sábado, 13 de abril de 2013

É A VIDA BOA OU RUIM ?


              Dom Juan Matus, o velho e sabio xamã Yaqui dos desertos do Mexico, nos diz que a vida não é nem boa, nem ruim, apenas é dura.

Gostei do seu jeito simples mas preciso de definir a coisa.
A sua citação reflete uma verdade, ou está ele apenas emitindo um ponto de vista, um parecer, uma constatação pessoal, que pode,
no entanto, não ser a expressão da verdade ? 

Quando a verdade é revelada, seja em qual for o dominio do
conhecimento, ela traz sempre o incontestavel. Não permite a duvida, pois a premissa é axiomatica e validada por si propria.

                       Não há como negar que a vida é dura. Levantar
cedinho todas as manhãs, o mesmo trabalho de sempre, compromissos que nos exigem à exaustão, numa rotina interminavel, stress, tensão, pressa,
 por fim o cansaço, e, no fim do dia, a sensação de ter sido moido.
Deveres, obrigações, metas, e tudo o mais naquilo em que se
estrutura a realidade de cada pessoa.

Isso é fato, constatação, pois é assim que a coisa é.
 Ou não ?
Definir a vida dentro de um contexto de positividade ou não,
 está na dependencia de cada um. É uma avaliação pessoal. É uma
 maneira de olhar para as coisas que a vida nos traz.
Julgamos os fatos em função de crenças pessoais.

 Aprendemos a pensar sobre tudo. Depois treinamos nossos olhos
para olharem da mesma forma que pensamos a respeito das coisas
que olhamos. Olhamos para fora e imediatamente rotulamos o
mundo da forma como aprendemos a julgar atraves de como
pensamos.
Se não pensassemos sobre as coisas que percebemos, nada se
apresentaria como realmente importante. 
A importancia das coisas é dada porque pensamos as coisas. A
importancia não está na coisa em si, mas porque aprendemos a
pensar que são importantes ou não.
A importancia é um requesito dado pela forma de como pensamos.

Tentando encaixar a vida dentro de um modelo pragmatico, racional, não faz mais que conduzir-nos à decepções amargas e
sofrimento sem fim.
Enquanto olhamos, não deixamos de pensar. Alias, pensamos até
mesmo enquanto pensamos. O barulho que a mente produz na cabeça, em forma de pensamento, é, mais ou menos, de igual maneira ensurdecedor e enlouquecido, como baladas noturnas em que os jovens se divertem nos dias atuais.

 O pensamento forma juizo de valores sem validação na realidade dos fatos. Pensamos o mundo e tudo o mais, nem por isso a realidade ajusta-se, forçosamente, a esse modelito mental.

Partir do pressuposto colocando a vida dentro da perspectiva de
uma idealização fantasiosa, trará sofrimento, pois as decepções e insucessos serão inevitaveis, dentro desse modelo teorico. Por sua vez, as experiencias adversas negarão a premissa inicial.

Ter a compreensão que a vida não é nem boa, nem ruim, em vez
de tornar-se uma obsessão  - buscando a qualquer custo eliminar  os aspectos em contrario -  traz serenidade e paciencia. Afinal, a vida é feita de altos e baixos, e são os contrastes que
conferem beleza à paisagem. A linha isoeletrica no exame
monitorado do coração sinaliza a morte.
Afinal, não é nas derrotas que se encontra a beleza das vitorias ?

A vida não é ruim por acontecerem coisas que desgostamos, tampouco é boa pelos motivos opostos.
A vida é assim. Tudo é como é, sem adjetivos, ilusões ou 
fantasias da cabeça. 
A vida, definitivamente, não é uma aventura quixotesca.

Compreender que a vida não é linear, plana, arrumadinha como 
uma fila, traz alivio para o espirito, e desenvolve o senso do desprendimento e da paciencia. Abandona a busca e o desejo pela mesmice, pois terá compreendido que a beleza está nos relevos, quando a colina
transforma-se em vale,  depois novamente em colina. 
Altos e baixos, é disso que a vida é feita. Um quadro pintado a cores, entremeado de cinza e sombras esmaecidas.
A harmonia é o efeito criado pela luta dos opostos.

Ao considerar a vida como ela é, dá ao buscador a energia e o
desapego necessarios para reagir da melhor maneira possivel perante às situações da vida cotidiana do dia a dia.
Viver dessa forma traz à tona formas de conduta e
ações concretas, que possibilitam à pessoa livrar-se do caos das
ilusões hipnoticas, que o mantem sequestrado, isolado
 de si mesmo e da vida dentro de um contexto maior. 

Dessa forma, não irá viver como um ser automatizado, onde obedece simplesmente a uma programação do meio, esperando sempre pelo amanhã, sem, no entanto, ter adquirido experiencia mas viver esse amanhã.
Quem espera, sem ter acumulado experiencia de vida, não há o que
possa ser esperado. Afinal, planejamento não é devaneio. É pela
experiencia que nos preparamos para realmente viver aquilo que simplesmente esperamos.
A vida, com certeza, não é uma aventura. Sem estrategia, pericia e
habilidade de ação, e um proposito conferido por escolhas pessoais, 
a decepção e o sofrimento serão, certamente, seu destino final.

Para sobreviver a esse mundo, sem ser destruido pela alienação
coletiva, somente com firme determinação, bem desperto e com
absoluta confiança. 
Poderá sentir-se vulneravel, pois sabe que o caminho é duro. Um
caminho que não pode ser trilhado pelos de espirito fraco, que
simplesmente se emparelham para sentirem-se seguros. Os que buscam fora, pela ausencia total de um proposito interno solido.

A sua luta não é contra o mundo, mas contra sua propria
fragilidade e limitação, contra as forças do seu destino de homem
comum, determinadas por sua historia pessoal e circunstancias
da sua vida.
Luta para resgatar possibilidades desconhecidas, tais como a liberdade que, de forma alguma, pode ser concedida por
alguma atribuição externa, pois constitui-se em responsabilidade
individual.
Não sai pela vida procurando por mamãe para saber o que deve
ou não fazer. Assume-se. Pega as redeas e segue seu caminho.
Está na luta para resgatar a autonomia e capacidade de decidir
por si proprio os roteiros da sua vida. 

É uma luta pela soberania da auto-determinação, resgatando seu
poder, e livrando-se de tudo quanto mantenha-o aprisionado à
situação de vida comum, pequena e sem sentido dos seres
alienados, fracos demais para livrarem-se da triste situação em que estão metidos, com suas proprias forças.

É uma luta silenciosa, serena, mas resoluta.
Uma luta orientada pela atitude, impondo uma postura, uma
conduta e uma diretriz de vida. Não há duvida que é um desafio, pois já não orienta-se mais pelas placas de sinalização do mapa
da tropa. 
Orienta-se por suas escolhas pessoais,  dessa forma dará o melhor de si em tudo que fizer. 
Está sempre preparado, seja o que for que vier, por isso está sempre alerta.  ( "Vigiai e orai", não é isso que nos falou o moço esperto ? ). 

Nada acontece por acaso. Por isso, não  move-se por interesse, tentando buscar satisfação e consolo atraves de feitos e conquistas externas,  mas segue em frente com o objetivo determinado de evoluir.

A pessoa mediana geralmente só move-se mediante a dificuldade.
 Irá procurar o medico quando o corpo já tiver exaurido todas as
possibilidades de manter-se saudavel por si proprio. Não assumiu a responsabilidade pelo seu bem estar. É por isso que o sofrimento
 intervirá como mecanismo ultimo para despertar das ilusões 
fantasiosas.   "Amanhã tudo será melhor" é o mantra dos
que simplesmente esperam, usando o tempo como um mecanismo magico para a solução daquilo que é de total responsabilidade individual. 

A pessoa, ao assumir sua vida, persiste, apesar de todas as dificuldades e contratempos, e vive por esse desafio. Encontrará
 equilibrio e força necessarios para superar todos os
momentos dificeis.
Não se conformará com o desanimo. Irá transformar
qualquer acão em desafio, superando seus limites, para tornar-se
mais vigoroso, mais real, mais ele mesmo.

Descobrirá a vontade como sua aliada para manter-se de pé, e
seguir com fidelidade suas premissas. Livra-se assim das crenças e
toda forma de fraquezas do homem comum que traz dentro de si.
Não se apega para não prender-se a nada, tampouco para não
negar-se nada. Vive desapegado, construindo, dessa maneira, sua
vida atraves das suas decisões. Unicamente.

A sua luta se faz, portanto, no sentido de superar esse homem comum que aprendeu a ser devido todas as circunstancias desfavoraveis da sua trajetoria pessoal.
 Faz disso sua tatica de vida. Não perde tempo em saber se a vida é boa ou ruim, porquanto já aprendeu que isso não tem importancia.
Importa, sim, fazer o que tem de ser feito, e dentro dessa estrategia
adquire serenidade e paciencia.

E, com certeza, não faltará nada para aquele que se orienta
por essa visão. 





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