Já se perguntou alguma vez
se ainda continua vivo ?
Ou, talvez, não tenha se dado conta, pois
faz tempo que já morreu ? Sabe desde quando
se tornou defunto ?
Um dia desistiu, não foi ? Achou que não valesse
mais a pena, pois não chegaria de qualquer modo.
Medo da entrega, de arriscar, medo das mudanças
e do comprometimento.
Medo de comprometer-se com os designios da alma,
com espaços de outros niveis, com algo maior.
Medo dos caminhos pouco percorridos, talvez
ainda nem mapeados e sem guias de orientação.
Alinhar-se. Submeter-se. Seguir em fila indiana.
Simplesmente se sujeitar. Bater continencia para
a uniformidade e a mesmice.
Medo da rejeição. Não foi isso ? Medo de não fazer
parte. Medo da critica, desconsiderado, deixado
à sua sorte. Medo. O medo que alinha e aliena.
O medo que torna tudo igual, que nivela e massifica.
Deshumaniza. Empobrece. Abrutalha. Estupidifica.
Alienação é isso. Perda do senso de orientação,
vacilante, duvidas, sem rumo, sem decisão.
Hesita. Paralisa. Estagna.
Indeciso, simplesmente segue. Seguir parece mais
seguro. Quem não se determina, se encolhe, se
acanha, se avilta e simplesmente segue. O passo
deixa de ser passo e se torna compasso, cadencia
monotona que se fez fila, alinhamento.
Não é assim que se formam os rebanhos e se torna
paroquiano ? Entoando todos, em unissono,
os mesmos canticos, todos com a mesma cara e o
mesmo olhar sem vida. A subserviencia é indecorosa,
degrada. Depravação da alma. Degeneração do
espirito.
Socialização é isso. Domesticação. Uniformização.
Tudo igual. Mesmice que imobiliza, embota,
automatiza. Robotização não é isso ?
A arrepiante e assombrosa monotonia da vida !
Sonhos... ambições... ideais... anseios...
Lembra quando foi que renunciou ao chamamento
da aventura e da ousadia ? Ao chamamento
da realização ? A valentia se acovardou e um
cheirinho de podre, muito desagradavel, se fez
sentir em sua vida. Lembra ?
Percebeu então, nesse instante, que seria mais
facil reconsiderar, abrir mão, ou ao menos
postergar, deixar para um outro tempo, quem sabe,
talvez... Me deixe em paz, estou tão cansado !
Quem desiste dos sonhos, simplesmente segue
a marcha lenta e funebre dos que já morreram.
Desistentes da vida. Renunciantes. Cabeça baixa e
rabinho entre as pernas ! Os retirantes.
Normas, rotinas, horarios, contas e compromissos.
Parece estar vivo por estar respirando ? Isso não é
conclusivo, nem suficiente. Não seria apenas ilusão,
ou força do habito ?
Só porque acha que não morreu, não significa que
esteja vivo.
Os mortos-vivos cheiram bem pior que os
verdadeiramente mortos. Não sentem seu fedor,
assim como quem exala à podridão, com seu halito
repugnante. Ambos não reconhecem seu estado
putrefeito. Ambos já não se percebem, não se
sentem.
Nos habituamos a tanta coisa, até a cheirar mal.
Ao menos os mortos, estes já não sofrem e nem
se importam. O morto é sempre autentico. Não há
falsidade na sua postura, pois não necessita mais
ser importante. As mascaras cairam, e é por isso que
parece tão livido, gelido, com cara de defunto. Sem
as mascaras é assim que nos parecemos todos, os
já defuntos e os que acham que ainda estejam vivos.
Quão poucos despertam em vida para que possam
viver ! Não sabem disso, mas não estão vivos. Talvez
nunca venham a saber.
Aprisionados no igual de todos os dias, rotinas
entediantes, sem prazer, sem criatividade... sem
tempo para viver.
Acorda todos os dias à mesma hora, come algo,
já atrasado, vai para os mesmos lugares, faz
as coisas de sempre, sempre do mesmo jeito, corre,
se estropia, nervoso, inquieto, amedrontado,
oprimido, sem esperança, sem paciencia, sem rumo.
Eta vida porreta !
O que corre nas veias deixou de ser sangue para se
transformar em medo , raiva, resignação ,
conformismo, desalento, apatia, desesperança.
Corpo sem vida. Vida de faz de conta.
Anda por aí, não mais por vontade propria,mas
movido por um mecanismo, igual ao bonequinho de
dar corda.
Segue pela vida.... toc...toc....toc, enquanto durar
a corda que faz a engenhoca girar.
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