domingo, 6 de janeiro de 2013

DE QUEM É, AFINAL A RESPONSABILIDE ?


       Não é desabafo.  Nem se trata tambem de protesto, lamento de
auto-piedade, e/ou culpa, tampouco sentimento de contestação, carregado de magoa, ou, quem sabe, contrariedade, ou até mesmo
ressentimento.  

  Não, de forma alguma, trata-se disso.

   Quando se olha em retrospectiva, na avaliação dos fatos e acontecimentos relacionados à atuação na vida, como oficio, são
dois, ao menos, os sentimentos que podem, de imediato,
revelar-se à nossa consciencia.

   Ou, sentimo-nos desconfortaveis pelo que deixamos de fazer, o
que foi deixado para tras, mas que podiamos ter executado, pois
esteve ao nosso alcance. Por algum motivo qualquer, o devido
empenho, não aconteceu. 
Ou, então, o que foi realizado, não alcançou, talvez por displicencia, pressa, descuido, indiferença, ou qualquer outra questão, o beneficio ou o ganho a que nos tinhamos proposto.

  Neste caso, pode ser que, realmente, tenha havido competencia, conhecimento ou empenho. Ou comprometimento e aplicação.
Empenho. Historia pessoal. Envolvimento ( e não somente negligencia ou desleixo ).
A agenda foi cumprida e o projeto, realizado.
Missão concluida. E dever adequadamente desempenhado. 
 No entanto, o resultado final não foi condizente ao quanto de 
energia, cuidado e entrega foram investidos no empreendimento. 

 O questionamento critico a que me lanço nesse momento é :  a irrelevancia  do resultado final dos fatos,  pode ser considerado, tão
somente, como responsabilidade ou onus pessoal ? Ou seja, o que
foi que não se ajustou para que o exito não tenha sido alcançado ? E, olhando, agora, para tras, ter-se a sensação de malsucedido ?  

  A ponderação é pertinente, pois, apesar do empenho e de ter
  havido comprometimento, de consciencia serena, algo não alinhou-se ao que havia sido, inicialmente, proposto.
Assim sendo, qual o ponto ? Ou, melhor, porque ?

  Como profissional da area medica, dediquei-me, o quanto foi
possivel, não por capricho da vaidade, para ser diferente, ou
alcançar visibilidade,  mas por decretos e designios de instancia mais complexa, que transcendem a vontade ou simples desejos de originalidade e ostentação, seguir uma orientação não ortodoxa,
alheia ao padrão ortodoxo de fazer medicina.

   Nesta condição, o preço a ser pago por não seguir o modelo corporativo, o consenso da norma, a ideologia coletiva ou o paradigma da concordancia, é, de forma inegavel,  um preço extraordinariamente elevado.

 Abdicar dos preceitos da medicina quimica, de alta tecnologia, que enfatiza, tão somente, a manifestação somatica, o efeito final de uma longa cadeia de eventos, cujo inicio encontra-se nos dominios do mundo sombrio da mente, com suas culpas, crenças, sentimentos, temores e inquietações, e buscar, exatamente aí, no nivel da energia não manifesta, a causa de todo o desequilibrio manifesto, não deixa de ser, inequivocamente, uma tarefa obstinada, de extrema temperança, e inegavel exaustão, com extremo desgaste de forças psiquicas..

    Foi um tempo de intensa angustia, conflitos internos sem
 tregua e inquietações desalentadoras.
 Sentir-se indefeso frente uma vivencia de hostilidade e antagonismo, animosidade e franca rejeição, qual expurgo a ser
simplesmente descartado, quando ainda as convicções eram hesitantes, como a plantinha fragil, sem resistencia nem valentia, 
somente estando alicerçado e sob a influencia de forças
notaveis, ao mesmo tempo misteriosas.

Manter-se fiel aos propositos e seguir em frente, diante tal
adversidade, feito de horror e execração, necessita a pessoa, alem
da simples aplicação e vontade inflexivel, ser tambem norteado por uma singularidade incomum, alheia ao sistema validado coletivamente, para não deixar-se abater qual animal indefeso.

   São extraordinarios os caminhos pelos quais a verdade segue os
seus designios para ser compreendida.  Maior ainda, contudo, será a dificuldade para tornar-se realidade, e, dessa forma, transformar-se em experiencia pratica, em comportamento humano.

  Quantas vezes perde-se o rumo que nos parecia seguro e efetivo.
Certezas absolutas transformam-se então em duvidas impiedosas.
A unica verdade que, neste momento, nos norteia, e a unica certeza que resta, é nos sentirmos, definitivamente, perdidos.

   A bussula parece confusa e os mapas distorcem as linhas, deixando de ser confiaveis. Estar no mato sem cachorro, não é
essa a imagem que define com exatidão esse momento de vida ?  Apesar disso, no entanto, a jornada continua. E, para dar validade ao projeto, necessita a pessoa de austera aplicação, sem deixar-se abater por reclamos e queixumes qual criança choramingas. Terá
que manter-se fiel ao seu idealismo sem desistir, sem reclamar, sem
hesitar, até alcançar, por fim, o entendimento que nada realmente importa. Pois o que estava em jogo era o poder pessoal. Não foram as batalhas vencidas, ou as que perdeu, nem as alegrias ou perplexidades, frustrações, desencantos. Os eventos que nos desafiavam, tinham por meta, não o resultado em si, mas o poder
a ser ganho atraves da sua execução.
  O que determina a maneira de se fazer as coisas é o poder pessoal.
 O homem se valida por esse poder. É ele que define sua postura 
na vida. 

     O poder pessoal é um estado de espirito. Um sentimento de convicção. E para alcançá-lo, será a pessoa submetida à iniciação
que as adversidades dos acontecimentos impõe. Sua superação cria
essa certeza que se transforma em poder. 
Pois, de que outra forma, a não ser percorrendo os arduos e criticos caminhos das adversidades, para alcançarmos as qualidade desse poder ? 
 As dificuldades não são mais que estimulo, quais halteres, que nos
libertam da acomodação, temor e covardia para seguir rotas incomuns e solitarias. É nessas esferas que o poder pessoal  se disfarça, cristalizando-se em vivencia. 
   
    Sem resistir às forças do vitimismo ou do esteril conformismo, 
sem esse poder, não somos mais que lixo, folhas mortas dançando ao vento. 
  Cabe a nós, como individuos, opor-nos às forças que tornam a 
vida sem sentido nem função.

   Tentei conscientizar todos quantos viessem estar comigo. 
Tentei colocá-las numa perspectica incomum da visão conservadora da realidade dos fatos, das crenças habituais com relação aos
aspectos do adoecimento humano, do cuidado pessoal quanto
à terapeutica quimica, da inconveniencia da intervenção intempestiva e desnecessaria, a necessidade da ruptura de um
consenso paradigmatico, e, desse modo, alcançar autonomia e qualificação que colocasse a pessoa em condições para dar conta de si proprio.
Premissas imprescindiveis, enfim, para alcançar equilibrio, saude e auto-determinação.
 Liberdade sobre as limitações impostas de todo e
qualquer sistema que nos mantem alinhados à visão comum de
crenças insanas e "verdades" que estupidificam  o espirito. Que nos
apequenam, alijando-nos das nossas reais possibilidades.

Para reconhecermos nossa singularidade, temos que transcender a
consciencia comum, cotidiana de todos os dias.
E a realização dessa mudança interna, no nivel da percepção, do entendimento, é, de fato, um feito sem paralelo.

Tentei.  Tentei passar a mensagem. E o conteudo da agenda  poderia ser sintetizado na modesta assertiva  :  " aprender a
 cuidar-se, fazer o que tem de ser feito e dar conta de si proprio ".

   Consegui ?   NÃO  !  Ou, ao menos, minguadamente.

  Entretanto, o paradoxal dessa empreitada é que sai com o
discernimento e a certeza de que é possivel mudar. É possivel
fazer por si mesmo e sair da dependencia dos condicionamentos
da vida inconsciente, do comportamento, simplesmente, automatizado.
 Colhi exatamente aquilo que não consegui transmitir aos outros.
A mensagem não foi ouvida pela multidão, no entanto o som permaneceu retido no mais profundo do meu ser e se fez verdade, entendimento, lucidez e ação. 
 Donde se conclui, que, geralmente, ensinamos o conteudo que necessitamos aprender. Damos enfase ao que nos falta atraves
da mensagem que emitimos para o mundo.

 Assim, o fracasso externo fez-se dinamica bem sucedida a nivel pessoal.
Compreendi então que a necessidade que temos de ajudar o
outro, reflete apenas o quanto estamos em falta conosco mesmos.
A sujeira que vemos no caminho do outro, não é diferente da sujeira da qual não conseguimos livrar-nos ainda. Projetamos nossa mediocridade no mundo, na expectativa de reformá-lo para podermos, dessa forma, alcançar a paz. 

  A solução parece sempre situar-se nos limites externos. Mentimos a nós mesmos quando partimos em inglorias cruzadas tentando salvar o mundo.
O final da historia, contudo, é sempre igual  :  profunda decepção, quando não, ressentimento e azedume incluidos no mesmo pacote.

  Cada qual terá de percorrer o longo percurso, não menos penoso, e, ao mesmo tempo intransferivel, caso queira desvendar os segredos e misterios nos quais encontra-se a vida envolta. 

Sem decepcionar-se, continua a pessoa no caminho de sempre,
fazendo pelos outros o que não consegue fazer por si mesmo.
Quando a necessidade de amparar o outro, finalmente, cessa, é
onde reside a compreensão que não é o outro que tem de ser ajudado.

   Organizar-se internamente, é a ajuda maxima que alguem pode executar. É um ato heroico, não tendo, porem, analogia alguma com egoismo ou simples indiferença.
Sentir-se bem, cuidar-se a nivel animico, é, de longe, a dadiva
mais significativa que podemos legar ao mundo, pois
ninguem, nunca, cura-se apenas a si mesmo, ao se curar. A energia dessa benção será transferida, incondicionalmente, a nivel coletivo.

  Quando ajudamos, a pessoa utiliza a energia de quem a está ajudando. Não é uma posição vantajosa, pois terá que aprender a
disponibilizar a moderação, a sobriedade, o controle e a energia que
lhe são inerentes, caso queira libertar-se da consciencia comum que
apenas busca resultados confusos e metas sem sentido.
Portanto, a ajuda incapacita e fragiliza. Se transforma em mendigo
psicologico, sempre à espera, passando o chapeu.

   Quanto mais estivermos envolvidos com as questões do outro,
mais estará a pessoa aleinada de si mesma, e, dessa forma, distante
da solução das suas coisas.

   Não são, afinal, as dificuldades a matriz de onde todos extraimos do que necessitamos para que o despertar aconteça e nos coloquemos à caminho ?
A geração espontanea ainda não está, desafortunadamente , disponivel. Temos, ainda, todos, que fazer o que tem de ser feito
para que as mudanças aconteçam e a paz, finalmente seja possivel.

  Uma longa cadeia de circunstancias e acontecimentos são
necessarios para que possamos resgatar-nos do sequestro no qual
estamos aprisionados para alem de uma eternidade.

  Os caminhos que nos conduzem ao encontro conosco mesmos
são, indubitavelmente, misteriosos, arduos, doídos, mas plenamente
suportaveis, plenos de sabedoria, proporção, harmonia e beleza.

   A mudança doi, mas sem  mudança nos destruimos.

  Sem concedermos à nossa força natural e impeto compulsivo uma
causa valiosa, qual o destino que encontraremos logo aí à frente ?

   Apos tantos caminhos andados, compreendi, finalmente, que
não dar esmolas, não é crueldade, nem, tampouco insensibilidade,
mas apenas desapego. Apegamos-nos à ilusão quixotesca de salvadores do mundo, pela resistencia interna da mudança pessoal. E, encontrei, exatamente aí, o significado magico da ausencia de piedade. Quando deixamos de sentir pena
por nós mesmos, é que a compaixão deixa de ser expressiva, e 
 reverte-se finalmente destituida de valor.
Sem o aval da autopiedade, a compaixão não tem objetivo.

   Disse-me um amigo que este planeta pode ser de provas e
expiação, ou então de plena realização e desenvolvimento de
potencialidade. 

     Fazemos o que tem de ser feito, ou podemos simplesmente
continuar a nos queixar, reclamar de todos e até de Deus para que possamos estar bem, ter saude, dinheiro, paz....
Os culpados, quem  são eles a não ser sempre os outros, não é  assim  que funciona ?

   A felicidade exige a valentia da responsabilidade das mudanças.




   
  



 






    



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