sábado, 9 de fevereiro de 2013

QUANDO AS ADVERSIDADES SÃO ENCARADAS COMO DESAFIOS


      
         Em materia de sagacidade de espirito e discernimento
de intelecto, poucos podem comparar-se à genialidade excentrica de Dom Juan Matus da obra portentosa de C. Castaneda.

Velho indio yaqui das montanhas e deserto arido do
Mexico,  ele nos guia, com seus ensinamentos extraordinarios, que extrapolam os limites do conhecimento do homem branco, levando-nos a uma jornada fantastica, onde a percepção usual da realidade é confrontada de como 
o  mundo realmente é, fazendo-nos ver para bem alem das ideias e conceitos convencionais.
Nos leva a conhecer um outro mundo dentro do mundo que
conhecemos. Uma outra realidade dentro do que
consideramos real.

   Seu sistema ideologico, alem da riqueza do seu ensinamento e do surpreendente das revelações, torna ao
mesmo tempo dificil sua aplicação no mundo do dia a dia, exigindo total comprometimento e profunda determinação. "Vontade de guerreiro", exorta-nos a todo momento. 

  Entretanto, não resta duvida, que vale o esforço ( ou o
prazer ), e olhar com carinho para seu modo como olha
a vida.
Tente meditar, e, mais que isso, tente aventurar-se, vivendo
na realidade do seu dia a dia, esse sabio ensinamento.

 Diz Dom Juan que um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido.
Soa estranho para nosso ouvido e até paradoxal, pois
 parece-nos totalmente justificado reagirmos aos ataques
do mundo, às injurias que nos transforma em vitimas
aparentemente indefesas.
Ele nos informa, porem, não haver nada de ofensivo nos
atos dos outros, enquanto estivermos agindo dentro do espirito apropriado.

  Isso nos leva a profundas reflexões, pois a fonte maxima
 de aborrecimentos e mortificações, na vida de todos, é a forma  como somos tratados por nossos semelhantes.
Quanto ressentimento, rompimentos dramaticos de relações,
perseguições, rancores, hostilidades irreconciliaveis, tanto
a nivel pessoal, grupos,  clãs, ou mesmo entre nações,
cuja origem remonta ao inter-relacionamento e trato entre
as pessoas.

 Afinal, não estamos todos em guerra contra todos, quantos
não nos tratam com cuidado e consideração ?
Somos cheios de caprichos e idiotices dando poder ao outro
quanto nossa disposição de espirito.
Tudo ofende e perturba. E quanta reclamação, com perda de energia, achando que todo mundo está abusando da gente. Responsabilizamos os outros pelo que sentimos, 
enchendo-nos de virtude reivindicando nossos direitos de sermos tratados conforme nossos propositos. Exigimos do
mundo nossa condição de bem estar interior.

Parece loucura mas é assim que funcionamos. E enquanto nosso comportamento for ditado pelo comportamento dos
outros, não há poder numa vida que tenha essa disposição,
estabilidade emocional e atitude adequada para dar conta
das surpresas de toda hora.

O humor oscila, assim como o discernimento e, de igual
forma, a disposição. Fragilizamos-nos. Ficamos feios e por
fim adoecemos.
Mesmo doentes, justificamo-nos, culpando os outros por
nossas mazelas, pela desconsideração, estupidez e rudeza
de como somos tratados ( mal tratados ).

Somos um bando de gente mimada, exigindo o
reconhecimento de todos, ou então que dispensem-nos
o tratamento em função da importancia que nos outorgamos.

Continuamos ao longo de uma vida inteira gritando por mamãe porque Joãozinho nos bateu.
Nos informaram, desde cedo, e damos pleno credito, desafortunadamente, que a magoa e a contrariedade são justificadas, não pela nossa incapacidade de ação, mas pela atitude sem jeito do outro.

Dessa forma, é o outro sempre o culpado, pois se tivesse me tratado bem, estaria bem.
 Caso observe com atenção redobrada, verá que o bigode que está aí é falso, não é natural, pois ainda é imberbe, não tendo
a pessoa atingido tampouco a maioridade emocional.

  A maturidade exige disposição de guerreiro, onde, ao inves do lamento, tudo transforma-se em desafio. A conquista da força segue a rota dos desafios diarios, que mobiliza a
disposição correta da resistencia implacavel.

Não é agradavel, evidentemente, o mau trato a que somos
todos submetidos inapelavelmente, largar-se, no entanto,
para isso, é outra coisa.
Surpreender-se com as atitudes das pessoas, atesta tão
somente, o desconhecimento absoluto acerca da natureza humana.

Se não tomarmos nosso mundo de todo dia como um desafio, não teremos condições de armazenar suficiente
poder pessoal que dá significado e um verdadeiro sentido à vida.

Dom Juan nos informa que "a diferença entre um homem
comum e um guerreiro, é que o guerreiro aceita tudo como
um desafio, enquanto o homem comum aceita tudo ou como uma benção ou uma praga".

Para poder suportar o caminho que nos leva à auto-determinação, não há do que reclamar nem lamentar, pois a
vida é um desafio sem fim, "e os desafios não podem ser
bons ou maus. Os desafios são simplesmente desafios".

O halter desafia forças ocultas para tornarem-se manifestas. 
O virtual concretizando-se em realidade. Queixar-se do seu peso, é desconhecer o processo.

Não temos poder sobre as atitudes dos outros, o que vem de fora, no entanto, podemos ter total controle sobre o que
sentimos com relação a isso. Desequilibrar-se internamente
é função exclusiva de cada um.
A dependencia gera fraqueza,  tornando-nos mesquinhos  e
inoperantes. Chorões apatetados esperando que mamãe
nos salve dos bicho-papões do mundo.

 Chateamo-nos com nossos semelhantes porque agem
maldosamente e em plena consciencia. Fazem para tirar
proveito, não importando-se com o prejuizo que causam.
É muito dificil, em tais casos, não sentir-se decepcionado
e infeliz. "Sei disso, sei disso, responde o mestre com
maestria. Conseguir disposição de guerreiro não é coisa facil. É uma revolução. É um ato magnifico do espirito do
guerreiro. É preciso muito poder para fazer isso".

Ele reconhece a dificuldade. É por isso que diferencia o
guerreiro de um homem comum.
Temos que estar em permanente estado de preparação. Quando a agressão ou a estupidez nos atingirem, um
estado de alerta, de atenção serena tem de guiar nossas
vidas. Caso contrario, seremos atingidos pelo sentimento
de traição, como golpeados injustamente.

Não pode haver surpresa com relação ao que vem do mundo.
Se encarado como desafio, irá transformar-se em halter do
espirito, acumulando poder e imunizando-nos cada vez mais
contra aborrecimentos e desenganos.

Tocamos a vida, fazendo o que tem de ser feito, sem perda de tempo com caprichos e lamentações.
Isso cria força e resistencia de animo, pois não esperamos nada de ninguem, nem tampouco exigimos nada do mundo.

É paradoxal, mas quanto menos se espera mais as coisas
fluem, passando-nos um sentimento de termos sorte.

Quem não espera, faz. Faz porque se sente bem fazendo. O
resto corre por conta de instancias misteriosas, fora do alcance da nossa compreensão. Afinal, não estamos sozinhos na empreitada da vida, mas o bom é agir
como se estivessemos sozinhos. Assim, nunca nos decepcionamos.

  Trouxe esse tema para reflexão, em função da sua
importancia e como causa relevante de toda sorte de sofrimento e consternação. Apesar de toda dificuldade
inerente à materia, vale muito a pena tornar-se consciente
da proxima vez que for desafiado por qualquer desafeto,
por qualquer contratempo, ficando de prontidão, em estado de alerta, e perceber-se internamente para verificar o
movimento que se produz, gerador do mau estar.

Saber do processo é o primeiro passo para transformá-lo
em roteiro de vida, e para transformar-se num verdadeiro
guerreiro.

   Experimente tentar. Terá surpresas.







    

 
              

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