quarta-feira, 28 de março de 2012

FILME AO AR LIVRE

                         Cada momento é unico, especial, perfeito, lindo. Um espetaculo grandioso, de tal magnitude que só pode ser captado pela lente da sensibilidade
se houver conexão atraves de um profundo estado de atenção.
   Se não houver presença, não haverá ninguem para ver ou ouvir. O espetaculo está sendo apresentado, mas não há plateia, ninguem para se encantar.
       O ruido da mente nos desconecta desse momento, com a vida que está acontecendo.  Estamos preocupados demais com o movimento dos pensamentos, com as informações
vindas do tumulto gerado pela cabeça confusa e barulhenta.
     Sair do transe da mente é despertar para o que está aí. Tornar-se um participante e encantar-se, maravilhar-se com o admiravel mundo contido em cada instante. Se esperar por algo espetacular para bater palma, com certeza perderá o espetaculo, pois não é o
momento, um determinado fato que irá determinar o encantamento, o deslumbre, o fascinio,  mas esse estado de presença silencioso que me conecta ao que está aí, ao sagrado desse momento.
                                                Experimente entrar nessa viagem. Um filme ao ar livre
onde será espectador e tambem figurante. Figurante na medida em que estiver atento para cada pequeno detalhe do grande cenario onde a vida se faz a cada momento.

               .... um bando de gaivotas... consegue ouvir seu alarido enquanto passam voando, em bando, tranquilamente ?... as ondas indo e vindo... consegue ver a espuma branca deixada na areia enquanto recuam novamente para o mar ?... um casal caminhando... um pescador com seu molinete em punho... um grupo cavando na areia em busca  de pequenas ostras... um senhor gordo de boné amarelo sentado ao lado da sua vara de pesca enterrada na areia ( não está cantarolando nem assobiando alguma
canção antiga. Parece contraido, perdido em ideias de um outro cenario, de um outro contexto )... consegue ver ? ... um moço de pé, com uma latinha na mão e com outros companheiros ouvindo um som frenetico e barulhento ( quem não consegue ouvir a sinfonia das aguas, o movimento cadente das ondas, o borbulhar das espumas, a dança ritmada do fluxo e refluxo do movimento do mar.... pois é, quando a cabeça é ruidosa
somente com muito alvoroço externo para contrapor tanta bagunça interna. O silencio é sempre muito perturbador quando há muita desordem do lado de dentro. O barulho interno precisa ser alimentado com mais barulho para não  se dar conta do seu inferno,da sua confusão )... alguem passando de bici... a moça se ajeitando na cadeira
para deitar de bruços, como faz o cãozinho quando se arruma no seu ninho... um velho, com passo lento, claudicando, talvez consequencia de caminhos dificeis de outros tempos... moça elegante, exuberante, de chapeu branco, passando vistosa e cheia de charme, fascinio e sedução. Passo cadente, suave mas firme  de quem tem consciencia
do encanto que exerce, do seu feitiço. De quem sabe conduzir com leveza e graça a magia feminina  de que é possuida cada mulher; entretanto já extraviada em tantas, que não conseguiram honrar esse atributo por muito tempo...

      .... os meninos jogando bola, os velhos, bocha, vibrando a cada ponto conquistado.... o senhor de abdomen avantajado, com cicatriz enorme de cirurgia recente, se movimenta lento assim como quem não tem para onde ir ( tambem não cantarola, seu passo parece incerto e seu rosto contraido, está caminhando à beira mar mas não está aí ).... um balde, um par de chinelos e uma camiseta branca ao lado. No balde um peixinho, se agitando, tentando em vão o caminho de casa.... a pandorga em formato de avião, subindo e descendo conforme o menino imprime o movimento de vai-vem na linha ... cachorro correndo por entre as pessoas, talvez perdido, procurando por seu protetor... o biguá negro com um peixinho na boca, ainda se debatendo, preso à
pinça do bico implacavel ( enquanto há uma esperança, a vida não desiste )...

     .... papai  cavando na areia e construindo com seu filho em grande castelo em cima
de um monticulo de areia... um corrego desaguando no mar ( todos os rios correm para o mar, porque se coloca um pouco abaixo de todos os rios do mundo. Será esse o
segredo de tudo o que é grande e magestoso - um pouco abaixo de tudo o que é
pequeno ?...
                                 .... depois um trecho mais deserto... dois quero-queros atentos
olhando quem passa. Curiosidade ou temor ?  Nada mal ficar sempre de olho...
um peixinho morto secando ao sol, já desidratado e encolhido...
  ... uma senhora de idade passeando com seu cãozinho bem cuidado e sininho no
pescoço. À medida que se afasta, ainda se ouvi o ruido do sininho, que vai silenciando pausadamente...
                                                    ... o som das ondas fica mais audivel quando o ambiente fica mais deserto, menos movimento, menos pensamento...

             Filme ao ar livre que vai acontecendo a cada novo cenario, sem roteiro, sem
dirigente, sem atores fixos contracenando um enredo pré-estabelecido.
   A caminhada muda o palco a cada novo passo. Outro panorama, outros atores, novas
cenas aparentemente sem conexão com o que ficou para trás. Parece o enredo de outro
filme, outra historia, outro contexto. Tudo muda mas na realidade tudo continua o
mesmo. O grandde roteiro do grande filme da vida.

      As ondas vibrando festivamente, as gaivotas cantando, as cigarras do verão com sua algazarra alegre fazendo o pano de fundo como  a sublime trilha sonora.

             O diretor do filme ?  Nào consegue vê-lo cavalgando a cada nova onda que se forma, como um verdadeiro e habilidoso surfista ?

           Filme ao ar livre é assim. Cada um interpretando o seu papel no magestoso
cenario da vida que se renova a cada momento, sempre em movimento constante sem nunca se repetir, nem se cansar.
                                  Se prestar atenção, irá captar a magia, o fascinio e o misterio
escondido em cada quadro, em cada paisagem, nos fatos que vão sucedendo, sem
parar a cada instante.
                                         Terá então a consciencia do sagrado naquilo que chamamos
vida, a vida que vai passando sem graça, o sagrado que vai se perdendo quando
não houver presença, quando não houver alguem para ver ou para ouvir.

      Como se dar conta da beleza, do encanto e da maravilha de cada momento, quando os olhos estão focados em problemas, nas coisas de um outro tempo, de um outro
momento ?


                                  
      

            

Um comentário:

  1. a união dos rios.. uns pequenos riachos.. outros médios corregos.. outros gandes arroios..
    e a confluência deles (encontro de rios) que têm o objetivo final de ir para os oceanos..
    eles se juntam e o resultado não poderia ser outro se não ao maravilhoso cenário do mar de ondas lindas e encantadoras que nos mostram o que a união de pequeninas corredeiras e cursos de água é capaz de fazer.. por mais simples que seja um riachuelo a contribuição dele tem a sua altíssima importância..

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