quinta-feira, 4 de abril de 2013

UM JEITO PARA VIVER, PARA NÃO MORRER SEM JEITO


               Dia desses, Ghi Belique, com ares de profeta, euforico,
estava como quem acaba de ter uma grande revelação :
 "Há muitas formas de morrer, mas achar um jeito para viver,
não há duvida, é para poucos."

Fiquei refletindo sobre o que acabara de ouvir.
 Encontrar um jeito para viver !  Encontrar o essencial, aquilo
 que faz a diferença. 
  Algo pelo qual valha a pena manter-se de pé, sustentado, porem pelas proprias forças, por suas escolhas pessoais.
Não trilhar caminhos, apenas por ser essa a rota por onde segue a manada, o caminho de milhões. 
 Não permitir ser manipulado por estrategias astutas, cujo unico objetivo é o de mantê-lo estranho a si mesmo, impossibilitanto-o, dessa forma, de viver seu potencial, suas reais possibilidades.

 Há muitas forças influentes agindo para que voce não seja voce mesmo, induzindo-o sutilmente  para apenas repetir e aceitar como
verdadeiro tanta besteira que hipnotiza o bando todinho.
 A mesmice é facil de ser controlada. O rebanho é
concebido dentro dessa premissa.

               A autenticidade torna-se perigosa dentro de um sistema que enfatiza a imitação, seguir em fila indiana, apenas repetição. A tatica é, portanto, desviá-lo  de si mesmo para que permaneça convencional, bem mandado, não dissonante. E todo cuidado é pouco, por parte deles, pois sempre existe o perigo de voce
 vir a tornar-se um rebelde. A rebeldia é caracteristica dos
espiritos livres, dos que se auto-determinam, não permitino serem pensados. E o sistema não tolera essa gente, pois representam
perigoso sinal de alerta.

A amargura e alienação são consequencia dessa falta de si, desse encontro consigo mesmo que não aconteceu. Ou, por não ter encontrado o seu jeito para viver. 
 Por não sentir-se à vontade com a vida
 carregando culpas, lamentando-se em queixumes constantes por tanta tristeza e descaminho, e totalmente imobilizado pelo medo.

Não sente-se à vontade porque foi treinado para o controle e a
repressão, como se fosse um ser perigoso que tem de ser vigiado como uma fera imprevisivel. Aprendeu de tal forma a lição, que perdeu o sentido da vida e sem saber o que é. Perdeu a gentileza para consigo mesmo, e, com isso, tornou-se incapaz de reconhecer a gentileza da vida. Está em estado de tortura permanente. De auto-tortura, o que torna-se ainda mais lamentavel.
 Torna-se insensivel, perdendo a capacidade de percepção,
a poesia, o encanto, o estado de envolvimento e a festividade da
vida.
               Está em estado de temor permanente, não está ? Armado até os dentes em constante estado de defesa. Já perguntou-se alguma vez quem é o inimigo,  de quem está, afinal, tentando
 defender-se ?

Sentimo-nos desamparados e indefesos quando perdemos contato
com a gente mesmo. É esse o motivo pelo qual o mundo parece-nos perigoso e não confiavel. O quanto não estou do meu lado, é o
tanto que percebo-me indefeso e vulneravel.

Quais são, enfim, os valores pelos quais vale a pena levantar todas
as manhãs, cumprir com determinação o que nos compete, sem esmorecer, sem deixar-se abater pelo cansaço ou pelo dasanimo ?
 O que dá, afinal, significado à vida ?

Se observarmos cuidadosa e imparcialmente os seres humanos, 
constataremos com facilidade que, quando a pessoa chega à idade
de vinte anos, já tornou-se senil, rijo, repetitivo, sem criatividade
alguma.
Pouca idade não é requisito para a juventude. E não é a pouca
idade um impedimento para a pessoa transformar-se me caduca. 

Com relação à vida, depois dos vinte, já nada mais existe. 

Envenenado pela comparação e o alinhamento, tendo abdicado da autenticidade do si mesmo, em troca de beneficio algum. 
Fascinado pela imitação, segue numa fila interminavel que não
conduzirá a lugar algum. 
Transforma-se em algo que não é, seguindo em frente, no
 compasso de rebanho, perdendo a inteligencia, a liberdade e a
auto-resolução. 
O estratagema da inconsciencia coletiva, não visa outra coisa que
desorientar, desviando da pessoa a atenção de si mesmo.
Torna-se muitos porque abdicou do senso de decisão. Não orienta-se por si proprio, porque perdeu o senso de orientação. Internamente coletivizou-se por não saber o que é. E quando se é muitos, não sobra mais nada daquilo que se é.

Todos sabemos como isso termina. Apenas uma historia, uma historia amarga, contada por um alienado, falando de uma vida
sem qualquer sentido, nem importancia.
Uma historia acanhada, narrada por uma pessoa amarga, tomada
pelo cansaço e a frustração. Mais que uma narrativa, torna-se
 um resmungo lamentoso, em forma de magoa e triste resignação.
Depois por fim morre, desencantado com tudo. A vida miseravel
não foi outra coisa que a consequencia por não ter encontrado um jeito para viver. O seu jeito.

Viveu, mas no fundo de si mesmo sabe que não viveu. Não sentiu
a vida como algo para desfrutar, algo para comemorar, uma
dança, uma canção, um festival.
Viveu, mas foi uma vida de amolação, de fastio e tedio. Controlou-se. Reprimiu-se. Viveu conforme as regras. Negou-se para
ser fiel ao rebanho.
Por fim endureceu-se. A vida não conseguiu fluir atraves de
tanto sofrimento.
Não conseguiu apaixonar-se por si mesmo, pois tentou encontrar-se
naquilo que não é. Olhou para o mundo como se fosse possivel
encontrar-se lá fora.

Viveu pelo esforço na tentativa de transformar-se em qualquer outra coisa que ele proprio.
Percebeu tarde, se é que se deu conta, que a alegria só pode vir,
nesse estado, em que se é simplesmente a gente mesmo. 
Como viu todos correrem, correu tambem, sem, no entanto,
ter encontrado sentido algum nessa tremenda loucura. Foi no
embalo, assim como vão os enfileirados.

O barulho do mundo é consequencia da insanidade de uma mente
barulhenta. Por isso a pressa, o mau humor e toda forma de
amolação e sofrimento.

Um jeito para viver ! 
Será que não seria o jeito do poeta que não necessita de 
explicações racionais para apaixonar-se pela vida ?
Simplesmente fica feliz por estar aí, por sentir-se fazendo
parte, por essa presença, pela vida fluindo atraves da sua energia. 
Encontra ressonancia nesse fluxo da vida, e, desse encontro,
nasce uma canção, um poema de louvor à existencia.


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