quarta-feira, 25 de julho de 2012

NOSSOS OBJETOS DE PODER


              Agarramo-nos a tantas coisas que nos tornamos pesados pela carga que carregamos.

  Nos apegamos à nossa casa, às pessoas que gostamos ( ou necessitamos ), à comida predileta, à tantas
manias e excentricidades, as quais  chamamos de habito ou traço de personalidade, sem nos
darmos conta que estamos a elas aprisionados, envolvendo-nos e apequenando nossa vida.
       
       O principal referencial da vida é dado pelos apegos, aos quais nos submetemos sem questionamentos ou avaliações.
                                                      Nos agarramos a muitas coisas, mas, inquestionavelmente, nos
prendemos à necessidade primodial de sermos aceitos, de fazermos alguma diferença, de sermos pessoas
especiais. É o pequeno em nós que se apega, se agarra como um mecanismo de compensação. É o pequeno em nós que necessita de tanta coisa, coisas dando-nos importancia, em função do sentimento   da falta de importancia, ou pobreza interior. Favelado espiritual. Vendemos nossa alma ao bom capeta em troca de aquisições, conquistas, aparencia, o espaço enfim que criamos para nos tornarmos visiveis, para nos sentirmos bem mas principalmente valorizados.
 A visibilidade é o nosso principal referencial que orienta nossos esforços e buscas, igual a libelula que bate sem parar à vidraça, atraida loucamente pela luz. O brilho do mundo nos fascina e nos encanta. Os espelhos representam ainda os objetos de maior prestigio, na insensata racionalidade do homo sapiens. Não nos vestimos mais com penas, mas de longe deixamos de ser selvagens, reverenciando loucas ilusões, como deusas da salvação.
                                                      Levaremos, sem duvida, um tempo infindavel para deixarmos para
tras o nanico que existe em cada um de nós, sedento de atenção, reconhecimento e admiração.
Somos, antes de mais nada, seres extremamente carentes, buscando no mundo um senso de identidade e autonomia, tanto psiquica quanto pessoal. 
   Será que algum dia conseguiremos nos bastar, ou seria esse um proposito totalmente sem proposito ?


               Desprendimento. Desapego. Palavras encontradas nos dicionarios mas de aplicação na vida
extremamente complicado. Nos agarramos em função da nossa insegurança e precariedade da auto-
imagem e falta desse lastro interior. Nos entulhamos com coisas como muralhas de proteção.
Nos tornamos pesados. Nos paralisamos. Emparedados.
 Quão caro o preço que pagamos para nos sentirmos seguros, sem estarmos realmente seguros e protegidos.


            É a necessidade que nos faz ver o mundo como o percebemos. O mundo como provedor
das nossas necessidades. As coisas amparando e protegendo a ideia que construimos como
identidade pessoal ou imagem reconhecida. Nos reconhecemos em função do que armazenamos nos
porões subterraneos dos nossos medos e inseguranças.
                                  O apego cria um limite interno, limitando a mobilidade. Quanto mais intenso o apego,
é com essa intensidade que seremos aprisionados e limitados. Ficamos retidos dentro desse
sentimento, limitados internamente. Ficamos ao mesmo tempo aprisionados a tudo que nos propõe uma
realidade de segurança. A segurança que buscamos no mundo, não é outra coisa que uma divindade
ficticea num altar de muitos deuses com muitas promessas, quimeras e utopias.


           Desapego é isso. Suspender o sentimento, soltar, abrir mão, desprender-se da importancia que
aquilo possa representar em nossas vidas. Libertamo-nos, desse modo, das amarras que nos prendiam àquilo, sem atrelarmos mais nosso valor , auto- reconhecimento , ou identificação a atributos ou simbolos
das potestades do mundo.
                                               Enquanto houver expectativas, seremos afetados pelos acontecimentos.
Enquanto ficarmos à espera, o mundo e as pessoas nos trarão sofrimento.
Sem expectativas haverá paz, pois a atitude da espera, cria ansiedade e tumulto interior. O desprendimento
cria serenidade e força ao mesmo tempo. Quem não se prende a nada, nada haverá para defender.


         As mudanças reafirmam e confirmam o desapego. É por isso que ambos são tão dificeis. As coisas
às quais nos agarramos com tanto vigor, representam nossos simbolos de poder, como se fossem
amuletos, nossos talismãs da sorte.. Eles nos simbolizam. Colocamos neles nossa energia para que possam
nos proteger, para que possamos nos sentir protegidos. Veja só, colocamos nossa energia neles, como se
fossemos imantá-los, e, desse modo, perdemos nossa energia. Por isso são simbolos de poder. Vem
carregados com energia, com a nossa energia. E como são simbolos de poder, serão cobiçados pelos 
demais. Os selviculas bebiam o sangue e comiam a carne dos inimigos abatidos ( dos ini migos poderosos )
pois, acreditavam que, com isso, o poder lhes seria passado. No mundo atual, não há mais interesse em 
sangue ou carne, mas nos objetos de poder, aquilo que se guarda sob muitas chaves e outros tantos
segredos.
                  E, quando nos forem tomados, nos sentimos desconsolados, sem energia, sem poder, 
esvaziados, pois nossa energia foi com eles. Não perdemos o objeto em si, mas sua representação.
É por isso que o sofrimento não é possivel enquanto não houver apego, objetos de poder. Quem não 
se apega, jamais será roubado. O medo da perda  atrai o ladão. Sem envolvimento simbolico, não há
infortunio, pesar ou desgraça. 
                                               O sofrimento representa perda. Se não estiver apegado, não haverá
perda. As coisas poderão ir, como sempre vão, mas sem dor, sem o sentimento de perda, de vazio
interior.
                      A gente tem a impressão que não existe outro caminho, outra possibilidade a não ser nos
agarrarmos à estrutura do mundo, ao envolvimento das coisas ou mesmo pessoas.


       Porque acreditamos nisso ? Porque não temos nada melhor para acreditar.


                      E é por isso que nos apegamos.


            Endeusamos as coisas para nos sentirmos um pouco no paraiso.  




































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