quinta-feira, 23 de maio de 2013

A NEBLINA NUMA MANHÃ DE FERIADO NACIONAL


A nevoa não havia ainda se dissipado de todo. A visibilidade era
imprecisa, e tudo era visto de uma perspectiva estranha como em  
outra dimensão, não correspondendo à realidade.

As imagens pareciam arbitrarias, sem formas definidas, como se
fossem fantasmas, ilusões de otica delicadamente elaboradas pela bruma compacta, umida e fria.
Era como uma nuvem gigante que tivesse repentinamente se
apossado da atmosfera, transformando tudo na mesma natureza eterea e incerta do espaço nebuloso. 
A paisagem remetia a um filme antigo, em preto e branco,
 cujo enredo reportasse a coisas de saudade, lembranças de um outro tempo.

Os raios de sol timidamente infiltravam-se atraves da cortina umida, onde a nevoa era menos densa, produzindo uma lumiosidade poetica, uma atmosfera de fascinio e encantamento. 
Tinha-se a sensação de ser transportado para uma outra
circunstancia, como se fosse um vazio de tempo, uma lacuna entre
dois silencios,onde tudo era estranho, desconhecido, sem,
no entanto, deixar de produzir um sentimento extase e arrebatamento.

Visão que impõe reverencia, como um cerimonial sagrado,
por seu encanto singular, pelo que sensibiliza o espirito,
criando um espaço de ternura e enlevo, tão distante dos momentos
iguais de todo dia, com seu rigor austero, efeito dos discursos
incessantes de preocupação e medo dentro da cabeça.

Os dias cinzentos de nuvens baixas sempre foram de
 fascinio e sedução sobre meu espirito; um convite para trazer o olhar para mais perto, ao inves de mirar à distancia, que a luminosidade possibilita, e voltar-se para dentro, espaço mormente às escuras, e de poucas visitas.

Entendo que seja por isso os dias de nevoa baixa, de pouca
visibilidade externa, para a atenção voltar-se para dentro,
a gente encontrar-se com a gente mesmo, compania sempre
feliz, mas de raro e dificil acesso.

Encontrar-se a si proprio, à luz e ruido do mundo, ante os estimulos
e requisições de toda ordem, é tarefa pouco estimulante para
quem quer que seja. Soltar-se do mundo parece voltar-se para
coisas sem relevancia, pois a atenção volta-se apenas para os temas
 do dia a dia, o habitual de sempre, compromissos, preocupações.

Enquanto procurarmos significado nas coisas, estaremos num
mundo de sombra, onde não há sentido nem significado. Estar
perdido é isso. Tentar encontrar-se atraves de conceitos, 
da racionalização da mente, que impõe como objetivo
supremo a coisificação da vida.

A neblina aos poucos cedia à insistencia do sol, que começava 
a produzir uma sensação agradavel de aconchego e calor
estimulante.
Foi então que percebi uma porta aberta e um homem sentado
no ultimo degrau da escada lendo seu jornal matinal. A cena era quase invisivel, vista à distancia, pois a nevoa não havia ainda de todo dissipado, e o sol iluminando atraves do espaço neblinoso, não
permitia clareza à visão, nem ao entendimento.
Deitado aos pés do homem que lia, um cãozinho peludo,
enrolado em si mesmo, no conforto do seu sono e aconchego da
compania.
Parecia macio, sem osso, todo feito de algodão. Uma bolotinha de
lã. Parecia feliz por estar aí, deitado aos pés do seu cuidador,
banhado pelo sol caloroso, nessa manhã de feriado nacional.

A cena era silenciosa, e vista à distancia, atraves da neblina ensolarada, tornava-se quase invisivel. Mas dela emergia
encanto e magia, um sentimento de ternura e delicadeza, que momentos especiais, de rara beleza nos proporcionam.
Se tivesse o dom do pincel, plantaria aí meu cavalete e daria
forma artistica à cena comovente. Certamente, se transformaria a pintura em poema de rima perfeita.

O homem lia as ultimas noticias das tragedias do mundo e 
inquietações dos homens, enquanto o cãozinho, enroladinho,
talvez sonhasse com realidades menos confusas, com um
mundo menos sofrido.
 Quem sabe, haveria flores e estrelas no
seu sonho, bem diferente das noticias tragicas do jornal matutino.

 Sentado no ultimo degrau da escada, não foi a beleza e magia
do momento que tocaram a sensibilidade do homem. Mais importante que a graça e o encanto da paisagem, nessa manhã 
admiravel de feriado nacional, feita de bruma, saudade e recolhimento interior, foi olhar para fora, para o sofrimento do
mundo atraves das paginas do diario da manhã.  

Enquanto isso, alheio a tudo, o cãozinho macio, algodoado,
continuava no seu sonho feito de flores, estrelas e magia.





   



Um comentário:

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