quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O ESCUDO FEITO DE PAZ E PRAZER


          Porque tanta pressa, tanta inquietação, correria sem fim,
querendo logo chegar, para não chegar nunca a lugar algum ?

     Buscamos um mundo melhor cavalgando velozmente
 no dorso liso das ilusões fugidias.
Levantamos vôo querendo voar para longe daqui, o mais distante possivel, porque o melhor está sempre lá;
o bom só pode vir depois.

            O paradoxal é que esse "lá" não pode nunca ser achado em qualquer lugar que seja. Por mais intensa e alentadora que seja a busca, o depois se é sempre intangivel, e onde quer que vá, estará sempre  "agora"  e  "aqui". 

   Por isso a pressa, a correria, o desinteresse e a indiferença
por este instante. Sem sintonia e real envolvimento com o que
está aí, com aquilo que a vida nos traz a cada momento, não haverá,
por consequencia, entusiasmo, serenidade e realização, tampouco.

        Nos colocamos como quem está de passagem,  simples transeuntes à espera do trem levar-nos para longe. Somos tal
como criaturas do futuro, perdidos nas inquietações e embaraços das circunstancias presentes. ETs de outras dimensões e de um outro momento. Assim sendo, não somos desta epoca, nem dessas circunstancias, por isso a urgencia e a agonia para libertar-nos, enfim, das dificuldades e amarguras deste momento.

          Vivemos uma vida provisoria, tal qual viajante à espera do
proximo trem, do proximo sonho, transformado em passaporte,
para o reino definitivo do universo virtual.  

      As pessoas se gostam, ao menos assim parece, estão juntas
 todo dia, mas quanto tempo passam juntos, de verdade ?
O verdadeiro encontro tambem  poderá se dar apenas depois,
somente depois de tantos projetos e objetivos terem sido conquistados. 

          Como pôde o longe transformar-se no melhor lugar do
mundo, a grande utopia da humanidade ?
Existe, porventura, condição mais favoravel que perto ?
Neste lugar, nesta ocasião, nesta vida ?
O perto tornou-se insustentavel pelas promessas desatinadas 
do que está distante. 

        Que preço triste para pagar por nossas defesas sustentadas
por visões futuristas, persistentemente à espera por um outro tempo, pela proxima temporada, quem sabe, por fim, mais 
agradavel !

      Em ultima analise, tentamos nos proteger de tantos medos
que nos assaltam o espirito. A vida é potencialmente feita  de
medos. Medos de toda forma, aparencia e conteudo.

                 Colocamo-nos, estrategicamente, atraves de tudo que
fazemos, buscando proteção e segurança.
Erguemos escudos para proteger-nos dos assaltos das forças
que tanto tememos. Os insucessos, a doença, fracassos,  decepções,  perdas, frustrações...

      Forças inexplicaveis e misteriosas que podem destruir-nos num relance, sem aviso previo, nem consentimento. Decisões sempre
tomadas de modo unilateral.
Usamos as atividades diarias para desviar o espirito do susto de tudo quanto percebemos como ameaça.
Distraimo-nos com nossas ocupações para não termos que nos ocupar com as inquietações e temores que nos paralizam o espirito.

         Cercamo-nos de todo tipo de coisas por nos sentirmos 
despreparados para fazer frente às forças inflexiveis, dos insondaveis misterios da vida.

        Nos protegemos, acumulando, cercando-nos do mundo.
Identificamo-nos com a imagem que o poder e as coisas nos conferem. Vemo-nos atraves das posições e do senso de importancia que nos atribuimos. Como os despotas, com o peitoral repleto de  condecorações auto-conferidas.

 Optam pela mentira, pela aleinação; afinal, viver a vida como ela é, e tornar-se real, não é tarefa para a pessoa comum.
 É destinado a poucos.  Valentes, capazes do sacrificio de desejos pessoais por uma causa maior, por um bem verdadeiro.

      Não é esse o verdadeiro significado de ser humano ? 

     O que nos prepara quando, por fim, formos tomados de
 surpresa, e tivermos que dar conta dos imprevistos, dos momentos
de aflição e terror ?
A tragedia pode aparecer diante dos olhos a qualquer instante. Estaremos preparados quando a força avassaladora da destruição
bater à nossa porta, e despertar-nos dos sonhos delirantes;
percebendo, finalmente, que não é pelo fato de transformarmos em interino este momento, que não teremos que responder por tudo quanto esta interinidade nos apresentar.

        O sofrimento não manda convite nem e-mail. Não se faz anunciar, é sem consideração, nem gentilezas tambem.

      Apesar da surpresa e do despreparo, de alguma forma, temos
que, deliberadamente, recompor e nos recuperar, pois a vida
continua. 
Nos entregarmos aos caprichos e queixumes, com certeza, não irá 
livrar-nos do aniquilamento, da devastação e do sofrimento, indiferente e insensivel aos nossos protestos e clamores por anistia.

     Debilitado, há que se recompor, ativar-se, avivar novamente, pois, apos o caos, que alternativa resta, que não seja mãos à obra ?
Se não estiver vivendo além das preocupações de todo dia, daquilo
que faz constantemente para se proteger, como escudo, não terá recursos para reassumir-se, quando, por fim, for atingido pelas 
forças imprevisiveis do mundo.

      Se não estiver vivendo alguma situação que lhe dê paz, prazer,
satisfação, condições que possa usar propositadamente para
desviar-se do roteiro mental de medo e dor, e, deste modo, 
manter-se solido, haverá muita dificuldade para reerguer-se, mais
uma vez, apos mais um reves. O peso da dor será insustentavel.

          Trilhar um caminho que proporcione satisfação, que sinta
prazer enquanto o estiver percorrendo, e grande dose de
contentamento.
É isso que torna a pessoa diferente da pessoa comum, é isso
que lhe dará solidez e compostura.

       Um caminho que dê paz e prazer. O verdadeiro escudo é
moldado por aquelas coisas que dão prazer e contentamento,
caso contrario, será aniquilado no proximo encontro.

          Não estará preparado quando se defrontar com as forças
devastadoras do mundo.
Não encontrará dentro de si resistencia adequada, tanto para
a defesa, quanto para reorganizar-se. 

             O verdadeiro escudo traz a insignea  :  PAZ  E  PRAZER.


     



           

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