quarta-feira, 4 de junho de 2014

DIALOGO ENTRE PATRÃO E FUNCIONARIA


- Lá onde eu moro, doutor, acontece muita coisa estranha
que o senhor nem queira saber.

Não é como aqui, onde as coisas são certinhas. 
A pessoa morre, é colocada num caixão e vai para o cemiterio.

De onde eu venho, doutor, não é assim que acontece. 
A pessoa quando morre, é enrolada num pano branco
e enterrada aos pés de uma grande arvore,
e todos dançamos felizes à sombra daquela arvore gigante.

E quando a arvore der frutos
nosso ente querido estará um pouquinho em cada um deles.
Estará lá, escondido dentro de cada frutinha.

Como vê, doutor, lá as coisas não são como são aqui.
E nós somos felizes pelas coisas serem assim.

Ele, confuso com a narrativa dela, questiona :
- Mas onde fica esse lugar tão estranho ? É aqui no Brasil ?
- Eu acho que é pelas bandas do Brasil, mas eu não sei
lhe explicar não onde fica.
- E como se chega lá ?
- Iche, doutor, é longe demais para poder lhe explicar.
É muito longe !

O patrão coça então a cabeça, sem ter a certeza de  
realmente ter ouvido aquilo.
Mas não podia ser sonho, nem estar delirando.

Suspirou fundo, tentando recobrar as ideias.
Até passou a mão pela testa, sutilmente, para certificar-se 
de não estar em estado febril.

Cismado, afastou-se,  murmurando baixinho para si mesmo...
arvore gigante ... arvore gigante !

Olhou ainda para tras para certificar-se da moça
não ser um fantasma.

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