aqui publicados, pude perceber a amplitude de seus pensamentos, a vastidão de suas idéias, desejos e vontades de transmitir uma mensagem, apesar do conscentimento de que nada poderemos de fato alcançar, de desejo de vida, no sentido de buscar a vida em sua plenitude, de procura incessante pela paz interior que cada um de nós aparentemente trás. A minha identidade em você consiste justamente no fato de que, por sentir a inexatidão das coisas, busco, desenfreadamente, aprimorar o meu discurso, apurar a minha retórica, porém deixando escapar pela tangente, sutilmente, os sofrimentos que realmente me cercam. Para resumir minhas palavras, pergunto-te, você vê alguma saída, alguma válvula de escape, para esse imenso mundo que nos devora dia após dia (além da arte e suas derivações )? Ou estamos, iminentemente, fadados às vicissitudes da vida e presos ao mundo dos fenômenos, das representações? Você consegue vislumbrar a coisa em si, para além de suas representações? Porque eu, infelizmente, ainda não!


    De qualquer maneira, espero não estar a falar apenas asneiras ou palavras ao vento. Se este for o caso, por favor, apenas desconsidere o texto. Enfim, gostaria muito de conhecê-lo pessoalmente algum dia.

    Com sincero respeito,

    Paulo.

    ResponderExcluir