domingo, 1 de dezembro de 2013
QUANDO O ESPELHO SE QUEBRA
Ao criticar-te, terei a sensação que o que te falta,
me fará falta tambem.
E o meu julgamento me diz, diante dessa constatação,
que me será de pouca serventia.
Afinal de contas, necessito de alguem perfeito,
ou muito proximo disso,
para conviver comigo.
Ufa ! arrogancia pouca é bobagem !
No entanto, essa contestação perpetua-se,
até a pessoa não alcançar a compreensão,
que aquilo que exigimos do outro,
é exatamente o que nos falta.
Preciso de um espelho para ver meus horrores,
mas quando os percebo, lá, no outro,
falta-me lucidez para reconhecê-los como sendo meus.
Afinal, se os comprovo fora de mim,
e de que forma podem ter relação comigo ?
É por esta razão, que é o outro que é mal-acabado,
imperfeito, deficiente,
pois projeto nele meu mundo de mazelas,
minhas proprias limitações.
É essa visão equivocada, a mãe de todos os desencontros,
sofrimento sem fim, temores, inseguranças,
no universo dos relacionamentos.
Torna-se impossivel viver uma relação com dignidade,
enquanto focamos no outro o nosso pior não reconhecido.
Exigimos do outro mudanças, transformações profundas,
exatamente aquelas que não conseguimos concretizar.
Todavia, não deixa de ser verdadeiro,
que basta uma pessoa, para duas viverem bem.
O relacionamento degenera, porque ambos estão confusos,
perdidos nas suas proprias historias,
atormentados por tantos fantasmas,
acusando-se mutuamente,
reclamando mudanças,
que cada qual não consegue efetivar.
Acreditamos na quimera, que o outro mudando,
estaremos, por fim, assistidos,
em segurança, à sombra da modificação do outro.
Caso um dos dois compreenda o processo do duplo espelho,
sai, por fim, da ilusão da loucura acusatoria,
acolhendo o outro, colocando-se alem da visão enganosa
do reflexo dos espelhos.
Estará bem.
É por isso que não terá necessidade do outro estar bem
para que possa ter paz, serenidade e equilibrio.
Deixará o outro quietinho,
não irá importuná-lo com censuras amargas,
exigencias cujo criterio são suas proprias deficiencias.
Quem vê suas proprias fraquezas,
acolhe com ternura e cuidado as dificuldades do outro.
Não o deixará acuado, na defensiva,
com tanta implicancia de protestos sem fim.
Não há, portanto, outro recurso,
para um relacionamento perfeito,
qual não seja que cada um faça sua parte,
deixando o outro no seu cantinho,
sossegado,
para que ele tambem possa fazer o que é da sua conta.
Eu faço as minhas coisas.
Voce faz as suas.
É quando o espelho se quebra,
que saberemos, por fim, quem somos.
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Dr. Claudio, eu e minha esposa Mira, estamos apreciando muito os teus textos. As ideias expostas têm muito a ver com o trabalho de Gurdjieff,(Quarto Caminho) do qual tivemos contato há muitos anos atrás, num grupo do Rio de Janeiro. Este texto, por exemplo, aborda o que estudávamos como a “consideração interior” e a identificação.
ResponderExcluirAbraço
Muito interessante e verdadeiro esse texto.
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