sábado, 22 de dezembro de 2012
É POSSIVEL UMA VIDA SEM ROTINA ?
Tudo o que fazemos, todos nós, todos os dias, não o fazemos pela força do habito ?
Somos treinados pelo comando das horas, fazendo tudo
sempre no mesmo horario, a mesma coisa, exatamente do mesmo modo.
Coisas de humano ou humanoide ? Pessoa ou
mecanismo ?
Estabelecemos um ritmo, como um protocolo para tudo : falar
a palavra certa, sentir o sentimento apropriado, assim com o para comer ( mesmo que não tenha fome ), para dormir ( mesmo que não sinta sono ), para se colocar como todos esperam ( mesmo que esteja de saco cheio ), e tudo o mais, interminavelmente,obedecendo com rigor o mesmo cerimonial, como um autentico codigo de conduta.
Nave processada por controle remoto ?
Vida rotineira, cansativa, feita de esquisitices permanentes,
implantadas pelo costume e pelo reflexo condicionado.
Por outro lado, tornar-se imprevisivel, para não permanecer aprisionado à uma vida de condicionamentos e principios intransigentes, não seria essa a premissa essencial quando busca-se o verdadeiro sentido da vida ?
Ser livre, fluido, leve, sem as amarras dos padrões, ou o peso enfadonho dos costumes inflexiveis.
Tenta amparar-se nas convicções coletivas, que são, aparentemente, seguras, mas causadoras do mau estar interno
e confusão de toda uma vida.
O utero é seguro mas desconfortavel e escuro.
Juizos de valor e regras, por mais justificaveis que se apresentem,
dentro de um organograma de planejamento, nem por isso, no
entanto, deixam de ser uma acomodação, um arranjo, salvaguarda para defendermo-nos do inesperado e dos incidentes da má-sorte
que, a qualquer instante, possam tomar-nos de assalto.
Nos protegemos da vida atraves de rotinas fixas, regulamentos precisos, demarcados, que mais relacionam-se com aviltamento do
espirito que aprimoramento de conduta.
Vivemos a vida, ou simplesmente nos defendemos dela ? Não parece estranho ter que defendermo-nos da vida ?
Transformamo-nos em robos quase perfeitos, mecanismos
submetidos a padrões pre-determinados, executando tarefas
maquinalmente. Automaticamente. Não muito mais que isto !
Aliás, não foi a robotica, acaso, uma invenção elaborada à imagem e semelhança do proprio homem ? Não copiou-se a si proprio ao
criar a automação ?
E, ao deparar-se com sua criação, ficou maravilhado ao identificar-se plenamente com sua criatura.
Ficou bem feito, pensou. Parece demais comigo, sendo
assim, deve estar perfeito !
Gaiatice à parte, impõe-se, nesse momento, um questionamento de merito : é concebivel uma vida sem rotinas, roteiros precisos para toda e qualquer forma de atividade humana ?
Todavia, não parece tal contestação, de certa forma, absurda,
beirando à insanidade e insensatez ? Ou, com mais precisão, uma idealização impraticavel ?
Toda a atividade humana baseia-se no paradigma da compartimentalização regida pelo relogio, que impõe movimentos
fixos de rotina, automatizando toda e qualquer forma de ação.
Nós todos nos comportamos do mesmo modo. Somos todos
iguais. O sistema impõe um modelo de conduta onde fica implicito
o movimento robotizado; e, para incerir-se na conjuntura, a premissa é o comprometimento com as convicções pré-estabelecidas, a nivel coletivo.
No entanto, quando tudo fica facil de ser previsto, nos tornamos
presas faceis do infortunio. Confiamos no rotineiro, por isso
consideramos estar à salvos dentro de um contexto de uniformidade e constancia. Já que todos rezam pela mesma cartilha, deve, este
modelo, ser o correto, e justificadamente confiavel.
Confiamos, quais automatos, na força da rotina. Nos sentimos à
salvo das circunstancias e do não previsto, nos submetendo à mesmica, ao rigor das regras e dos condicionamentos.
Descuidamos do nosso ponto de proteção porque sentimo-nos
seguros e confiamos plenamente no modelo do conservadorismo
rotineiro.
A armadilha, no entanto, estará sempre armada. O falatorio na cabeça, com seu ruido incessante, é consequencia da falta de vigilancia para com este momento. Quanto mais fixo a uma rotina,
menor o nivel de atenção. Tornamo-nos, desse modo, vulneraveis a toda forma de tudo aquilo que não seja previsivel.
O descuido, o engano e a desproteção manifestam-se pela força
do habito que a rotina determina em nossas vidas.
A desventura conhece a rotina dos homens comuns, resignados ao
aviltamento da massificação da mesmice. É por isso que tornam-se presas faceis para toda e qualquer forma de equivocos e surpresas.
O medo torna a pessoa vulneravel, fragilizada. Algo saiu do contexto, do que era esperado, daí o medo, a ansiedade, e a inquietação.
A previsibilidade deixou-o na mão. Está por si, à mercê da sua sorte ( má sorte ). Talvez não haja mais tempo para recompor-se, nem seguir em frente à salvo e por inteiro.
Se estivermos atentos ao trabalho rotineiro de todos os dias, desaparece a rotina, a ação automatica, e portanto, a suscetibilidade. Dessa forma, não é a rotina das coisas, dos acontecimentos em si que nos traz infortunio e sofrimento, desqualificando e esfraquecendo o espirito, mas a falta de atenção para com as coisas deste momento.
Usamos a rotina em substituição ao estado de alerta.
Nos desprotegemos, de um modo temerario, ao confiarmos, incondicionalmente, em tudo aquilo que fazemos todos os dias da mesma forma.
A compreensão dessa diferença cria a autonomia interna, livrando-nos dos perigos do automatismo de todas as rotinas do
mundo. E perceberá, por fim, que não há proteção alguma em
qualquer sistema de rotina, sem a salvaguarda da atenção
permanente a cada momento, frente a qualquer ação.
A rotina seja talvez o substituto para o estado de alerta. Dessa
forma, a atividade humana transcorre de um modo linear, sem o colorido do inesperado, onde a alienação torna-se o conceito
quando a vida perde o sentido.
A importancia disso ? Não há modificação possivel, a nivel de
consciencia ou compreensão do verdadeiro significado da vida,
que não siga o roteiro de transformar a rotina externa em
permanente estado de alerta interno.
O silencio interno transforma a rotina como um halter para o
espirito. É quando a coisa ruim se transforma no seu elemento
oposto, surgindo, desse movimento, um homem novo, livre e feliz, tendo, por fim, alcançado a autonia e a independencia sobre a
massante padronização do comportamento humano.
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