domingo, 11 de novembro de 2012

" A INCRIVEL BOA SORTE "

    

  Tanto sonhou que perdeu a esperança.

  Não parece estranho ? Aprendemos que a espera conforta, traz consolo e nos resgata das frustrações de uma vida que não conseguimos dar sentido nem significado.

  Se for ver, verá que a espera paraliza pela imobilidade psiquica que estabelece.  Abrir mão desse  momento para estar bem num outro tempo, bloqueia o fluxo de energia, levando a um movimento de contração da atividade psico-fisica, com consequente letargia e perda da vivacidade . E porque haveria de ser diferente ?  Seria, por ventura, o desconforto interno pelas circunstancias atuais, o pré-requisito ou o passaporte para um tempo mais venturoso num tempo vindouro ?  Isto é, o infortunio presente servindo como atalho para redenção futura. Ou, simplesmente, por não estar bem agora, estarei bem depois.

 Preocupado agora com o depois é o reflexo inconteste da importancia do amanhã e a consequente inutilidade desse momento. Por essa razão, a utopia dos sonhos seria o refugio mais pertinente para livrar-se do abatimento e a falta de relevancia do momento presente. A frustração atual servindo de solo fertil para expectativas promissoras. O sofrimento como moeda de troca para  satisfação e bem estar futuros .

      Claro que queremos estar bem nos tempos que virão, entretanto isso não se torna possivel atraves da exaustão e do desperdicio de
energia que as fantasias nos impõe. 

      Quando a visão se encontra focalizada nos eventos futuros,  desempenhando o resgate do vazio existencial, se negligencia, no mais das vezes, a que somos chamados para coisas do dia a dia.

    Nos dividimos. Enquanto o corpo permanece presente, a mente se desloca para um mundo de ilusões fantasiosas. Com isso, a pouca energia disponivel será transformada num mundo virtual feito de imagens deslocadas no tempo. Um mundo visionario onde nos transformamos em paladinos de faz de conta. Herois de contos de fadas que nos contamos a nós proprios como se fossem historias reais.
           Nos distraimos em esperar, desperdiçando energia. E quando abdicarmos disso, descansamos finalmente. O pesadelo termina. Dom Quixote, ao viver seu sonho impossivel, em delirios desatinados, descansou, por fim, na propria demencia e insensatez desvairada. A quimera, pela qual estivera obcecado, fascinou a tal nivel de transformar-se em cativeiro. Refem do seu sonho, não
encontrou o caminho de retorno para a vida.

                             Independente das circunstancias externas desfavoraveis, abdicar desse momento em busca de refugio num mundo de sonhos e expectaticas, com certeza, não trará a paz que
se queira, nem a satisfação que nos falta.

      "Perdi a fé na vida", me confessa decepcionado um amigo, com voz, olhar e postura de decepção. E continuou a desfiar sua cantilena de desgraças. Dinheiro minguado, sub-emprego, filhos doentes, esposa depressiva, contas ... etc, etc, etc .
O ouvinte incauto, que não estivesse devidamente atento, bem que poderia tornar-se presa facil da crença de que a vida é realmente esse inferno.
                   A vida, a bem da verdade,  não é nem encantadora, tampouco intoleravel. Apenas se adapta ao nosso comando interno
de satisfação ou queixume lamentoso. Presente ou ausente do fluxo da vida de cada instante. 

        Ao abrir mão das coisas desse momento, sendo elas tediosas ou não, tornando-se um mero espectador esperançoso de um  futuro salvador, descuidando, portanto, do que está aí, irá, sem duvida, atolar-se cada vez mais em mais descontentamento e sandice.

       A realidade externa é criação do sentimento interno desse momento. O que sinto agora, vira forma logo aí adiante. A contrariedade com as circunstancias atuais, se transformará no seu equivalente em vivencia de vida.

         Dias desses comentava com uma bergamoteira a respeito da esperança. Percebi que ela ficou intrigada, com ar confuso, assim como fica quem ouve falar de algo que não entende, ou por não adaptar-se ao seu sistema de crenças, tornando-se, desse modo, incongruente e totalmente estranho.
A coerencia diz respeito ao que tem significado e faz sentido em nossa vida. E foi por isso que ela retrucou enfatica : não sei do que está falando. O que é isso que chama de esperança ?

     Nesse instante me dei conta que a bergamoteira não tem de fato necessidade  "disso que chamo de esperança", principalmente ao
contemplar sua exuberancia e beleza, seu brio, energia, confiança e determinação.

             Criamos a partir do quanto formos capazes de nos encantar. Criação e sistema de crenças, não são mais que causa e efeito de uma ordem maior que vincula o visivel e o invisivel, a forma com sua fôrma.  O molde não é a coisa, mas esta é determinada por aquela.
 O mundo é moldado, isto é, criado a partir de um molde.
Assim, para cada crença, a sua realidade correspondente.  

            A esperança gera ansiedade, expectativa, impõe espera
para estar bem. Esperar, diminui o nivel de energia, que representa a materia prima da criação. Portanto, energia escassa, realidade compativel. 

        Mas, quando estiver aí, com aquilo que cada instante traz, a
pessoa será acometida de uma rara estabilidade emocional, clareza
de pensamento, e um poder aumentado de concentrar-se nos seus atos que normalmente não possui. Haverá paz, contentamento e uma profunda sensação de bem estar. O fluxo de energia aumentará
de um modo extraordinario, o que, por sua vez, se refletirá na
sua capacidade de realizar.

           Não seria isso, por acaso, o que se chama de  "incrivel
boa sorte " de algumas pessoas ?   

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