domingo, 9 de dezembro de 2012

POR ONDE ANDASTE, OH! HOMEM SEM TEMPO ?


              Lamentar-se por mais tempo quando não há mais tempo
disponivel, é indicio inegavel que não foi capaz de  livrar-se, quando ainda era tempo, das malditas mesquinharias dos homens que vivem suas vidas como se fossem ficar aqui para sempre, como se tivessem tempo sem limites para fazer suas mudanças sempre postergadas, deixadas para um outro tempo.  

      Não assumiu a justa responsabilidade de estar neste mundo
de verdade. Como ser humano, não respondeu com habilidade
às exigencias do espirito para promover as mudanças necessarias.

        Continuou a vida toda dividido. Por fora uma coisa e por dentro algo completamente diferente. Tratou de todas as formas 
adaptar-se e ser aquilo que todos diziam que tinha de ser.

        Desviou-se da rota. Embarcou numa viagem sem sentido,
nem rumo. Desconectado de si proprio, norteou-se pelos outros. Seguiu o caminho de todos, orientou-se pelo ruido do mundo, numa 
incessante confrontação de poder e importancia.

      Esteve continuamente empenhado, olhos e ouvidos atentos às
galerias, em busca de aplausos ou sinais de aprovação. Não é essa 
a permanente inquietração e temor de todos quantos necessitam
do reconhecimento e legitimação do mundo para
 sentirem-se alguem ? 

      Não conseguiu ser ele mesmo. Perdeu-se para ser algo que nem
sabe o que é. Vai seguindo, porque é essa a sina dos enfileirados. Simplesmente segue, não porque queira, ou por opção pessoal, pois vai no tranco, no empurrão dos que partilham a mesma rota. Sem autonomia, nem liberdade de escolha, está aí pelo consenso, pelo conformismo, pelo coletivo.

 Envenenado pelo deslumbre da estupidez da ambição sem controle, da pretenção desmedida, pelo desejo de tornar-se
especial, sentir-se importante, diferente de tudo o mais.

Deixou-se contaminar pelas exigencias do meio.
Deixou-se dominar, não apenas pelos outros, mas tambem
 pela compensação da propria vaidade, o brilho da auto-imagem refletido nos seus feitos, valorização de fachada que conduz ao empobrecimento do espirito, pelo total desconhecimento de
si mesmo.

       Seduzido pelo mundo, perdeu o referencial da propria identidade. Já não reconhece o estranho refletido no espelho.
Quem será  esse que me olha no espelho sem parar ?  

      Nunca esteve em busca de si mesmo pois estava, em demasia, envolvido com a conquista do mundo. Deixou-se dominar para poder tambem ter dominio. E, haverá de ser tarde, quando se der conta por fim da cilada,  emboscado pelo poder, vitima do
proprio triunfo.

Entrou no jogo e fez concessões. Perdeu a liberdade de ser quem
é para se ajustar, acomodar-se ao padrão, às regras, às influenias,  
para sentir-se fazendo parte, à altura, para ser alguem.

      Que preço extraordinario a ser pago por uma vida desperdiçada, para provar, unicamente, que é um grande personagem, uma
pessoa importante, e sentir-se interessante.

       Nunca imaginou que a festa pudesse terminar. Percebe o
equivoco quando não há mais tempo, tempo para recompor-se,
reestruturar-se, para, enfim, poder viver. Será que existe ainda
alguma saida viavel, remedio que responda quando o mal, por fim,
 já tiver se alastrado por todo o sistema ?

      A mesa esteve sempre posta e havia fartura. Porque agora a sensação de fome e insatisfação ? Porque o desgosto, a amargura e a contrariedade ? Porque essa cara feia se o florescimento e a festividade invariavelmente faziam parte do grande cardapio ?

    Por onde andaste, oh! homem sem tempo, quando era tempo
de celebrar e entoar a canção de louvor à vida ?
Passaste ao largo, não foi ?  Repetias continuamente que não
tinhas tempo, lembra ?

     Compromissos, obrigações, envolvimentos, encargos,
tanta carga e sempre com tanta pressa. Pensavas que tudo
era importante e tão urgente, não era assim ?

    Vivias repetindo que, se a gente não tem pressa, como virar-se com tão pouco tempo ? Não deves ter-te esquecido ainda. 

     Não pensavas apenas no trabalho, ganhar dinheiro, cuidando de
 coisas, correndo, sem cessar, como tonto, para todos os lados ?   
Não foi essa a dança estupida que dançaste tua vida toda ?

    Viveste uma vida esteril, sem criatividade, nem deslumbramento.
Teu olhar esteve sempre voltado para os lados, para os outros,
para o mundo, afim de pautar a vida; sem te importares com
os anseios do espirito que clamava, sem cessar, por mudanças,
por crescimento, por florescimento.
As pernas, por fim, cansaram, a vontade degenerou e o espirito tornou-se fraco.

               A amargura aparece pelos enganos das escolhas
equivocadas.  Por não estar onde deveria estar, por não ter seguido
os caminhos da realização, pela beleza que não apreciou, pelo
 sabor que não degustou, e, por fim, pela vida que por aí passou
mas que não houve tempo para dizer  "olá, tudo bem ?  

       A pressa não recupera o que se deixou de viver; talvez apenas
informa o tempo, esse tempo que, desgraçadamente, não se viveu.

         E mais, olhar fixo ao retrovisor, impossibilita qualquer possibilidade de seguir em frente.





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