quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A BELEZA DO FEIO


                           
                             A beleza é um infortunio e um transtorno  que se
desenvolve e toma conta  à medida que se admira.


           É esse um dos maiores obstaculos a serem superados
pela pessoa. Fica refem da sua beleza e da sua
importancia pessoal. Se considera importante em função da sua
formosura. Refem da atenção, do elogio e da aprovação
de todos. É o supremo paradoxo da escravidão. A perfeição
externa não terá valor se não vier acompanhada do aplauso.   


      Exorbitancia  ?  Olhe em volta e observe as pessoas
bonitas. São as mais ordinarias possiveis. Se sentem importantes
e singulares. Há um ar de superioridade em sua postura.  Olhar
altivo e emproado como quem está apenas de passagem.


              Carregam sua beleza como quem desfila um trofeu.
Estão em carro aberto mesmo no meio da multidão, ou
aguardando impacientemente numa fila. O bonito sempre está
impaciente em função do seu ar de convencimento. Desfila sua 
graça como quem presta um beneficio aos menos favorecidos,
aos mal-acabados, aos que batem palma. 


            Experimente não concordar com a ideia que são bonitos e
importantes, e compreenderá então o que quero dizer. Desmereça
sua beleza que terá o encontro com um demonio feio e feroz. 


         O feio leva uma nitida vantagem em relação ao que se considera formoso e bem feito. O feio está concluido, acabado,
 não há concerto possivel, remendo que dê jeito em tanta
feiura.
                   O feio não se importa com seu nariz disforme e
extravagante, porque ele é esquisito no todo. De nada adiantaria
melhorar seu nariz escrachado, ou qualquer outro aspecto mais, porque iria apenas destoar do restante do seu aspecto feioso. 
Seria um nariz alinhado com o restante fora de prumo. Não
haveria harmonia de traços no seu conjunto. Ficaria feio !


            O malproporcionado não necessita de retoques. Conformado com seu aspecto, consciente da sua figura, não
investe em melhorias externas. Se aceita como uma pessoa comum,
tornando-se autentico, modesto, espontaneo e sincero.


         Assim, fica em paz com sua figura exotica, por isso se faz simpatico e agradavel. Uma boa compania. Um bom camarada Cheio de humor e espirituosidade. Os que fazem rir, os mais alegres, não são, sem duvida , os mais embonecados, esnobes, pois não tem senso da graça, preocupados com sua beleza, com sua performance. Egoistas e auto-centrados numa imagem de perfeição. Sendo belos se consideram perfeitos.


            O feio está conformado.  Não perde tempo nem energia com sua fealdade. Por isso se torna mais eficiente, pois não desperdiça
força com sua aparencia . Se sabe feio e sabe que todos sabem.
Ponto final e não há o que engambelar.


           A prioridade do bem apessoado é se melhorar sempre.
Investe alto na sua beleza que tem de ser aperfeiçoada a cada momento, retocada, corrigida, pois tem a sensação que existe algo
fora de lugar.  Por isso se repuxa, se ajeita sem parar.
 A beleza necessita cada vez mais, não está completa, é exigente,
 mal humorada e tomada de preocupação.


                O bonito quer cada vez mais beleza, necessita de mais
visibilidade atraves da sua figura chamativa. Cuida disso tanto
por ser talvez seu ultimo expediente como expressão da sua
identidade e do seu valor. Ao questioná-lo quem é, gostaria, sem duvida, de definir-se como bonito. No entanto, sabe que seria escroto, por isso se cala, mas não sem uma pontinha de desgosto. "Eu sou bonito ", não é essa a gloria suprema e a realização absoluta da pessoa que se sabe belo ? 


             Quando aparece, a beleza está em primeiro plano, somente
depois se apresenta a pessoa, ou melhor, a "coisa" que carrega 
aquilo. A beleza pesa, por isso o verdadeiro na pessoa deixa de ser. 
Sem sua formosura, o que restaria a esse pobre deus apolineo ?


       Porque soberba e beleza geralmente vem de mãos dadas ?
A beleza, em si, é imparcial, no entanto, acompanhada de
carga emocional, se torna psiquicamente um tormento. A pessoa  se
faz diferente, se distancia, produzindo isolamento. Necessita do destaque para parecer importante. A ideia de ser mais, sobressair-
se, brilhar, por-se em evidencia. Verdadeiro paradoxo em que a 
pessoa  se identifica como distinta mas necessita do aplauso de
todos quantos desdem para desse modo se sobressair e brilhar. 


              O mundo precisa girar à sua volta, aprisionando-se dentro
dessa necessidade, amarrado por fios invisiveis impossibilitando
qualquer chance de transformação.


           O foco está na aparencia e não na pessoa. Centrado em si
como o centro do mundo, em busca de admiração e reverencia.
  
                 Tal postura se voltará contra a pessoa com  poder de
destruição poucas vezes visto. O que nos separa dos outros, é o
que produz a separação interna, a fragmentação da psique, verdadeira causa de todo sofrimento humano. 


          O feio não sofre com tais contra-tempos, não nutre expectativas quanto seu aspecto externo, por isso se apresenta
como pessoa e não como estatua de beleza, ou como bonequinha
enfeitada. Não busca adoração como forma de satisfação pessoal.


          O bonitão, ou bonitona, na sua postura engomada, como   passado a ferro, está de prontidão, em estado de alerta permanente,
como quem resguarda um importante tesouro.  "Será que estou sendo notado (a) ? " Está por aí, se movimenta pelo mundo mas na vitrine, em exposição permanente.


            Por isso se ajeita sem parar como se houvesse algum incomodo, uma coceira, um desconforto. Ajeita aqui, olha, se aperta, se chacoalha, se repuxa, parecendo que não caber em si,
como roupa apertada pondo a pessoa sem jeito. 


        Sem duvida, a beleza incomoda, é desconfortavel, e há sempre
algo fora de lugar. Torna a pessoa pesada, artificial, afetada.


 Porque será que a beleza está assim insatisfeita com sua beleza, nunca conformada, sempre relutante, precisando mais ?


         Quanto esforço para se manter apropriado, à altura, sem
perder a compostura de uma imagem pré-moldada .Louca quimera
das ilusões da vaidade !


             Não é sem tempo, mas estou aqui me colocando de uma
forma generica. Como existe o feio tolo e sem graça, há o bonito
compensado e inteligente, despojado de toda prepotencia e
artificialismo. O elemento determinante é a identificação, o apego
a um estereotipo que cria uma imagem artificial a qual se dá credito e validação interna. Eis aí a bussula mediante a qual a pessoa
se orienta vida afora.


            Quando a beleza se transforma em ornamento, enfeite, 
penduricalho, a pessoa se torna patetica, grotesca, sem vida, um
simples cabide carregado de coisas. Algo postiço, fabricado,
verdadeira falsificação da verdadeira beleza humana.


            Por isso, salve a beleza do feio, porque na sua feiura se
torna, antes de mais nada, uma pessoa, uma pessoa bonita, pratica
e em paz.  Está satisfeito consigo, vive a vida e o corpo que Deus
lhe deu, sem conflitos, de bom humor, sem carencias e sem
necessidade de elogios. Vive a vida sem olhar para os lados, liberto
da necessidade de aprovação ou do aplauso do mundo.


             O feio se basta por si proprio, e não pela beleza que aparentemente não possui. Não necessita dessa beleza externa para se tornar uma pessoa maravilhosa, amada, querida e bela. A 
beleza que vem de dentro é genuina, original e espontanea. Não está num palco. Não está atuando. É real e verdadeiro. 


          Cumpre suas tarefas com naturalidade, segue pela vida com
alegria, livre da pesada carga do reconhecimento e admiração
alheios.


        O milagre acontece naqueles pequenos espaços onde menos esperamos que possa acontecer.


            O milagre acontece sempre por dentro.  













2 comentários:

  1. Em qualquer dos casos é igual à cebola.... tirando as camadas, nada há. Vá-se dormir com um barulho desses Dr.!!!! Obrigada pela grande ajuda e pelo privilégio dos textos. Com carinho imenso, Ana Paula.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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