sexta-feira, 26 de abril de 2013

PORQUE TANTO CANSAÇO E SOFRIMENTO ?


 Em condições normais pensamos sem parar.
 Não estou aqui me reportando ao pensamento como forma de raciocinio, ou ponderação inteligente na execução de qualquer atividade. Não, não é isso. Refiro-me ao pensamento desconexo,
sem controle algum, que ininterruptamente fala na
 cabeça de todos nós.

Estamos sempre falando conosco mesmos em nossos pensamentos. E isso acontece por impulso, sem querer, pois o movimento faz-se de forma automatica, alheio à nossa vontade, independente
 e com aparente autonomia.
À primeira vista, tem-se a noção que não participamos do processo,
que existe algo ou alguem em nós que mantem esse falatorio sem fim, falando de tudo, sem, no entanto, falar de nada. Achamos que não temos nada a ver com toda essa maluquice, em função da
 quase total impossibilidade, da nossa parte, de cessar essa voz
ensandecida que fala sem parar, e por ser sistematico e comum a
qualquer pessoa. 

A canseira do final de cada dia, não é tanto pela atividade das
 ações realizadas na rotina de cada dia, mas por esse ruido de
 fundo insistente, irritante, que desgasta por ser perturbador, e esgota por ser persistente. 
E toda essa doideira é tida como coisa normal e até inevitavel na 
vida de qualquer ser vivente.
Parar de pensar parece ser exclusividade apenas de defunto, tamanha a dificuldade envolvida no empreendimento no sentido de opor-se a esse fluxo mental.

Porque essa tagarelice constante, que a cabeça mantem com a gente, torna-se tão danosa, a ponto de constituir-se no 
fundamento central de todo o sofrimento humano ?
Nada mantem-nos tão implacavelmente aprisionados à configuração da realidade vigente de cada pessoa, que essa
condição psiquica a que somos submetidos com tanta
 tenacidade e persistencia. Afinal, o falatorio não pára por um
momento sequer. E acha ouvido para tanta balburdia.

Outra questão : qual a finalidade enfim desse dialogo interno ? Já que existe, qual sua razão de ser, conquanto transtorne a vida
de qualquer criatura ?

Vejamos. Isso que falamos continuamente para nós mesmos, em forma de conversa mental, como um monologo que, de tão sutil,
não chegamos a dar-nos conta, representa a forma de como percebemos o mundo, e mais, determina o modo de como nos
comportamos. Isto é, o mundo que conhecemos, é dado por essa
zoeira na cabeça. É por isso que essa percepção, aquilo que vemos
como mundo, confirma o conteudo dessa fala interna e sua
descrição. Outro modo de dizer : a ideia que temos de mundo é
confirmado pela realidade dos fatos.
E o absurdo chega a tal ponto que substituimos o que vemos pelo
que pensamos sobre aquilo.

Dito de outra forma : ao nos depararmos com a realidade - as pessoas, os fatos e nós mesmos - pensamos coisas a respeito do que
vemos e concluimos que os pensamentos são  aquilo.

Falamos na cabeça que a vida é dessa ou daquela forma, e nos
convencemos que é assim. Por isso, será assim. O de fora sempre
confirma o de dentro.
Não somos capazes de perceber de uma forma diferente daquela que aprendemos a pensar. Os outros são o que pensamos que são, e não o que são em si mesmos.

Não te parece que estamos todos num gigantesco hospicio, onde
sofremos todos da mesma aberração ?
O olho vê em função do conteudo dos pensamentos. O olho não
consegue captar a realidade em si, porque vê atraves do que se 
pensa. Está aí a explicação quando nos informam que o mundo visivel é ilusão ( maya ). Nada do que vemos, é o que é.

De igual forma que identificamos o mundo como uma atribuição
mental - de como o descrevemos - agimos igualmente nos termos
dessa mesma descrição. Não somos capazes de comportar-nos de
uma outra maneira daquela que é dada pela descrição ordinaria que
fazemos do mundo. E nosso comportamento revalida, ou retroalimenta o sistema.  

O fluxo das imagens mentais cria o mundo, ou a realidade de cada
individuo, e mais,  leva-nos a agir em conformidade com o conteudo da conversa dos pensamentos.
E a realidade, por sua vez, adapta-se, e se amolda ao conteudo desse dialogo interno.

A vida parece uma gigantesca massa de modelar, que se deixa transformar em coisas, acontecimentos, ou qualquer situação que seja, em função da força modeladora do projeto das nossas ideias. A força estruturante da realidade é dado pela constancia do que falamos na cabeça.  Quem dá forma à forma é a informação
vinda de cima.   

Ao falar na cabeça que a vida é injusta, complicada, que tudo é
dificil, muito sofrido - a vida irá automaticamente acomodar-se a esse veredicto.

Portanto, qualquer possibilidade de mudança de vida será de todo impossivel, à medida que se mantiver na cabeça o seu falatorio, pois é ele que determina nosso COMPORTAMENTO e nossa REALIDADE existencial.

Para transcender o aspecto miseravel da condição humana - feito
de luta, tedio, duvida, medo e sofrimento sem fim - impõe-se a
suspensão desse monologo interno, que descreve a vida e a
realidade dos fatos dentro da sua sistematica. E a criação do mundo de qualquer ser humano faz-se atraves desse mecanismo.

Chega-se então ao momento crucial dessa maluquice
infernal : como suspender o dialogo-monologo dentro da nossa
cabeça maluca ?
Se observarmos, iremos constatar que fazemos sempre tudo igual,
como se fossemos mecanismos automatizados, dentro de uma rotina  rigidamente estabelecida, à maneira de um controle remoto, pois
é assim que aprendemos que a coisa tem de ser, ou, melhor, é isso que cabeça nos diz atraves do modelo mental vigente de cada um. 

Se evitarmos qualquer ação que normalmente realizamos de um
modo rotineiro, automatico, FAZENDO DE UM JEITO DIFERENTE, ou DEIXANDO DE FAZER, ( o que for possivel ), essa conduta rompe o ciclo interno da automação.
 A ação assim realizada, fora do padrão normal - padrão determinado pela conversa na cabeça - libera energia, que estará agora disponivel para realizar as mudanças pretendidas e necessarias.
Essa energia, liberada dessa forma, era antes consumida pelo fazer
rotineiro. Isso significa dizer, que a automação dispende energia.
Gastamos energia em habitos automatizados, como os vicios, 
discussões desgastantes sobre futilidades, dormir demais, falar
demais, pensar demais, sedentarismo, julgar, criticar, queixar-se à toa, engalanado pela auto-importancia, ou diminuido pela 
auto-piedade, ou então identificar-se com a desgraça e a miseria
veiculadas pela midia dos telejornais diarios, que apenas retroalimentam a visão  que temos do mundo e da vida.

Ao firmar nossa atenção na loucura do mundo, com sua barbarie 
e sofrimento, estamos apenas confirmando a descrição que temos
de como as coisas são. 
Alias, o dialogo interno é sempre confirmado na tela da realidade.
O mundo de cada criatura é tão somente o reflexo de si proprio.
A conversa interna faz-se realidade de fato, o que, por sua vez,
confirma a primeira. E a pessoa então dirá : "viu como eu tinha razão",sem, no entanto, dar-se conta que é o proprio criador
daquele monstro.

Portanto, o rompimento da rotina significa o rompimento
 do dialogo mental. E é exatamente essa conduta que disponibiliza
energia extra, energia livre, poupança de energia transformadora,
garantia de autonomia, percepção e poder inimaginaveis.
Quando falamos em sorte, falamos do efeito produzido por essa
energia conquistada atraves do mecanismo da desautomatização.
O que esperamos da sorte, não irá acontecer por sorte, com certeza.

Energia livre significa saude, oportunidades favoraveis, vida com
qualificação, contentamento, inteireza.
Silenciar o monologo interno desestabiliza a realidade miseravel
vivida até então.
As emoçoes recorrentes, como critica, julgamento, raiva, queixação
e tantas outras, definem a postura comportamental da pessoa. E a
suspensão delas tem como consequencia o cancelamento do
roteiro mental, ou então, o cancelamento do seu mundo, da sua
realidade.

A vida é isso : pensamentos que se repetem inexoravelmente com
suas ações resultantes. Habitos emocionais recorrentes, estados de espirito desgastantes sobre os quais tem-se pouco ou nenhum
controle, transformam a vida em coisa sem sentido, sem
qualificação alguma. Vive-se uma vida de sobrevivente.

O sofrimento é motivado por pensamentos e habitos que se 
repetem e repetem como uma roda que gira sem cessar, 
apresentando sempre as mesmas facetas, os mesmos panoramas, os
mesmos duetos.
É isso que forma o eixo existencial da pessoa normal, não
comprometida com evolução, mudanças e transformação pessoal. 

P.S.  A capacidade de fugir, o mais possivel, de rotinas estanques
            e conservadoras, é, de longe, a tecnica psicologica mais
                 eficiente de superação de limites e evolução pessoal.
                      Nada a supera em efetividade e rapidez.

                           Está a fim de tentar ?   Boa sorte !



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