terça-feira, 25 de junho de 2013
QUANDO O AMOR CRIA DEPENDENCIA. AMOR ?
Dava para perceber que o caminho era pouco transitado. O capim havia tomado conta do atalho, com dificuldade para
visualizar-se a antiga picada.
Ao lado de uma toiceira, entre hastes e pontas,seixos e pedras, um
lirio vistoso, de haste fragil, solitario, ressistia com bravura
por entre o denso capoeiral.
De natureza tenra, mas robusto em sua motivação.
O passante, caso estivesse desatento, não teria a visão poetica
desse florescimento surpreendente, magico, num ambiente tão
inospito, de vegetação abundante, um mundo totalmente estranho para tanto brilho, suavidade e elegancia.
Ante a cena singular, inusitada, admirava a beleza do momento
em meio ao caos, maravilhado pela possibilidade daquilo
ser concebivel.
Por aí já não passa ninguem faz muito. O que um dia fora um caminho, uma passagem, não passava de uma mata rasteira, desordenada, numa profusão de plantas e arbustos de toda ordem.
Mesmo assim, a florzinha vicejava, ainda que não houvesse
ninguem para apreciar sua beleza, para sentir sua fragrancia, ou
simplesmente para dizer-lhe "olá, como estás linda, oh! criaturinha
dos charcos".
Notei que apesar da sua solidão, perdida num mundo tão confuso
e severo, em sua postura, não havia tristeza, nem, tampouco,
sentia-se chateada por sua pouca visibilidade e anonimato.
Não sofria por sua situação aparentemente desfavoravel, nem
havia lamentos ou pedidos de socorro.
Estava aí, indiferente a tudo, indiferente se alguem passasse
ou não, para admirar seu brilho, sua beleza, e sua coragem.
Continuava espalhando sua fragrancia, embelezando o mundo,
perdida num brejo, num aparente fim de mundo.
Continuava faceira da mesma forma, houvesse ou não olhos
para admirá-la, ou maravilhar-se com seu frescor e resistencia.
Pensei então no amor... no amor verdadeiro que, da mesma forma que a flor do brejo, tambem resiste, apesar da hostilidade do meio.
Esse amor não tem pre-requisitos para que possa existir. A pessoa
será amavel, mesmo que esteja só, pois não é o outro a fonte
do seu sentimento.
Não necessita de nada para senti-lo.
Não há necessidades externas.
Não há exigencias de qualquer ordem.
Pois, trata-se, alem de uma relação, antes um estado de ser.
Não é consequencia do meio, mas uma vivencia interior.
Quando o amor, para que possa existir, tiver que ser preenchido
por alguem, será isso amor ?
A beleza da flor é independente que haja alguem aí para
admirá-la. Não depende dos cuidados de ninguem. Seu florescimento é livre. É da sua natureza existir daquela forma.
Como ficaria a florzinha do brejo se dependesse de alguem
para notar sua beleza, ou para que pudesse existir ?
Quando a pessoa depende, a infelicidade tem inicio. Torna-se
escravo da situação, e o outro ganha poder.
Na dependencia, perdemos a liberdade. Perdemo-nos.
Como pode o amor acontecer onde existe dominio, alguem
pertencer a alguem ? Alguem necessitar de alguem ? Alguem
reclamar (exigir) o amor de alguem ?
Como poderia a flor acontecer se fosse depender de
circunstancia qualquer para o seu florescimento ?
O amor que cria dependencia, ou que se transforma numa
necessidade, pode isso ser amor ?
O amor que manipula.
O amor que subjuga, que controla.
O amor que se torna necessidade. Necessidade é reflexo de
carencia, de ausencia de si.
Buscamos no outro o que não conseguimos viver em nós mesmos.
Isso é amor, ou apenas uma negociata, uma barganha ?
Damos, mas o chapeucinho sempre vem junto, escondidinho
em algum lugar. Onde voce guarda o seu ?...
Queremos retorno pelo que investimos no outro. Somos
avarentos até no amor !
O que não encontramos em nós mesmos, não haverá
situação externa, seja ela qual for, onde possa ser encontrado.
Terceirizamos a felicidade atraves do outro,
atraves do amor... tem certeza que é amor ?
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