sábado, 26 de janeiro de 2013

A DOENÇA COMO RESULTADO DE BESTEIRAS NA CABEÇA



       A frase, curta, rapida, sem rodeios, ou efeitos de retorica, atiçou a imaginação, ideias em redemoinho, ante a surpresa e o
quase espanto da pretensiosa informação. 

   Sempre que o senso comum é confrontado, posto à prova, 
vemo-nos indefesos na contra-argumentação, quase assim como
quem é pego de imprevisto, pelo inusitado da mensagem.

  Ouvimos a colocação, mas a gente finge que não, para
ter certeza, ou para dar tempo e recompor-se. Ouvimos, no entanto, destoa, não se faz coerente, desafiando nossas mais sagradas convicções.
 Os esclarecimentos parecem urgentes ante a perplexidade da colocação. O sentido justo das coisas foi rompido, e um elo de ligação tem de ser encontrado.

   "Não existem doenças. O que há, são besteiras na cabeça".
                          - Dom Juan Matus - 

  E, agora, meu santo padroeiro ? Confere, ou é a proposição sem proposito algum, desajuizada, sem nexo qualquer ?
Descarta-se, simplesmente, o anunciado por ser destituido de
conteudo e, mais, ferir a sensatez da coerencia e do juizo
 perfeito ?
   Há sempre assombro em tudo que não justapõe-se  aos
postulados das nossas "verdades". Por isso o descarte de pronto,
sem rodeios ou questionamentos, declarado sem valor, ou sem logica. Julgado dessa forma, não há porque polemizar. É tamanho
 o disparate, na logica da nossa avaliação, que passa-se simplesmente ao largo, como se nada mais tivesse acontecido. 
O ponto de vista coloca-se de tal forma categorico, que não há para onde fugir, por isso o conceito de falso e equivocado para os elementos em questão.

  Ou, então, quem sabe, valha a pena aproximar-se, ajustar o foco,
 com o espirito desarmado, sem as convicções dos dogmas e
preceitos que até então determinavam nossa visão das coisas.

  Olhar sem a bagagem do conhecido ou aceito como
inquestionavel, olhar como quem olha pela primeira vez
para aquilo que nunca viu. Olhar não viciado, como o olhar da criança, que se encanta apenas, sem juizos de valor. Sem julgamentos, ou ponderações precipitadas, em base do que
 se aceita como certo.

 Quem não consegue livrar-se das lentes para perto, não terá condições de uma visão mais distante. Verá mais longe, unicamente
quem conseguir livrar-se das visões antigas, acomodadas, e, no
mais das vezes, obsoletas e rançosas.

  "Não há doenças", proclama o mago. Dificil olhar para isso sem  agitação na mente, ou, ao menos, fica-se à espera de uma explanação coerente, ou que tenha nexo. Ouvimos, mas fica-se em duvida se isso que ouvimos, foi realmente o que ouvimos.

 Sabemos que doenças existem. Não temos duvida. Porque então a afirmativa em contrario ?
Quem a formulou, deverá ter suporte em constatações precisas e
inequivocas, apesar do aspecto irreal e, de certa forma, 
inconsequente e leviano da afirmação. Seria talvez simples capricho para confundir ou polemiza, como tantos malucos com proposições sem quaisquer qualificações ? 

  Sua ousadia se confirma quando, sem rodeios, complementa, assim
como fazem os plenamente convictos dos seus principios.
"O que há, são besteiras na cabeça".

  "Não há doenças, o que há, são besteiras na cabeça". Sem duvida,
dentro da visão mecanicista da medicina sintomatica, nada 
soa mais absurdo e desvairado. O que tratamos, não são doenças ?
Caso a doença não exista, conforme a declaração aguda, o que tratamos, afinal ? Ou, dito de outra forma, quando curamos, não curamos nada ? E, se curamos, o que curamos ? Ou, simplesmente, nada há para ser curado ?  O ninho está recheado de cobras !

 Essa investigação torna-se procedente e carregada de desafios, pois somos todos pacientes, todos acometidos por mal-estares
 que  perturbam, gerando aflição e sofrimento. Frente a isso, qual a postura a ser adotada, e com que visão olharemos
 para tal contexto ?  
Sem uma compreensão lucida, ficaremos quais refens inocentes de dogmas confusos, verdades caoticos e equivocadas, ao inves de libertar, ocasionando, tão somente, mais embaraço e frustração.

A afirmativa nos fala de dois aspectos. Menciona a doença, no
plano fisisco, e nos lembra, igualmente, do aspecto psiquico, quando chama a nossa atenção para as "besteiras na cabeça". Em que nivel se vinculam, caso tenham qualquer
 vinculação entre si ?

  - Paciente ( com doença grave e profundo desequilibrio
 emocional )  lamenta-se, amargurado, por ter sido preterido, na
infancia, pelo irmão, que era o queridinho da mamãe. Sentiu-se enjeitado, como posto de lado, sem valor.  Sofreu muito na epoca.  Era apenas uma criança. Doeu, machucou, produzindo magoa, abrindo feridas que não cicatrizaram nunca mais.

 Hoje, com mais de 50 anos, a dor ainda persiste, assim como
a magoa e o descontentamento. Não conseguiu esquecer. Está
 ainda à espera da mamãe que venha consolá-lo, prestando-lhe os cuidados que ainda sente falta. Qual o atalho ? Transferiu para a companheira tal empreendimento. Esposa-mamãe do maridinho infantil. Resultado ?  Ela cansou-se, cansou de niná-lo, seu grande
menino-marido, pegou o boné e foi cuidar de sua vida. E ele ?  Continua a queixa-se, como sempre, inconformado, que ninguem o ama, não lhe fazem agrados, não cuidam dele... Lamentos e mais lamentos. Quem virá me salvar, exclama desiludido ?
( chapolin colorado parece não estar disponivel ! ). 

 Não temos, quase todos, historias dessa configuração, onde as
lembranças de um tempo infeliz ainda fazem eco, repercutindo de uma forma intensa no momento presente ?
O passado ainda se agita, convulsivamente, impedindo a pessoa de
seguir em frente, viver com graça e florescimento.

 Não são apenas as mazelas de uma infancia sem o calor do desvelo, mas tambem os reveses da sorte, decepções afetivas,
fracassos pessoais, assim como todas as formas de situações que
protagonizaram sofrimento, dos quais não conseguiu a pessoa 
desembaraçar-se, que aprisionam, transformando a vida em algo
dificil de ser digerido. Fatos que convertem-se em lembranças
duradouras, eternizando o sofrimento.

O não perdoado, feridas ainda não cicatrizadas, expurgam dor e
azedume de cheiro repulsivo, infestando sua realidade e de
todos quantos estejam nas proximidades.

  Enquanto a pessoa não abdicar definitivamente da choradeira de
criança lamurienta, não conseguirá transformar-se em adulto, não
haverá crescimento, sua vida será esteril, sem criatividade.

Faz tempo que deixou o bico e largou as fraldas. No entanto, apenas, aparentemente. Na realidade continua criança clamando
por mamãe, incompetente para atender suas necessidades.
Acabará num divã de analista, repassando entre minucias, sessão
apos sessão, durante anos sem conta, sua vida de sofrimento, as injustiças que se considera vitima,  e todo o bla-bla-bla sem fim, 
de uma vida mediocre, ordinaria, sem expressão alguma.

  Aceitar com humildade o que não pode ser mudado, que isso,
no entanto, não se transforme em fonte de pesar. Reconhecer
com sobriedade as limitações e fraquezas, sem, em função disso,
 entregar-se á lamentos, ou humor de desanimo.
Lava tempo para reconhecer a diferença, e mais ainda para
vivê-lo plenamente. Não estaria, por acaso escondido aí o
segredo de uma vida abençoada e auspiciosa ?

  A pessoa pode ser ferida por eventos, situações ou pelos outros,
mas ofendido, não ( sentir-se ofendido por isso ).
Não temos dominio sobre as ações do mundo, são externas a nós, mas a reação interna, o sentimento, isso, sim, corre por nossa conta.

Queixar-se é capricho de criança mimada. Faça sem esperar
por ninguem. Se algo vier, será bem vindo. Caso
contrario, sem magoa. 

Rotulamo-nos carentes, cheio de caprichos, o que, alem de nos 
tornar obtusos, leva-nos tambem à estreiteza mental, fragilização
da temperança, e incapacitação da boa vontade. 

  Na medida que fica ralando mentalmente, sem cessar, o quanto é
desassistido da vida, o quanto é um coitado, e por aí vai, esse
movimento mental, atraves dos sentimentos que produz, gera uma
quantidade imensa de energia ( emoção = energia ). Essa energia,
apos atingir seu ponto critico, precipita-se para o fisico, convertendo-se em desconforto, o que chamamos  doença.

Ou, ainda dá credito que enfermidade é consequencia da má sorte,
trabalho feito, inveja de parente ou mandinga de desafeto ? Que o 
enfermo é tão somente vitima indefesa, talvez de algum microbio tenebroso, de nome complicado, ou, quem sabe, algum malfadado golpe de ar, ou mau olhado da megera  fatalidade ?

O corpo responde ao comando das emoções, ( sempre ), adequando e modelando-se ao enredo do roteiro mental. 
Conforme a Fisica, é a energia o substrato da materia, do que
adquire forma, do que é real. As celulas hão de diferençar alegria
de tristeza, e seu funcionamento irá adequar-se ao sentimento em
questão. 
O corpo é o reflexo das emoções. Do barulho da mente ou do seu
silencio.
Paz cria saude. Alegria gera conforto fisico, funcionamento perfeito
de todo o sistema. 
O medo não assusta apenas a pessoa, como amedronta a operacionalidade de toda a estrutura organica, o complexo celular,
liberação de enzimas, coordenação hormonal etc etc. 

O que se passa no espirito, corre atraves do sangue, alcança a
intimidade dos orgãos, convertendo-se em saude ou doença.
O corpo traduz em realidade o abstrato dos sentimentos. Diante
disso, o que é  real ?  O visivel, ou o invisivel ?
 A forma que se vê, ou aquilo que o olho não capta ?  

                 Imagem no espelho. A imagem está aí. Os olhos 
percebem, não mentem. No entanto, é a imagem real ? Pelo
fato de estar aí, não justifica sua efetividade. Ou justifica ?
Remova o objeto refletido, uau, a imagem sumiu. 
Se é real, como pôde sumir ? Estava aí, ao menos, parecia estar, mas sua existencia é virtual. O que se vê, não é real ! ?  É simples
ilusão de otica, é imaginação, ou, se queira, uma simples convenção social, em que  acata-se, coletivamente, o fato , apesar de
não ajustar-se à realidade dos fatos tais como são.  

 A realidade é determinada por aquilo que não se vê. O visto é
mera aparencia, formalidades de convenção, despretenciosas
"besteiras na cabeça".

  


  

  

  


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