sexta-feira, 11 de maio de 2012

O ALTRUISMO COMO TRUQUE DA MENTE


                              Alguma vez já se perguntou porque sentimos pena dos outros ? Qual o verdadeiro significado desse sentimento que faz com que a gente se sensibilize pela dor do outro ? Comover-se pelo
sofrimento do outro ? É a expressão de uma fraqueza ou, ao contrario, a tradução do mais autentico
indicio de humanidade dentro da gente ? Vale a pena aproximar um pouco a vista e dar uma
olhada com mais cuidado.
        Os alquimistas nos informam, com precisão, que o externo tem sempre a sua contraparte interna. Qual
o significado disso ?  Essa verdade nos conduz para dentro do mundo magico da projeção. Sem entender adequadamente esse fenomeno psiquico, faz com que a gente deixe de compreender grande parte do comportamento humano.
      Porque a dor do outro doi tanto dentro da gente ? Porque repercute em nós essa dor que na realidade é a dor do outro ? Consegue perceber o movimento da projeção se manifestando ? Só consigo reconhecer fora o seu equivalente interno. O de dentro, observado fora.
Aquilo que me toca no outro é, na realidade, um conteudo que me pertence. Aquilo que sinto pelo outro não é em nada diferente daquilo que sinto por mim mesmo. A minha dor, sentida no outro. Sinto pelo outro meu proprio sentimento, pois se não fosse meu como poderia reconhecê-lo ?  A gente se encontra no outro.
         No nivel de consciencia comum, não podemos sentir nada diferente, com relação aos outros, que não
estejamos sentindo por nós mesmos. É um jogo de espelhos em que a imagem percebida  fora foi , na
realidade, projetada a partir de nós proprios.
  A compaixão que sinto, revela meu auto-sentimento. É a tradução do meu mau estar interno, da pena
que sinto por mim mesmo, pelo grande desconforto como consequencia de não poder  proporcionar-me paz, segurança e proteção. A minha desgraça é sentida no outro. É sentida no outro mas é minha, e é por isso que me toca e me machuca. Somente por causa disso, e não porque seja altruista.
            Sentimos pelo outro o que sentimos por nós mesmos. Não somos capazes de sentir por ninguem
a não ser nosso proprio sentimento. O que sinto pela pessoa, não tem nada a ver com ela, é apenas um
movimento de projeção. O que é visto na tela, não é da tela mas do filme que usa a tela para  projetar seu conteudo. Para saber o conteudo do filme necessitamos de uma tela. É no outro que iremos encontrar aspectos nossos nem sempre revelados e percebidos a nivel consciente, porque estão escondidos  no "filme" do inconsciente. E o outro irá se prestar generosamente como espelho para que possamos nos mirar, sem, no entanto, conseguirmos reconhecer a imagem percebida como reflexo.
     O sentimento de compaixão nasce da racionalidade, mas não há aí merito algum porque é apenas uma
manobra da mente, um estratagema para parecer razoavel aos olhos dos outros, da gente mesmo e do mundo, por aparentar um sentimento nobre, distinto e de benevolencia.
               Parecemos sinceros na nossa compaixão, quando, na realidade, aquilo não passa de auto-compaixão disfarçada em generosidade. Nossa bondade não passa de uma fraude muito bem arquitetada
pela mente, uma dissimulação para esconder  o verdadeiro sentimento por tras disso tudo, que é a nossa
realidade interna caotica e aparentemente sem solução.
   E esse sentimento cria uma falsa impressão de consideração e interesse. Quer ser indulgente e generoso em função do seu sentimento de desvalia, de penuria e desproteção. O desamparo do outro doi dentro do
nosso sentimento de desamparo, de outra forma, não seriamos capazes de tal sentimento. Sem espelho,
não seremos capazes de nos perceber.
          Passamos uma ideia de autentica e genuina humanidade atraves de um altruismo sincero e bem
intencionado. Mas é apenas intenção, nada mais. Não há integridade e verdadeira benevolencia na
intenção apesar de passar essa impressão. O ato nobre não é possivel enquanto ainda estivermos em falta
conosco mesmos, buscando fora o equilibrio e o apoio para nos afirmarmos e, desse  modo, nos sentirmos adequados. Como pode aquele que está se afogando,  salvar alguem  quando está tambem submergindo?
         É pelo sentimento de inadequação e ineficiencia que nos movimentamos para o outro no sentido de proporcionarmos ajuda e bem estar.
 Aparentemente nos sentimos bem ao irmos de encontro ao outro em forma de apoio e facilitação. Entretanto, não é um movimento autentico e verdaddeiro porque não é natural. Pode ser até sincero,
contudo é contaminado pela premencia interna de encontrarmos saidas para tantos impasses e conflitos. É uma barganha, uma nogociata.  Nada mais que isso. Não amamos ninguem porque não nos amamos. É esse o ponto. Procuramos o outro na tentativa de encontrarmos lá o que não conseguimos encontrar dentro da
gente. E o tragico é que acabamos encontrando a nós proprios, em forma de imagem projetada, nesse encontro com o outro.
       E o final dessa viagem é verdadeiramente paradoxal. Quando não sentir mais benevolencia e compaixão é porque entrou no reino da sua verdadeira natureza. Está começando a ter ideia de quem é
e, assim, vivendo essa realidade. Não sentir mais piedade é a consequencia  por ter-se livrado da  auto-piedade, pois na ausencia dela a compaixão se torna sem significado. A falta de compaixão não é insensibilidade, frieza ou desumanidade. Mas o oposto, pois é por sentir-se especial e importante que motiva a compaixão. E busca uma imagem de importancia por sentir-se insignificante e desprotegido, e isso gera a auto-compaixão. Está vendo o movimento sutil dentro do qual se arquiteta esse jogo ?
      A auto imagem é o reflexo do quanto se sente importante, o valor atraves do qual se avalia. Contudo, tanto o senso de valor como a importancia que acha que tem, são falsos. E quando a imagem de si
não for mais sustentada, a compaixão segue o mesmo caminho. O sentir-se especial é apenas auto-compaixão dissimulada. A imagem que tem de si gera soberba, arrogancia, a necessidade de ter que sobressair-se a qualquer custo. É vaidade e burrice por não perceber o truque ilusionista no qual a mente nos enquadrou.
     A auto-imagem cria a relevancia de si causada pelo sentimento de insignificancia, que disfarça com sua
imagem de importante.A compaixão é soberba disfarçada. E quando a soberba desmorona, surge a
sobriedade, nascida de um nivel de consciencia diferente da consciencia comum.  Na sobriedade a auto-importancia se torna sem sentido e a compaixão, destituida de significado.
         A sobriedade não pertence aos dominios da mente comum, do eu nanico cujo senso de valor se
revela totalmente destituido de valor, pois é apenas uma imagem construida em cima do nada que sente
que é. O sentimento de desproteção que origina a pena que sente por si, motiva a pena que sente pelo
outro. O que sentimos pelo outro, não é diferente do que sentimos por nós proprios. O que vemos no espelho é a nossa cara e não a cara de ninguem mais. Porque a farsa ou a surpresa ?
                A falta de compaixão é o reflexo do ego destronado, da falsidade em nós finalmente posta
à descoberto, e, frente à isso, o sentimento de desvalia e pequenez se diluem nesse novo nivel de consciencia que surge misterioso e imponente. Surge o equilibrio, a modestia, a despretensão, a humildade.
A verdade dentro da qual a vida é regida. A sobriedade é a expressão dessa regencia.
          Libertar-se dos laços da mente que nos aprisionam à tirania da auto-imagem auto-imposta e, dentro
da qual  nos espelhamos, representa o grande momento na vida de qualquer ser humano. Entretanto,
vem tambem acompanhado de grande dose de sofrimento, pois, no fundo, ninguem deseja ser livre. Aprisionados por tantas eternidades, não somos capazes de reconhecer outra realidade a não ser a determinada pelo imperio da mente.
   Não somos o que nossos gestos e ações demonstram ou fazem parecer. Quando o espelho finalmente
se quebra, teremos que nos haver com a verdade, não olhando mais para fora para nos encontrarmos, mas
nos encararmos, nos olharmos de frente, por mais cruel e dificil que possa parecer.
       O momento da verdade é sempre o momento mais dificil.



           

 


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