domingo, 12 de agosto de 2012
QUANDO A LUZINHA VERMELHA PISCAR
Apos quase 40 anos de jaleco branco, leitura de exames, diagnosticos, prescrições, doenças de tudo que é forma, nome e
aspecto, chega um momento de reflexão em que se olha para tras,
como se fosse um inventario, avaliando o que trouxe de ensinamento, o que ficou como verdadeiro aprendizado, e, ao mesmo tempo, como legado, como herança de vida, tanto a nivel pessoal quanto coletivo.
Uma vida sentado atras de uma escrivaninha, ouvindo
historias, anotando queixas, nem sempre paciente com a impaciencia do outro, com suas preocupações, seus temores,
apreensões e receios. Historias que comovem, pois vem carregadas
com sofrimento e incertezas, muitas vezes sem solução, apenas a dor. A dor sentida quase como punição, em não havendo um
senso de compreensão maior, ou um sentido de significação para o contexto em si.
Muitas vezes o medico necessita mais de um medico do que
aquele sentado à sua frente esperando por algum consolo, uma
palavra tranquilizadora frente suas inquietações que são, muitas
vezes, mais da alma que qualquer desconforto corporal. Se queixa
do corpo, todavia a verdadeira dor está bem alem dos orgãos.
Por tras do profissional existe tambem um ser humano com as mesmas limitações e angustias, que busca tambem , de todas as formas possiveis, soluções para os seus impasses e sufocos, muitas vezes, não diferentes daqueles para os quais está sendo chamado
para intervir.
Buscam então, no medico, aquilo que, naquele momento, tambem lhe faz falta e tem tanta necessidade. Mas do fundo da sua carencia, nem sempre, sem muito esforço, busca a palavra magica, o gesto indulgente, a atenção silenciosa, para, desse modo, muitas vezes, sem dar-se conta, mesmo assim, sem saber como, aquilo repercute no outro e faz sentido, trazendo um pouco de luz.
É, sem duvida, um momento de magia. Não conseguindo
desvendar seus proprios enigmas, ou dar conta das suas dificuldades, e embaraços, o medico encontra, nesse momento, a palavra lucida do verdadeiro sentido e real significado como a chave adequada abrindo portais até então inacessiveis e inexplorados. Um novo espaço interior então se abre, com novas possibilidades, e o renascer de uma esperança que já se havia esquecido há muito.
E essa palavra, que produziu a ressonancia na alma do outro,
irá tambem ecoar em espaços sombrios na alma do medico. O
conforto dado ao outro, não ficará restrito ao outro. Se fará sentir
para além daquele ambiente em que foi proferida, se espalhando
igual o repicar do sino da tarde cujo som se fará ouvir para bem
alem do campanario da capela.
O medico sempre se cura um pouco tambem quando traz
conforto ao seu paciente com sua postura, bem mais
que com sua prescrição. Afinal, o desconforto do corpo não é
outra coisa que os reclamos da alma, de espaço interno,
extremamente reduzido, para os verdadeiros misterios da vida.
Será a vida apenas isso que estamos, quase todos, vivendo ?
Será a vida feita apenas de sofrimento, amargura, angustia e temor?
Medo de tanta coisa, da loucura vinda de todos os lados, sob as
mais variadas formas e circunstancias ?
O sofrimento do corpo é essa agonia do espirito, esse abatimento interior por não encontrar saídas, alternativas para uma
vida digna com perspectivas e respostas adequadas. Não visualizar
horizontes alentadores dentro desse espaço miudo e sufocante em
que se encontra aprisionado.
Sem alento, torna-se resignado e submisso, sequestrado e
sem esperança. Esperança confiscada por uma visão confusa,
brumacenta como consequencia de um movimento mental
carregado de crenças e "verdades" verdadeiramente limitantes.
Doença é isso e nada mais. Essa confusão interna na
qual a pessoa se vê enredada, não tendo ideia como se recompor,
a tristeza pela vida pequena, miuda, uma vida que não passa de
uma simples e deploravel sobrevida.
" Dr, a gente sobrevive, vai levando como Deus quer, não
é assim a vida ? " Baixa então a cabeça, olha para as mãos como se buscasse uma resposta, espremida pelos dedos, como num passe
de magica.
Solucionar os dodois do corpo, não irá, de forma alguma, aplacar o sofrimento da alma. Este sendo apenas a causa daquele.
Buscar a causa no efeito, tem-se mostrado tragico e
patetico, com o aprofundamento cada vez maior das doenças,
internalizando os conflitos em tais niveis, tornado improvavel e praticamente impossivel a reversibilidade. Estão aí as doenças se cronificando em niveis assustadores, como nunca antes visto, e estas, por sua vez, sinalizando o tormento interior, verdadeiro fundamento das labaredas do inferno que arde fundo dentro de
quase todos.
A verdadeira causa de todo e qualquer desconforto
fisico se chama tristeza, ou se queira, medo, ou ainda, desesperança.
Onde houver alegria, satisfação, paz.... pois é, a definição de
saude passa exatamente por esses conteudos. O bom animo cria isso que chamamos saude, bem estar fisico como consequencia desse
bem estar de alma.
A dor do corpo não pode ser sanada sem o encontro dessa
sensação interna de estar bem consigo mesmo, com o mundo que
nos rodeia e tudo o mais que a vida nos apresenta a cada momento.
A junta doi, o coração bate descontrolado, o colesterol sube,
a pressão altera, a unha encrava... definitivamente, não fomos
criados dentro desse molde e vivermos num corpo que a cada
momento liga a luzinha vermelha no painel, nos impossibilitando
seguir em frente.
Será que o problema da luzinha vermelha
está no painel, ou quem sabe, talvez, na propria lampadazinha ?
Na vida, o problema que se vê, está sempre, em verdade,
onde a vista não alcança. É sempre ajuizado levantar o capô,
olhar para dentro, e buscar em outros ambitos a verdadeira
solução de tudo quanto se queira solucionar, ou melhor, se
estivermos realmente dispostos para focar o ponto a ser focado.
Doença que não altera o nivel de consciencia, não nos tornando pessoas melhores, com padrões de percepção mais
apurados, seu intercurso de nada terá valido a pena.
Doença é um chamamento, um despertar para novas e inimaginaveis possibilidades totalmente esquecidas, deixadas de
lado, por desconhecimento de tais realidades, que ficam vibrando apenas na virtualidade, como possibilidade quase remota.
Combater simplesmente sintomas é não ter
compreendido o verdadeiro significado da situação, pois ela funciona como mensageiro da alma nos trazendo respostas para tantos questionamentos sem solução e codigos ainda não decifrados.
Se a dor não nos transformar em algo melhor, com uma
visão amplificada, um nivel de entendimento mais aguçado, mais
sensiveis e descontaminados de tudo quanto nos mantem refens
dentro de uma realidade sem significado, mediocre e confusa...
pois é, de que outra forma alcançaremos nosso intento, se nem a
propria dor, como mestre maximo, o conseguiu ?
A vida sempre ligará uma luzinha vermelha, mesmo quando
menos se esperar, no entanto, será sempre de grande valia e no momento certo, pois de outra forma, o motor faria fumaça.
Decididamente, a luzinha vermelha não é o problema, apesar de ter sido ela a interromper momentaneamente nossa viagem.
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