quarta-feira, 25 de abril de 2012

FUNDO DO POÇO NÃO É APENAS FUNDO DO POÇO

                           Já percebeu que o momento da grande tragedia da semente é exatamente o momento da sua grande redenção ?
    O fundo do poço não é apenas o fundo do poço.
             Vivemos numa dimensão polar, onde não é possivel descartar um dos elementos em detrimento do outro. Quando se ganha, tambem, sempre se perde. É essa a graça da perda. Ela traz consigo um ganho, assim como o reverso tambem.
          A mente classifica e divide tudo em pares opostos, que, aparentemente, parecem
conflitantes, pois não podemos tê-los simultaneamente.. Quando contempla um dos elementos, nega automaticamente o outro. Para cada sim existe sempre a sua negação,
pois os opostos se excluem naturalmente. No entanto, quando excluimos, apenas
reforçamos nossa não-totalidade.
    Quando afirmamos ou negamos, estamos apenas reforçando nosso mundo dividido.
O pensamento cria a polaridade, a divisão entre sujeito e objeto, entre uma coisa e outra.
Fora da polaridade não há desejo, objetivos, expectativas. Não existe nada do lado de fora pelo qual ansiar.
             É a mente a responsavel por produzir um mundo que parece dividido, feito de pares opostos que parecem se excluir. Contudo, os opostos estão conectados, e um depende do outro. Se eliminar o polo positivo, o oposto polar tambem desaparece.
É a tensão entre os opostos, que, em ultima analise, determina a vida nesse planeta.
      A inspiração e a expiração não se anulam mas se complementam ao se alternarem.
Juntas formam uma unidade, um padrão, um ritmo. Nào há como dissociá-las sem destruir seu movimento. E, sem respiração, não há vida.
      Perdemos contato com a unidade, com a totalidade da vida atraves da mente
limitada que pensa, dividindo, classificando, fazendo escolhas. A escolha seleciona, isto é, algo é descartado. E, com isso, se quebra a unidade, algo ficou de fora. No entanto, o que ficou de fora, está, na verdade, dentro. Dentro e fora são elementos
opostos da mesma realidade. Se der preferencia à inspiração, a expiração não será possivel.
              Os polos opostos sempre se complementam mutuamente. Um necessita do outro para a sua existencia. Sem recuperar a totalidade, estaremos num estado dividido, esquizofrenico, doentio. A doença, em ultima instancia, da raça humana, e, com isso, o sofrimento sem fim, com suas tragedias e confusões, é, sem duvida, estarmos aprisionados, a nivel de mente, à visão polar. Criticamos, julgamos, excluimos, negamos tudo em função de uma escolha, de uma preferencia. A opção sempre cria, automaticamente o seu elemento oposto rejeitado.
   Ao ganhar, depois de algum tempo, irá perceber que houve uma perda. Apos uma grande alegria haverá o momento da energia em recesso. Apos a festa, a ressaca.
        Nada permanece num estagio apenas, numa unica fase. A alternancia é a lei central de toda a natureza, podendo, por isso, tambem ser chamada de lei da
impermanencia.  Ao se apegar a um dos polos, irá atrair a ira do polo oposto. A vingança do renegado, do excluido.
      Não é isso que estamos assistindo no momento atual da historia da humanidade ?
A revolta da minoria excluida. O bode expiatorio não se mantem passivo no exilio.
Aquilo que se atira para longe daqui, irá, depois de um certo tempo, retornar do lado de lá. Simplesmente porque  "aqui perto" e "lá longe" são elementos que se complementam  e não elementos que se excluem.
     Estamos assistindo o poder do pequeno, dos eternamente subjugados, deixados de lado, abusados, aviltados, não reconhecidos, não incluidos, querendo o seu espaço,
querendo fazer parte ( o feio, o gordo, de cor diferente, de credo diferente, de opções sexuais diferentes, o pobre, o carente, o veado, os sem terra, sem casa, sem dinheiro, sem vergonha, sem nada - enfim, toda sorte de seres humanos desamparados, desassistidos, usados, aproveitados, jogados do lado de lá, isto é, jogados fora do que se considera "normal").
 Os diferentes. Os estranhos. O estrangeiro.
              Para onde irão, os simplesmente descartados ou simples utilitarios para uma classe dominante, de elite, dos que mandam e ditam as regras ?
    Tudo o que é combatido, acabará se tornando forte, pois a força do fraco está na sua resistencia. E o rei deposto, quando volta do exilio, sempre faz muito barulho.
     O que acabo de colocar, reflete o mundo externo, o movimento da sociedade, o convivio entre as pessoas, os povos, as nações. O mesmo movimento acontece tambem internamente. A parte em nós que não faz parte mas que necessita ser integrada para
que se alcance a totalidade.
   A falta de sentido e significado para muitos de nós, está na perda desse ponto onde
se contempla a parte esquecida, o referencial do nosso mundo interno, o lado psiquico,
ou se quiser, o universo espiritual.  Aí só nos resta acumular, conquistar, tornar-se
visivel, ser especial. Vive-se o engano de achar que há algo no mundo para ser modificado, reformulado, melhorado. Nada mais que ilusão de otica e se fundamenta na projeção da propria transformação. Como não conseguimos nos mudar, que tal mudar o mundo para nos sentirmos melhor.
     E quanto mais nos apegarmos a um movimento unilateral, com mais intensidade
veremos a manifestação do polo oposto.
  Não é possivel nos apegarmos a um dos polos, tentanto excluir a existencia do outro.
É por esse raciocinio que buscamos saude combatendo a doença, queremos a paz, odiando a guerra, queremos a cidade limpa, jogando os menos favorecidos para longe.
   Que os drogados fiquem longe, mas não nos darmos conta, que o longe é sempre mais perto do que somos capazes de imaginar. De repente, estará dentro da nossa casa com arma em punho, como se nos dizesse  :  eu tambem existo.
     É por isso que o dia da desgraça da semente, é tambem o seu dia de libertação.
Quando a forma se desfaz, aquilo que é sem forma finalmente se torna manifesto.
       A semente se desfaz na escuridão e no silencio da terra. Então germina e libera
a vida que traz dentro de si.
   Quando se sentir no fundo do poço, saiba que é transitorio. A vida sempre emerge
dessa profundidade. Pois o desespero, sempre traz a mensagem da libertação.
   Afinal, de que outra forma deixamos a casca para traz para reverenciar o
sagrado que existe em cada um de nós ?
       Se o mundo que conhece e aceita não colapsar, uma nova mudança não será
possivel, uma mudança que se manifeste e se expresse outra vez, atraves de novas formas.
               O velho deixa de ser, ancorado na mudança do novo que vem surgindo.
      A semente morre  mas dessa destruição acontece o florescimento. 



 
                           

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