quarta-feira, 21 de novembro de 2012
" UM BOCADINHO MAIS DE TEMPO "
Quando a vida está prestes a recolher-se, o lamento parece, invariavelmente, sempre o mesmo. " Ah ! se tivesse mais um bocadinho de tempo... ", e se queda então silencioso, cabisbaixo, abatido,cansado, com sentimento de frustração, desanimo e amargura.
Paira em sua alma a sensação de fim de festa, e pior, de festa não desfrutada. Agora é tarde, a banda já silenciou, a turma dispersou-se e o ar festivo e animado do dia transformou-se em quietude, não sem melancolia, com sabor amargo de saudade. O movimento, a algazarra, o vozerio, a alegria, tudo se reduziu, se acalmando, nada mais que silencio, recordações, imagens
flutuantes na mente.
Talvez a suplica por "um bocadinho mais de tempo" seja a consequencia desse tempo desperdiçado, a vida não vivida quando a vida ainda era vida. Por isso o lamento, reivindicando mais vida atraves de um tempo suplementar. Não se deu conta inclusive que o jogo acabou, ou, quem sabe, nunca tivesse mesmo dado-se
conta do jogo.
E .... se pudesse .... se fosse possivel ter novamente a vida de
volta, se tudo voltasse assim como a fita na tecla do "rew",
o que faria com o tempo que lhe teria sido devolvido ?
Viveria diferente ? Faria as coisas de um outro jeito ? Teria tempo para ouvir o canto dos sabiás, sentir o cheiro da grama cortada, perceber a multiplicidade sem fim de formas, e a riqueza notavel de cada momento enquanto a vida acontece ?
Ou, quem sabe, não correria atras das mesmas vaidades,
das mesmas ilusões, vivendo as mesmas chateações, compromissos e buscas, seguindo as mesmas rotinas interminaveis, maçantes e enfadonhas, com a mesma pressa de sempre, sempre sem tempo para viver ?
A bem da verdade, há sempre tempo suficiente para
tudo que não temos tempo.
Porque então a impressão da falta de tempo ? Será o tempo que
anda escasso, ou simplesmente vida de menos para preencher
tanto tempo disponivel ?
Desse modo, para que mais tempo, se não há vida suficiente
para ocupar o espaço estruturado ?
Preocupamo-nos com o tempo, quando a preocupação devia
ser com a vida.
A pressa nos passa a noção de falta de tempo. O relogio não é bom para ninguem, a não ser para quem tem pressa. A pressa é uma consequencia desastrada dessa maquineta perversa, pois nunca estamos no tempo certo, com o passo adequado ou a presteza necessaria.
Não existe urgencia quando está atento, nem surpresas, tampouco, sobressaltos ou temores. Não tem pressa porque sabe que tudo acontece a seu devido tempo. Não se sente forçado a acelerar o passo, pois já compreendeu que o unico lugar
possivel para ter paz e prazer é sempre aqui, neste momento, agorinha.
Não é a impaciencia, por acaso, a falta de paciencia com este momento ? Inconformismo com os fatos, intolerancia com o que está aí, queixumes, preguiça, sempre à espera de um tempo melhor
para viver, e cerveja para comemorar.
Para onde será que foi o tempo ? Foi o tempo que encolheu,
ou a vida que perdeu o sentido ?
Sem sentido ou discernimento, não há tempo suficiente para dar significado à vida.
Não parece um desperdicio ter tempo ( tempo sempre há ), e
não ter vida para viver o tempo disponivel ?
O ar está festivo, mas não há animo para a diversão. Os pandeiros e tamborins estão animados, mas o dançarino está
cansado. Esgotou o mundo e acredita que a vida não tem mais
misterios para ele.
Desencanto por tantos descaminhos.
Desgosto por tantas desilusões.
Se torna amargo, olhar já sem brilho, passo lento e alma
mumificada. Em que encruzilhada será que se perdeu ?
Porque insiste em esperar por algo quer não existe ?
Quanta vida pode ser vivida num dia apenas!
Não vivemos, porque esperamos por mais tempo. E tanto esperamos, até não haver mais vida para ser vivida. O dia acaba e a festa tambem. Onde esteve enquanto os pandeiros e tamborins
ainda eram festivos ? Por onde andou quando os sabiás cantavam ?
Confundimos tempo com vida. A vida não pode ser medida num
padrão de tempo. Não é pelo relogio que contamos a quantidade
de vida que vivemos. Tanto pode ser vivido num espaço de
tempo que nem conta.
Poderá viver muito mais num dia apenas, que o tempo de uma vida toda. Não é a quantidade de tempo que importa, mas a qualidade da vivencia, a percepção de si, a consciencia de cada momento.
Apenas vivemos no tempo, a vida, contudo, não é esse tempo. Barquinho na agua. O rio flui, e não são as ondas que
determinam o destino do barquinho.
É o tempo que passa, ou somos nós que deixamos a vida passar, escapando-nos por entre os dedos, se acabando, esmilinquindo, desbotando, se apagando lentamente, assim como a chama quando a vela acaba ?
Quem reclama por mais tempo, é porque ainda não tomou consciencia do verdadeiro significado da vida.
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