segunda-feira, 19 de setembro de 2011

PORQUE NOS SENTIMOS ASSIM ?

Hoje alguem me falou assim : eu tenho tudo o que uma pessoa possa
imaginar para estar bem - cartão de credito ilimitado, uma bela casa, ostenta
ção, conforto, um marido dedicado, filhos que não causam problemas, entretanto, apesar de tudo, de não me faltar nada, porque não me sinto bem ?
porque tenho a sensação dentro de mim de um vazio que doi, que inquieta, e pior ainda, sem saber para onde ir em busca de salvação ? Há jeito para isso,
se lamentava a milionaria pobre ?

Pois é... pois é ! Buscamos a realização ao longo da vida em tantos
campos, em tantas frentes, e quando finalmente chegamos, galgando o ultimo
degrau, temos a ingrata sensação de que não aconteceu nada, de que não chegamos a lugar algum, sentindo-nos fracassados apesar de aparentemente
vitoriosos. Temos tudo que sempre sonhamos, e porque então esse vazio, essa
profunda decepção, a sensação de que fomos enganados, traidos, tapeados pela
ilusão dos sonhos tão ardentemente acalentados por tanto tempo, por uma vida toda ? E agora, José, haverá algum porto para levar nosso barquinho que está à deriva, perdido por entre a bruma escura e de ondas bravias ?

Eu quis falar, lhe dizer qualquer coisa, mas como o choro era profuso
como se fosse de luto, chorando a grande perda, ou o grande fracasso, a grande desilusão, eu então me aquietei, percebendo que não era um momento para
palavras, para explanações ou justificativas. Afinal, depois da consumação dos fatos, o que resta é a danação, a dor que parece destruir, o grande sofrimento.
Há o momento da palavra, entretanto há tambem o momento do silencio em que se
ouve, uma presença serena para receber o outro através da atenção que escuta.
Esse silencio é muitas vezes mais eloquente, significativo e fecundo que a
palavra mais sabia, mais profunda ou expressiva. O silencio conforta, tras
alento e consolo como um balsamo para as feridas sangrantes.

A dor quer ser ouvida, quer ser chorada, quer ser acolhida. Há tanta dor no mundo que se transforma em doença fisica e que muitas vezes leva à morte, simplesmente porque não havia alguem aí para ouvir, apenas para ouvir, sem justificar, sem racionalizar. Uma presença. Um coração aberto, um momento
sem pressa. Sentar ao lado e a pessoa tendo a certeza de que há alguem aí.
Nada atenua, ameniza e abranda mais a dor do que saber que não estamos sozinhos, que podemos contar com alguem, para que a atravessia seja menos dolorosa e o desespero suavizado.

"Isso que estou sentindo, é o castigo por ter conseguido tudo que
quis na vida "? Engraçado ! Agora vem a culpa. Parece que a gratificação pessoal vem carregada com um grande peso de culpa, como se tivesse cometido uma insanidade e agora merecesse o castigo.
Meu Deus,quanta confusão, quanta loucura ! Quem nada tem, se sente mal por não ter, por tanta carencia, por tanta dificuldade. Quem tudo conseguiu, sofre
uma carencia interna, um estranho vazio, uma favela interior. E agora, para que lado correr ? Existe a possibilidade de se viver na plenitude, uma vida
por inteiro e não apenas se servindo das migalhas que caem da grande mesa ?

É possivel ter alcançado tudo na vida, ou ao menos ter tido sucesso
nos seus empreendimentos, e mesmo assim, ou apesar disso, ter a sensação que chegou em casa, poder sentar na frente da lareira, olhar para o fogo que produz uma meia luz, uma penumbra aconchegante e sentir paz, uma paz profunda de missão cumprida ?

E para aquele que ainda não chegou lá, que ainda está às voltas com
dificuldades de toda ordem, com grandes ansiedades em função da falta de tanta coisa, qual o caminho, como ter paz apesar de se sentir pressionado por
tantos compromissos, por tantos impasses, adversidades, apuros e problemas ?

PS por favor, vá para a postagem seguinte, que essa já está longa demais. Afinal, há muitas perguntas para serem respondidas, muitos questionamentos que querem levantados.
Até mais.

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