sábado, 19 de maio de 2012

O MITO DO PARAISO PERDIDO


                              Estamos tentando colocar a mente sob uma perspectiva mais apurada e dentro dessa visão mais minuciosa procurar compreender as razões do enigma aparentemente indescifravel, do sofrimento humano. Afinal, porque sofremos ? Qual o elemento essencial que põe em movimento a energia que chamamos sofrimento ? Qual sua origem, seu significado e objetivo ?
       Quando lemos sobre o mito da expulsão do paraiso nos é colocado que, ao comer o fruto proibido
da arvore do conhecimento, o homem perdeu as benesses que desfrutava. Perdeu sua condição de privilegio, sua posição imune nessa atmosfera de total proteção. Qual o significado dessa citação ? Que arvore é essa cujo fruto representa a desgraça de toda uma raça ?   Qual a leitura que tem de ser feita para encontrarmos aí uma possivel pista para a nossa busca ?  O nosso inferno teve inicio nesse ponto ? Foi o fruto dessa arvore que pôs tudo a perder ?  E que frutinha miseravel é essa para produzir tamanho estrago?
      Questionamentos sem fim.  No entanto,  se a charada não for decodificada, estaremos num jogo desconhecendo totalmente suas regras.
                Naquele tempo ( era um tempo em que o tempo ainda não era ), o homem vivia em perfeita unidade com tudo o que havia. Os elementos da criação estavam interconectados entre si e, ao mesmo tempo,vinculados à grande fonte que a tudo supria. As necessidades eram naturalmente satisfeitas. Os recursos estavam disponiveis em profusão. Havia abundancia e fartura para todos os seres aí presentes.
A harmonia reinava incontestavel.  Tudo estava disposto de tal modo a proporcionar equilibrio e
congraçamento entre todos os habitantes. Não havia falta de nada, dese modo, não havia
disputas. As plantas, os animais, as aves e os humanos não conheciam a discordia porque não havia
dificuldades. A adversidade e o esforço não faziam parte desse ambiente seleto e antologico. Nào havia hierarquia, ninguem acima ou abaixo, mais ou menos importante. Todos iguais entre si. Uma irmandade perfeita, em perfeito equilibrio.
      O ser humano não tinha necessidade do conhecimento para fazer o que fazia. Sabia porque estava
conectado com aquilo que tudo sabe. Assim como a planta, o passaro e a erva mais rasteira. O passarinho
sabe como construir seu ninho e cuidar dos seus filhotes sem ter tido um treinamento anterior para tal
conhecimento. Não se submeteu a qualquer curso de formação nem por isso o que faz, não está bem feito. Ele simplesmente sabe, e nós chamamos  isso de instinto. E instinto remete à fonte de onde
provem toda sabedoria, de onde tudo provem. A flor não tenta inovar para se tornar mais bela. Não
encontra defeito na sua forma, tentando se reinventar.
    Pois é, foi aí que o elemento humano se deu mal. Como o homem sabia fazer, surgiu, num
determinado momento, a necessidade, a visão, a perspectiva e a audacia de fazer diferente. O que fazia, era perfeito pois sua ação era ditada por aquilo que tudo sabe. No entanto, pensou em interferir no  meio e se impor a tudo o mais. Sentiu-se superior, diferente dos demais seres e, nesse momento, começou a pensar. Nasceu o sentido do eu, a visão de um eu apartado do restante da criação. `A medida que essa sensação de um eu pessoal começava a tomar forma, diferentemente da planta ou do passarinho, perdeu sua conexão natural com o grande provedor de tudo. E esse ato de rebeldia ocasionou o seu rompimento com a unidade. Estava agora por si proprio, já não fazia parte daquele contexto que o mantinha protegido . Perdeu o privilegio do patrocinio que tudo provê. Sentiu-se excluido, estranho frente aos demais elementos que até pouco estavam em integração. Já não era mais um deles.  Sentiu-se só e ao mesmo tempo desamparado, desvalido e sem rumo. Estava por conta propria. Acabara de entrar num mundo novo, desconhecido e extremamente hostil. O mundo dos humanos.
Perdeu sua fonte de suprimentos e  proteção. "E com o suor do teu rosto ganharás tua vida", e foi,
desse modo, que deixamos o paraiso para vagar pelo mundo em busca de segurança e resguardo.
     Perdemos o espaço protetor, o cuidado daquilo que tudo cuida, e tomou lugar a mente, a racionalidade, o eu individual que seria , a partir dai, a marca do homem posterior à perda da sua conexão
com a unidade. O homem caido, expulso do paraiso. E o que caracteriza esse homem é o sentido que tem de si mesmo, sua auto-importancia, a imagem que faz de si. É dentro desse movimento mental que perdeu
sua posição, prerrogativas e salvaguardas.  Sem vantagem alguma, e tendo perdido a esperança de jamais
reconquistar seus beneficios, sobrou-lhe agarrar-se à sua auto-imagem que lhe serviu, a partir de então,  de consolo e tambem  identificação.Já que perdeu tudo, acha que é alguma coisa ao se mirar no espelho do seu auto-reflexo. E essa coisa que acha que é, não é outra coisa que uma simples imagem, uma miragem no horizonte da sua mente. Uma imagem que faz de si. Uma imagem mental e nada mais. Algo sem consistencia, sem realidade.
E essa imagem é a mais verdadeira expressão de nada. É isso que o homem se tornou ao se tornar
racional, um ser pensante, acumulador de conhecimentos. Tornou-se esperto porque é estupido. Somente
o idiota necessita ser esperto. A sua grande esperteza fez com que perdesse tudo que jamais poderia ter. Mais instrução  resultou em menos bom senso, e mais saber, em menor capacidade de julgamento e
ponderação.
           O restante da criação permaneceu conectada à grande fonte, integrado em harmonia. A maldição
"do suor do rosto pela sobrevivncia", não afetou os demais elementos. Continuaram protegidos e tendo
suas necessidades totalmente supridas. E o homem teve que buscar segurança e amparo por meio do
conhecimento e trabalho. E a instrução foi  sua grande aliada dentro do seu desepero. A vida estava agora por sua conta. Contava apenas com a imagem desse eu pessoal, e a instrução seria um elemento determinante para sua longa jornada de retorno. Afinal, o conhecimento gera importancia à estrutura da auto imagem. Dizem que somos o que sabemos. Desse modo, transformamos nossa potencialidade infinita em conhecimento finito. Nos limitamos dentro do nosso saber.
Sabemos, e assim nos apequenamos cada vez mais. Não somos nosso conhecimento, mas se dermos
credito a isso, assim será, desgraçadamente. A erudição corrompe pois leva à soberba, à vaidade e à
empafia. Com certeza, não é um elemento de congregação, visto que discrimina e seleciona. O que sente
diante de alguem que considera mais ilustrado ? Ou, de outro modo, como age diante de alguem que
considera menos informado que voce ? O conhecimento está simples e tão somente à servico do seu eu
pessoal. Usa o conhecimento para se sentir importante, uma pessoa especial.
      Veja que o sentido do eu teve origem no conhecimento, o fruto proibido, que segrega e marginaliza. O ser humano perdeu a graça da inclusão pela sua esperteza. Foi banido da unidade pela racionalidade.
  O lirio do campo não extrai sua beleza e magia de mais conhecimento, de novas informações e descobertas. Não lança dados em equações sofisticadas para tornar-se mais importante e transformar-se
num super lirio, o top da sua especie. Não busca ser diferente para firmar-se em caracteristicas particulares
e pessoais. Não tem uma imagem ilusoria de si de onde obtem seu senso de realidade. Ainda bebe da
fonte de toda  importancia, assim não necessita buscar subterfugios para se sentir importante, ou diferente.
   O eu pessoal tem uma necessidade vital de se sentir diferente do eu do outro, e é dessa diferença que
nasce a sua deferencia, prestigio e relevancia.  Olhando friamente para esse  magestoso e insano circo montado pela civilização, conclui-se que, realmente, tudo é vaidade, apenas vaidade como já dizia, naquela epoca, nosso saudoso Salomão. A visão dele foi apurada e atenta. Sem duvida, profundo conhecedor da estupidez humana.
       Mais conhecimento não nos transforma, no mais das vezes,em pessoas mais equilibradas, mais alegres,
ou menos transtornadas, menos confusas ou mais seguras. Com certeza, a verdadeira doença do humano passa por essa loucura de cada vez mais : mais saber, mais informação, mais poder, mais e mais de tudo que se possa imaginar. Alias, progresso tem exatamente esse significado, e o cancer tambem. Outra vez
a constatação de que o de fora e o de dentro tem similaridade. Vivemos numa sociedade cancerosa, uma
sociedade de progresso. Viajamos pelo espaço interplanetario, entretanto, não menos tristes, confusos, ou
menos amedrontados. Talvez indo para longe, longe desse inferno encontremos novamente nosso paraiso
perdido. Quando  vai  longe para se achar, o longe nunca é distante o suficiente, pela simples razão que não existe. Afastar-se para longe, mesmo assim, carregamos o inferno conosco. Quando se pisa na bosta o mau cheiro toma conta, e de nada adianta sair correndo pois aquilo continua grudado no sapato e continua fedendo. Não há jeito, pisou naquilo, o cheiro irá te acompanhar.
        Porque nos sentimos tão bem quando em contato com os elementos da natureza ? É saudade. Saudade daquele tempo em que ainda eramos um só. Saudade dos companheiros do paraiso. Eles permaneceram e nós nos tornamos exilados e excluidos. É como rever velhos companheiros de um bom tempo, de um tempo dentro do qual nos perdemos. Eles ainda guardam o cheirinho da inocencia e da graça. O amor e o respeito que sentimos, é a expressão da profunda reverencia que nutrimos por se terem  mantido leais e fieis ao grande plano concebido pelo grande arquiteto. Saudade da plenitude, da segurança,
da abundancia. O conforto e o bem estar que sentimos na sua presença, é o reflexo do que nos faz falta
mas que um dia já tivemos. A gente tem a consciencia que era feliz, quando perde esse estado de bem estar e completude. O paraiso que buscavamos, estando dentro dele, pôs tudo a perder. Somente agora nos damos conta que aquilo era verdadeiramente o que estavamos tentando alcançar.
          O desejo gera expectativas, por isso o medo. E o medo engendra a violencia que, sinistramente,
chamamos de defesa. Defendemos com violencia o territorio, o patrimonio, a reputação, a auto-imagem
e seja lá o que for que nos cause o minimo dissabor e contrariedade. Nos achamos no direito de usar a
violencia como ato de defesa, no entanto, não nos damos conta que é sempre o eu individual que reclama
tal atitude. E sempre por medo. O eu pequeno que nos identifica, reclama defesa irrestrita e incondicional.
Defendemos violentamente, ou com atos, ou sentimentos de odio e repulsa, o que dá no mesmo.
       A verdade insofismavel é que temos medo, muito medo de toda ordem e magnitude, vestigio da fatalidade do agourento momento da expulsão. E o horror desse momento ficou registrado profundamente,
não apenas a nivel animico, na psique humana mas tambem a nivel celular, em toda estrutura fisiologica. Foi o inicio da verdadeira enfermidade que nos aflige desde então e talvez para sempre. A nossa molestia é por sermos humanos. É o unico elemento de toda a criação que, quando dá entrada nesse plano, já se encontra
em estado avançado de morbidez. Seria esse o significado do "pecado original" ?
   É, sem duvida, o legado mais tragico da terrivel experiencia do exilio. Excluido, abandonado à sua sorte,
refem de toda ordem de desdita e má fortuna, do sofrimento e dificuldades sem tregua.
         Enquanto caminhava nessa manhã ensolarada de outono, vi um passarinho colorido pulando por entre os galhos de um pessegueiro estranhamente florido nessa epoca. Sem duvida, estava feliz, descontraido,
indo de flor em flor bebendo o nectar que as pequeninas flores lhe ofereciam. Estava faceiro, cantarolava
sua canção festiva enquanto se alimentava tranquilamente. O sol dava um toque especial de magia ao
brilho das flores e ao colorido das suas plumas. Não se importunou por estar me vendo aí  parado, admirando o belo espetaculo. Apos ter sugado diversas florzinhas, num movimento rapido voou para longe.
      Fiquei então pensando no "ganharás a vida com o suor do teu rosto". O paraiso ainda existe e eu
estava olhando para ele. O pessegueiro florido servindo de alimento para o passarinho colorido.
Arvore e passaro ainda integrados, ainda fazendo parte do grande espetaculo do paraiso presente. Ainda são companheiros, servem-se uns aos outros em perfeito congraçamento.
Não se excluiram atraves de uma imagem de ser diferente e de importancia, por isso ainda fazem parte.
      Vi nessa manhã ensolarada de domingo um breve vislumbre do paraiso, dos que ainda permanecem
dentro dele. É magico, fantastico, surpreendente, notavel, extraordinario, divino......
          Voce tambem está com saudade ?  





















.


     
       



Um comentário:

  1. Dr. Cláudio desculpe não ter avisado antes.. esse novo amigo do seu blog é meu amigo de infância, mora em floripa, é gente mto boa, ele é professor lá na universidade federal de SC. Como ele vem me dando mtos bons conselhos, pra mim não fica pra trás indiquei seu blog hehe..

    abraçoss Claudio.. e vamo vive o presente né??.. sem ter espírito forte, sinceramente eu acho que ir para o momento é perder a espiritualidade e vestir a "roupa" que os outros te oferecem..
    Será que alguém tem grandes roupas pra nos oferecer??

    ResponderExcluir