domingo, 16 de setembro de 2012

A SABEDORIA DA ERVINHA DOS SEIXOS


                 
                  Se olharmos com atenção, sem o prejuizo do preconceito
ou do senso comum, iremos compreender que não temos amigos.

            Somos predadores. Competimos com cada ser vivo desse
planeta. Por isso somos inamistosos.

        Somos temidos por sermos destrutivos. E somos destrutivos
porque nos sentimos profundamente inseguros e amedrontados.

         É dentro desse movimento psiquico, como mecanismo de
compensação, que buscamos exaustivamente o poder e a necessidade de nos sentirmos importantes, como busca incansavel, sem treguas, para fugir do horror do sentimento de menosvalia e insignificancia.

          Desprotegidos, com o sentimento amargo de vazio e
pequenez, indefesos, constantemente ameaçados pela hostilidade
do mundo, nos tornamos destrutivos.

       O homem predador nasce dessa necessidade de dar conta,
tanto interna como externamente, do pavor que o ameaça de
destruição a todo momento. 

           Frente à ameaça, se torna cruel. Quando desaparece o senso
de humanidade, emerge o verdadeiro monstro que habita as
profundezas da mente humana.

       Somos civilizados até um centimetro e pouco da superficie.
A partir dai se inicia a zona da barbarie.  A repressão dos codigos
de conduta se justifica por esse contexto, pois sem eles, essa fascinante raça  já estaria extinta há muito, sem ter deixado   vestigio algum 

      Nos tratamos com polidez e cortesia porque nos rende
dividendos. É apenas polimento externo, ou se quiser, postura de
mercador. Buscamos vantagens de qualquer forma para ocultar a profunda insatisfação e vulnerabilidade que nos corroi as entranhas.

        É apenas um jogo. Ou a maestria da politica da boa vizinhança, ou então, o verniz da diplomacia. É apenas pseudo benevolencia. A cordialidade  e decencia, como disfarce adequado, para a mesquinhez e perversidade tão proximos da superficie.

         Dai a necessidade das mascaras, onde a hipocrisia alcança
seu grau maximo de eficiencia. Como mascarados vamos nos
defendendo reciprocamente, atraves de artimanhas e estratagemas,  ardilosamente elaboradas, disfarses astuciosos com aparencia de boas intenções. E pior, damos credito ao enredo e à impostura  pois somos todos atores atuando no mesmo cenario.

       Uma civilização que fundamenta o relacionamento entre seus 
pares em premissas de meras aparencias e disfarses, sem a autentica simplicidade daqueles que não necessitam parecer mais, sem esse extraordinario investimento na grandeza pessoal, como mecanismo de poder e prestigio, de onde se extrai  a imagem que nos identifica, não há como nos surpreendermos, a nivel da indignação e revolta, pelo filme de horrores que assistimos todos desde sempre.

            Está inserido no genoma, na nossa natureza de humanos como codigo, como molde gerador de desempenho e conduta.

         A ganancia, os temores e o odio de outras eras, já longinquas,
perdidas no tempo, quando eramos ainda barbaros, vingativos e a maldade como referencia para o desempenho, em que nos
tornamos realmente diferentes ? Eramos ao menos autenticos e genuinos. Sem disfarses ou camuflagens para não sermos vistos
ou descobertos como verdadeiramente somos.

A barbarie atual não é, por acaso, mais selvagem e cruel que  a daqueles tempos, exatamente por ser ardilosa, envolvida em enredos e artificios tramados secretamente, onde reina a lei
da velhacaria e trapaça ? 

           Elaboramos, com extremo apuro e requinte, uma tenue camada,portiça, de afetação e civilidade,  que criou, como consequencia, a hipocrisia e a simulação. Nos tornamos sofisticados no discurso e na fachada, mas, sem essa maquiagem, o que somos 
afinal de contas ? 

          A barbarie em nós, definitivamente, não foi superada, apesar de todos os mecanismos de contenção e cuidado. 

        Somos refinados apenas dentro desse espaço estreito, acanhado, como cobertura cremosa de um bolo deteriorado. Saindo
desse ambito,salve-se quem puder, pois canhões e basucas já estarão posicionados. 

           O lastro da civilidade humana não consegue fundamentar
nem ao menos um minimo de dignidade e respeito entre os semelhantes. Salve-se quem puder, é a norma execrada socialmente, publicamente, mas não é ela que rege o rumos de
toda atividade humana ?

      Nos submetemos ao engodo, dando credito às aparencias e disfarses. Afinal, energias da mesma natureza sempre se acomodam. Nos comportamos todos dentro do mesmo padrão. É por isso que não estranhamos a superficialidade nem a dissimulação
desengonçada e aviltante da maneira como nos relacionamos.

        A sociedade especializou-se na arte da hipocrisia como
mecanismo de sobrevivencia da especie. Afinal, precisamos
conviver e aprendemos quase à perfeição a arte de nos suportarmos. 

           Não somos temidos apenas por toda forma de vida nesse
planeta, mas essencialmente nos tememos mutuamente uns aos
outros. O senso da desimportancia, que nos escraviza a mente, é
um mote imbativel para nos transformarmos no monstrengo
medonho no qual nos convertemos. Exagero ? Faz tempo que não
acompanha o noticiario da midia ? Nunca perguntou para uma
arvore ou um animal a ideia que fazem do ser maravilhoso que
somos ? Nunca percebeu o desespero no olhar de um ser ( animal,
vegetal ou humano ) relegado aos cuidados do deus dará ?  Nunca
percebeu o sofrimento de quem já não tem esperança, perdido,
sem rumo, sem nada, mesmo tendo tudo, mas sem paz ?  

          As plantas, os animais e as aves levam uma imensa vantagem,
pois não tem necessidade desse abrigo defensivo para dissimular sentimentos estropiados e artificiais.  

         Sem subterfugios ou maquinações, agem com naturalidade, 
discrição e simplicidade, não almejando ser mais do que são. Não
se sentem menos nem mais que nada, serenos, vivendo a vida
que papai do ceu lhes deu. 

      E nós, por não conseguirmos nos livrar do sentimento de impotencia e insegurança, que nos atormenta e inquieta sem tregua, investimos pesadamente no que nos aparenta ser o recurso mais adequado e lucrativo : ter poder ou muitas coisas para se sentir importante.

         Afinal, somos eximios mercadores, sempre atras de ganhos
e vantagens. Pois o que buscamos, com nossa psuedo sociabilidade,
são vantagens para darmos conta do sentimento de menosvalia e
desimportancia. 

        No entanto, são o desprendimento e a sobriedade  as legitimas mercadorias em cujo investimento há ganhos verdadeiros.
Mas é a mente mercadora que busca o comercio, questionando sobre riscos, percentual de lucro para cada investimento, e o quanto isso ou aquilo  nos tornará melhores, mais visiveis e prestigiados. 

       A liberdade não é um investimento mas uma aventura, muito
mais que alguns momentos de alguma coisa alem de sentimentos
e satisfações efemeras, momentaneas e fugazes.

      Buscamos, de todas as formas possiveis, sentirmo-nos especiais,
exclusivos, importantes, e um sentimento ainda mais pernicioso : o sentimento de ter poder. 

       Perdidos internamente, apelamos com tentativas externas,
que nada mais fazem que aumentar mais ainda a frustração e o
embaraço já reinantes.

      A dominação e a sensação de ser superior e invulgar são
forças de perversão imbativeis. Sentimo-nos bem, mas cobrem um
preço incalculavel : nossa liberdade. Ficamos dependentes e 
submetidos aos seus dominios, igual viciado que não consegue
livrar-se da sua servidão.

           Quanto mais daquilo, poder ou droga, maior a necessidade
de cada vez mais. Nos tornamos prisioneiros do proprio ganho, da
propria conquista. O sucesso que fracassa. O deslumbre que expõe
as mais temidas sombras, nunca assumidas, por isso sempre ocultadas.

           A ervinha que cresce entre os seixos, pequenina, quase
despercebida, mesmo diante da exuberancia da mata, permanece intacta, imperturbavel, porque jamais teve a pretensão de ser mais do que é : uma simples erva dos seixos.

       Por isso não fica com enxaqueca, nem mau humor, nem
depressão, nem mal das tripas, noites mal dormidas, amuos,
ressentimentos....



         



             

3 comentários:

  1. Mestre!!!
    Somos livres para fazermos nossas escolhas....
    E a lição está aí para todos.
    Um abraço fraterno,
    Márcia

    ResponderExcluir
  2. Mestre!!!
    Somos livres para fazermos nossas escolhas....
    E a lição está aí para todos.
    Um abraço fraterno,
    Márcia

    ResponderExcluir
  3. Ser o que é.. encarar se.. acho que é difícil agente conseguir uma percepção apurada de si mesmo e dos outros.. a realidade que achamos que vemos é bem reduzida, não temos uma visibilidade mais ampla pq ficamos presos a sentimentos que são tão mediucres e pequenos e nos tiram toda força.. se tivermos um pouco mais de pureza talvez pudessemos ver muitas coisas diferente do que de costume.. muito bom Claudio!! brigado por esses textos bem legais..

    ResponderExcluir