sábado, 12 de novembro de 2011

QUANDO O MASCULINO ENCONTRA O SEU FEMININO INTERNO

C. G. Yung falou muito, na sua vasta obra, do casamento alquimico. E com isso ele nos passou a informação de que a pessoa está apenas vivendo uma parte do todo que é, e que a parte não vivida, a parte esquecida
quer fazer parte para que a pessoa possa viver sua inteireza, sua totalidade.

O que significa isso e que parte é essa que está na clandestinidade, na sombra, buscando sua integração, o seu reconhecimento ?

Vejamos. O homem se apaixona pela mulher ( ou a mulher pelo homem ), porque a mulher representa para o homem ( ou vice-versa ), o feminino
que ele não conseguiu integrar ainda à sua realidade. O feminino interno que se encontra encoberto pela manifestação do masculino. O masculino vivido pelo homem busca a sua contraparte, na mulher, o feminino expressado pela mulher.

Desse modo, ele necessita dela para preencher esse vazio interno
da contraparte que ainda não consegue viver em si e de si.
Assim a mulher é a representação externa de uma dimensão interna desconhecida
para o homem. Ao se apaixonar pela mulher, sem o saber, está na realidade buscando, atraves dela, contato com o seu feminino interno, ainda à deriva, não reconhecido, não elaborado, não vivido.

Por aí se explica a possessão e o ciumes. Afinal, ele não pode perder a mulher, pois sem ela cria-se um vazio, uma profunda falta e isso irá produzir sofrimento. Ele está tentanto se conectar internamente atraves da vinculação da mulher. Atraves desse feminino ele terá de alcançar o feminino escondido dentro ( o mesmo raciocinio, claro, é valido tambem para a mulher)
É como se a mulher servisse como ponte para que o homem pudesse ter acesso,
dentro dele, e atraves dela, de tudo aquilo que a mulher representa para ele.

E é dentro desse contexto que se cria o apego e o medo da perda.
"Eu preciso de ti para ser feliz " Ou "sem a tua pessoa eu não existo ". Essa dependencia, infelizmente recebe o nome de amor. Quanta mais falta o outro me faz, é a essa falta que chamamos, equivocadamente, amor. Pobre do amor !

Entretanto é esse o jogo. Precisamos buscar fora o que já existe
dentro, mas ainda não descoberto, não reconhecido como tal. Assim o outro fora
vai me ajudar a encontrar o outro dentro. O meu outro, interno, que busco no
outro, fora. O outro serve então como espelho para que possa ver nele aqueles aspectos ainda desconhecidos dentro de mim. Mas que estão aí e que necessitam
ser disponibilizados. Há um profundo reclamo interno para que isso saia da sombra e se faça presente na vida da pessoa. Esse reclamo interno nada mais é que a expressão do meu "amor" pela outra pessoa. Há uma urgencia dentro de nós
para vivermos nossa inteireza, a contraparte ainda esquecida. E essa urgencia se manifesta, externamente na busca apaixona, possessiva pela outra pessoa.

E quando a pessoa encontra, finalmente essa dimensão interna, que buscou loucamente, intensamente num outro ser, ele poderá então dizer :
"eu não preciso de ti para ser feliz, contudo me sinto tão feliz por estar contigo". Que maravilha, não ?
As necessidades cessaram, já não haverá posse, ciumes, medos de perda, solidão. Irá se deliciar com o mundo, celebrar os relacionamentos, dançar a vida. Os desejos cederam espaço para a confiança, e para o fim de qualquer forma de sofrimento. A plenitude é interna, a completude vem de dentro de si.
Ele então compreenderá que o mundo, com suas formas e sua logica, não poderá
proporcionar essa alegria, essa profunda sensação de bem estar de ter chegado em casa. A paz que buscamos no mundo, definitivamente não é lá que iremos
encontrá-la. O mundo é apenas o grande espelho que remete de volta, para dentro de nós proprios o que vemos lá fora. O que buscamos lá, não está lá, apenas parece estar lá. É como se fosse miragem, um contratempo da visão.

Viver com dignidade um relacionamento externo, nos dará as condições necessarias para que possamos realizar o grande casamento conosco mesmos, o que Yung chamava de casamento alquimico. O encontro conosco mesmos, a integração da parte faltante em nós para que possamos viver isso que realmente somos : inteiros e não partidos, polarizados, a grande dualidade.
Um bom relacionamento fará com que cada um se encontre atraves do outro. Uma vivencia respeitosa com a outra pessoa fará essa alquimia : o encontro do seu oposto dentro de si, atraves do semelhante do outro.
O que chama a atenção na mulher, não é outra coisa a não ser o meu feminino ainda não reconhecido dentro de mim. Vejo na mulher o que não consigo ainda viver em mim, a polaridade escondida ainda na sombra.
A necessidade do outro é a representação da necessidade que cada qual tem de se completar em si no outro. O dessemelhante
fora é a parte mais intima em nós que reclama o seu reconhecimento.

Quando viver o polo oposto em si, a grande obra terá sido realizada. A realização pessoal que passa pela libertação de todas as necessidades, desejos e sonhos. A libertação do medo, do sofrimento.
O sofrimento nada mais é que a expressão da dor do lado esquecido
em nós, do não vivido em nós. Daquela parte que faz falta para que a outra parte possa enfim se tornar inteira.

Primeiro encontro o outro, e será no outro ( se tivermos condições de não desistr ), que encontrarei finalmente esse outro em mim . E uma vez reconhecido, serei então capaz de amar verdadeiramente o outro, não como necessidade ou paixão enlouquecida ou como posse, mas como louvação e um
profundo reconhecimento por sua compania, por sua paciencia gentil, por sua ajuda na grande travessia do encontro feliz consigo mesmo. E nesse encontro consigo mesmo acontece o grande encontro com o outro de todos os outros.

Voce já sentou ao lado da lareira, numa noite fria, levemente reclinado no sofá, olhando para o fogo, ouvindo o crepitar das chamas, e ao fundo uma musica suave, a sua musica preferida ? O momento transformado em poesia. Há um ar de solenidade no ar, uma sensação de sacralidade. Celebração.
As taças se tocam suavemente e se ouve um leve tim-tim. Deus sentado ao nosso
lado comemorando o grande encontro. Quando a gente se encontra atraves do
outro, é essa a condição para Deus fazer tim-tim com a gente, sentado na frente da lareira....

Nenhum comentário:

Postar um comentário