sábado, 19 de novembro de 2011

AS AGUAS CORREM MAS O RIO NÃO PASSA

Hoje alguem me falou assim : estamos de visita a
esse momento aqui, agora.
Gostei da imagem e da visão que essa pessoa tem dessa coisa magica mas tão mal compreendida que é o agora. Somos como visitantes ou transeuntes nesse pequeno-grande espaço constituido
por esse momento.
Porque "pequeno-grande" ? Porque a antitese
a polaridade, a antinomia ? Porque reside exatamente aí a magia e
o contexto fascinante desse tempo ( que aliás, não é constituido de tempo ) e desse espaço ( que tambem não tem medida ).
Geralmente, para a grande maioria, ele se torna pequeno e passageiro, funcionando como ponte, para chegar ao futuro, para esse outro tempo ( realmente constituido de tempo ). Estamos em busca desse tempo porque é o depositario de
tudo aquilo que é ansiado, desejado e sonhado para sermos felizes. Por isso, o momento atual, esse momento, se torna quase como um estorvo, um problema, porque o objetivo está lá adiante e é para lá que estamos nos deslocando em busca da nossa realização.
O paradoxo e a loucura é que esse tempo não existe. Não existe esse tempo, dentro do tempo que possa nos salvar da nossa angustia, dos nossos temores e confusões. Tentamos encurtar ao maximo o momento atual para chegarmos o mais rapidamente possivel para a outra margem, resgatando assim a paz, o equilibrio, a serenidade. Que esse momento seja o mais breve e fugaz possivel, porque o bom, isso que me deixará bem, está lá. Precisamos nos apressar o mais que der, correr, sem perder de vista por um momento sequer naquilo que colocamos nossa salvação, nossa identificação.

Precisamos do depois para sermos felizes.
Que truque fantastico e ao mesmo tempo poderoso que a mente nos
pregou. E caimos todos nessa tramoia, nesse ardil, nessa visão
ilusionista, dando credito à promessa mais impossivel e ireal.
A grande quimera ! O futuro ! A grande utopia, a
grande mentira. E qual o final da historia ao dar credito ao que não é real ? E estamos, quase todos, nessa grande marcha
buscando lá fora, num outro tempo, num outro contexto, o que só pode ser encontrado nesse momento, nesse espaço.
Mas se tornarmos esse momento uma passagem, enquanto nos deslocamos para o futuro, não seremos capazes de nos darmos conta que não existe outro tempo, outro momento, outro espaço a não ser aqui e agora. E nessa descoberta veremos, como por encanto, que aquilo que buscamos,
sacrificando esse momento, está exatamente aqui, sem necessidade de buscas, de esforço, de desejos. Ficando presentes a esse momento, compreenderemos finalmente, saindo da
ilusão, que tudo já está aí, cumprindo-se o que está escrito nos livros sagrados ( "e antes que me tiverdes pedido, isso já está aí"). Parece-nos incompreensivel, pois enquanto estamos ainda aprisionados na mentira, não somos capazes de compreender a verdade.
Desse modo, o momento atual pode ser pequeno, uma chatice porque tenho pressa de passar por ele,
pois meu destino é a proxima estação. Mas quando for capaz de
compreender o milagre contido dentro desse espaço, desse pequeno-grande momento, irá finalmente entender que não existe nada fora desse contexto, dessa realidade. Esse pequeno se tornará grande, estendido, esticado, ultrapassando todos os espaços, todos os tempos passados e futuros, constituindo-se apenas nesse ponto que tudo contem, todas as possibilidades, expectativas, promessas, sonhos e esperanças. Tudo está agora aqui. E como poderá saber disso se estiver ausente, como simples passante, um mero transeunte atraves desse momento ?

Voce quer chegar mas passou do ponto. Não viu, ao passar, que aquilo que busca, esteve aí, ao seu lado, enquanto passava.

É verdade que estamos de visita a esse momento, mas isso não significa que logo daremos adeus e iremos
embora. Temos aqui um paradoxo. Somos visita, mas estamos sempre aí. Os cenarios mudam a cada momento, mas nós não nos movimentamos enquanto os cenarios passam. A agua corre, mas o rio não passa. Nos tornamos observadores desse fluxo que não para. Tudo se movimenta, continuando no mesmo lugar.
Todas as aguas que já passaram, não deixaram o rio mais vazio, porque continuam fluindo.
A roda gira mas o eixo central não se movimenta. É exatamente o que não se movimenta que produz o movimento.

Esse momento passa pelo aqui agora que não passa. Os cenarios mudam, mas o que contem os cenarios não muda. Estando presentes, conectados, observadores veremos o movimento continuo e incessante daquilo que não passa, contido dentro desse espaço-tempo. As imagens de um filme se sucedem continuamente, mas estão todas contidas dentro do mesmo filmes. As cenas mudam mas o filme é o mesmo. As aguas correm mas o rio é sempre o mesmo. As aguas não vem do passado indo para o futuro. O rio está em movimento mas está sempre presente.
E voce onde está enquanto as aguas passam e a roda gira ? Segue o movimento das aguas ou se transforma no rio que não passa ? Esse momento não passa, apesar de acreditarmos no futuro. O problema é nosso...

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