sábado, 12 de outubro de 2013

A GRANDE ILUSÃO



 Há um tempo maravilhoso,
 tempo em que se olha para frente com entusiasmo,
com veneração, para sonhos, projetos, tanta coisa linda
atraves das quais realizar-se e ser feliz.

Disposição não falta. Transformamo-nos em guerreiros,
com o brilho dos herois no rosto. Parecemos invenciveis,
 não medindo esforço, energia, tampouco boa vontade.

Um dia os propositos viraram realidade... ou não.
Somente então compreendemos a utopia das nossas
buscas insanas. Torna-se claro então que sonhos realizados
 ou não, fazem pouca diferença.

Os primeiros decepcionam por não terem proporcionado a
paz e tudo mais que prometiam, enquanto os outros
desapontam, da mesma maneira, pelo simples fato de não
terem sido realizados. Igual ao bebê que não veio à luz. 
Acomete-nos a tristeza, a culpa e o desconforto por tudo 
aquilo que ficou para traz, por não ter dado conta,
 ou, então, pelas conquistas realizadas, mas nem por isso
o vazio existencial ter sido preenchido. 

A verdade é sempre sombria : aquele que não nasceu,
não traria nada a mais que aquele que carregamos nos braços.
Lamentamos mais as causas perdidas, com imensa 
dificuldade para honrar a realidade presente. 

Choramos, frequentemente, com mais pesar os mortos, 
que o amor nutrido pelos que ainda continuam entre a gente. 
Amamos o impossivel
 pela impossibilidade de amarmos o possivel de ser amado.

Tenham sido os projetos realizados ou não, no fim nada fará
diferença. Tudo termina da mesma forma. A poeira do tempo irá
cobrir tudo, apagando qualquer rastro; e um pequeno anuncio no canto do jornal lembrando a 
todos o fim de mais uma historia.

A vida é um empreendimento cujos dividendos estão muito
 aquem de cobrir o alto investimento realizado.

Não reconhecemos com facilidade a verdadeira condição da
vida, porque o tedio essencial tenta ser anulado pela
ocupação ou pelos prazeres do corpo.

Que restaria da vida quando despida dos artificios e adornos 
que distorcem a visão ?  Sem a distração gerada pelos
afazeres, ou a louca ilusão da busca pelo prazer ? Estariamos
 diante do verdadeiro desespero da futilidade primordial. 

A diversão e a atividade tentam apaziguar-nos o espirito,
 dar um senso de sentido, livrando-nos de toda forma de aflição e
amargura. No entanto, são apenas condições que pervertem e
dissimulam o verdadeiro significado de tudo.
São adereços com os quais enfeitamos  vida, uma forma de maquiagem que disfarça as imperfeições, pois, se  notadas, inviabilizariam, quem sabe, a propria raça de manter-se 
como tal.
 As mascaras, introduzidas pela natureza, tornam a vida
suportavel, minimamente possivel para ser vivida.
A visão real da coisa só é possivel para poucos.
A verdade aniquila o ingenuo descautelado. 

Ocupamo-nos para mitigar o tedio de que nada importa. 
Lançamo-nos em empreendimentos que se afiguram importantes,
mas, certamente, não vão alem dessa aparencia, pois nada
conseguirá impedir-nos de virar comida de insetos.

Dessa forma, qual a importancia das nossas conquistas, ou
mesmo dos nossos desenganos ? Das vitorias ou decepções ?
Tudo acaba da mesma forma, como se ninguem
 tivesse passado por aí?

Ou, voce acha que o homem evoluiu, ao longo de sua jornada,
no que diz respeito ao egocentrismo, a soberba, a ganancia, a
competição, o temor, e a preocupação diante tantos desafios e perigos ? Evoluimos, no universo da tecnologia, em verdade, como forma de contrapeso pela má-sorte da nossa condição. 

Não é descrença, ou persuasão para suicidio em massa.
 São apenas fatos que refletem a realidade dos fatos.
Talvez esteja a vida baseada nessa contextura. Vivê-la como se
realmente houvesse importancia, entrando nessa loucura, fazendo de conta que tudo conta e que fazemos diferença.

Lembra ainda do tempo em que acreditava em papai noel ?
Não foi bom ? E lastimamos demais quando um dia descobrimos
 que tudo não passava de um conto de fadas.
São as ilusões que nos mantem de pé, não fossem elas talvez
morreriamos de melancolia ou pendurados numa corda.

Não queira, pois, descobrir a verdade. A caixa de Pandora
esconde fantasmas medonhos, uma vez libertos, terá de haver-se
com eles. A ilusão do papai noel, apesar do engano, é bem
menos angustiante que a verdade.

 Mas, a bem dessa verdade, isso tambem não fará qualquer diferença.
 Sabendo ou não o que há por detras do veu, no fim,
 nada fará diferença ... 






  

3 comentários:

  1. Pois é: "navegar é preciso, viver não é preciso". Dr. Cláudio, o problema é que não temos alternativa. Somos criados, sem pedir, para sermos imortais e vamos rolar pedras por evos e evos. A maior parte dessa navegação sem a menor consciência. No entanto é melhor que o nada,, o não ser.

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    1. Nem sempre o não ter consciencia é problema
      apesar de ser o grande poblema.

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  2. Só a sombra da morte nos faz ter uma vida melhor. A ilusão é tão profunda que apenas o final dela nos faz sair um pouco da ignorância. Paradoxal, contudo, efetivo.

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